Incógnitos

N/A Shahrezad1 e MetroDweller: Ainda não está exatamente o dia seguinte, então... aproveitem este pedacinho! Oh, e aqui está um pouco da intriga que eu tinha prometido...

Capítulo Dez – Boa noite, durma bem

Cara estava acordada, úmida e fria quando a escadaria decidiu se mexer. Não mais do que dois minutos antes que ela e Draco sentissem o estremecimento e apressadamente se jogassem para o meio do patamar, Pirraça os despertara com seus balões de água gelada. E fora quando eles ainda estavam xingando e exclamando que aquela escada estúpida começou a se mover.

"Alunos fora da cama!", Pirraça zombou. "Alunos fazendo o que não deviam, alunos onde não deviam estar!" Ele foi sumindo, ainda cantando. "Filch! Filch! Alunos fora da cama..."

"Maldito poltergeist estúpido", Cara murmurou, conforme a escada finalmente se locomovia. "Merlin, eu queria ter descoberto aquele feitiço estúpido..."

"Acredite em mim, não há uma só pessoa nesta escola que não tenha tentado um", Draco disse. Cara piscou e olhou para ele, surpresa. Ele estava conversando com ela, realmente conversando com ela? Ele sorriu com desdém para ela, o lábio numa curva fina. "Levante-se, McDouglas, nós podemos finalmente nos livrar desta escada ridícula."

Então eles haviam voltado ao mundo real. Cara deixou escapar um suspiro, afastando o cabelo molhado do rosto. Enrugou o nariz em desagrado conforme tentava torcer a água em ensopara sua saia.

"Dehumidous", e de repente ela estava bem mais seca e quente. Surpreendida, Cara ergueu os olhos para Draco, apenas para vê-lo franzindo a testa para a escadaria, ainda invisível. Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, não estava certa do quê, mas fechou-a quando ele virou-se para ela. Hmm.

"Fique perto da parede e não olhe pra baixo", Draco ordenou bruscamente. "Venha logo atrás de mim." O queixo de Cara caiu enquanto ele pegava sua mochila e sua capa, para depois ficar em pé e pisar sobre o próprio ar.

Draco já subira vários "degraus", antes que ele se virasse e olhasse de volta para ela. Cara não movera um músculo. Hã-han. Ela não iria ali. Ela cairia e se esmagaria em milhões de pedacinhos, e teria um funeral trágico e todos os seus amigos estariam lá chorando e jurando vingança àqueles corvinais piolhentos...

"McDouglas!", Draco sibilou para ela. Cara engoliu em seco. "Mexa os pés e ande!"

Agarrando sua própria mochila e sua capa com força, ela escorregou um pé para frente com timidez. Seu pé tateou algo invisível e ela muito cuidadosamente ergueu-se e tentou o que deveria ser um passo. E então congelou.

"Bem? Vamos", ele estava resmungando para ela.

"Eu... hum...", ela soluçou, tentando se forçar a apoiar seu peso no pé à frente. Borrões dançaram sem nexo diante dela, e ela fechou os olhos para fazê-los parar. Ouviu Draco deixando escapar uma bela coleção de palavrões que normalmente a faria arregalar os olhos em surpresa.

E então ele agarrou sua mão, e aquilo FEZ seus olhos se arregalarem. "Olhe, apenas me siga, ok?", ele falou em tom arrastado. Ela olhou nos olhos dele, de um cinza pálido e perfeitamente sério. E nada assustador, afinal. De fato, eles a faziam sentir... segura.

Ele apertou a mão dela. "Vamos", sibilou. Ela engoliu em seco com dificuldade e assentiu. E deu aquele primeiro passo. Não olhe pra baixo, não olhe pra baixo, não olhe pra baixo, repetiu silenciosamente, mantendo os olhos fixos num ponto entre os ombros dele enquanto era guiada com lentidão pela escada transparente. Em certo ponto, ela tropeçou e Draco girou e pegou-a com a outra mão, os olhos estreitos e talvez... preocupados?

"Agora não é hora para ser desastrada, McDouglas", ele sibilou, antes de soltá-la uma mão e recomeçando a subir.

