Kirina - Você estava lendo no LJ? Não se preocupe, eu atualizo os dois ao mesmo tempo, então você pode acompanhar ou lá ou aqui. Que bom que você insistiu apesar de não ter gostado do formato de lá... Não posso falar sobre um rebento no final, mas a idéia é boa.
Bru - Eu procuro atualizar no mínimo uma vez por dia, sempre que posso, Bru. Muito tempo entre capítulos não é bom para quem lê nem para quem escreve, por isso comigo é tudo rapidinho!
Capítulo 9
– Essa é sua chave de portal – Severus entregou um chaveiro que trazia uma prosaica pata de coelho – Vai servir para levar você e trazê-lo de volta. Fique atento aos horários.
– Sem problema.
– Pegou tudo?
– Eu não vou levar muita coisa.
– Tome cuidado.
– Severus, relaxe. É uma festa de aniversário. Meu aniversário, lembra?
– Nesse caso, divirta-se.
Harry sentiu um puxão no umbigo e tudo pareceu girar à sua volta, até que ele apareceu à porta da casa que mais lhe tocava o coração.
The Burrow.
– Harry! – ele ouviu a voz de Ron vinda de dentro – Você finalmente chegou!
Hermione estava logo atrás dele:
– Pensamos que Snape tinha proibido você de vir.
Eles se abraçaram efusivamente. Harry entrou na casa com um enorme sorriso nos lábios, olhando tudo à sua volta – lá estavam as maluquices dos Weasley todas juntas, e ele se sentia em casa. Era o máximo de lar que ele conhecia.
– Conte para a gente sobre a cadeia! – pediu Hermione. –Verdade que você foi para uma cela?
– Não, eu só fui interrogado.
– Meu pai acionou o Esquadrão de Reversão do Ministério – contou Ron – Foram eles que transformaram o pó de Floo em pó normal.
– Eu preciso agradecê-lo. Sem isso, eu não teria sido solto.
– A coisa não fez o menor sentido – disse Hermione – Seus tios fizeram você ser preso? Eu pensei que eles odiassem chamar atenção.
– É, mas acho que estavam mais interessados em se livrar de mim o mais rápido possível.
– E conseguiram.
– Mas como você foi parar com Snape?
Harry abriu a boca para responder sem saber direito o que ia dizer, mas para sua sorte, Molly Weasley apareceu nesse instante:
– O aniversariante já chegou! Parabéns, Harry – ela o abraçou efusivamente – Vamos, estamos todos lá atrás: é uma festa ao ar livre.
No quintal, havia uma série de pequenas mesas para os convidados, com papéis e copos coloridos. Harry notou que eles não eram descartáveis: aparentemente, a decoração festiva deles era bruxa, porque as figuras se mexiam silenciosamente. Os convidados estavam espalhados pelo quintal e gramado, alguns conversando, outros rindo alto. Harry imediatamente localizou Mr. Weasley conversando com Remus, enquanto Bill, Fred e George trocavam socos amigáveis. Afastados, agachados num canteiro, Luna e Neville pareciam examinar uma planta. Ginny vinha da cozinha, trazendo uma bandeja e abriu um sorriso quando viu Ron, Harry e Hermione entrando no quintal.
– Harry! Feliz aniversário – A única irmã Weasley o abraçou – Nossa, você está até com uma corzinha! Andou pegando sol?
Harry ficou vermelho e assentiu:
– Eu tenho trabalhado num jardim.
– Num jardim? – Ron riu – Snape não está deixando você trancado numa masmorra?
Harry deu um meio sorriso, imaginando que seus amigos pensavam que Snape fosse uma espécie de demônio encarnado.
– Não. Eu não tenho feito muita coisa, mas pelo menos não estou trancado numa masmorra. Ou no meu quarto, o que provavelmente estaria acontecendo se eu estivesse com meus tios.
– O Prof. Dumbledore disse que o local onde você está é tão escondido que nem as corujas conseguem chegar – disse Hermione – Eu tentei umas três vezes e não deu certo.
Aquilo lembrou Harry:
– Ron, como está Hedwig?
– Ela ficou meio triste, e andou saindo para procurar você. Mas logo ficou mais animadinha quando Pig praticamente a adotou como mãe substituta. Agora os dois vivem juntos.
– Que bom que ela está mais feliz. Obrigado por cuidar dela. Não sei se vou poder levá-la para a cabana.
Nesse momento Luna e Neville vieram correndo. Luna trazia um sorriso exagerado:
– É o Harry! Oi, Harry! Hoje é seu aniversário.
