Incógnitos

Capítulo Três – Inesperado

Cara olhava para as fatias de bolo de chocolate no centro da mesa, e se perguntava se poderia dar conta de outra delas quando Gina cutucou-a. "Ei, você não deveria encontrar a Professora Stone depois do jantar?", sua amiga perguntou.

Cara deixou escapar um suspiro, silenciosamente mastigando o bolo. "É", ela disse com a boca cheia. Chocolate realmente era o que importava naquele momento. Aquilo evitaria que sua primeira fatia ficasse solitária, lá embaixo em seu pequeno estômago.

Gina apoiou o queixo numa mão enquanto cortava outro pedaço de seu bolo. "Oh, vamos", ela disse, lambendo os lábios cheios de glacê. Maravilhoso, doce glacê... "Ao menos você vai ter ajuda, e ela não vai deixar você ser reprovada nessa aula. Um tutor vai te ajudar a passar nos N.O.M.s".

Cara não conseguiu resistir, esticou-se e encheu um dedo do glacê no prato de Diana, provocando um gritinho e uma ameaça com garfo da outra garota. "Eu sei", disse ela, chupando o dedo. Droga, aquele era um glacê e tanto. Especialmente desde que Diana errara sua mão com o garfo. "É apenas depressivo, entende? Quero dizer, eu consigo passar em tudo mais. É só aquela droga de aula estúpida."

Diana ainda olhava afetada para ela. "Talvez fosse melhor se você mantivesse seus dedos longe das sobremesas dos outros", disse.

Cara apenas mostrou a língua para ela, que por sua vez respondeu igualmente, o que fez Cara esticar mais ainda a sua. Gina virou os olhos. "Isso é tão indecente", ela disse, empinando o nariz.

Satisfeita por ter "ganhado" em algo ao menos uma vez, Cara relaxou e franziu a testa. "Acho que eu devia ir", disse, relutantemente. Gina deu um tapinha simpático em suas costas enquanto ela se levantava.

"Vai dar certo", a amiga de Cara disse. "Você vai ver. Com certeza a Professora Stone escolheu alguém legal para você, alguém que conheça a coisa. Provavelmente Hermione", sugeriu.

Cara lançou um longo olhar pela mesa. "Onde está o seu irmão e os amigos dele, de qualquer forma?", perguntou.

Gina ficou com um olhar ligeiramente travesso. "Eu não sei", ela disse. Cara decidiu não insistir. No ano passado, Gina ficara muito mais próxima de seu irmão e amigos, a brilhante Hermione Granger e o famoso Harry Potter, mas ela ainda ficava chateada quando eles sumiam repentinamente e não lhe diziam nada. A própria Cara não os conhecia muito bem, mas todos os três pareciam pessoas bastante boas.

"Certo", ela disse, roubando outra dedada do glacê de Diana. "Fui". Lambeu o dedo enquanto caminhava em direção às portas de saída do Salão Principal. Definitivamente ótimo glacê, ela pensou. Se ela não tivesse que ir lá embaixo, pegaria outro pedaço.

Distraída com seus pensamentos, ela quase trombrou com os três grifinórios perdidos. "Ops, desculpem", ela disse, vacilando um pouco quando Rony Weasley a segurara para evitar que caísse.

"Tudo bem aí, Cara?", Harry perguntou. Um pouco vagamente, como se estivesse com o pensamento em outras coisas.

"Ótima", ela disse, dando aos três um sorriso amigável. "Er, Hermione, você está descendo para ver a Professora Stone, por acaso?", questionou, esperançosa.

Hermione também estava mais do que um pouco distraída, e balançou a cabeça. "Não, eu já a vi", ela disse, claramente não prestando atenção e ocupada com suas próprias preocupações.

"Ei, a comida já está no fim!", Rony disse, soando alarmado, e Cara sorriu largamente enquanto os três iam direto para a mesa da Grifinória. Gina já mencionara o apetite de seus irmãos antes. Aquilo podia ser uma coisa muito, muito assustadora.

Ergueu a cabeça e tomou mais uma vez seu caminho. Hermione não era sua tutora, pensou. Então quem?

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Draco saíra do jantar mais cedo, sempre preferindo estar adiantando a atrasado. Adiantado significava que ele estava sentado e confortável, preparado e acomodado numa posição de poder enquanto esperava sua aluna. Bufou na classe silenciosa. Sua aluna. Hah. Ele não era droga nenhuma de professor, e não queria ser. Mas ele queria preparar a Poção Mata-Nervos.

Ele escolhera um assento contra a parede, num canto escuro da sala. A Professora Stone erguera uma sobrancelha e virara os olhos ao vê-lo sentar, murmurando algo sob a respiração sobre o Professor Snape e algo muito similar. Draco decidiu ficar lisonjeado com a comparação. Afinal de contas, Snape era uma das pessoas mais amedrontadoras que ele já conhecera. Ele gostava mesmo da idéia de intimidar alguém daquele jeito.

