Capítulo 2

InuYasha e Sesshoumaru entraram no escritório do JuOhCho calmamente. Sesshoumaru caminhou diretamente para sua mesa ansioso em transferir as anotações ligeiramente confusas de Shippou para o seu arquivo pessoal. Claro que uma semana sem ter muito o que fazer durante o dia além de seguir o último 'alvo' tinha lhe dado tempo o suficiente para organizar parcialmente as informações que o pequeno yokai tinha recolhido.

InuYasha sorriu ao abrir a gaveta de sua mesa, sua ansiedade era por um motivo bem diferente do irmão. Estava faminto e tudo em que podia pensar era comer todo aquele saboroso ramen que tinha comprado antes de retornarem. Não compreendia, e nem ousaria tentar, como o irmão tinha transformado aquele professor pomposo em um alvo calmo o suficiente para aceitar ser trazido pacificamente. Até onde sabia, apesar de terem passado duas tediosas semanas, a não ser pelos preciosos pequenos momentos em que torturara Shippou, na Terra só tinham realmente falado com o velho por três dias.

A muito custo havia escondido a surpresa quando o irmão tinha levantado do esconderijo e começado a caminhar em direção a porta da casa. Por mais que pensasse naquilo ainda não conseguia entender como Sesshoumaru transformava a mais impossível das missões em algo simples.

=== Flashback===

- Onde você vai? – InuYasha levantou uma sobrancelha vendo o irmão caminhar do mesmo modo calmo e confiante em direção a porta da casa do velho.

- Conversar com o 'alvo'... – Sesshoumaru respondeu calmamente sem nem ao menos virar para olhar para o irmão. – O que lhe parece?

- Agora? – Ele levantou e começou a segui-lo sem ter outra opção.

- Sim.

- Sem mais nem menos?

- Sim. – O rapaz mais velho parou em frente à porta e calmamente tocou a campainha.

- Ele vai nos expulsar daqui, nem ao menos temos uma desculpa para estarmos—

- Você se preocupa demais com detalhes, InuYasha.

InuYasha abriu a boca para retrucar, mas voltou a fechá-la quando ouviu passos se aproximarem da porta antes que essa fosse aberta. Fechou os olhos prevendo insultos que não vieram e voltou a abri-los alguns minutos depois para encontrar o velho sorrindo na direção do irmão.

- Estava mesmo pensando quanto tempo mais demoraria até encontrá-lo realmente...

O 'alvo' abriu mais a porta para que os dois entrassem e se afastou dizendo que iria preparar um pouco de chá para que pudessem conversar civilizadamente. InuYasha suspirou e olhou para o irmão como se nunca o tivesse visto antes.

- Qual o problema agora, InuYasha?

- Não importa quantos séculos se passem eu nunca vou entender como você consegue fazer isso – Ele enfatizou a palavra fazendo um gesto com as mãos.

- A casa? – Sesshoumaru levantou uma sobrancelha antes de continuar ignorando a expressão do irmão – Seu tolo, não aprendeu que são desenhadas por arquitetos e construídas com tijolos por pedreiros e não por mim?

- Claro que não é a casa, seu infeliz... – Ele cruzou os braços na frente do peito e desviou os olhos para uma das janelas que mostrava o jardim, quando viu o pequeno sorriso nos lábios do irmão – Você me entendeu, não sei por quê tem sempre que me fazer passar por um completo idiota.

- Tédio.

- Nani?

- O tédio faz com que eu fique pensando em maneiras de humilhá-lo... – Sesshoumaru respondeu calmamente enquanto examinava as várias fotografias espalhadas em antigos porta-retratos de prata que estavam sobre uma das estantes – Tive tempo suficiente nessas ultimas semanas não acha?

InuYasha apenas murmurou um xingamento, calando-se quando percebeu a aproximação do velho.

===0===

InuYasha despertou de seus pensamentos quando um barulho de estática pode ser ouvido, fechou os olhos suspirando, esperando pela conhecida voz que viria a seguir.

- Sesshoumaru?... InuYasha? – Uma voz feminina pode ser ouvida em todo escritório o que fez com que todos os que estavam ali voltassem sua atenção para os dois rapazes – Apresentem-se em minha sala.

- Droga, Ela deve ter um radar... – InuYasha murmurou irritado – Estou com fome... vou comer antes de...

- AGORA, SEUS FOLGADOS!

- Acho que vai ter que continuar faminto, InuYasha. – Sesshoumaru suspirou enquanto puxava o irmão para o maior escritório que existia naquele andar. O único que possuía janelas também, ao menos janelas que tivessem algo interessante para ser visto através delas.

