Dose Dupla

Por Akai Tenshi

Capítulo II – HEAVEN


Tsura adentrou seu castelo aos berros, destruindo o que via pela frente. Muito irritado, se dirigiu ao quarto onde sua esposa desfrutava das brincadeiras de sua mente insana e perversa.

O forte ruído dos pés do Senhor das Sombras se aproximava do aposento. Kana virou a cabeça em direção à porta, assim que esta foi explodida. A visão da raposa foi encoberta pela fumaça. Logo após, ouviu um forte baque.

Kurama virou a cabeça para o lado, não podia virar muito por causa da corrente em seu pescoço, mas forçou um pouco e assim que a fumaça se dissipou, viu a imagem de Kana estirada ao chão, inconsciente. Pequenas pedras jaziam em seu corpo e uma marca vermelha em sua face direita também. O ruivo arregalou os olhos, sentiu um corpo bem mais pesado por cima do seu.

"O que..."

Sua Raposa Maldita!

Kurama gritou alto ao sentir a lâmina fria penetrar em sua coxa e depois ser retirada bruscamente. A dor não era tão ruim, pior era ser tratado daquela forma. Tsura estava começando a se excitar com o sofrimento do outro. Num gesto rápido, arrancou a mordaça de seu prisioneiro e tratou de lhe dar um beijo ao seu estilo.

Com uma das mãos, Tsura apalpava cada parte do corpo da vítima, cada músculo, cada curva. Kurama soltava leves gemidos de prazer.

Pa...pare... por...fav...

Cale a boca, imprestável...

A face de Kurama ardia, bem como o sangue quente que escorria de seus lábios cortados. Observou a mão de seu agressor. De suas unhas pingava o seu sangue. Tentou se mover, mas Tsura o agarrou com violência, deixando marcas roxas em ambos os braços. Sentiu o peso do joelho dele em suas costas, as mãos estapeavam aquela carne tão tenra e única.

Uma dor súbita se espalhou por toda a extensão do corpo do ruivo. Os caninos afiados de Tsura fincaram nas nádegas do kitsune. Kurama tremeu. Seu seqüestrador fazia questão de aprofundar a mordida.

Ki...sa..ma.. aaahh... – a raposa tentou falar, mas foi surpreendido por outra mordida.

Sabe Raposinha, não sabia que em você existia uma parte tão gostosa assim... – disse lambendo a mais recente mordida.

Seu sangue é tão escarlate... – segurou o rosto dele e sorriu sarcasticamente – Vamos ver do que é capaz...

Tsura-koi? O qu... o que aconteceu? – a voz de Kana, ainda fraca, se espalha no ambiente.

Que bom que acordou. Estou precisando de ajuda...

Hã? – Kana olhou bem o que seu marido estava fazendo.

Peguei. Espero que tenha deixado um espaço nessa carne suculenta para eu morder...

Háháhá, ahá há...Pode apostar que sim!

Kurama arregalou suas esmeraldas, já vermelhas. Silêncio e humilhação eram suas únicas companhias. Uma lágrima solitária escorreu por sua face.

Yusuke observava atentamente as últimas gotas de chuva que cantavam na vidraça da janela. Seus olhos bem fixos no anoitecer carente, e o pensamento na tarde fracassada. Sua Raposa dormia tranqüila na cama, parecia tão dócil desse jeito.

"- Vai atacar? Não teria coragem...

O Senhor das Sombras ria da cara de dúvida de Yusuke. Se ele atacasse, ia atingir seu amante, se não Kurama podia morrer do mesmo jeito. Agora que estava em posse da Gema Vermelha, não precisava ficar brincando com inúteis.

- Alguém já te disse que é um miserável?

Yusuke tentava ganhar tempo, não sabia o que fazer. Kuwabara e Hiei estavam abatidos, Kurama sendo usado como escudo e a pedra, roubada.

- Ah sim. Mas não te interessa. Se quiser a pedra de volta, trate de ficar mais forte e venha ao meu palácio... – fez uma pequena pausa – Garanto que não vai se arrepender. – passou a língua pelos lábios e jogou o corpo do kitsune contra uma árvore.

