Incógnitos
N/A – MetroDweller: hehe. Eu continuo imaginando os dois garotinhos batendo as mãos do lado da cabeça onde as orelhas deviam estar e gritando como aquela criança de "Home Alone".
Shahrezad1 – Vou te contar um segredo, Gina é uma amiga muito intrometida (eu sei, grande surpresa, né?) Ela terá um papel a cumprir mais tarde...
JWish - Haverá um pouco mais de 'hora da poção', e sim, há mais por vir! Não esqueça aquela coisinha na qual Draco está trabalhando... Ele vai precisar dela mais tarde. Ops, quase falo demais...
A todos os outros: Leiam! Comentem! Obrigada!
Capítulo Doze – Amigos e Inimigos
Cara estava nervosa sem entender aquela noite, enquanto caminhava para as masmorras. Afinal de contas, da última vez que ela estivera frente a frente com Draco, eles estiveram, bem, se beijando. Ela tossiu, tímida. Ok, ela o beijara. Grande coisa, e daí?
Resistiu ao impulso de parar e bater a cabeça na parede de pedra. Talvez esta não fosse a coisa mais esperta a fazer, mas naquele momento a idéia pareceu tentadora. Ela gostaria de saber o que seria um beijo de verdade com ele.
Cara feia, ela se corrigiu. Feia, feia. Não se deveria pensar mais daquele jeito.
Desacelerou os passos e encarou a porta da sala de Poções. Oh puxa.
Draco estava esperando, praticamente assistindo o relógio trabalhar enquanto sentava-se na sala de aula mal iluminada. Ele já checara sua poção, e se assegurara de que a mistura estava indo bem. A Professora Stone havia passado por ali no caminho para sua reunião dos professores, e ela sorrira para ele e dissera que estava muito impressionada pelo trabalho dele estar avançando tão depressa.
E agora ali estava ele, encarando o relógio, enquanto sua outra mão errava por sua superfície, marcando o tempo. Ela estava dois minutos e trinta e sete segundos atrasada.
Finalmente a porta se abriu e a garota em questão entrou. Draco a observou, sem dizer nada. Com franqueza, ele estava em uma posição nada familiar, onde ele não sabia o que dizer. Qual seria o protocolo adequado para falar com uma garota que o beijara inesperadamente na última vez em que se viram?
Cara baixou sua mochila na mesa próxima dele, e ergueu os olhos com muita timidez, ele percebeu. Por alguma razão, ele sentia vontade de sorrir. "Oi", ela disse.
Draco foi forçado a reter o bizarro impulso de sorrir de volta. Ao invés disso, ele inclinou a cabeça e continuou observando-a.
Ela mordeu o lábio e segurou o olhar dele por um momento. Então deixou-se suspirar. "Ok. Isso é esquisito", disse. Draco ergueu uma sobrancelha e continuou fitando-a. Era mesmo algo interessante de se fazer, ele descobriu. Ela tinha um rosto muito expressivo. Ele apostaria que ela seria ridícula em jogos de fingimento, pois deixaria tudo escapar com aqueles olhos e aquela boca.
Merlin, ele estava se perdendo, pensou.
Ela se jogou numa cadeira de frente para ele e o estudou de novo. "Draco, eu quero que você seja meu amigo", ela disse. Bastante inesperado, ele pensou.
"Seu amigo?", ele repetiu. Tinha que admitir, aquilo não batia com as imagens que o haviam perseguido o dia todo, desde a noite.
Cara assentiu. "Sim. Quero dizer, você salvou minha vida noite passada", ela disse seriamente. "E você cuidou de mim, mesmo quando não precisava fazer isso. E eu te vi no almoço, rindo pra mim quando eu azarei aqueles corvinais estúpidos. Ok, você não estava bem sorrindo, estava mais com aquele risinho desdenhoso, e eu suponho que se eu não tivesse olhado em volta, realmente não teria percebido, mas..."
"McDouglas", ele interrompeu. "Conversa tola". Parecia ser algo que ela costumava fazer em momentos de estresse. Ou nervosa, talvez.
Cara soluçou um pouco. "Certo. Desculpe. De qualquer forma", ela respirou profundamente de novo. "Eu gostaria de ser sua amiga", disse afinal. "Eu acho... Eu acho eu se você não ficasse sendo malvado e desagradável comigo, eu acho que poderia gostar muito de você."
Draco estudou a garota sentada bem à sua frente. Pequena, esbelta, o cabelo negro puxado para trás de seu rosto. Os olhos escuros e a pele clara, e uma boca muito expressiva e agitada. "Eu não tenho amigos", ele finalmente disse. E logo em seguida franziu a testa, perguntando-se por que diabos chegara a dizer algo tão estúpido.
Cara baixou a cabeça um pouco, com aqueles olhos escuros fixos nele. "Você poderia ter a mim", disse simplesmente.
Draco franziu ainda mais a testa. Será que ela tinha sequer idéia de como aquilo soava? E exatamente o quê se tinha que fazer com um amigo, afinal?