- Mas, nós acabamos de voltar... – InuYasha murmurou com lágrimas nos olhos enquanto se distanciavam da mesa e seu almoço – Quero comer algo!

- Diga isso a Ela, não a mim. – Ele abriu a porta e praticamente jogou o irmão em uma das cadeiras antes de fechá-la novamente. Olhou para a mulher a sua frente com uma expressão indiferente – Já temos um novo 'alvo'?

- Nós acabamos de voltar... – InuYasha sentou direito na cadeira e olhou para a mulher com hostilidade mal disfarçada – Por que temos que voltar a Terra sem nem ao menos termos a chance de comer?

- Tem que parar de pensar com o estomago, InuYasha. – Ela suspirou exasperada e estreitou os olhos castanhos e frios para o rapaz mais novo que baixou a cabeça desanimado, ao que parecia continuaria sem comer por algum tempo.

Sesshoumaru sorriu internamente ao ver o irmão afundar na cadeira sem dizer mais nenhuma palavra, olhou para a mulher sentada a sua frente que desafiando todas as regras continuava com a mesma aparência por quase quinhentos anos. O rosto continuava com o mesmo contorno firme e delicado, os cabelos negros e longos presos em um rabo de cavalo baixo que descia por suas costas até pouco abaixo da cintura e a mesma expressão fria e inexpressiva. Embora não mais usasse as roupas características de uma sacerdotisa ainda possuía aquela aura de poder e com certeza os séculos não tinham ajudado a tornarem-na uma 'pessoa real'. Quantas vezes olhara para ela e duvidara que fosse realmente humana?

A única humana que tinha recebido a punição junto com os yokais... Kikyou. Com certeza merecia a posição elevada com que tinha sido 'presenteada' quando o destino os tinha selado nessa dimensão separada e ao mesmo tempo tão perto do mundo que conheciam. A única das três irmãs que guardavam a Shikon no Tama que tinha sobrevivido. Não mais recordava quanto tempo havia se passado até que compreendesse o porque dela ter sido punida junto com os yokais que, contrariando sua própria natureza, possuíam sentimentos.

Kikyou contrariara sua própria raça não possuindo sentimentos. Essa era a razão de estar ali com eles e por isso tinha recebido o cargo mais alto daquele departamento. Quem melhor que alguém sem sentimentos para comandar os Shinigamis?

- Eu seria uma pessoa tão mais feliz se vocês inúteis prestassem atenção enquanto estou falando...

Sesshoumaru piscou espantando os pensamentos e voltou a atenção a garota, sentada a sua mesa e tamborilando as perfeitas unhas sobre a mesa. Contendo um suspiro irritado por estar perdendo seu precioso tempo naquela conversa inútil ao invés de voltar as suas anotações sentou na cadeira ao lado do irmão sem dizer uma palavra, sabia que aquilo apenas estenderia aquela 'reunião' desnecessária.

- Estou com fome demais para prestar atenção em algo além do meu estomago roncando... – InuYasha murmurou deprimido.

Sesshoumaru fechou os olhos ao ver Kikyou estreitar os olhos irritada, quando seu irmão idiota iria entender que Kikyou tinha o mesmo tipo de 'poderes' que eles? Ao ver o sorriso satisfeito nos lábios do irmão percebeu que ele tinha feito aquilo propositalmente. Girou os olhos pensando que InuYasha deveria ter algum tipo de prazer mórbido em irritar a garota mesmo sabendo que seria castigado depois.

- Agradeça aos deuses por eu estar de bom humor, InuYasha... – Kikyou ignorou o suspiro do rapaz que esfregava o estomago com um ar desanimado voltando sua atenção aos papéis de sobre a mesa – Vocês terão alguns dias de 'descanso'...

- Por que você mudou o tom de voz para dizer descanso? – InuYasha estreitou os olhos desconfiado e a garota apenas o ignorou continuando a falar como se não tivesse sido interrompida.

- Irão trabalhar com Shippou na biblioteca...

- Trabalho de pesquisa? – InuYasha quase gritou e mesmo assim Kikyou continuou a ignorá-lo. Sesshoumaru apenas fechou as mãos controlando a vontade de estrangular o irmão.

- E devo avisar que se ALGUÉM sequer esbarrar nele vai ter uma 'conversa especial' comigo... – Ela sorriu calmamente para InuYasha – Uma longa e instrutiva conversa...

- Por que está me castigando? Eu não fiz nada com a bola de pelos—

- Shippou. – Kikyou o corrigiu calmamente.

