Bru Black - Olá, uma reviewer nova! Obrigada por suas palavras. Espero que goste desse capítulo também. Tem mais Sevvie-Harry...

Capítulo 7

Quando Harry se deu conta de si novamente, estava no chão da sala da cabana de Severus, deitado de bruços, a bochecha contra o chão frio e duro. Ergueu a cabeça voltada para o lado da janela e notou que era noite lá fora. Virou a cabeça e viu Severus, na sua versão atual, encarando-o com expectativa.

– Harry?

Ofegante, Harry procurou se erguer. As pernas estavam cambaleantes, mal o sustentavam. Sentiu o estômago embrulhar, a cabeça doer.

– Não me sinto bem.

– Coma um chocolate – passou uma barrinha a ele – Você se excedeu. Eu tentei parar, mas você resistiu.

– Eu não consegui... resistir na última vez. Não queria sair.

– Tive que expulsá-lo da minha mente – Severus explicou – Estava começando a prejudicar nós dois.

Só então Harry notou que o rosto de Severus denunciava sinais de seu abatimento: algumas linhas do rosto estavam profundas, os olhos perderam um pouco do brilho costumeiro, a pele estava mais pálida do que lhe era normal.

– Desculpe. Eu... fiquei distraído com o que vi.

– Bom, é compreensível, mas o exercício era que você procurasse descobrir se eu estava tentando ocultar pensamentos de você. Conseguiu?

– Acho que sim. Eu consegui ver barreiras, ou algo parecido com isso.

– Muito bem, Harry. Acho que por hoje já chega. Coma o resto desse chocolate. Gostaria de descansar um pouco antes do jantar?

– Não, eu... – ele hesitou – Posso fazer uma pergunta?

– Se isso não prejudicar suas lições. Se você quiser saber algum segredo meu, terá que descobrir em minha mente.

– Não, eu só queria saber sobre bruxos gays.

Severus apertou os lábios e começou a dizer:

– Certamente você já freqüentou o módulo de Madame Pomfrey sobre educação sexual no sexto ano. De qualquer forma, peço perdão se minhas... preferências o chocaram.

– Não é isso, eu tenho dúvidas sobre...

Desconfortável, Severus o interrompeu:

– Acho que você vai se sentir mais à vontade se conversar com seus amigos ou quem sabe...

Harry o interrompeu, dizendo de repente:

– Eu também sou – Severus o encarou, olhos arregalados – Gay, quero dizer.

Houve uma pausa. Severus ficou desconfiado.

– Isso não apareceu nos seus exercícios de Oclumência. Na verdade, eu o vi com garotas.

– Eu não sabia naquela época.

– Então é um desenvolvimento recente.

– Pois é. Eu não contei para ninguém.

– Harry, eu não sei se sou a pessoa mais indicada para lhe falar sobre isso.

– Você é o único que eu conheço. Eu não sei a quem recorrer. Tenho receio de que... bem, de que...

– Você acha que seus amigos não vão aceitar?

– É – Harry pareceu aliviado por ser entendido – Eu não sei como os bruxos encaram isso.

Severus suspirou mentalmente. Aquilo não era exatamente uma situação nova para ele. Todos os anos, um ou dois Slytherins o vinham procurar com dúvidas semelhantes. Mas era uma situação diferente para os membros de sua casa: esperava-se que todo bruxo de sangue puro se casasse com uma bruxa (também de sangue puro, claro) e logo tivessem herdeiros. Gays eram mais relegados ao ostracismo entre Slytherins do que nas outras casas. E nenhum de seus alunos jamais descobriu sua opção sexual, claro. Ele explicou tudo isso a Harry, acrescentando:

– Até onde eu sei, a discriminação contra gays não é menor do que no mundo Muggle, mas eu posso estar enganado. Você já sabe, claro, que ao contrário dos Muggles, bruxos gays podem se casar e ter filhos.

Harry sentiu seu coração se acelerar de surpresa:

– Não! Não eu não sabia. Isso é verdade?

– Não fazia muito sentido proibir o casamento quando os elos mágicos podem ser sacramentados entre os interessados.

– Ter filhos também? Um bruxo pode engravidar?

Severus franziu o cenho:

– Madame Pomfrey não explicou sobre isso?

– Ela não falou muito sobre práticas entre pessoas do mesmo sexo porque ninguém perguntou.

Severus deu um sorrisinho:

– É difícil acreditar que Miss Granger tenha mantido a boca fechada para variar – Harry também sorriu – Mas não deve pensar que a gravidez de um bruxo é igual à de uma bruxa.

– Por que não?

