Epílogo

Chora de manso e no íntimo... procura
Tentar curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.
Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será, ela só, tua ventura...
A vida é vã como a sombra que passa...
Sofre sereno e de alma sobranceira
Sem um grito sequer, tua desgraça.
Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira...
- Manuel Bandeira

A carruagem solar percorreu incontáveis ciclos pelos céus e as árvores despiram-se numerosas vezes antes que a alegria retornasse à Casa de Peixes. Com o seu coração ferido, Afrodite apoiou o falso mestre quando este se apresentou, e lutou pelo deus tirano quando por ele foi convocado. Mas, estando pela segunda vez de volta ao Reino de Hades, ouviu uma voz conhecida em meio às lamurias daqueles que não descansam. No império da desesperança, quando já esquecia a si mesmo nas trevas da morte, ouvi uma voz. A mesma voz que anos antes enchera o seu coração de vida e fantasia agora o afogava em lembranças. Os olhos cansados encheram-se de imagens: o aroma tão doce, o cabelo tão negro, a face tão pálida. Todo o corpo revivia as sensações enterradas no fundo da memória, o que outrora tentara esquecer voltava com força total ao seu coração. O pranto amargo que verteu por toda a vida foi incapaz de apagar da alma o vulto amado. Então ele soube, como talvez tenha sabido o tempo todo, que era ela a sua luz. "Astrid..." Na escuridão do mundo dos mortos sentiu o véu de rancor que lhe cobria os olhos ser removido. E quando a farsa dos cavaleiros caídos foi montada, abandonando orgulho e honra em nome da Deusa, ele aceitou lutar até a morte contra seus antigos amigos. Ao tombar perante a Casa de Áries não havia sinal algum de ira em seu coração, a voz de Astrid removera de sua alma a mácula de anos de cegueira. E ele partiu com a certeza de que ela o esperava, para que seu olhar no dela pudesse descansar.


N.A.:Assim termina a minha primeira incursão ao mundo das fanfics. Tentei dividir com vocês o Afrodite que eu sempre vi mas que poucos conheciam: um homem marcado pela dor e por ela distorcido. Sempre acreditei que sua visão deturpada da vida era fruto de um enorme sofrimento e espero ter passado essa impressão aos que leram a fic. O titulo foi inspirado por uma música homônima do Edguy. Cada capítulo leva o nome sueco de uma estação do ano e o nome escandinavo dado à filha de Afrodite significa tristeza do mar. Sintam-se à vontade para enviar críticas e sugestões, isso enriquece a experiência daqueles que escrevem. Obrigada. :)