- Eu não fiz nada com SHIPPOU dessa vez. – Ele completou enfatizando o nome do pequeno yokai com evidente desgosto na voz.

- Tenham uma ótima semana na biblioteca... – Ela baixou a cabeça para os documentos e fez um sinal para que deixassem a sala.

InuYasha abriu a boca para protestar, mas o irmão foi mais rápido e antes que pudesse emitir qualquer som tinha colocado a mão sobre sua boca e o fizera levantar da cadeira arrastando-o para fora da sala.

- Quer transformar uma semana em um mês? – Sesshoumaru falou entre dentes depois que deixaram a sala. – Pelos deuses, idiota.... Quando vai aprender o momento de fechar sua maldita boca?

InuYasha estreitou os olhos e mordeu a mão do irmão que continuava sobre sua boca, sorriu satisfeito ao ouvi-lo murmurar um palavrão e soltá-lo.

- Agora.

- O que? – Sesshoumaru olhou para a palma da mão com a marca dos dentes do irmão.

- Agora.

- Você ficou mais idiota que o normal ou só está tentando me irritar repetindo coisas sem sentido?

- Você perguntou quando eu aprenderia a manter minha maldita boca fechada... e eu respondi agora, quando o mordi.

- ... – Sesshoumaru olhou irritado para o irmão enquanto pensava que era melhor deixá-lo 'vivo' para que fosse torturado por Ela depois. Sorriu satisfeito e virou começando a se afastar em silencio, sabia que InuYasha nunca agüentaria um dia quanto mais uma semana ao lado de Shippou sem fazer algo contra o pequeno kitsune.

- Ei! Sesshoumaru! – InuYasha o seguiu estranhando o silencio do irmão – Você não vai falar nada?

- Não.

- Não vai tentar se vingar?

- No momento não. – Ele continuou a caminhar até sentar em sua mesa calmamente com um sorriso satisfeito nos lábios.

- Pare de sorrir.

- Por que? – Ele perguntou inocentemente.

- Está me assustando, apenas pare.

- Não posso sorrir?

- Não quando acabei de aprontar algo com você e ainda não recebi o troco. – InuYasha sentou em sua cadeira em frente ao irmão e estremeceu ao ver que ele baixou a cabeça sorrindo ainda mais – Você colocou veneno no meu ramen, não colocou?

- Deixe de bobagens, sabe que mesmo que eu tivesse colocado não faria efeito em você. – Abriu a gaveta e tirou um antigo diário começando a fazer anotações, depois de alguns minutos levantou a cabeça para ver o irmão parado olhando desconfiadamente para a embalagem de comida. – Não estava com fome?

- Ainda estou.

- Então o que está esperando?

- Não vou comer isso. – InuYasha fechou a embalagem e olhou para o irmão irritado. – Fez com que eu perdesse o apetite pensando no que essa sua mente perigosa está planejando fazer comigo...

- Sério? – Ele tirou a embalagem das mãos do irmão pouco antes que ele a jogasse no cesto de lixo e sentou novamente – Não preciso pensar em nada... – Pegou os hashis de cima da mesa e depois de desembrulhá-los calmamente começou a comer, lançou um olhar divertido para o irmão enquanto notava várias emoções passarem por seu rosto.

- Você venceu... – InuYasha murmurou desanimado ao ver seu delicioso ramen ser degustado pelo irmão - Por que não preciso me preocupar?

- Acabou de responder a sua própria pergunta, meu irmão... – Sorriu vendo InuYasha levantar uma sobrancelha interrogativamente – Eu venci.

===== 0 =====

== ==

- Então vamos começar com essa conversa novamente?

- Você realmente pensou que eu desistiria?

- Na verdade, velho... (riso baixo) Eu ficaria decepcionado se você desistisse tão facilmente.

- Então por que perguntou se iríamos 'começar essa conversa novamente'?

- Força do hábito talvez... Aproveite enquanto estou distraído com o jogo e pense em suas perguntas para essa noite.

(silencio por alguns minutos)

- Sua vez, velho.

- Ainda estou pensando na pergunta, rapaz...

- Deveria pensar mais rápido, velho... Quem sabe escrevê-las em um daqueles diários que sei que coloca cada palavra que digo.

- Então tem me espionado? (tom surpreso)

- Na verdade eu não tinha certeza se realmente fazia isso... Estava apenas fazendo um teste... (Suspiro indignado do velho e o rapaz rindo novamente) Tem que entender, você é previsível... Apesar de ter mudado muito nesses anos, ainda tem a alma de um pesquisador... É apenas normal que fizesse anotações.

- Sou metódico e não previsível.