– Oi, Luna. Que bom ver você – ele se virou – Você também, Neville. Ontem foi o seu aniversário. Parabéns!
– Obrigado, Harry. Parabéns para você também.
Mrs. Weasley colocou um copo de suco de abóbora nas mãos de Harry, dizendo:
– Aqui, Harry. Neville, Luna, eu teria trazido para vocês também se soubesse que vocês já tinham terminado de ver minhas violáceas.
– Não tem problema, Mrs. Weasley.
Ela sorriu para Harry, satisfeita:
– Que diferença com relação àqueles Muggles! Você está corado, até parece que cresceu e engordou!
– Snape tem te alimentado, é? Isso é surpresa.
– Ron! – Hermione parecia escandalizada.
Neville comentou:
– Ron disse que você está passando o verão com o Prof. Snape – ele parecia ter criado uma admiração nova por Harry – Verdade?
– É verdade, Neville.
– E como é?
– Não é tão ruim quanto você pode pensar. Só estou num local meio isolado. Mas já fiz todos os meus deveres de verão, Hermione.
– Que bom para você, Harry!
– Olha, gente, eu vou falar com o resto, tá bom?
– Não demore – disse Ginny – Queremos jogar Quidditch antes do almoço.
Harry aproximou-se de Mr. Weasley, que ainda conversava com Remus Lupin. O licantropo ainda tinha o mesmo aspecto abatido do ano passado, as roupas com mais e novos remendos. Os dois pararam de conversar ao ver Harry se aproximando, e o chefe do clã Weasley abriu-lhe um sorriso:
– Harry, meu rapaz! Feliz aniversário! Grande data, hein? Agora você é um homem!
– Obrigado, Mr. Weasley. Olá, Remus.
– Olá, Harry – Remus deu um sorriso triste – Feliz aniversário. Você está com uma ótima aparência.
Harry gostaria de poder dizer o mesmo de Remus.
– Obrigado. Eu queria agradecer Mr. Weasley por ter ajudado a me tirar da cadeia.
– Ora, não foi nada. Eu só chamei o Esquadrão de Reversão de Mágica Acidental. Tecnicamente, não era uma mágica acidental, mas eles não conseguiram enquadrar em nenhum outro local, então foram eles mesmos que cuidaram da situação. – ele franziu o cenho – E foram seus tios que armaram tudo? Muggles horríveis. Ainda bem que você não precisa mais conviver com eles.
– Não me fazem falta, isso é verdade – admitiu Harry, com sinceridade.
– Harry – disse Lupin –, eu gostaria de dar uma palavrinha com você, se tiver um tempinho.
– Eu também quero lhe falar – disse Harry.
– Mas não agora! – disseram em uníssono Fred e George, cada um pegando Harry por um braço – Hora de Quidditch!
Mr. Weasley ralhou, sem convicção:
– Garotos! Estávamos no meio de uma conversa!
Remus sorriu:
– Deixe-os, Arthur. Eles estão falando nessa partida de Quidditch desde que eu cheguei. Deixe os meninos se divertirem.
A verdade é que por mais que Harry estivesse ansioso para falar com Remus e explicar por que não tinha ido para Grimmauld Place no verão, ele estava ainda mais ansioso por uma partida de Quidditch. Portanto, foi sem culpa que ele deixou os adultos para trás e seguiu os gêmeos no campo improvisado atrás do quintal, perto do bosque que circundava o Burrow.
Com a vassoura de Ron emprestada, Harry se divertiu imensamente voando com toda a prole Weasley presente e mais Neville – que tentava valentemente melhorar seu jogo, embora suas habilidades em cima de uma vassoura fosse apenas sofríveis. Harry sentia saudades de voar, e o fato de estar cercado por seus amigos era apenas mais ingrediente para a sua felicidade.
Depois do almoço, os adolescentes resolveram fazer um supercampeonato de duplas de Snap Explosivo, e outros adultos chegaram: Hagrid, Moody e Tonks. Depois chegou a hora dos presentes.
