Capítulo 3
Kikyou caminhou calmamente pelos corredores escuros que levavam a uma parte pouco conhecida pela maioria das 'pessoas' que trabalhavam no JuOhCho. Todos os grandes segredos da organização estavam no subsolo, cada porta guardada por um espírito guardião. Apesar de poucos saberem da localização daquela área, todo seu conteúdo era precioso demais para que seus superiores confiassem que teriam a sorte de nunca serem descobertos. Ignorou a presença dos guardiões nas portas que passava e continuou seu caminho até o final do corredor, a única porta que ninguém achava necessário ser guardada, tirou a chave da corrente que sempre usava no pescoço e abriu a porta fechando-a atrás de si.
O brilho intenso da esfera púrpura no meio da sala reagiu a sua presença e aumentou sua luminosidade, cegando-a por alguns momentos. Aproximou-se parando a pouco mais de meio metro e estendeu a mão tocando a superfície com uma expressão triste no rosto ao ver a garota que permanecia adormecida ali dentro. Os cabelos negros quase uma cópia dos seus a não ser pelo comprimento, o rosto que jovem e com o a mesma expressão serena de sempre. Inspirou profundamente ao vê-la encolher-se mais, sempre pensava na irmã como um bebê no útero da mãe.
- Kagome... – Sorriu quando a garota pareceu relaxar dentro da esfera e a luz rosa que irradiava pareceu piscar em resposta a seu chamado. Como sempre esperou que ela abrisse os profundos olhos azuis acordando daquela prisão que tinha imposto a si mesma, mas nada aconteceu e Kikyou baixou a mão novamente observando a garota a sua frente flutuar no centro de sua cápsula protetora abraçada ao que dera inicio a tudo aquilo. Shikon no Tama. – Tola, não percebe que essa não é a solução dos problemas? É justo abandonar a todos que precisam de você? – Fechou as mãos em punhos e as levantou – Abandonou a tudo, sua vida, sua família, seu grande amor... Maldita fraca egoísta!
- Pare. – Uma doce voz feminina ressoou na sala, firme o bastante para fazer com Kikyou parasse o movimento da mão a poucos centímetros da barreira de luz que cercava a irmã. – Não pode forçá-la a fazer o que deseja, Kikyou... não mais.
- Midoriko-sama... – Kikyou baixou as mãos e fechou os olhos tentando recuperar a expressão fria que sempre mostrava a todos, enquanto a voz da outra mulher voltava a soar dentro da sala.
- Continue a vir aqui perturbar sua irmã e será proibida de voltar. – A forma de uma garota humana materializou-se dentro da esfera luminosa e olhou diretamente para Kikyou – É um premio por seus serviços, mas não durará se continuar a comportar-se dessa forma deplorável.
Kikyou apenas concordou com um aceno e afastou-se alguns passos sem encarar a mulher, não precisa de sua visão para saber o que encontraria a sua frente. Uma sacerdotisa, a primeira guardiã da jóia e a mais poderosa de sua linhagem. A protetora invisível de sua irmã.
- Quando foi que ela me obedeceu? – Sabia que não era saio contrariar Midoriko, mas aquela situação era insuportável. Aquelas visitas eram os únicos momentos em que podia baixar a guarda, mostrar o que realmente sentia... Mesmo que fosse para alguém que não podia ver isso – Se ela houvesse obedecido minhas ordens e afastado-se daquele yokai maldito isso não teria acontecido!
- Ela salvou vocês!
- Eu preferia a morte a esta semi-existência!
- Existe uma recompensa se vocês—
- O que? Passarmos a eternidade causando mortes?
- Cumprirem seu dever. – Midoriko respondeu calmamente – Não é um trabalho ruim e vocês nãi causam as mortes, apenas facilitam a transição.
- Estou cansada deste lugar. De viver cercada por yokais que olham com medo em minha direção.
- Você fez sua escolha, Kikyou.
- Eu não tive escolha! – Sua voz ecoou na sala vazia e por um momento ela teve a impressão de ver a irmã estremecer dentro da esfera que a protegia do mundo exterior. Balançou a cabeça afastando tal pensamento ao ver a mesma expressão serena no rosto tão parecido com o seu. – Kagome me desafiou! Esqueceu seu dever de sacerdotisa e se entregou ao amor daquele yokai nojento que tenho que agüentar todos os dias e no final... – Fechou as mãos em punhos tentando recuperar o controle ao ver o aviso nos olhos castanhos de Midoriko – No final, quando viu que estava tudo perdido, essa covarde se trancou dentro da Jóia e deixou a todos nós!