- Agora você soou como meu irmão quando é contrariado

- Por que tenho a impressão de que isso não foi um elogio?

- (riso novamente) Já decidiu sua pergunta, Sensei?

- Sente falta de algo da sua vida anterior?

- Eu não tinha muito na minha vida anterior

- Tinha um irmão, que recebeu a mesma punição que você.

- Então não posso sentir falta dele, não é mesmo?

- Por que está agindo desse modo rapaz?

- Não estou agindo de modo nenhum... Sua vez, velho.

- Não sente falta de seus pais?

- Eles morreram. Muito antes e agradeço a isso ou estariam presos a essa mesma armadilha.

(longa pausa)

- Nunca me disse qual foi a razão de ter se transformado em um Shinigami

- Sim, eu disse, mas você estava ocupado demais para prestar atenção. Sua vez de jogar.

== ==

A garota desligou o gravador, e depois de anotar mais alguns detalhes, tirou os óculos e os deixou sobre a mesa espreguiçando-se a seguir. Não sabia mais quantas vezes ouvira aquelas fitas durante o último ano, mas a cada vez era diferente e algum detalhe parecia chamar sua atenção. Talvez se todas as fitas estivessem catalogadas com datas fosse mais fácil compreender tudo aquilo.

Olhou desanimada para a pilha de relatórios que tinha achado há um mês atrás no quarto do velho Kayio Shinwa. Não conseguia compreender como um pesquisador afoito como ele por provas de suas teorias fantásticas pudera deixar que seu bem mais precioso chegasse a aquele ponto de desorganização. Será que não perceberá a importância de tudo aquilo para limpar sua reputação? Ou talvez apenas não tivesse tido tempo de organizar as coisas de modo compreensível para outra pessoa além dele mesmo.

Voltou um pouco a fita antes de apertar o Play novamente.

"- Eles morreram. Muito antes e agradeço a isso ou estariam presos a essa mesma armadilha.

(longa pausa)

- Nunca me disse qual foi a razão de ter se transformado em um Shinigami

- Sim, eu disse, mas você estava ocupado demais para prestar atenção."

Desligou o gravador com um suspiro desanimado. Quantas vezes mais teria que ouvir todas aquelas fitas? O rapaz dissera que já tinha respondido a aquela pergunta, mas ela, assim como o avô, não conseguia lembrar de ter ouvido algo nas fitas que pudesse ser uma resposta. 'Ao menos não uma resposta direta' estreitou os olhos e olhou rapidamente para seus relatórios procurando algum indicio que pudesse ser considerado aquela resposta. 'Como os yokais tinham se transformado em Shinigamis?'

Olhou para o gravador e para a caixa cheia de fitas a seu lado tentada a passar mais uma noite em claro ouvindo-as novamente, mas desistiu. Nunca chegaria ao fim se continuasse desse modo, afinal a resposta poderia estar em alguma fita mais recente também e não tão camuflada a ponto de ter que escutá-la várias vezes até entender o sentido das palavras.

Levantou a cabeça para a porta quando ouviu batidas insistentes, ao que parecia sua assistente estava tentando chamar sua atenção a algum tempo. Suspirou antes de lhe dar permissão para entrar.

- Sei que quer resolver esse mistério o mais rápido possível, mas tem que se alimentar direito. – Uma garota com longos cabelos presos em um rabo de cavalo entrou no escritório com uma bandeja – Não vai conseguir descobrir nada se ficar de cama, sabia?

- Estou sem fome, Sangô – Ela sorriu enquanto fechava os relatórios e levantava da cadeira lentamente, fez uma careta ao sentir os músculos reclamarem por ter ficado tanto tempo na mesma posição.

- Tome ao menos o leite.

- Eu não... – Suspirou ao ver o olhar decidido da outra garota e pegou o copo de leite antes de começar a andar lentamente sentindo a circulação voltar as pernas. – Você é pior que minha mãe... ao menos do pouco que consigo me lembrar dela.

- Imagino que isso seja um tipo de elogio.

- Não era bem um elogio... Mas, você sempre muda o sentido de minhas palavras... – Olhou em volta enquanto tomava o leite em pequenos goles, ainda havia tanto que precisava ser arrumado ali... E pensar que mais de um ano havia passado desde que seu avô morrera. Ao que parece mesmo não estando presente ele ainda conseguia envolvê-la com suas lendas... O problema é que a cada dia acreditava menos que fossem mesmo apenas lendas. Sorriu consigo mesma percebendo como parte sua ainda relutava em admitir que acreditava em cada palavra, gravada ou escrita, que encontrara até agora.