Ele olhou de relance para o relógio, um pouco impaciente. Onde estava aquela McDouglas, afinal? Ele não gostava particularmente da idéia de passar a noite inteira esperando alguma quintanista com a cabeça nas nuvens.

Felizmente para sua aluna, ela resolveu aparecer poucos minutos depois. Claro, àquela altura Draco já tivera tempo de fazer uma lista mental de várias poções ácidas que ele poderia se divertir em ver uma grifinória tentando fazer. De seu canto, ele observou com olhos pensativos enquanto a porta se abria, e uma garota de cabelos negros entrava.

A garota olhou em volta, mas não pareceu vê-lo em seu canto sombrio. A Professora Stone entrara no escritório de Snape, sendo que Draco teve um tempo livre para inspecionar sua nova protegida.

Ela era razoavelmente pequena, com o cabelo negro amarrado num rabo-de-cavalo atrás da nuca. Draco estudou-a cuidadosamente. Ela parecia nervosa, ele pensou, não com pequena satisfação. Espere até que ela descubra que seu tutor é o malvado Draco Malfoy, ele sorriu, maliciosa e silenciosamente. Ela não era intragável, e sim bonita, na verdade. Mas aquele olhar vago era desanimador. Ele supôs que isso fosse uma coisa boa, aquela grifinória sendo tão meiga. Seria fácil intimidá-la.

Logo em seguida, a Professora Stone veio saindo do escritório, carregando um livro muito grosso em sua mão livre. "Ah, Srta. McDouglas", ela disse, sorrindo para a garota. A qual, Draco notou em escárnio, devolveu com um sorriso muito tímido. "Que bom que está aqui. Deixe-me apresentar ao seu tutor. O Sr. Malfoy", ela disse, olhando diretamente para Draco.

Ele manteve os olhos na garota por um momento, enquanto se mantinha sentado por um momento. Ela congelou quando a Professora Stone dissera seu nome, e então lentamente virou-se para olhá-lo. Ele deixou que um sorriso sádico atravessasse seus lábios antes de resolver se levantar. Uma olhar de completo desânimo e sim, medo, ele ficou satisfeito em notar, atravessou seu rosto antes que ela umedecesse os lábios e olhasse ansiosamente de novo para a Professora Stone.

"Draco Malfoy, Cara McDouglas", a Professora Stone disse alegremente, ignorando o olhar suplicando da menina. "Acho que vocês não se conhecem."

"Eu não tive o prazer", Draco disse numa voz sedosa, casualmente saindo das sombras em direção à garota.

A Professora Stone sorriu novamente. "Bem, então vocês terão muitas oportunidades para se conhecerem", ela disse, ainda naquela voz animada. Francamente, Draco estava começando a se perguntar sobre toda aquela alegria. Será que a Professora Stone estava tramando alguma coisa? "Cara, Draco é um dos meus melhores alunos de Poções, e ele estará trabalhando com você como seu tutor."

"Mas...", a grifinória gaguejou tolamente.

A professora olhou-a e ergueu uma sobrancelha. "Sim?", disse, um pouco daquela alegria sumindo e uma certa rispidez tomando seu lugar. Oh, ela era boa, pensou Draco com admiração. Certamente estivera tendo algumas lições de manipulação com Snape.

A garota umedeceu os lábios mais uma vez, e então balançou a cabeça. "Hum, nada", ela disse, engolindo em seco.

Draco decidiu que era hora de contribuir na conversa. "Eu a encontrarei aqui", ele disse em tom frio, "três noites por semana, e não ser que você precise de mais do que isso. Ele vasculhou-a com seu olhar, claramente insinuando que ela precisaria. As costas dela pareceram endurecer a isto por um momento, antes de relaxar. Nenhum orgulho, ele pensou com desdém. Outra grifinória patética. "A Professora Stone nos garantiu o uso da sala e dos suprimentos."

"A Srta. Granger e o Sr. Longbottom decidiram trabalhar durante um de seu tempos livres no dia", a Professora Stone disse, inclinando-se e deixando sobre a mesa de Snape o pesado livro que trouxera consigo. "Então vocês terão à sala toda à sua disposição. O Professor Snape e eu provavelmente estaremos em nossos escritórios, se precisarem de nós."

Draco manteve seus olhos na garota. Cara, ele pensou. Hah. Ela parecia bem o tipo que precisaria de toda a ajuda que ele pudesse dar. "Amanhã, às oito da noite", ele disse friamente. "Estarei esperando, McDouglas." Com isso, virou-se para a Professora Stone. "Eu poderei fazer o meu trabalho independente ao mesmo tempo, professora?", ele perguntou, mentalmente dispensando a garota.