- Ela os salvou, ofereceu sua vida em troca da de vocês.
- Eu não pedi que ela fizesse isso!
- Você nunca pediu por nada, não pode culpar os outros por julgarem-na mais forte do que realmente é. – Midoriko deu as costas a garota morena – Ela aceitou os desafios da vida, Kikyou. Amou e sofreu com cada escolha que lhe foi apresentada. – Levantou a mão tocando a luminosidade púrpura como se está fosse algo vivo – Quando Kagome veio a nós propondo este acordo sabia os riscos, mas ela não podia deixar acontecer a todos o mesmo que acontecera a irmã caçula.
- Kagome...
- Volte a seus afazeres, Kikyou. – Midoriko virou-se para encara a garota com uma firmeza que contrariava a gentileza em sua voz – E não volte mais aqui se for para se lamentar. – Levantou a mão e Kikyou sentiu como se uma força invisível a empurrasse para fora do aposento – Cada pessoa tem uma carga, não permitirei que culpe sua irmã pelas escolhas erradas que fez.
- Midoriko-sama.
Kikyou assistiu em silencio a pesada porta fechar-se a sua frente, selando-a do lado de fora da câmara principal. Fechou os olhos, ignorando o sentimento de desprezo que tudo aquilo lhe transmitia e lutou para recuperar o controle. Não deixaria que ninguém a visse transtornada daquela maneira. 'Tem razão, Midoriko... Eu fiz minha escolha' passou as mãos pelas roupas alisando pregas que nem ao menos existiam na vestimenta impecável. ' Escolhi continuar minha existência cumprindo minha missão' virou-se de costas e começou a se afastar com passos duros e confiantes ' Escolhi não sentir'
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- Já chegamos?
- Não.
- Já chegamos?
- Não. - Suspiro
- Já chegamos?
- Não! – Olhar mortal.
- Droga! – InuYasha ajeitou-se novamente no banco do trem, ignorando o silencio do irmão. Sesshoumaru era o culpado por sua impaciência por ver civilização, passar tanto tempo enclausurado dentro daquela 'minúscula' biblioteca fizera mal aos seus nervos. – Quanto tempo fal—
- Prometo avisá-lo quando chegarmos, querido irmão... – Sesshoumaru abriu o laptop novamente, fixando sua atenção na tela colorida – Até lá, fique calado e durma.
- Mas, eu não estou com sono.
- Não lembro de ter perguntado algo... – Sesshoumaru falou distraidamente – Apenas lhe disse para dormir.
- Qual é o próximo alvo?
- São vários, não apenas um.
- Uma família? – InuYasha perguntou animado por obter resposta e não uma ordem para se calar novamente.
- Algumas, na verdade.
- Terremoto? – Perguntou lentamente. Odiava a gritaria em meio aos terremotos, mas aceitaria aquilo de bom grado. 'Tudo para poder ver uma área aberta novamente'
- Hum... não.
- Maremoto?
- Também não.
- Furacão?
- Não. – Sesshoumaru deu um pequeno sorriso antes de fechar o laptop e encarar o irmão. – Não vai continuar a tentar adivinhar?
- Melhor não – InuYasha remexeu-se no banco de maneira inconfortável.
- Cansou?
- Não. Estou com medo da resposta - estremeceu fazendo uma careta – Você sorriu para mim.
- Deixe de ser idiota, eu não sorri para você.
- Não?
- Não, sorri da situação. – Guardou o laptop cuidadosamente na mala e levantou – Chegamos.
- Mas... não tem estação aqui.
- Eu sei. – Sesshoumaru ignorou o irmão enquanto caminhava na direção da saída do vagão.
- Então? – InuYasha levantou quase correndo para alcançar o irmão.
- Então, nos descemos aqui. – Abriu a porta do vagão e sorriu para o irmão antes de pular – Esqueci de mencionar que a causa das mortes é um acidente de trem?
- E você disse que eu devia dormir?