- Ligaram da faculdade agora a alguns minutos atrás... – Sangô começou lentamente esperando um sinal que a garota a sua frente estava prestando atenção no que dizia, suspirou quando a viu dar um pequeno aceno indicando que continuasse – É sobre Gengitsu-sensei.

- Qual o problema com ele dessa vez? – Ela perguntou distraidamente enquanto separava as caixas com documentos – Não se cansou de tentar me fazer passar por louca e agora conseguiu que a faculdade me despedisse?

- Não é isso... Ele...

- Não o vejo há alguns dias... – Pegou a caneta de seu bolso e marcou na tampa de algumas caixas a data aproximada dos documentos – Fico imaginando o que aquele velho descrente está tramando.

- Rin! – Sangô falou o nome da garota em tom de censura o que a fez levantar a cabeça um pouco assustada, abriu a boca para perguntar algo e parou quando a assistente levantou a mão impedindo-a de continuar – Ele está morto.

===== 0 =====

===== Quase três semanas depois =====

Sesshoumaru disfarçou um sorriso quando viu o irmão entrar na grandiosa biblioteca com uma expressão irritada no rosto. Já perdera a conta de quantas vezes ele caíra na armadilha de Shippou, deixara-se irritar ao extremo e acabará por bater no pequeno yokai raposa... apenas para ser chamado quase que instantaneamente a sala de Kikyou e receber mais 'alguns dias' de 'descanso' na biblioteca.

- Quanto tempo dessa vez, InuYasha?

- Não quero falar sobre isso... – Ele respondeu carrancudo enquanto desabava em uma das cadeiras ao lado do irmão que rapidamente fechou o arquivo que estivera lendo até aquele momento. – O que você está escondendo?

- Nada que seja da sua conta.

- Eu não perguntaria se não achasse que não é da minha conta.

- Não precisaria perguntar, se realmente fosse da sua conta. – Sesshoumaru guardou as folhas que tinha imprimido dentro de uma pasta e virou para o irmão – Responda minha pergunta.

- Você não respondeu a minha, por que acha que eu responderia a sua?

- Eu perguntei primeiro...

- E eu por ultimo.

- InuYasha... Está testando novos meios de ver até onde minha paciência chega?

- Talvez – O rapaz sorriu – Como estou me saindo?

- Muito perto de descobrir porque não sou um alvo para Shippou...

- Tão depressa? – InuYasha perguntou animado.

- Vai ser muito mais rápido quando eu desistir de resistir a tentação de colocar minhas mãos no seu pescoço e apertar lentamente... – Sesshoumaru sorriu com a imagem da cena se formando em sua mente – Sim... isso seria divertido...

- Não tenho medo de você... – InuYasha falou enquanto afastava a cadeira lenta e disfarçadamente do irmão.

- Vou guardar essa lembrança para outra ocasião... – Sesshoumaru terminou de guardar suas coisas e perguntou calmamente sem olhar para o irmão – Quanto tempo dessa vez, InuYasha?

- Mais uma semana... – Ele suspirou desanimado – Mais uma semana trancado nessa sala horrível, sem nada útil para ser feito e que tem esse insuportável cheiro de papel mofado!

- Você está em uma biblioteca. Leia.

- Eu disse algo útil.

Sesshoumaru suspirou enquanto contava mentalmente até um milhão, as ultimas semanas tinham provado que até mil não era mais o suficiente. Fechou os olhos imaginando o irmão preso por correntes que o deixavam livres por alguns metros enquanto uma mesa de dois metros de comprimento, coberta por potes de ramen que estavam seguramente fora de seu alcance. Imaginou a cara do irmão por ter sua comida preferida em tão grande quantidade bem a sua frente e não podendo pegá-la e sorriu ignorando completamente as palavras de InuYasha.

- O que eles estão fazendo agora? – Um pequeno yokai pulga perguntou pulando no ombro de Shippou.

- Não tente entender... – O garotinho falou – É pior quando se tenta entender.

- Eles estão discutindo sem parar desde que chegaram aqui?

- Sim, Myouga... – Ele suspirou lançando um olhar desanimado para os dois irmãos. – Era interessante no inicio e eu até me senti meio culpado por seguir as ordens Dela e provocar InuYasha apenas para que ele ficasse preso aqui por mais tempo... Mas, agora... sou obrigado a fazer isso se quiser alguns minutos de sossego.

- Não sente mais remorso? – Myouga pulou para a cabeça do kitsune para ter uma melhor visão dos dois rapazes que continuavam a se provocar. – Isso seria uma grande decepção para o meu Senhor se ainda estivesse vivo... ver os dois brigando sem parar e agindo como...