Harry nem tinha feito um inventário completo, mas seus presentes tinham sido ótimos esse ano. Hermione tinha lhe dado um estojo mágico para guardar penas de escrever que conservava as penas sempre em bom estado; Ron tinha lhe dado uma coleção completa de cartões com jogadores do Chudley Cannons, e os gêmeos tinham simplesmente entregado sua parte nos lucros com dividendos incluídos e a sugestão que ele atualizasse sua Firebolt, que já tinha mais de três anos. Neville tinha conseguido um exemplar raro de Defesa Avançada contra as Artes das Trevas e Luna tinha lhe dado um talismã raro da Ásia Menor capaz de afastar mau-olhado e os temíveis roncafedes-do-chifre-amassadinho. Hagrid tinha lhe dado um hipogrifo de brinquedo, que só funcionava se a pessoa fizesse uma reverência a ele. Era uma lembrança de Buckbeak, que depois da morte de Sirius, tinha sido contrabandeado para fora do país e agora estava asilado em Beauxbatons, com Madame Maxime. Para sua surpresa, até Moody tinha lhe dado um presente: um Bibilhoscópio – e não importava que ele já tivesse um; "Nunca é demais ter um por perto", disse o ex-Auror.
Harry estava se divertindo muito, como não fazia há muito tempo, e de vez em quando seu pensamento se voltava para Severus. Ele gostaria que seu professor estivesse ali. Gostaria de poder compartilhar essa alegria com ele, especialmente agora que ele já atingira a maioridade e eles poderiam conversar mais uma vez sobre uma aproximação. Harry queria muito estar com Severus.
Por outro lado, a diversão era tanta que ele não queria estragar com assuntos sérios. Ao chegar ao Burrow, ele tinha a intenção de revelar a Hermione e Ron sua preferência sexual. Mas o clima de festa, a camaradagem, o ambiente descontraído, tudo o fez desistir de seu plano inicial.
Uma segunda rodada de Snap Explosivo terminou com Ron e Hermione na frente, e era hora de trocar parceiros quando Harry ouviu uma voz suave atrás de si:
– Ocupado, Harry?
Era Remus. Imediatamente Harry se lembrou da conversa interrompida e prontificou-se.
– Não, claro que não. Neville, poderia tomar meu lugar, por favor?
Eles se afastaram do demais e Harry foi direto ao assunto:
– Remus, eu queria explicar por que não fui passar o verão com você. Não é nada pessoal, é que...
Foi interrompido:
– Não precisa dizer nada, Harry. Dumbledore me explicou tudo.
Pego de repente sem poder dizer o que tinha ensaiado, Harry se sentiu meio envergonhado:
– É? Mas... não vá pensar que é alguma coisa pessoal. Não é nada disso. Eu adoraria ter passado o verão com você, juro que sim, mas... aquela casa.
– Eu entendo. Fiquei surpreso com sua escolha de ficar com Severus, de todas as pessoas, mas entendo que não quisesse ficar na casa – ele deu um sorriso triste – E isso é quase irônico, porque é justamente sobre a casa que eu quero lhe falar.
– O que tem ela?
– Bom, hoje você completou 17 anos e atingiu a maioridade. Portanto, Grimmauld Place passou a ser sua, de acordo com a vontade expressa no testamento de Sirius.
– O quê?
– É isso mesmo. Sirius lhe deixou a casa. Era a única coisa que ele tinha para lhe deixar. Eu era o curador até você ter idade, mas agora você já é um adulto, então ela lhe pertence. Kreacher também, é claro.
Harry ficou boquiaberto.
– Eu... tenho um elfo doméstico?
– Bom, ele não é lá grande coisa como elfo, velho do que jeito que está e com aquele humor que você conhece... E nem preciso lhe dizer como seria perigoso para a Ordem liberá-lo. Bom, eu esperava convencê-lo a ir comigo à casa para colocarmos a papelada em ordem. Há alguns requerimentos burocráticos para que a casa seja legalmente sua.
Harry ainda estava meio tonto com a informação. Ele tinha ganhado uma casa!
– Eu não acredito... A casa é minha... Por que Sirius fez isso? Por que ele não deixou para você?
Remus empalideceu um pouco mais.
– Não se sabe o que o futuro pode trazer, Harry. As leis contra lobisomens podem se tornar ainda mais duras, e há uma grande chance que a casa seja confiscada se estiver em meu nome. Nesse caso, não seria de se espantar que ela passasse a outros parentes da família que estão vivos e fora de Azkaban.
Harry lembrou-se da tapeçaria e deduziu rapidamente do que Remus falava:
– Malfoy!... Ela iria parar nas mãos de Malfoy...!
– Exato.
– Tonks não teria direito à propriedade? Ela também é descendente direta da família.
– O problema é que a lei européia privilegia os descendentes masculinos.
Houve silêncio por alguns segundos, e Harry tomou uma decisão.
– Remus, eu não quero a casa. Mas também não quero que ela vá parar nas mãos de Malfoy. Não sei o que fazer.