"Você não tem que pensar que eu estou te amolando ou qualquer coisa assim", ela disse. "Eu... apenas se, digo, você estiver na biblioteca e não houverem mesas vazias, você pode trabalhar comigo. Ou se você tirar alguma nota particularmente alta em qualquer matéria, você pode me contar e eu vou ficar impressionada. Ou se você quiser ajuda com seu projeto", ela indicou o caldeirão no canto com a cabeça, "eu poderia tomar notas ou qualquer coisa." Ela deu de ombros. "Ou se você só quiser alguém para conversar."
Draco não podia nem conceber a idéia. Uma amiga? Sua anterior experiência com "amigos" fora as companhias de Crabbe e Goyle, dois cabeças ocas que faziam tudo o que se dissesse a eles e seguiam cada passo dele porque ele tinha mais poder do que ele. Ou Pansy, que se pendurava a cada palavra sua e tentava sempre agradá-lo, em esperanças de ter algo com ele.
"E você ia querer exatamente o quê?", ele perguntou, profundamente desconfiado. As pessoas não chegavam apenas oferecendo amizade a ele. E ele não teria acreditado se chegassem.
Cara piscou para ele. "O que eu ia querer?" Soou genuinamente confusa. "Amigos não 'querem' alguma coisa, eles só estão... ali."
Draco bufou. Com certeza estavam. "Já jogou bastante conversa fora, McDouglas", ele disse asperamente. "Pegue suas coisas e comece a poção da página 97 de seu livro texto." Ele se levantou e começou a pegar sua tarefa de Feitiços da própria mochila.
Cara ainda estava estudando-o com uma expressão confusa, e Draco teve de resistir ao impulso de encará-la de novo. Depois ela sacudiu os ombros e se levantou. Enquanto ela arrumava seu espaço de trabalho, Draco percebeu que ela estava rindo para si mesma.
"Algo engraçado, McDouglas?", ele sibilou.
Ela virou-se sorrindo para ele, o que teve o estranho efeito de fazer algo dentro dele ficar mais leve. "Não", ela disse alegremente. E então sorriu afetada. "Amigo."
Ele resistiu ao desejo de grunhir, e ao invés disso apenas olhou-a. "Chama média, sua tola", sibilou ao invés. "Não uma fogueira estrondosa." Ela apenas riu mais uma vez, e começou a cantarolar muito baixinho. E era aquela mesma música que ele ouvira da outra vez. Alguma coisa sobre luz do sol...
Draco grunhiu mentalmente, e voltou sua atenção para o dever de Feitiços. Ele não deixaria aquela pequena grifinória atravessar sua armadura.
Cara estava se sentindo muito alegre enquanto se recuperava de sua última bagunça. Ok, então ela quase perdera as sobrancelhas ao adicionar o pó de chifre de unicórnio cedo demais. A mistura se lançara direto para o teto, e se não fosse por um rápido feitiço-escudo de Draco, ela provavelmente teria perdido mais do que as sobrancelhas. Ao invés disso, havia apenas uma grande mancha clara no teto, ao lado de vários outros compostos nojentos que haviam ali se acumulado através dos séculos.
Ela cantarolou de novo enquanto afastava suas anotações. Estou caminhando sob a luz do sol... Aquilo estava começando a se tornar alguma espécie de música-tema.
Draco parecia estar resmungando alguma coisa de onde estava, sobre o que parecia ser alguma tarefa. Feitiços, parecia. "Pronto", ela anunciou. E jogou a mochila sobre os ombros. "Estou voltando para o meu dormitório, te vejo amanhã".
"Não esqueça o seu pergaminho", ele disse, a voz fria e impessoal. "Relate os seus erros e, pelo amor de Merlin, não esqueça o chifre de unicórnio."
Ela gargalhou. "Eu quase perdi a cara nisso, pode deixar que não vou esquecer." Uma pálida sobrancelha se ergueu, mesmo que ele não olhasse para ela. A garota fez uma careta para ele. "Há há. Engraçado". E então parou por um segundo. Que diabos, ela decidiu. Ele era seu amigo agora, gostasse ele ou não.
Inclinou-se e rapidamente deu-lhe um beijo na bochecha, fazendo-o dar um meio passo para trás. Hah. "Até mais", ela disse alegremente e saltitou para fora da sala.
Lá fora, no corredor, soltou um grave suspiro. Uau. Seu coração martelava e suas mãos estavam tremendo. Esta coisa de "amigos" que ela inventara seria difícil. Um, ele não parecia estar tão entusiasmado com a coisa toda, e isso significava que ela teria que ignorar seus pequenos comentários sarcásticos. Dois, ela estava tendo um impulso novo e incomum de fazer um pouco mais do que beijá-lo na bochecha. Não que não fosse uma bela bochecha, havia ainda aquele toque de severidade contra seus lábios naquele ínfimo segundo em que pressionara seus lábios sobre ele...
Calminha aí, garota, ela disse a si mesma com um suspiro. Amigos, lembra? Ela percebera, parada do lado de fora daquela porta naquela mesma noite, que era isso que ele merecia. E provavelmente precisava. Afinal de contas, ele estava sempre tão sozinho. Ele nem mesmo tinha alguém pra almoçar com ele. Não importava que ela quisesse sentir aqueles ombros tão bem feitos de novo, o garoto precisava de uma amiga, e por Merlin, era exatamente o que ela seria.