- Duas crianças. Duas grandes e teimosas crianças que precisam de punição – Shippou suspirou ouvindo uma cadeira cair no chão com força e se virou para olhar Sesshoumaru em pé pronto a pular no pescoço do irmão – Ei, panacas! – Estreitou os olhos ignorando a hostilidade ser voltada para sua pessoa. – Lembrem-se por favor que estão em uma biblioteca e que deveriam se comportar se não querem ser chamados por Ela novamente.

- Isso me lembra que Ela disse para que o avisasse que precisa conversar com você o mais rápido possível.

- Obrigado por me avisar tão rapidamente. – Sesshoumaru fechou as mãos em punhos e saiu do cômodo pisando duro, voltou alguns minutos depois quando InuYasha estava a ponto de abrir a pasta para ler o que continham as folhas que ele tinham guardado tão rapidamente com sua chegada. – Como eu disse antes... – Pegou a pasta das mãos do irmão e acertou um tapa em sua nuca sorrindo satisfeito ao ouvi-lo praguejar – Aprenda a obedecer minhas ordens.

- Feh! – InuYasha sentou na cadeira esfregando o lugar atingido.

- Finalmente um pouco de paz... – Shippou respirou fundo antes de voltar sua atenção ao computador a sua frente – E eu nem tive de apanhar dessa vez...

- Calado... estou tentando dormir aqui.

Myouga olhou para o rapaz de cabelos prateados por mais alguns minutos antes de pular para o ombro do kitsune falando de modo que apenas ele o ouvisse.

- Você só tem paz quando ele dorme? Não admira que o trabalho por aqui esteja tão atrasado...

- Você não sabe de nada, velho... – Ele arrumou as folhas com os relatórios procurando o ponto em que tinha parado anteriormente enquanto murmurava quase para si mesmo – Você não sabe um terço do que tive que agüentar nas ultimas semanas...

===== 0 =====

Kikyou levantou os olhos quando ouviu leves batidas na porta antes que esta fosse aberta, levantou uma sobrancelha quando viu Sesshoumaru entrar em seu escritório abraçado a uma pasta como uma criança se agarra a um bicho de pelúcia preferido.

- Não pergunte. – Ele murmurou sentando em uma das cadeiras e depositando a pasta a sua frente.

- Problemas com seu 'adorável' irmão, devo presumir...

- Ele insiste em se meter em assuntos que não são de sua conta. – Olhou para a mulher a sua frente sem conseguir disfarçar a impaciência por ter que ficar ali impedido de continuar com suas pesquisas particulares. – Vai dizer o que quer ou devo começar a 'chutar'?

- Boa tarde para você também. – Ela falou calmamente, sorriu internamente quando o rapaz girou os olhos impaciente – Como estão suas investigações sobre a garota?

- Como posso colocar isso sem parecer ingrato? – Ele estreitou os olhos quando viu os lábios femininos curvarem-se levemente em um sorriso – Quando eu disse que precisava de um tempo para organizar as informações que tinha... não quis dizer que precisava de InuYasha comigo fazendo observações idiotas a cada cinco segundos ou tentando descobrir o que diabo eu estou fazendo.

- Em outras palavras... – Ela falou calmamente ignorando a censura no comentário dele – você queria que eu o castigasse, sem nenhuma razão aparente, deixando seu irmão livre e sozinho para cometer mais tolices por ai enquanto você se trancava na biblioteca levantando mais suspeitas sobre nós dois?

- Não há suspeita nenhuma sobre você. A culpa do que aconteceu foi minha e não pretendo envolver outras pessoas... – Ele remexeu-se na cadeira desconfortável com aquela situação, detestava cometer erros e o tom condescendente da mulher a sua frente apenas fazia com que se sentisse pior.

- Conseguiu organizar as informações que Shippou conseguiu? - Ela perguntou com um discreto gesto para a pasta que ele trouxera.

- A maior parte... – O rapaz suspirou pegando a pasta novamente – As informações que ele trouxe são superficiais demais... não posso culpá-lo quando peço que pesquise sobre algo sem lhe dar muitos detalhes.

- Poderia explicar o caso a InuYasha. Tenho certeza que ele teria prazer em ajudá-lo, não pode continuar com isso sozinho. – Ela apoiou-se na cadeira e olhou para Sesshoumaru seriamente, estreitou os olhos levemente quando o viu negar com um gesto de cabeça – Tem que contar a alguém.

- Não posso envolvê-lo nisso. – Ele respondeu seco.