E era uma longa subida, muito mais longa do que ela gostaria, mas menor do que ela imaginara. Entretanto aquilo deveria ser porque ela estava tão focada no garoto à sua frente e a sensação dele segurando sua mão. Ele tinha mãos fortes, assim como seus ombros, ela pensou distraidamente. Havia pequenos traços e cicatrizes em sua mão, ela podia senti-los de leve com sua própria mão. Os dedos dele estavam quentes e firmes envolvendo os dela e ela teve a impressão de que se ela caísse de repente como uma pedra, aqueles dedos se trancariam nela como que feitos de ferro, assim como ela se lembrava da primeira noite de aulas extras.

E então Draco passou pelo portal e eles pisaram em chão firme. "Oh, graças a Merlin", Cara suspirou, sentindo todo aquele pânico e medo ir desaparecendo agora que ela estava segura. Sem querer analisar coisa alguma ali, Cara passou, sentindo suas entranhas se acalmarem e derrubando no chão sua mochila e sua capa, depois tratando de jogar-se sobre Draco.

"Obrigada, obrigada, obrigada", ela disse contra o tórax dele, abraçando-o firmemente.

"Hum", acima de sua cabeça, Draco soltou um som bem desconfortável. E seu corpo estava rígido contra o dela, e ainda assim ela não achava que ele quisesse afastá-la. "Saia, sua tola", ele finalmente disse, ainda sem se mexer. Cara sorriu, subitamente muito feliz, e fez como ele pedira.

"Eu pensei que nunca fôssemos sair dali!", ela exclamou, recuando um passo e erguendo mochila e capa mais uma vez. "Quero dizer, aquela maldita escada estúpida simplesmente não se mexia, e então o Pirraça! Eu juro, vou pegar aquele poltergeist asqueroso nem que seja a última coisa que eu faça. Oh, e antes que eu me esqueça," ela virou-se, observou o portal escancarado, e apontou a varinha. "Horizontous". Uma corda amarela saiu de sua varinha e grudou-se a ambos os lados do portal vazio, bloqueando-o. "Desta forma, ninguém vai cair até a morte", ela continuou falando mesmo enquanto guardava a varinha de volta nos bolsos. "Quero dizer, eu só consigo me ver andando sem olhar onde estou indo e me descobrindo parada sobre o ar e então entrando em pânico e então dando um passo em falso e..."

"McDouglas", Draco grunhiu, e Cara calou a boca, percebendo que devia estar dizendo um monte de besteiras. Não que ela tivesse uma razão para falar besteiras. Não senhorita, não ela.

"Sim. Bem. Ok. Sim, você está certo. E eu estou cansada e eu acho que quero ir para a cama, então vou apenas... ir, e... a gente se vê depois, eu acho", ela resmungou, embaraçada, e começando a virar-se. E então aquela sua partezinha aborrecida que estava sempre colocando-a em encrencas a fez parar logo um passo depois, para se virar de volta outra vez.

Ela correu até onde Draco estava justamente começando a tomar seu caminho, presumivelmente para a Sonserina, e erguendo-se, pegou parte do suéter dele em seu punho.

"O quê...", ele dizia em seu tom arrastado, antes que ela apertasse os lábios sobre os dele e efetivamente o calasse. Ela não estava muito certa sobre o que estava fazendo, mas desde quando aquilo a impedia?

Foi um beijo rápido e não muito correto, talvez porque fosse a primeira vez que ela fazia isso, e quando ela se afastou dele, estava de um vermelho brilhante. Ela podia quase ouvir sua pele estalando em rubor. "Obrigada", sussurrou, antes de voltar-lhe as costas outra vez e desta vez realmente desaparecendo de vista.

Enquanto passava correndo por uma virada, ela quase podia sentir os olhos dele fazendo buracos em suas costas. E não diminuiu o passo até que estivesse diante da Mulher Gorda.

A Mulher Gorda, por sua vez, examinou-a com uma expressão ensonada. "Você está tremendamente atrasada, queridinha", ela disse. "Senha?"

"Bolo assado de manteiga", Cara ofegou, e depois entrou na sala comunal assim que a pintura girou e abriu-se. Ainda respirando com dificuldade, começou a subir as escadas do dormitório. Ela precisava dormir, era isso. Horas e horas de sono.

-

Draco estava extremamente distraído enquanto fazia seu caminho em direção à Sonserina. E era aquele caminho enorme que circulava quase todo o castelo, graças à escada e ao pântano, o que significava que ele tinha muito tempo para ponderar sobre o que acontecera.