– Em primeiro lugar, porque o corpo masculino não tem os órgãos necessários para gerar e manter vida. Isso tem que ser feito com mágica. Há vários caminhos: mudar o sexo do parceiro, transformá-lo num hermafrodita, ou simplesmente criar um útero mágico. Tudo isso é temporário, claro.

– Parece complicado.

– Não só complicado como também arriscado. Uma gravidez mágica nunca pode ser interrompida e ela exige muito do corpo do hospedeiro. Pode ocorrer prejuízo da magia, mas também pode acontecer do bruxo ver seus poderes aumentados. Não é raro que a gravidez mate a criança e o hospedeiro.

– Por isso é tão raro? Por causa do risco?

– Precisamente.

– Eu ouvi falar da restrição à gravidez entre menores de idade. Também se aplica a bruxos?

Severus corrigiu:

– Não, Harry, você está errado. A gravidez é restrita a pessoas casadas, não importa a sua idade.

– Mas tem uma coisa de os pais serem os responsáveis e poderem fazer com a filha o que quiserem. Isso é folclore não é?

– Isso não é usado há muito tempo. Hoje em dia dificilmente alguém engravida fora do casamento.

– Mas e se eu engravidar, por exemplo?

– Você pretende engravidar num futuro próximo?

– Não tão cedo, mas um dia...

– Case-se primeiro e não haverá problema.

– Mas e se eu quiser ser pai solteiro?

– Harry, isso não existe na sociedade bruxa. Você pode ver pais viúvos, mas nunca solteiros.

– O que acontece com uma grávida solteira?

– Hoje em dia? No máximo, ela é entregue aos pais. Nos dias antigos, era geralmente deserdada ou vendida para a prostituição, depois de abortar o filho bastardo.

– Que horror! Isso é bárbaro!

– Como eu disse, não é usado há muito tempo. A sociedade bruxa evoluiu na área dos costumes.

Eles ficaram em silêncio. Harry disse, com sinceridade:

– Obrigado, Severus. Ninguém nunca me explicou essas coisas.

– Coma outro chocolate antes de me ajudar no jantar. Estou com vontade de preparar uma Shepard's Pie para nós. Você gosta?

– Adoro.

– Então não demore.

o 0 o

Nos dias seguintes, as aulas de Legilimência avançaram exponencialmente. Harry viu muitas cenas de Severus com o Mestre de Poções que o treinou, um velho homenzinho amargo e mal-humorado que humilhava terrivelmente seu aprendiz em toda ocasião possível. Contudo, a persistência e as habilidades de Severus o fizeram obter a mais alta pontuação entre todos os que fizeram o teste. Foi uma das raras ocasiões em que Harry viu Severus orgulhoso de si mesmo.

Outra ocasião, infelizmente, foi quanto ele foi aceito como Death Eater. A cerimônia de iniciação teve um total de 15 novos membros. Harry assistiu a toda a solenidade, em que os iniciantes permaneciam encapuzados, como era de praxe entre os membros da ordem, que não sabiam quem era quem no círculo. Todos receberam a Marca Negra e se ajoelharam aos pés de Voldemort.

– Vocês não se ajoelharão diante de mais ninguém, não beijarão outra barra que não a de minha veste. Eu não deixarei que sejam humilhados, que inferiores estejam acima de vocês. Todos os que forem leais a mim conhecerão apenas respeito e aceitação.

De repente, Harry encontrou uma barreira mental. Ele resistiu, lutou contra ela e ela enfraqueceu. Então ele se viu dentro de um laboratório de Poções, um bem maior do que o da cabana.

Severus trabalhava sozinho, absorto em seus ingredientes e caldeirões. Ele não reparou na entrada de Voldemort.

– Interrompo-o, Severus?

– Milord! – ele se pôs de joelhos – Não, meu senhor. Este estágio da poção requer fogo baixo e constante.

– Pode se erguer, meu servo. Falta muito?

– É uma poção delicada e experimental. Ainda precisa ser testada. É arriscado.

– Deixe que eu me preocupe com os riscos. Se você realmente conseguir evitar minha morte, Severus, eu o recompensarei além de sua imaginação.

– Servir é minha obrigação, milord.

– Modesto e talentoso. Aliás, pelo que pude ver, é um homem de vários talentos – Severus sentiu seus músculos se enrijecerem de tensão, instantaneamente sabendo a que ele se referia – Não se preocupe, ninguém me contou, se é isso que está pensando. Já deveria saber que não pode esconder nada de Lord Voldemort.

Severus baixou a cabeça, mortificado.

– Eu nem tentei, milord.

