Obrigada pelas reviews!

Safira Star: Prometo postar sempre que puder, OK?

DarkAngelAngst: Eu também adoro um Severus rabugento e mal-humorado! Ele é ótimo assim, não é mesmo?

Patty Black: Que bom que você está gostando! Prometo mais emoções.

Capítulo 4

Severus acordou no meio da manhã no dia seguinte, sentindo-se bem melhor e sem qualquer sinal de febre. Sentou-se na cama e o quarto não girou, o que era um bom sinal. Harry não estava lá, só a cadeira.

Tomou um banho demorado, procedendo a um inventário completo e detalhado de seus ferimentos. Ele ainda sentia alguns músculos doloridos e imaginou que isso fosse persistir por mais algum tempo.

Refrescado, foi para a cozinha, imaginando onde o menino teria se metido enquanto preparava um chá. Foi justamente ao olhar a janela da cozinha que o viu no quintal: o rapaz estava sem camisa, agachado no sol, cuidando das plantas. Sem pensar no que fazia, Severus observou os músculos definidos, a compleição certamente franzina demais, o suor espalhando-se pela pele alva, as gotas tornadas douradas ao serem beijadas pelos raios do sol da manhã...

De repente, uma fome totalmente diferente o invadiu, e ele se viu desejoso de algo mais substancioso do que chá. Talvez fosse ainda reflexo de sua saúde debilitada, esses sentimentos inadequados. Talvez fosse a expressão franca e aberta no rosto do menino – não, um rapaz, quase um homem. Mas Severus não podia ceder a esses sentimentos. Primeiro simplesmente porque ele não merecia. Segundo porque o rapaz jamais iria pensar nele dessa maneira. Ninguém pensaria nele dessa maneira. Severus Snape só merecia ser usado e manipulado, era o que todos faziam com ele. Esse era um padrão em sua vida que nunca havia mudado e ele não via motivo para acreditar que as coisas seriam diferentes agora.

Não importa o quando ele gostaria de uma mudança.

– Mas já de pé?

A entrada abrupta de Harry interrompeu-lhe os pensamentos sombrios. De perto, o rapaz produzia uma impressão ainda mais forte: as bochechas rosadas realçavam o verde profundo dos olhos e o preto dos cabelos.

– Não quer voltar a se deitar? – insistiu.

– Eu estou bem – mentiu.

De repente, o garoto invadiu seu espaço pessoal e colocou-lhe a mão na testa. Severus arregalou os olhos e recuou.

– O que está fazendo?

Olhos inocentes o encararam.

– Verificando se sua febre baixou. Ela esteve bem alta.

– Como disse anteriormente, estou bem. Não há mais necessidade de bancar a enfermeira.

– Nesse caso, seria bom dizer isso pessoalmente ao Prof. Dumbledore. Ele ficou preocupado com sua saúde.

– Tem falado com Dumbledore?

– Ele está na lareira todos os dias.

– Ambos enlouqueceram – A expressão de Severus ficou séria – A rede de Floo não é completamente segura. A segurança pode estar comprometida.

Harry virou-se para ele como se fosse protestar, mas por algum motivo, desistiu, assumindo uma postura mansa. Severus franziu o cenho.

– Então não faço mais – prometeu – Vou tomar um banho e começar o almoço. Está com fome?

– Eu poderia comer, sim.

– Ótimo. Não vou demorar.

Harry tomou seu banho rapidamente, mentalmente organizando as coisas que iria precisar para fazer o almoço. Quando foi à cozinha, porém, foi surpreendido ao ver Severus ocupado em preparar a refeição.

– Ei! Pensei que o almoço era meu.

– Outro dia. Pode ajudar, se quiser.

Os dois dividiram a cozinha de maneira amigável, e Harry prestou atenção em seu professor. Ele ainda estava muito pálido, mas não demonstrava sinais de fraqueza. Durante a refeição, Severus perguntou:

– Já planejou o que vai fazer de tarde?

– Terminar o trabalho de Transfiguração e a faxina no meu quarto. Amanhã vou dar um jeito no quintal. Sabe que tem poucos gnomos ali? É de se espantar, porque a casa fica fechada o ano inteiro.

– Algumas plantas mágicas não encorajam os gnomos a se aproximarem – explicou Severus – É o caso das mandrágoras.

– Oh – fez Harry – interessante. Seu quarto também precisa de uma faxina. É o próximo na minha lista.

Severus ergueu uma sobrancelha:

– Você tem feito faxina pela casa toda?

– Isso mesmo.

– Mas por quê?

– Ora, a casa está precisando. Depois, você disse que eu teria que ajudar nas tarefas de casa.

– Harry – Severus muniu-se de paciência –, eu quis dizer que você teria que arrumar seu quarto, lavar uma louça ocasionalmente e cuidar de suas roupas. Não imaginei que você fosse virar um elfo doméstico!

– Mas está tudo bem. Assim eu tenho chance de fazer algo útil com meu tempo.

– Harry, você não é obrigado a fazer nada disso. São suas férias. Deve procurar se divertir também.

– Eu sei – ele sorriu, atacando as batatas – Você cozinha bem.