Em um minuto, a garota estava tagarelando, e então ela estava saindo, e então ela estava o beijando. Um canto de sua boca curvou-se num sorriso desdenhoso a isso. Hah. Ela o beijara. Seu orgulho masculino não pode resistir a fazê-lo bafejar suas unhas, mesmo quando o resto dele estava ainda intrincando sua cabeça em confusão.

Por que diabos ela fizera aquilo? Cara não gostava dele, ele estava perfeitamente ciente disso. Ninguém gostava. Ele providenciara isso. E ainda assim ela dormira agarrada nele por horas, segurara sua mão como se segurasse a própria vida enquanto eles subiam as escadas, o abraçara e então rompera o silêncio beijando-o.

Estalou os lábios. Fora uma coisa rápida e precipitada, ela apenas capturara parte do seus lábios enquanto o puxava para si, mas ele ainda podia saboreá-la. Lábios suaves e quentes que eram inexperientes, mas ansiosos, e ainda exalando o lânguido sabor de chocolate. Se ela não o tivesse pegado tão desarmado, ele se aproveitaria da situação e veria o que mais podia conseguir dela. Afinal de contas, ele salvara a vida dela aquela noite e gratidão era uma coisa poderosa.

Aquele pensamento o fez franzir a testa por alguma razão. Gratidão. Era isso, ela estava agradecida. Certa parte dele ficou desapontada ao perceber isso, e aquilo o aborreceu. Ele estava gastando tempo pensando em sua pequena aluna. Só porque ela era linda e intensa e incrivelmente genuína em todas as suas emoções...

Draco sacudiu a cabeça severamente e franziu a testa para o corredor escuro. Ele estava ficando maluco.

Sem perder mais tempo, passou pelo portal dos fundos da Sonserina, e foi direto para seu dormitório, a varinha em mãos, como era costume. Ninguém teria a chance de enfeitiçá-lo quando ele estivesse de costas. Ele pausou por um momento, para deixar os feitiços em sua cama o reconhecerem, e então escorregou para trás das cortinas cerradas.

Ele se aconchegou na escuridão com um suspiro, chutando os sapatos pra fora dos pés e deitou-se. Fechou os olhos. Ele estava cansado, e seu corpo estava começando a doer de novo depois de dormir no patamar. As mãos de Cara haviam aliviado a dor da última vez, mas agora ele apenas a ignoraria e tentaria cair no sono.

Estava quase adormecendo quando percebeu que havia um envelope colocado abaixo de seu travesseiro, que farfalhou um pouco ao ser puxado. Piscando, tirou o papel de dentro e o ergueu diante dos olhos. "Lumos", ele disse suavemente, e sua varinha lançou uma fraca luz pálida sobre o bilhete.

Antes ele estudou o envelope cuidadosamente, tentando determinar de quem ele seria. Não sua mãe, todas as cartas que ele recebia dela eram marcadas com clareza pelo brasão Malfoy. Não que ela mandasse alguma carta depois do último verão.

Com cuidado, ele lançou vários feitiços anti-armadilha que aprendera antes de voltar para a escola. A carta estava limpa.

Draco observou-a atentamente, e depois pegou cautelosamente a folha. Ele não tinha certeza do que acharia ali, apenas o fato de que o envelope estivera em sua cama era uma boa razão para se preocupar.

Desdobrou então o pedaço de pergaminho em sua mão. Sentiu algo desagradável em seu estômago revirar-se, indicando que ele já sabia o que era.

Draco,

Você não pode se esconder de mim.

Sua prima querida.

Draco amassou a carta em seu pulso, tendo aquela impressão familiar de desespero crescente dentro de si. Maldita Bellatrix. Mesmo agora, ela não o deixaria ir.

Forçou seus olhos a se fecharem e respirou profundamente. Ela estava errada, ele disse a si mesmo. Ele estava seguro ali em Hogwarts, e quando ele a visse de novo, já estaria pronto. Preparado. Respirou fundo de novo e então apontou sua varinha para o pergaminho. "Incendio", ordenou suavemente, observando-o queixar e tornar-se cinzas.

Então ele, muito deliberadamente, fechou os olhos de novo. Era hora de dormir. Ele tinha trabalho a fazer no dia seguinte, mais do que o previsto, se Bellatrix conseguira aproximar-se daquela forma.