Ela assentiu determinada, e acelerou os passos na direção da Torre da Grifinória, não antes de dar uma boa olhada em volta à caça de brincalhões. Ela não cometeria aquele erro de novo.
Draco estava se amaldiçoando de todas as formas de idiota enquanto ele seguia Cara até a Grifinória, vários passos atrás, oculto nas sombras. Ele estava apenas se assegurando de que ela não seria vítima de outra brincadeira idiota, disse a si mesmo. Afinal de contas, ele provavelmente seria culpado se ela caísse de outra escadaria.
Ela estava caminhando rapidamente, ainda murmurando aquela canção ridícula. Estava começando a ficar irritante, já que ele não sabia de que diabos aquilo se tratava, exceto sobre a parte de "luz do sol". Seu cabelo balançava e batia sobre sua nuca enquanto ela andava, e seus pés estavam velozes e apressados no caminho.
O que ele estava fazendo, olhando para as pernas dela? Draco silenciosamente puniu-se. Mesmo que ele fosse o amigo que ela queria, não deveria estar olhando para as pernas dela. Ao menos, ele não achava que deveria. Não estava completamente certo sobre o protocolo de ser um amigo.
Cara finalmente atingiu o porta-retrato que guardava a entrada para a Torre da Grifinória, e disse a senha. Draco ficou tentado a se aproximar para ouvi-lo, mas não queria ser descoberto. Ele não queria que Cara distorcesse as coisas, pensando que ele a seguira para ter certeza de que ela não se meteria em encrenca. Não que ele tivesse qualquer preocupação especial por ela.
O retrato fechou-se, e voltou para as escadas. Precisava de outro banho quente para aliviar a tensão em seus ombros. Às cegas, ele virou um deles, tentando relaxar o músculo. Mas na verdade, fora melhor quando Cara estivera usando seus dedos e massageando suas costas...
Deixou outro grunhido escapar. Merlin, o que estava acontecendo com ele? Franziu a testa sombriamente. Ele precisava parar de pensar na pequena grifinória e voltar-se para os assuntos a que pertencia, como Bellatrix e suas conspirações.
Vagamente, seguiu direto por seu caminho, lembrando-se.
Bellatrix riu, num som agudo e levemente maluco. "Você matou seu próprio pai", disse ela. "Crucio!"
Draco gritou quando a maldição o atingiu, incapaz de controlar o seu corpo, que se contorcia selvagemente no chão. Aquilo doía, pelos deuses, doía. De todas as vezes que fora punido pela maldição, nunca conseguira se acostumar.
Ela finalmente parou e se abaixou. "Vou te ensinar uma coisa antes que você pague", ela sussurrou enquanto ele jazia ofegando. "O Lorde das Trevas te quer morto. Mas vou ter um pouco de diversão, antes. Afinal de contas, você traiu seu próprio pai, por aquela amante de trouxas tola e seu espião." Ela o chutou nos rins, o bico de seu sapato o acertando logo abaixo do braço jogado. Draco gemeu, ele podia sentir o sangue começando a escorrer, e ele estava fraco demais para enfrentá-la. Ele deveria ter sido mais rápido, deveria ter disparado pelo corredor de baixo.
"Estarei em cada canto escuro", ela continuou, a voz alegre. "Você sempre estará se perguntando onde eu estou, e então eu te pego. E você finalmente vai me pagar tudo."
"Vai se foder", Draco finalmente conseguiu retorquir. Oh Deus, como doía.
Bellatrix apenas jogou a cabeça para trás e gargalhou. "Não, não, isso era de seu pai", ela sorriu maliciosa. "Você é só um menininho patético." Ela se endireitou e começou a afastar-se, girando a varinha entre os dedos. "Logo nos veremos, priminho", sua voz anunciou.
Draco continuou jogado no chão, os nervos ainda pulsando, o sangue fluindo debaixo de seu braço, ainda muito fraco para se levantar. Ela o mataria, finalmente.
Se ele não conseguisse sucesso em Hogwarts, ele pensou. Forçando-se, olhou em volta e lenta e dolorosamente se levantou. Ainda um pouco abalado, tomou o rumo dos seus aposentos. Havia passagens secretas suficientes ali, e ele poderia ficar seguro por algum tempo. Se ele apenas conseguisse se manter até voltar para Hogwarts, teria uma chance. Ele não queria morrer, não agora, não por Bellatrix.
Draco se descobriu encarando cegamente a porta dos fundos da Sonserina. Afastou a lembrança. Bellatrix deixara muito claro que ele não estava seguro, nem mesmo na escola. Ele não sabia como ela fazia aquilo, mas... Ele tinha que manter a guarda. E não se distrair com uma grifinoriazinha linda.
Linda? Inferno sangrento, Malfoy, ele resmungou, empurrando a porta e entrando. Você está realmente perdendo o controle agora.
