Título: O verão glorioso
Tipo: Slash
Censura: M
Gênero: Angst, Dark, Romance
Spoilers: Todos os 5 livros, todos os 3 filmes
Resumo: Harry passa o verão com Snape. Continuação de A prisão de Harry Potter. Mas pode ser lido separadamente.
Beta: A grande Lilibeth, ou será Lili-beta?
Notas: Peço desculpas se alguns dos nomes estiverem no original e não na tradução brasileira. Eu não acredito em traduzir nomes, embora eu conscientemente acredite em alienígenas como um exercício de estatística.
Nota 2: Essa fic é uma continuação da fic de Magalud chamada A Prisão de Harry Potter. Você não precisa ler para entender, mas eu vou te amar se você fizer isso.
Disclaimer: Todos esses personagens são de J.K. Rowling. Por favor, não me processe, porque eu não estou ganhando nenhum dinheiro com isso.

O verão glorioso

"O inverno do nosso descontentamento foi convertido agora em glorioso verão por este sol de York, e todas as nuvens que ameaçavam a nossa casa estão enterradas no mais interno fundo do oceano. Agora as nossas frontes estão coroadas de palmas gloriosas".

W. Shakespeare, Ricardo III, Ato Um, Cena Um.

Capítulo 1

– Chegamos.

Harry Potter olhou em volta, e não pôde deixar de experimentar alguma surpresa. Era uma cabana inglesa confortável, não muito grande, rústica, com móveis de madeira escura e esparsos objetos decorativos. Nada do que ele esperava, levando-se em conta que seu dono era Severus Snape, Mestre de Poções de Hogwarts.

Harry tinha passado por um de seus piores dias na vida: tinha sido preso pela polícia Muggle, acusado de tráfico de drogas. A droga em questão tinha sido um inocente pó de Floo, mas para os policiais Muggle aquilo parecera ser uma misteriosa substância tóxica. Tudo tinha sido uma armação de seus tios, ansiosos por se verem livres de Harry. A coisa se tornara ainda mais surreal quando Snape aparecera vestido de advogado rico, bem-vestido e loquaz, e em três tempos o tirara da prisão. Agora, ele estava num lugar que nunca estivera antes: o local onde Snape passava os verões. E Harry passaria o verão com seu professor de Poções.

– Como pode ver – Snape interrompeu seus pensamentos –, não é muito grande, e não há muito aqui para manter um jovem longe do tédio. Você terá que improvisar suas próprias distrações.

– Tudo bem. – Ele sempre fazia isso com os Dursley, mesmo. – Sem problema.

– Por questões de segurança, você está proibido de se afastar da casa sozinho. Isso significa sair do terreno. Há proteções mágicas por todo o perímetro, e feitiços para desencorajar visitantes. Mas você deve ter reparado que o terreno não é exatamente pequeno.

Harry anotou mentalmente que deveria checar o jardim assim que fosse possível. Pena que eles tinham chegado à cabana à noite, e ele não pudera ver tudo. Snape – Severus, corrigiu-se mentalmente – mostrou:

– Ali é a cozinha, ali o banheiro, essa porta é meu quarto. Eu jamais pensei em ter companhia, portanto não há quarto de hóspedes. Mas posso arrumar um lugar para você dormir na sala onde estoco ingredientes. Venha comigo – Harry obedeceu e viu um quartinho do lado da cozinha, que não era tão pequeno quanto parecia – Se isso não for aceitável, você pode ocupar o sofá da sala.

– Não, aqui está bom. Tem uma cama extra?

Severus tirou sua varinha e transfigurou uma cama no quartinho.

– Obrigado – Harry agradeceu.

– Aqui estão suas coisas. – Severus tirou um cubo de madeira e tocou a ponta da varinha nele: o cubo se transformou no malão, completo com uma gaiola de pássaro – Pode arrumá-las enquanto eu abro a lareira.

Harry obedeceu, mas logo ouviu vozes na sala. Estava claro que Severus estava conversando com alguém na lareira. Harry ficou tentando prestar atenção no diálogo, mas não conseguiu captar mais do que algumas palavras esparsas até que Severus o chamou:

– Harry, o diretor quer falar com você.

A cabeça de Dumbledore pairava entre as chamas da pequena lareira da cabana. Harry prontamente se apresentou:

– Boa noite, senhor.

– Olá, Harry – saudou Dumbledore alegremente – Como está?

– Agora estou bem. Obrigado por ter me ajudado com a polícia.

– Não, você deve agradecer ao Prof. Snape. Foi ele que o tirou da cadeia, não foi?

– Sim, senhor.

– Harry, o Prof. Snape me disse que você prefere passar o verão com ele. Isso é verdade?

– Sim, senhor.

– Eu pensei que gostaria de rever Remus Lupin e passar sua folga com seus amigos.

– Oh, bem, eu... Na verdade, senhor, o que eu não quero é voltar para Grimmauld Place.

– A casa passou o ano em reformas. – anunciou Dumbledore, animadamente – O retrato da mãe de Sirius foi retirado, depois de meses de tentativas.