- Como se atreve?

Com fúria, o moreno atirou um leigun contra seu oponente. Este, apenas desvia, mas mesmo assim, o golpe o acerta de leve no braço. Irritado com essa brincadeira, Tsura começa a destruir a floresta ao redor deles.

- Tenha sorte... Estou à sua espera. – e foi embora, se dissipando nas sombras.

- Kurama, 'cê tá bem? – Yusuke correu preocupado em direção a ele.

- Não foi nada... vamos ajudar os outros.

- Certo!..."

Aquele desgraçado...

Agora estava observando o sono de sua Raposa. Confortável? Quente? Aconchegante? Como ele conseguia dormir com problema feito esse? Tudo bem que eram duas da manhã, mas...

Mas...

"- Tenha sorte..."

Levantou-se e caminho lentamente até a cama.

"- Não foi nada..."

Os pensamentos não paravam de incomodar.

"- Tenha sorte..."

"- Não foi nada..."

Ao alcançar a cama, o moreno deu um tapa no rosto da criatura que jazia ali. Kurama acordou num pulo. Seu rosto ardia, seus olhos estavam inexpressíveis.

Ficou doido, foi Yusuke?

Não se finja de inocente, não para cima de mim...

Nani?

O moreno agarrou o colarinho do outro e começou um beijo selvagem e brusco.

Você... – afastou o beijo e segurou forte o rosto dele – Não é Kurama!

Que? Que brincadeira é essa Yusuke?

Isso mesmo que você ouviu. Não sou tão burro assim a ponto de não perceber.

Tsura quem te mandou, não foi? – começou a alterar a voz – O que fez com o verdadeiro? Responda CRETINO. – Yusuke balançava aquele corpo para frente e para trás em movimentos rápidos.

Foi tão fácil te enganar...

Ora seu miserável...

Era só o que estava faltando. Yusuke perdeu o controle e atravessou o peito do outro com sua mão fechada. Foi pego de surpresa, seu grito foi mudo. Sangue se espalhou, manchando a cama, o chão, a vítima e o próprio Yusuke.

Maldição...Agora tenho que me livrar desse cadáver, e limpar esta imundice.

"Você vai pagar e muito caro, Tsura...me aguarde..."

Um feixe de luz adentrava aquele cômodo, refletindo seu brilho sobre as pessoas que ali, encontravam-se esparramadas em meio aos lençóis imundos e almofadas estraçalhadas. O leve movimento da mão de Kana fez com que Tsura abrisse os olhos.

Tsura-koi... – ela sussurrou em seu ouvido - acho que a NOSSA RAPOSINHA chegou ao limite máximo de exaustão. – disse passando a língua pelo rosto de seu marido.

Tsura olhou a cama em busca de seu brinquedo. Lá estava ele, em uma das extremidades. Notou que ele estava trêmulo, com a respiração descompassada, aquele cabelo ruivo todo emaranhado, gotículas de suor formadas na testa e aquele sangue tão lindo, havia parado de escorrer.

Realmente... Mas achava que ele podia mais...

E pode, só que você não soube aproveitar, amor – deu um beijo no pescoço dele – e, aliás, o que te aconteceu?

Nada, só o encosto do Urameshi...

O filho de Raizen? O que estava com esta Raposa?

Aham.

Não era motivo para me bater... Acho que você está mais corrompido que eu... Como se atreve tentar ganhar de mim?

É, você voltou ao normal.

"Olhou seu relógio de pulso. Os ponteiros marcavam meia noite e onze minutos. Aquela praça estava deserta. Kurama só conseguia escutar os barulhos da própria natureza. Parou na entrada do bosque. Alguns galhos secos balançavam, um ruído daqui, outro dali, enfim, tudo nos conformes.

'Mas que inferno...Ah, se eu pego esse Koenma...'

Passos adentro do bosque e nenhum sinal do inimigo ou do objeto roubado. Kurama já estava começando a se irritar. Só ele, ali, naquela missão que surgiu-sabe-se-lá-de-que-inferno, em plena meia noite.