– Claro que não, Severus. Mas eu quero que me mostre esses talentos. Eles podem ser úteis, se forem realmente tão bons quanto eu ouvi falar.

A cabeça de Severus se ergueu, os olhos arregalados, o rosto branco de pavor.

– E então? – Voldemort se impacientou – Está pensando em me desobedecer?

Trêmulo, Severus respondeu apenas:

– Não, milord. Temo apenas não corresponder a suas expectativas.

– Tire isso de sua mente. Não haverá punição por causa de sua performance.

– Obrigado, milord.

– Não se acanhe. Pode começar.

Severus aproximou-se ainda mais de seu lord. Lentamente, ele se deixou cair de joelhos em frente a Voldemort e esticou as mãos...

De repente uma força irresistível jogou Harry para fora da cena com uma violência que ele jamais experimentara antes. Ele logo se viu de quatro na sala, a cabeça explodindo de dor – parecia que as aulas de Oclumência (as aulas ruins, claro) estavam de volta.

Quando Harry conseguiu se localizar no tempo e espaço, viu que Severus não estava em melhor estado. Ajoelhado no chão, agarrando os braços, encolhido, tremendo, olhos fechados. Harry chegou perto dele com cuidado:

– Severus?

Não houve resposta. Num impulso, Harry simplesmente o abraçou, apertando-o forte, aquecendo-o e confortando-o.

– Shh. Tudo bem agora.

Os dois ficaram assim abraçados durante muito tempo, até eventualmente os tremores de Severus diminuírem e os músculos relaxarem. Harry notou que ele não derramou uma única lágrima. Finalmente, ele se mexeu, e Harry indagou, encarando-o:

– Melhor agora?

Severus finalmente ergueu o olhar para ele e Harry não pôde evitar um choque. Os olhos traziam uma dor tão profunda que o coração de Harry imediatamente se enterneceu. Era quase como se ele pudesse sentir toda a dor dentro daquele homem, e Harry irracionalmente desejou ter um modo de transferir essa dor para si próprio, só para que Severus não mais a sentisse.

– Sim... – foi a resposta.

Uma mentira, e Harry sabia.

– Você me expulsou de sua mente.

– Eu quis... evitar que você visse – A voz parecia ir ficando mais firme – Quis proteger o pensamento.

– Eu não consegui resistir. Você venceu.

– Quer tentar de novo? Dessa vez talvez você consiga quebrar a barreira.

Harry protestou:

– Mas isso é violar sua mente!

Amargo, Severus se ergueu, dizendo:

– Isso é Legilimência. Para isso estamos aqui.

– Não quero que sofra desse jeito.

– O importante é você aprender, Harry. Muito depende disso, você sabe.

Mais uma vez Harry se deu conta do sacrifício que continuamente Severus fazia pelo lado do Bem. Para não mencionar os riscos de se expor a Voldemort toda vez que ele era convocado.

Ele não queria mais ver Severus sofrendo. De repente ele era uma pessoa importante na sua vida.

– Não tem um jeito diferente de fazer isso? Eu realmente falei sério. Não quero que você sofra desse jeito.

Severus arregalou os olhos, surpreso. Estava surpreso porque ele acreditava na sinceridade de Harry. Como o menino que era o flagelo de sua existência poderia ter esse tipo de sentimentos a seu respeito?

Logo se refez, dizendo num rasgo de raiva:

– Não preciso de sua pena, Potter.

– Não é pena – defendeu-se Harry – Estou querendo preservar sua dignidade, só isso.

Severus quase se riu. E desde quando alguém como ele tinha dignidade?

– Seu gesto é nobre, como o de um Gryffindor típico. Pense em ser um pouco mais Slytherin. Afinal, o Chapéu quase o colocou lá. – As palavras despertaram em Harry algum tipo de plano e ele não respondeu – Vamos continuar.

Houve mais duas horas de Legilimência, mas Harry ainda não conseguia ultrapassar as barreiras mentais de Severus. Invariavelmente, ele ia ao chão, a cabeça doendo tanto que parecia se partir em duas.

– Você precisa ter vontade, Potter! Tem que querer quebrar minha barreira!

– Eu sou Harry. – disse ele – Por favor, me chame de Harry.

Severus suspirou.

– Está bem – i Harry /i . Mas por favor, tente com mais vontade. Não se preocupe com minha dignidade, meu ego ou meus frágeis sentimentos. Imagine que você está diante do Lord das Trevas e que ele está ameaçando seus amigos. Isso não está muito longe da verdade, dado o que aconteceu com Black.

Harry inspirou profundamente, procurando concentrar energia e assentiu. Quando Severus assentiu de volta, ele ergueu a varinha:

– i Legilimens /i !