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- O que houve, velho? Parece desanimado. ( barulho de cartas sendo embaralhadas )
- Estou pensando, não poso?
- Está se tornando meio ranzinza com a idade, sabia?
- Talvez todos fiquem a sim ao perceber a aproximação do fim.
- Sim, talvez.
- ...
-...
- Não vai responder?
- Era uma pergunta?
- Apenas pessoas desprovidas de inteligência respondem uma pergunta com outra.
- Que bom que concorda, digo isso ao meu irmão o tempo todo,mas ele sempre repete esse erro.
- Escute, rapaz shinigami, eu não—
- Sesshoumaru.
( pausa
- Como disse?
- Meu nome é Sesshoumaru, estou ficando cansado de ouvi-lo me chamar de rapaz quando sou muito mais velho do que você.
- Pensei que não podia me dizer seu nome. ( a voz do velho ainda soava surpresa )
- Como você mesmo disse, seu fim está próximo...
- ...
- Sei que não vai colocar meu nome no jornal, velho... Mesmo que fizesse isso ninguém acreditaria.
- Você tem razão, ra... Sesshoumaru.
- Certo. Nada de perguntas hoje? ( riso baixo ) Não está curioso para saber o que o aguarda?
- Não, obterei o que merecer. ( suspiro indignado ) Vamos voltar ao xadrez, você é muito habilidosa com cartas, rapaz.
- Você quem sabe, velho ( riso )
Rin desligou o gravador estremecendo com o som daquela risada, por alguns minutos não pensou como aquilo parecia familiar. Encostou-se na cadeira, deixando os olhos passearem pela sala, aquela conversa havia sido uma das ultimas que o avô tivera com o tal Shinigami, pela data na etiqueta, pouco menos de um mês antes de falecer.
- Sesshoumaru...
Deixou que o nome deslizasse por seus lábios lentamente, pensando que talvez isso aumentasse aquela estranha sensação de conhecer aquele nome, aquela voz... Mas, foi em vão. A garota levantou com um suspiro desanimado. Pulara vários 'meses' de gravação e fora diretamente para aquela, desejara ouvir o 'final', mas não tivera coragem 'Ao menos ainda não.' Desde o momento que soubera da morte de Genjitsu-sama, mergulhara no trabalho, alguma coisa lhe dizia que aquela morte tinha algo a ver com ela. ' Estou ficando paranóica' abriu o velho gravador e tirou a fita cuidadosamente ' Toda essa conversa de criaturas sobrenaturais, coisas que eu não devia acreditar...' fechou a caixa cuidadosamente e a colocou na estante junto com as outras ' Daqui a pouco começarei a ver Shinigamis em todos os lugares'
- Acho que confiou demais em mim, vovô... – Caminhou até a janela, observando o céu noturno iluminado pelos raios que cortavam o céu. – sua neta não é mais capaz de separar o que é real da fantasia...
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- O que diabos acha que está fazendo, InuYasha?
O rapaz mais novo estremeceu, derrubando o copo que segurava no chão, virou-se par encarar o irmão zangado, mas achou melhor controlar as palavras. Sesshoumaru ao parecia nada contente com aquela situação.
- Estou com frio, estou... quer dizer, estava tomando chocolate quente.
- Volte agora mesmo para o seu lugar. – Sesshoumaru falou entre dentes – Existe uma razão para que você tenha vindo comigo, é muita gente só para mim!
- Mas, começou a chover... Estou com frio!
- Fora! Já!
- Não fale comigo assim ou da próxima vez jogo o chocolate quente na sua cara!
- Agora, antes que eu ceda a tentação de chutar seu traseiro!
- Sempre brigando – Shippou balançou a cabeça desanimado, estreitou os olhos quando os dois irmãos continuaram a discutir ignorando sua chegada e os acertou com a o rolo de papeis que segurava – Parem, idiotas! – O pequeno kitsune congelou ao ver os dois pares de olhos dourados voltarem-se para encará-lo. – E-e-eu... não...tenho medo de vocês! Voltem ao trabalho! – olhou para os lados antes de murmurar como se fosse um pedido de desculpas – ELA está irritada hoje.
- Quando é que ELA está de bom humor? – InuYasha perguntou enquanto olhava para a chuva torrencial com desgosto.