– Olhe, você precisa completar esses trâmites burocráticos de que lhe falei antes de tomar qualquer decisão. Não precisa ser feito agora, nem vai demorar, mas seria bom providenciar isso logo.
Harry hesitou. Ele não queria olhar para a casa. Mas assentiu.
– Está bem.
– Ótimo. Vamos Aparatar até lá.
– Mas eu não tenho permissão. Ainda não, pelo menos.
– Não se preocupe, eu levo você.
– Não dava para usar uma chave de portal?
– Isso apenas nos levaria a mais burocracia. Deixe-me avisar Arthur que estamos dando um pulo lá.
O lobisomem se afastou e Harry foi até o extremo do jardim, onde Ron, Neville, Hermione e Luna estavam jogando. Ele avisou:
– Eu vou ter que sair com Remus, mas volto logo.
– Posso ir junto? – perguntou Luna.
– Er – disse Harry – vai ser chato. É melhor ficar aqui.
Adiante, Lupin chamou:
– Harry, vamos!
Ele correu até seu ex-professor.
– Agora fique bem junto de mim. Eu vou passar o braço em sua volta. Pronto? Lá vai.
Harry sentiu o estalido em todo o seu corpo, vendo o Burrow desaparecer de repente, e Ron soltar um grito inacreditável...
E de repente, ele estava ao lado de Remus, em frente à casa ancestral da família Black. O impacto daquela visão foi tamanho que sua cicatriz pôs-se a arder pronunciadamente. Ele tentava não pensar naquilo que mais estava na sua cabeça: Sirius... Sirius...
Os dois entraram silenciosamente, e Harry pensou que fosse uma tentativa de evitar um escândalo vindo do retrato de Mrs. Black, mas aí ele se lembrou que eles tinham conseguido retirar o retrato da parede. Uma coisa a menos naquela casa que Sirius tanto odiava. Harry também reparou que as cabeças de elfos empalhadas tinham sido retiradas. Remus guiou-o para o escritório. Harry notou, sentando-se junto a uma grande escrivaninha muito antiga:
– A casa está bem melhor.
– Eu tenho feito alguns trabalhos de manutenção. E limpeza. – O rosto dele tornou-se fechado – Harry, eu ainda moro aqui, e como a casa agora é sua, posso garantir que estarei me mudando semana que vem, no máximo.
Harry ficou escandalizado:
– Não! Não mesmo. Você continua morando aqui. Por favor, Remus.
– Harry, eu não quero que você se sinta obrigado a...
– Mas eu vou precisar de sua ajuda – ele disse, sinceramente – Quero que você fique administrando a casa. Eu vou para Hogwarts daqui a pouco tempo, não vou ter como cuidar da casa. Você não pode continuar como... como... curador, sei lá?
– Bom, Harry, legalmente não posso ser seu curador, porque você já tem idade. Mas posso ser nomeado administrador de seus bens, se é isso que está pensando.
– É isso mesmo! – Harry levou a mão à cicatriz – Nossa, todo esse papo legal está me dando dor de cabeça.
Mas Remus não se deixou enganar:
– Harry... Isso é mesmo dor de cabeça ou é sua cicatriz doendo?
– É minha cicatriz – respondeu ele, logo acrescentando – Mas ultimamente quase não tem doído. Eu tenho conseguido me controlar, e as aulas com Severus têm ajudado muito. Voldemort não está mais dentro da minha cabeça o tempo todo, como antes.
– E você tem alertado Severus quando isso acontece?
– Claro. Estamos numa cabana isolada, mas tem uma lareira, e Dumbledore sabe de tudo que se passa, eu tenho certeza.
Remus se virou para ele, disposto a falar alguma coisa, mas seja lá o que fosse, Harry não ouviu. O lobisomem ficou arrepiado, com a rápida transformação do rapaz. Harry de repente ficou meio esverdeado, o rosto todo crispado, e ele foi ao chão aos gritos, as mãos agarrando a cicatriz, que estava saltada e parecia ainda mais nítida do que de costume. Remus se agachou no chão, tentando se preparar para o caso de o rapaz entrar em convulsões. Harry se debatia, e Remus procurava evitar que ele se ferisse, mas estava dividido em avisar alguém o quanto antes. Por um segundo, ele se arrependeu de ter tirado Harry de sua festa. Com mais gente, com certeza Harry estaria mais amparado, mais...
Remus não concluiu seu pensamento. De repente, os olhos de Harry se abriram, arregalados, o verde deles cada vez mais intenso, mais parecido com os de Lily, e ele disse, simplesmente:
– Voldemort está atacando o Burrow!
