O Prólogo ficou propositalmente pequeno. Espero que vocês gostem e comentem - do contrário não saberei se estou no caminho certo...
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1. Kevät
Antes do teu olhar, não era,
Nem será depois, - primavera.
- Cecília Meireles
Frio. Solidão. Como não chorar se o destino nos faz sangrar? Aquela não era a sua casa, aqueles não eram seus parentes. O vento cortava a carne como navalha. A neve caía em blocos pesados, raivosos. Olhou em volta e, por um breve instante, se alegrou. A estalagem já estava próxima. Caminhando lado a lado com o seu belo mestre o menino lutava para alcançar aquele oásis. Ali estaria seguro e encontraria algum descanso. A porta se abriu revelando um ambiente rústico: duas enormes mesas de madeira, alguns bancos baixos, paredes cobertas com pele de foca e um balcão que dava pra cozinha, uma porta pesada levava aos quartos no segundo pavimento. Naquele ponto perdido do mundo era o máximo de conforto que alguém poderia encontrar. E tinha ela! O coração juvenil ficava mais leve à simples lembrança da amiga. Ela era a luz no meio da escuridão sem fim daquele treinamento. Sentaram-se. Da cozinha vinham os sons do jantar sendo preparado. O cheiro de sopa impregnava o ambiente. Mestre e discípulo sentiam os estômagos responderem àquele estímulo. Momentos depois uma gorda senhora sai de trás do balcão trazendo uma bandeja:
- Godkväll. (sueco -boa noite)
- Boa noite, jovem aprendiz. Como foi o seu dia?
- Muito bom, obrigado por perguntar.
- Fico feliz esteja progredindo. Posso trazer-lhe mais alguma coisa, mestre Irving?, pergunta a senhora inclinando-se respeitosamente frente ao mestre.
- Apenas chá, Elda. Obrigado.
Outra figura sai de trás do balcão. Uma menina de longos cabelos, negros como a noite, e olhos igualmente escuros. Traja um vestido longo, a pele alva contrastando harmoniosamente com os lábios rubros. Um suave aroma a acompanha. Rosas.
- Hyvää iltaa, Mestre. Olá, Dite. (finlandês - boa noite)
Um sorriso ilumina sua pálida face. Afrodite sorri ainda mais abertamente. Ele tinha apenas oito anos e uma certeza: aquela menina era a pessoa mais importante de sua vida. Astrid colocou a chávena com chá fumegante sobre a mesa e seguiu a avó cozinha à dentro. O aroma de rosas continuava no ar.
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Antes de dormir batidas à porta. Astrid não se surpreende, todas as noites ele vem lhe procurar. Abre a porta devagar e o menino entra com a naturalidade daqueles que fazem algo freqüentemente. Ele senta-se na cama.
- Onde eu parei?, pergunta a menina sentando-se ao seu lado.
- O príncipe havia chegado ao asteróide habitado por um rei, responde, ansioso, Afrodite.
- Certo, certo. Bem, o rei ficou muito feliz ao ver o principezinho. "Um súdito!", ele exclamou feliz. Mas o principezinho se perguntava como o rei podia reconhecê-lo se jamais havia o visto...
Toda noite esse ritual se repetia. O aprendiz de cavaleiro, depois de um duro dia de treinamento, buscava naquela frágil menina a força necessária para prosseguir. Astrid passava o dia dividida entre as tarefas domésticas e os incontáveis livros que a avó possuía. Para preencher sua solidão decorava histórias e, mesmo sendo um ano mais nova do que Afrodite, contava-as com enorme habilidade. Aqueles poucos momentos mágicos em que sentava para ouvi-la renovavam as energias do menino, que se via transportado por sua companheira de aventuras a terras exóticas e misteriosas. Lá lutavam contra dragões e bruxas, resgatavam princesas, duelavam com piratas e podiam, mesmo que só enquanto durasse a história, ser verdadeiramente felizes. Adormeciam abraçados quase todas as noites.
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Afrodite acordava cedo, hábito que conservou durante toda a vida. Tinha medo, Elda com certeza lhe arrancaria as orelhas se fosse encontrado no quarto de Astrid. Antes que os outros pensassem em despertar ele abriu os olhos e viu que continuava abraçado à amiga, a menina dormia com um leve sorriso nos lábios (reflexo das histórias que lhe acalentavam o sono). "Parece mais um anjo", pensou beijando a alva testa e aspirando a fragrância sutil que ela possuía. Rosas. Saiu do quarto tomando cuidado para não perturbá-la. Agora era só vencer o longo corredor. Já debaixo das próprias cobertas fechou os olhos em espera, o mestre não tardaria em chamá-lo.
- Afrodite, está na hora. O homem entrou sem bater.
- Hmm... Assim tão cedo, mestre?, fingiu estar ainda despertando com um enorme bocejo.
- Teremos um longo dia pela frente, garoto. Apresse-se!
Demorou-se ainda um pouco na cama. O que aconteceria ao Principezinho? Como seria o próximo asteróide? Imerso em pensamentos preparou-se para o banho. Já trocado, acompanhou o mestre até a sala, onde um farto café da manhã os esperava. Elda e Astrid já cuidavam das tarefas domésticas.
- Coma muito bem agora, entendeu?, a voz do mestre lhe parecia tensa.
- Sim, senhor.
- Não quero que morra antes da hora. Se conseguir sobreviver ao dia de hoje talvez haja alguma chance de que se torne um cavaleiro de Athena.
"Cavaleiro de Athena". Novamente era envolvido por aquelas proféticas palavras. Ainda que fosse extremamente feliz no universo encantado de Astrid ele sabia que aquilo não seria sempre assim. Que tipo de coisa enfrentaria para alcançar aquele objetivo? O que deveria sacrificar em nome dele? Destino. Maldição.
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N.A.: Opiniões, críticas, elogios... Manifestem-se, ok? Acho que está meio tosco, talvez eu deva parar por aqui mesmo. ;)