- Dai-me paciência! Não é como se fosse ficar doente e morrer! – Sesshoumaru empurrou o irmão para fora da proteção e sorriu quando o viu abrir os braços para adquirir equilíbrio o suficiente e não cair. – Isso é para mim? – Puxou o rolo de documentos da mão de Shippou e começou a examiná-los calmamente.
- Por que diabo fez isso?
- Eu disse que chutaria seu traseiro, agradeça a minha bondade por não ter feito isso.
- Ora seu... – InuYasha investiu contra o irmão, rosnando quando ele colocou a mão em sua testa segurando-o longe o suficiente para que não pudesse atingi-lo.
- Então, Shippou... – Sesshoumaru perguntou calmamente, ignorando o olhar chocado do filhote de raposa. – Tem algo mais a dizer?
- Não, não...
- Tire a mão de mim e venha brigar!
- Acho que já fiz tudo o que precisava.
- Ok. – Sesshoumaru recolheu a mão de repente, o que fez com que o irmão caçula caísse no chão com uma expressão espantada. – Quanto tempo ainda temos?
- Até o nascer do sol. – A voz esganiçada de Shippou foi ouvida mesmo depois de ele ter desaparecido, quando ouviu o primeiro xingamento de InuYasha, o kitsune achou melhor não estar presente quando o rapaz levantasse.
- Certo. – Sesshoumaru deu meia volta, saindo para a parte descoberta, ignorou os palavrões proferidos pelo irmão enquanto observava o local cuidadosamente. Tanto a fazer em tão pouco tempo – Vamos, InuYasha... – Levantou a gola do casaco, estremecendo quando a chuva encharcou seus cabelos – Já deixei você brincar com a lama por tempo suficiente...
N.A. – Ok, eu sei que demorei muito com esse capítulo... Ele está curto também ( desapontada ), mas é assim mesmo. Capítulos grandes ficam desnecessários as vezes . Principalmente quando eu quero ser má. ( sorri )
Acho que esse capítulo conta algumas coisas ( confunde outras também ( esperançosa))
Obrigada as reviews: Rin-chan( eu já disse adoro escrever discussões? XD), Kisamadesu( é tão engraçado fazer analogias ridículas aos personagens ( sorri malignamente)) ,Cássia ( que bom que gosta, eu sei que tem partes confusas, mas é assim mesmo ), CaHh Kinomoto ( outra que gosta de ficar confusa ( comemorando )), Rafaela1 ( Estou pensando como inserir essas coisas, mas o provável é que sim ( sorri ) Ora, nada é impossível. Apesar de a maioria dos meus fics serem de InuYasha, nunca se sabe , não é? ) , Leila Wood ( Não vou matar ninguém...ainda XD Tenha calma que a confusão um dia acaba ) ,Yume Rinku ( O segredo dele eu não posso contar XD Que bom que está gostando, fico muito feliz ), Megawinsome ( fico feliz que esteja gostando ) , Hell's Angel – Heaven's Demon ( O seu palpite estava correto? Fico feliz que esteja gostando ) , Madam Spooky ( Eles não estão absolutamente adoráveis? Assim como eu e você XD Quase completamente em paz ) , Shampoo Sakai ( Espero que esteja bem, faz tempo que não a vejo. Não li ou vi nenhum desses livros/filmes, como eu disse apenas achei interessante juntar alguns elementos de Yami no Matsuei a InuYasha, mas parecem interessantes, talvez eu os procure ( menos Cidade dos Anjos que me dá sono só em pensar) Espero que esteja gostando, seu segredo quanto ao 'xadrez' está a salvo comigo XD ) , Kikyou Priestess ( Que bom que quebrou sua resistência e resolveu ler XD e melhor ainda que está gostando.. Beijos Lally , Juliane.chan ( A Kagome já fez uma aparição, pequena eu sei... mas é um começo. Espero que goste ) , Spirit of Rin ( Oi, sumida. Espero que goste deste capítulo também ) e MiSs BlacK ( Rin ficará sendo a neta e Kagome já apareceu. Eu sei o que cada uma vai fazer. Não se preocupe. Beijos
Prontinho, minna.
Muito obrigada mais uma vez pelas reviews. E desculpem pela demora exagerada, mas tempo não tem sido algo que eu tenho tido muito.
Espero que gostem e deixem sua opinião.
Kissus e ja ne,
Naru.