Tudo bem que Koenma já o mandara em algumas missões secretas. Mas procurar um dispositivo sabe-se-lá-do-que ali no meio da noite era demais.

Passos mais afundo, Kurama parou instantaneamente. Não conseguia mover nem braços, nem pernas. Percebeu que correntes demoníacas o prendiam ali. Sua energia sugada aos poucos. Seus gritos mudos começaram assim que sentiu alguém ou alguma coisa espancando-o.

O Mergulho da Escuridão o consumindo, tudo ficando silencioso, até que..."

Hnf. ACORDAAA – gritou chutando Kurama – Vamos seu pregiçoso...

A resposta foi um gemido, baixinho e curto. Kurama se esforçou até conseguir se sentar. Seu corpo judiado clamava por cuidados. Não conseguiu olhar Kana diretamente nos olhos e nem Tsura. Olhava somente o chão.

Não me faça perder a paciência mais do que perdi. – ela dá um tapa forte e sólido em seu rosto – Até dormindo você fica gritando, gemendo, suando...Por acaso era algum sonho?

NÃO FIQUE MUDO QUANDO EU TE FIZER UMA PERGUNTA... – ela disse gritando, dando mais um tapa, só que no outro lado.

Maldita... – Kurama murmurou, sua face inteira ardia.

E lembre-se de calar esta sua boca... quando eu mandar – Kana ordenou puxando seus cabelos.

Nizu adentrou o quarto apressadamente.

Senhor Tsura, ele está de volta.

Vamos minha doce Kana... – disse puxando-a pela mão.

Wow Imprestável, fique aqui e o vigie para mim. Faça o que quiser, mas quero o quarto limpo e ele vivo. ENTENDEU?

Sim, minha Senhora.

Kurama não se mexeu. Continuou ali na cama. Lembrou-se do sonho, ou melhor, Pesadelo-Inferno-fim-de-vida. Notou o olhar malicioso de Nizu, que se aproximava. Rosnou para ele quando sentiu as mãos imundas brincando com suas mexas ruivas.

Daijoubu, cuidarei tão bem de você quanto minha Senhora. Quero saber se hunmm...

"Não vou suportar isso por muito tempo..."

A trilha quente das lágrimas encharcava o rosto do ruivo, acompanhada pelo som da risada diabólica de Nizu.

Yusuke esmurrou a parede mais uma vez. Já perdera a conta de quantos havia feito isso. A parede estava quase toda esburacada. Como pudera ser tão burro? BURRO! Foi enganado e roubado.

Kurama... perdão...

O moreno saiu todo apressado do apartamento. Tinha de ir ao Reikai, provavelmente Koenma saberia de algo.

Só de pensar em destruir aquele miserável do Tsura, seu coração acelerava mais forte.

Kurama se encolheu ao lado da cama. Trouxe seus joelhos junto ao peito e suas lágrimas mudas abafavam seu rosto. Estava só. Depois de Nizu forçá-lo a ir para cama com ele, percebeu que podia ser pior do Tsura e Kana juntos. Marcas das agressões se estendiam pelo corpo, tanto externa como internamente. A luxúria daquele imundo exalava fortemente de seu corpo tão frágil. Estava com um profundo corte no lado esquerdo de seu estômago.

Ouvir o som dos ossos da sua mão direita quebrando foi torturador. Desnecessário dizer que foi doloroso. Basicamente, Kurama foi ao inferno e voltou.

Ah, Raposinha, te encontrei. Fiquei sabendo o que aquele Imprestável fez. - ela sorriu, afagando aquela cabeleira.

Daijoubu. Agora vou cuidar de você. – Kana puxou o kitsune pelo braço.

O ruivo hesitou, mas ela insistiu. Sem sucesso, a Senhora da Magia começou a arrastar Kurama para fora do quarto, fazendo sua pele atritar naquele chão áspero e manchar de vermelho.

Continua...


A/N: Não sei de onde tirei essa idéia, mas está aí... Acho que deu para notar, sou meio sádica (sem falar nos outros apelidos que meus amigos me dão). Descobri um dia desses que eu tenho uma terrível obsessão por sangue... No próximo capítulo, o final...