- A hora dele chegará e aí o que você pretende fazer? – Ela suspirou exasperada – Ignorar? Deixar que ele siga as ordens e acabe com outra chance de passar ao próximo estágio?

- Não existe outro estágio, isso não é um jogo e você sabe disso.

- Você sabe perfeitamente bem que o que eu quis dizer... há um próximo estágio, vocês não podem ficar presos aqui por toda a eternidade.

- Ficar preso aqui por toda a eternidade é um privilégio apenas seu? – Ele perguntou sarcástico.

- Ao contrário de você... de todos os outros... Eu sabia qual seria minha punição.

- Acha mesmo que o que fez foi tão errado que precisa ser castigada por mais tempo?

- Não é um castigo. – Ela baixou a cabeça escondendo o desanimo que falar sobre aquele assunto sempre lhe trazia – Minha missão é guiar vocês. Ficarei aqui até que o ultimo dos Yokais tenha tido sua escolha.

- Hipócrita, isso é o que você é. – Ele pegou a pasta em cima da cadeira a seu lado e levantou – Deseja liberdade aos outros e não para si mesma? Quer me fazer acreditar que é algum tipo de mártir que sofre para o nosso bem?

- Acredite do modo que for confortável para você – Ela falou em um tom falsamente doce, os olhos brilharam com desprezo – O fato, meu querido Sesshoumaru, é que as coisas serão feitas do meu modo e não há nada que você possa dizer ou fazer para mudar.

- Não tentarei mudar 'seu modo de fazer as coisas' – Ele caminhou para a porta sem esperar ser dispensado – Apenas digo que você não mudará o modo como resolvo MEUS problemas.

- Você tem uma semana para terminar 'suas pesquisas' ou eu mesma falarei com InuYasha. – Ela levantou irritada vendo-o começar a sair da sala ignorando suas palavras – E se pretende me contrariar... Avise InuYasha que você é o responsável por ele ter que passar os próximos dois meses trancado na biblioteca.

- Dois meses certo? – Ele parou do lado de fora e virou para ela sorrindo.

- Sim. Quero ver se consegue terminar suas preciosas pesquisas com aquele estúpido idiota em cima de você reclamando o tempo todo. - Estreitou os olhos quando viu o sorriso dele aumentar – Por que você está sorrindo? Eu acabei de...

- Você acabou de aumentar o prazo de minhas pesquisas.

- Eu não fiz tal coisa.

- Acabou de aumentar nosso 'descanso' para dois meses... – Começou a fechar a porta lentamente sem desviar os olhos do rosto dela vendo a surpresa substituir a raiva quando se deu conta que tinha sido enganada. – Lembra-se de nosso acordo?... Meu 'tempo livre' pode ser utilizado do modo que eu quiser...

- Maldito seja... – Kikyou respirou fundo e voltou a sentar calmamente - Foi a ultima vez que conseguiu me enganar... Dois meses e se até lá não tiver conseguido completar sua missão, e devo dizer que tenho certeza de que não conseguirá, pode dizer adeus a seu segredo. – Sorriu ao ver o brilho de raiva que passou rapidamente nos olhos dele – Contarei pessoalmente a seu odioso irmão sobre tudo que tiver descoberto e lhe farei o favor de pedir sua ajuda. – Sesshoumaru estreitou os olhos levemente antes de concordar com um aceno. – O que está esperando? Feche logo a porta, agora você está dispensado.

Ele fechou a porta calmamente tentando com todas as forças não demonstrar a irritação com o comentário dela. Ignorou todos que encontrou enquanto caminhava para a biblioteca, dois meses era mais do que suficiente para que obtivesse todas as respostas que precisava para se livrar daquela mulher irritante de uma vez por todas. Abriu a porta da grande sala que tinha passado as ultimas três semanas ignorando o pequeno Kitsune que resmungou algo sobre 'sua paz ter acabado' e caminhou até a cadeira do irmão que dormia desajeitadamente na mesma cadeira que o tinha deixado.

Sentou calmamente em seu lugar e ficou olhando para o irmão enquanto pensava o que deveria fazer... Com certeza seria muito mais proveitoso utilizar aquele tempo adiantando seu trabalho, mas a verdade é que se não descontasse toda a tensão daquela conversa em alguém não conseguiria fazer nada aproveitável.

Que o prazo e ameaças de Kikyou fossem para o inferno.

Sentindo-se muito mais calmo apenas em pensar nas possibilidades, levantou calmamente e pegou os dois livros mais pesados e antigos que existiam na biblioteca antes de caminhar lentamente até a mesa que ficava atrás da cadeira de InuYasha.