A professora inclinou a cabeça e encarou-o com olhos fixos. "Sua prioridade é sua tutela, Sr. Malfoy", ela disse. Draco sentiu uma pontada quando aqueles olhos fixaram-se nele. Droga, ele pensou. Ela sempre parecia fazer aquilo a ele. "Desde que você seja capaz de dar à Srta. McDouglas toda a ajuda de que ela precisar, eu não terei problema em permitir seu próprio trabalho. Entretanto", ela ergueu um dedo quando o canto da boca dele já se erguia em satisfação. "eu precisarei ver uma proposta do que você pretende fazer, e quais suprimentos irá requerer. Eu preferiria estar presente se você for lidar com materiais muito voláteis."

Ele assentiu, ouriçado. "Sim, senhora", ele disse. Começou mentalmente a fazer notas. "Terei a proposta pela manhã."

Ela sorriu para ele, com aquele grande e iluminado sorriso que fazia algo ficar fraco e murcho por dentro dele. "Excelente", ela disse, a aprovação lhe escapando na voz. Ela voltou seu sorriso para a tolinha ainda parada perto de si. "Srta. McDouglas, estou certa de que verá como o Sr. Malfoy pode ser de grande ajuda. Há mais algo que vocês tenham que combinar esta noite?", ela perguntou, voltando-se para ele.

Draco inclinou a cabeça respeitosamente. "Não, senhora", disse.

"Então eu acho que terminamos", ela replicou com um sorriso. "Tenham uma boa noite, vocês dois."

Draco assentiu, e então virou-se para a garota. Sorriu, um sorriso cheio de dentes. "Depois de você", sibilou.

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Cara não podia acreditar. Entre todas as pessoas, na escola inteira, ela escolhera Draco Malfoy para seu tutor. Por que eu? Silenciosamente lamentou sua sorte. Todos sabiam que o sonserino era sinal de más notícias. Porque, depois de todas aquelas histórias no ano passado, sobre ele ter ferido a Professora Stone, e então seu período de testes, e rumores sobre ele e seu pai Comensal da Morte... Ele provavelmente a enfeitiçaria, ela pensou miseravelmente, arrastá-la para algum encontro de Comensais da Morte, ela seria torturada e morreria sob as mãos de Voldemort...

"Não se atrase", disse uma voz fria atrás dela, quase fazendo-a tropeçar em surpresa ao ser tirada de suas lamentações miseráveis. "Eu detesto hábitos desleixados como atrasos. Se quiser a minha ajuda, terá que estar pronta pra isso."

"Tanto faz", ela murmurou sob a respiração, certa de que ele não podia ouvi-la. Mas, logo em seguida, ela sentiu dedos fortes e mornos segurarem sua nuca, puxando-a e fazendo-a parar.

Malfoy segurou-a com uma mão pela base da nuca e se inclinou, próximo do rosto dela. Cara engoliu em seco e teria recuado, mas não havia realmente qualquer lugar para onde ir. Sua mão era forte demais para que ela pudesse se desfazer. Ela espiou freneticamente para cima e para baixo no corredor. Não havia ninguém assistindo, ninguém para salvá-la.

"Não se oponha a mim, McDouglas", Malfoy sibilou, seu rosto frio e rígido, os olhos de um cinza gelado. "Você é muito sortuda por eu estar fazendo isso, e eu não hesitarei em fazer sua vida miserável, se você me der a menor das razões para isso."

"Então por que você está se incomodando?", ela deixou escapar demais, um pouco mais assustada com ele do que devia, o estudante mais aterrorizador da escola, para prestar atenção no que estava dizendo.

Um canto da boca dele curvou-se levemente em menosprezo. "Isso não te interessa", ele disse, e então soltou-a. "Oito da noite, em ponto", ele disse mais uma vez, recuando um passo e olhando-a friamente. "Veremos o quão incompetente você é."

Cara soluçou numa ofensa assustada, mas ele já lhe dera as costas e estava atravessando rapidamente o corredor de pedra, os sapatos quase sem fazer som algum no pavimento. Ela ficou parada, observando o ponto onde ele desaparecera afinal. Então seus músculos pareceram despertar, e ela apressou-se em sair dali.

"Por que eu?", ela resmungou baixinho. "De todas as pessoas, por que eu?", Ergueu a cabeça repentinamente e deu de cara em uma coluna, franzindo a testa enquanto o barulho ecoava nas paredes de pedra. Ai. Suspirando muito fundo, ela se endireitou e retomou a direção da Torre da Grifinória. Esperem só até que Gina soubesse que Draco Malfoy era seu tutor, ela pensou sombriamente.