– Parece ótimo, Prof. Dumbledore, mas... Sirius não estará lá.

– Harry – O velho professor suavizou a voz – Já faz mais de um ano. Você se recuperou tão bem depois da morte do jovem Diggory.

– Sirius era bem mais próximo do que Cedric. Mas tem mais uma coisa: Lupin iria me tratar como um amigo, eu acho. No momento, eu preciso de um adulto do meu lado.

– Está bem, Harry. Mas se vai passar o verão com Prof. Snape, lembre-se que está aí por sua própria escolha. De qualquer modo, você pode mudar de idéia a qualquer momento. Até lá, deve obedecê-lo em tudo que ele disser. Lembre-se de que ele estará zelando por sua segurança sozinho. Em Grimmauld Place, seria mais fácil fazer isso, mas mesmo assim confio plenamente nas habilidades de Severus em protegê-lo, Harry.

– Obrigado, senhor.

– Não há de quê, meu rapaz. Lembre-se de que minha porta está sempre aberta. Tenha um bom verão.

Dumbledore encerrou a ligação e Harry ficou imaginando que tipo de verão ele teria, com Snape por perto. E ele ainda não entendia muito bem como ele tinha escolhido isso. Mas de alguma forma, ele sentia que tudo iria terminar bem.

Eles tomaram sopa no jantar, e foi uma refeição razoavelmente tensa. O fato é que Snape e Harry tinham pouco em comum, e por um instante Harry começou a achar que talvez aquela idéia de passar o verão com Snape não fosse tão boa, afinal.

Harry quebrou o silêncio desconfortável:

– Er... Eu queria agradecer.

– Não há o que agradecer. Eu estava sob ordens de Dumbledore.

– Não, digo, por me receber em sua casa – Severus grunhiu algo como "Nenhum problema" e voltou a se ocupar de sua sopa. – É uma casa bonita – Assim que Harry pronunciou as palavras, viu como eram desajeitadas.

Novo grunhido.

Ele voltara a ser Snape, pensou Harry, e Snape definitivamente não era de jogar conversa fora ou de falar de assuntos amenos. Mas isso não iria impedir Harry de tentar estabelecer algum tipo de diálogo.

– Ela é de sua família?

Snape pareceu empalidecer um pouco mais.

– Não, ela é minha. Tome sua sopa, Potter.

– Harry – Snape o olhou – Se vou chamá-lo de Severus, então pode me chamar de Harry.

Snape deu um sorriso sarcástico.

– Muito bem, Harry. Diga-me então, Harry, por que preferiu passar o verão longe de seus amigos?

A pergunta pegou Harry de surpresa.

– Bom, eu... Eu já falei: aquela casa me faz lembrar Sirius.

– Você poderia ter ido para um outro lugar – lembrou Snape – O Diretor ficaria feliz de deixá-lo com os Weasley.

– Eu sei, mas prefiro não ficar com eles. Não vai me mandar para lá, vai?

– Ainda estou pensando sobre isso, já que você não respondeu minha pergunta: por quê?

– Porque prefiro passar o verão aqui, só isso. – Harry se surpreendeu ao perceber que aquilo era verdade.

– Pot – Harry, nós mal nos tratamos de maneira civilizada, para não mencionar o fato de que passamos anos nos odiando mutuamente. Por que essa súbita predileção por minha companhia?

– Justamente por isso – confessou Harry, vermelho – Você não gosta de mim, não se importa comigo, mas sei que não vai me maltratar. O ano inteiro meus amigos viviam pisando em ovos perto de mim, sempre me perguntando se eu estava bem, como eu estava me sentindo, e evitando falar no nome de Sirius. Eles me tratam diferente. Você, não.

Snape pareceu considerar aquilo.

– Este não é um lugar de diversão. E você terá que ajudar na casa.

– É, ela está mesmo precisando de uma limpeza. Posso ajudar sem problemas.

– Não tenho muita coisa para distrair um adolescente aqui.

– Já disse que isso não é problema.

– Como queira. Eu tenho trabalho a fazer no laboratório – Harry franziu o cenho e olhou em volta, intrigado. A casa não era grande, e ele não vira lugar para um laboratório de Poções. – No porão, Potter – Snape apontou para uma porta discreta na cozinha – É lá que ficarei boa parte do tempo.

– Posso ajudar?

Foi a vez de Snape franzir o cenho:

– E por que ajudaria? Você é um fracasso em Poções.

– Posso preparar os ingredientes, ser seu ajudante. Assim você trabalha mais rápido.

– Você precisa completar todos os seus trabalhos escolares de verão. Depois veremos – Ele se ergueu e levou o prato vazio até a pia – Agora vá dormir. Você teve um dia cheio.

– Não quer ajuda com a louça?

– Pode deixar comigo.

Harry pensou em resistir, mas desistiu. Ele mal chegara, não queria irritar Snape logo de cara. Além do mais, como pôde perceber assim que sua cabeça pousou no travesseiro, ele estava mesmo cansado.