– Obrigado. – Ele deixou passar uma pequena pausa antes de tocar noutro assunto – Já que mencionou maneiras de ocupar seu tempo, quero lembrá-lo de suas aulas de Legilimência. Gostaria de começar o quanto antes. Será melhor que complete todos os seus trabalhos escolares.

– Está bem. Acho que nunca me dediquei aos estudos no verão como agora.

– E isso o incomoda?

– Não, pelo contrário. Sabe, não é que não quisesse antes. É que não me deixavam.

– Fala de seus tios?

– É. Eles diziam que eu não iria me dedicar às minhas "esquisitices" na casa deles. Eu tinha que fazer tudo escondido, no meio da noite.

– Harry, por que você nunca mencionou isso?

Ele deu de ombros:

– Eu sempre soube que não viveria para sempre com eles. Uma vez até tentei fugir de lá. Eu gostaria de ter ido morar com Sirius, mas... – interrompeu-se, de cabeça baixa – O Prof. Dumbledore depois me explicou o feitiço do sangue de minha mãe que me protegia. Era para minha própria segurança que eu morava com aquela gente.

– Agora você não mora mais lá. Perdeu, portanto, a proteção do sangue de sua mãe e é por isso que o Lord das Trevas está atrás de você. Ele acha que essa é a melhor chance de pegá-lo.

– E cumprir a profecia.

– Precisamente.

Harry se espantou:

– Você sabe sobre a profecia? Dumbledore lhe disse?

– Não, o i Professor /i Dumbledore – corrigiu severamente – não me contou.

– Já sei: foi você quem ouviu a profecia no Hog's Head! Você era o Death Eater que ouviu a Profª Trelawney dizer a profecia ao Prof. Dumbledore!

– Lamento destruir suas ilusões, mas não é esse o caso. O Lord das Trevas em pessoa mencionou a profecia a todos os seus Death Eaters. A partir dela, ele decretou a caçada aos Potter.

– E a mim – Harry parecia triste.

– Mas ele não sabe a profecia toda, Harry. Ele não sabe que você tem um poder que ele não tem.

– Nem sabe que um terá que matar o outro – A voz do rapaz era baixa – Mas até isso acontecer, quantos mais terão que morrer?

Severus reprimiu a expressão de choque ao ouvir essas palavras. A dor do menino era bem maior do que ele supunha até então. Mas ele não era chefe de Slytherin há anos sem saber lidar com a dor de um adolescente angustiado.

– Harry, estamos em guerra, e pessoas morrem em guerras. Nada disso é sua culpa.

– Mas se eu matar Vold – ele se corrigiu – Você-Sabe-Quem, isso não vai mais acontecer!

– Se você enfrentá-lo sem estar preparado, você não terá chance. É isso que quer? Suicídio?

– Não – A resposta era sincera.

– Então o melhor que tem a fazer é se manter seguro e se preparar para quando tiver que enfrentá-lo. Acima de tudo, Harry, é imprescindível manter a cabeça no lugar.

Harry olhou para Severus, o rosto diferente – como se estivesse se esforçando para acreditar em suas palavras. Era palpável a vontade do garoto em achar confiança em si mesmo. Finalmente, ele assentiu, sem muita convicção.

– Está bem.

– Muito bem, então, vamos lavar essa louça para que você possa estudar. E deixe que eu mesmo faço a faxina no quarto onde você dorme. Meus estoques estão lá e eles são muito sensíveis.

– Eu posso ajudar.

Severus viu a expectativa no rosto e aquiesceu.

– Está bem. Faremos juntos.

Harry obedeceu às instruções, dedicando-se aos estudos enquanto Severus ficou no laboratório verificando que poções tinham sofrido por terem ficado abandonadas enquanto ele estivera doente. Quando terminou, voltou à sala e viu que o tempo tinha virado: uma chuva forte ameaçava desabar a qualquer momento, típica de verão.

E Harry não estava em casa.

Severus olhou nos cômodos, mas mais uma vez foi lá fora que localizou o rapaz: no quintal, recolhendo apressadamente roupas – a maioria pretas – num varal improvisado. Harry entrou de volta na casa carregado quando os primeiros pingos de chuva caíram.

– Ufa! Bem na hora!

– Com efeito. Diga-me: por que essa roupa estava lá fora?

– Estava sol, então coloquei para secar.

– Por quê?

– Ora, porque eu lavei. Aliás, foram várias lavadas. Sangue é difícil de sair na primeira vez.

– Esqueceu-se de que é um bruxo? Há feitiços para isso.

– Eu estou acostumado com o jeito Muggle. Além disso, eu não posso usar mágica fora da escola. Já fui até processado por causa disso.

– Mas você usou mágica para tratar de mim.

Harry pareceu envergonhado e receoso em admitir:

– Usei sua varinha. Desculpe. Não tive outro jeito. Mas foi sugestão do Prof. Dumbledore!

Mais uma vez Severus muniu-se de paciência:

– Harry, eu não vou puni-lo por ter feito o que precisa ser feito. Agora deixe a roupa aí que eu passo.

– Com mágica?

– Certamente.

– Depois você me ensina?

– Sem problemas. Agora vá.