Shippou prevendo o que viria a seguir, pulou de sua cadeira e correu para o canto mais afastado dos dois irmãos e se enfiou embaixo de uma mesa colocando as pequenas mãos sobre as sensíveis orelhas.

- Ora de acordar, Bela Adormecida... – Sesshoumaru murmurou sorrindo antes de levantar os dois volumes o mais alto possível e deixá-los cair calmamente sobre a mesa, estremeceu levemente com o estrondo e sorriu satisfeito quando o irmão tentou levantar de um pulo.

Confuso por ser acordado de modo tão inusitado acabou perdendo o equilíbrio e caindo junto com a cadeira, abriu os olhos depois que uma quantidade impressionável de palavrões deixou seus lábios. InuYasha esfregou a nuca sentindo a cabeça latejar no local que tinha atingido o chão, sentou lentamente e olhou com raiva para o irmão quando o ouviu rindo disfarçadamente enquanto se afastava.

- O que diabo acha que está fazendo?

- Nada, apenas movendo alguns livros que estavam atrapalhando.

- Eles estavam atrapalhando você parados na prateleira?

- Parece que sim... e você não deveria dormir no trabalho...

- Não há nada para fazer. – Ele levantou a cadeira e a recolocou no mesmo lugar antes de sentar desanimado. – E pensar que teremos que passar mais uma semana aqui...

- Na verdade, InuYasha... – Sesshoumaru virou a cadeira lentamente para o irmão tentando impedir que um sorriso satisfeito aparecesse em seus lábios – Não será uma semana.

- Temos outro 'alvo'? – InuYasha levantou animado – Quando partimos?

- Não partimos...Ela aumentou nossa 'folga' – Levantou uma sobrancelha quando viu a cor fugir do rosto do rapaz a sua frente – Acho que não gostou de algo que falei.

- Duas semanas, então? – InuYasha suspirou desanimado.

- Na verdade... – Sesshoumaru virou a cadeira de costas para o irmão, não precisava vê-lo gritando. O som seria o suficiente para animá-lo para o resto da semana. – Dois meses.


N.A. – Oi minna,

Decidi que minhas notas neste fic serão o mais curtas possíveis, eu tenho o péssimo costume de falar demais em notas..sabem como é u.

Muito obrigada a todas que deixaram reviews, Naru fica felicíssima em saber que alguém está gostando disso aqui.

Reviewes - Kisamadesu ( devo ter medo dessa sua repentina sede de sangue? O.o Nah, acho que não será necessário XD), Megawinsome ( o próximo alvo só no próximo capítulo XD), Rin-chan( não se preocupe, terminarei todas no seu devido tempo. E a garota é...bem, leia o sobrenome do avô ô.o), Rafaela ( Eu disse na nota anterior, não será um crossover, então os personagens originais não aparecerão porque não se encaixariam na minha idéia. Mas, fico feliz que tenha gostado. P.s – Yami no Matsuei é demais, não é? (olhos brilhando)), Polly ( continuarei a ser má e postarei os capítulos quando terminá-los como sempre fiz. Você sabe que eu não guardo capítulos terminados), Yume Rinku (Que bom que gostou das "agradáveis conversas" que essa dupla tem XD Sim, Kagome aparecerá. Sesshy e Rin são os principais, mas ainda assim os outros darão o ar de sua graça no fic XD), Leila Wood ( Devo avisar a todos que esse fic será confuso até um determinado capítulo, os personagens escondem segredos uns dos outros e isso torna o entendimento confuso. Mas, não se preocupe, como tempo tudo se resolve XD), Dark-Sofy ( Você está falando de "Encontro Marcado" ne? Bem, ela não vai se apaixonar no inicio. É mais uma fascinação por ver algo que você "acredita desacreditando" se tornar real a sua frente. No more information XD), Tici-chan ( Será que ficou menos confuso agora?o.o), CaHh Kinomoto( Que bom que está menos confusa, ou será que vai ficar confusa novamente? XD Eu quero ser o próximo alvo do Sesshy ... Ah, não posso se ele me matar quem continua o fic? T-T), Rach Snape ( Obrigada, espero que continue a ler. Tentarei ser rápida na medida do possível), Hell's Angel- Heaven's Demon( Você foi a ultima review do capítulo anterior, assim como ência o.o. Fico feliz que esteja gostando =D)

Prontinho minna,

Mais uma vez, obrigada a todas e vejo vocês no próximo capítulo.... ( só não sei ao certo de qual fic O.o" )

Não esqueçam de dizer o que acharam ( Horário Político XD)

Kissus e ja ne,

Naru.