DarkAngel - Bom, espero que o capítulo responda sua dúvida a respeito da poção misteriosa e proibida.

Capítulo 11

Harry sabia que estava sonhando: as imagens não eram muito nítidas, havia aquela atmosfera irreal típica de sonhos e ele estava observando a cena de fora. E que cena era: ele viu a si mesmo de pé em frente à lareira, beijando apaixonadamente Severus Snape. Os dois corpos estavam colados um no outro, as mãos acariciando o que conseguiam alcançar por cima das roupas. Harry podia sentir a urgência e a paixão nos gestos. As duas figuras no sonho respiravam ruidosamente, e de vez em quando surgia um gemido que não pudera ser reprimido. De repente os lábios se desgrudaram, e Severus passou a mordiscar a junção entre pescoço e ombro, fazendo o Harry do sonho estremecer e revirar os olhos de prazer.

– Severus... Meu amor...

Em seguida os beijos subiram pelo pescoço e Mestre de Poções usava a língua para atiçar a parte externa da orelha de Harry.

– Severus... – ele tentou de novo, arfando – Temos que parar...

– Mal começamos – voltou a beijar o pescoço, agora tentando abrir as roupas de Harry.

– Não vamos... poder terminar... Eles estão chegando – A voz do Harry onírico soou esquisita de tanto desejo – Ah, Severus... Assim você me enlouquece!...

Severus capturou-lhe os lábios e longamente os beijou, ao mesmo tempo em que tentava diminuir a temperatura. A respiração desacelerou.

– Você me deve uma sessão de sexo selvagem e apaixonado.

– Saldar essa dívida será um prazer em dobro – sorriu Harry, encarando os olhos de Severus – Eu te amo tanto...

Severus sorriu-lhe de volta, e levou seus longos dados até o rosto de seu amado, acariciando-o. O Harry onírico levou os dedos a seus lábios e beijou-os docemente, fechando os olhos de tanta reverência e devoção. Harry notou as diferenças em relação ao seu self de sonho: ele deveria ter uns 25 anos, talvez um pouco mais, e tinha perdido a aparência de rapazola, com músculos a encher-lhe os ombros e os braços esquálidos. Severus também aparentava mais idade, com alguns fios prateados na cabeça e umas poucas rugas em volta dos olhos. Os dois se olharam, um nos braços do outro, profunda emoção trocada no simples olhar.

– Obrigado.

– Severus, você não precisa me agradecer.

– Eu lhe sou grato. Nem sempre consigo expressar isso.

– Amar você é como respirar para mim. Não precisa se sentir grato.

– Não sou grato por isso. Ao menos não só por isso. Harry, você me deu uma razão para viver.

– Oh, Severus...

Os lábios se encontraram de novo, e a campainha escolheu esse momento para soar.

– Falando em razão de viver, ela acabou de chegar.

– Provavelmente está dormindo.

Harry abriu a porta e por ela entrou voando um pequeno furacão de cabelos pretos revoltos, gritando:

– Papai! Papaizinho!

Após ter suas pernas abraçadas, Harry do sonho observou a criaturinha se jogar nos braços de Severus e riu:

– Por Merlin, quanta energia para essa hora da noite! Por um acaso alguém andou comendo doce depois do jantar?

Um homem aparentemente da idade de Severus entrou, esclarecendo o mistério:

– Ora, Harry, foi só um sapinho de chocolate, unzinho só.

Harry observou o recém-chegado e sentiu seu coração se acelerar, porque ele o conhecia. Bom, não assim, com os cabelos brancos e as rugas, mas ele conhecia aquele rosto, aquele cabelo, aqueles óculos.

James Potter.

A seu lado, estava uma bruxa de cabelos avermelhados presos num coque, um sorriso suave nos lábios e olhos verdes como os seus, que traziam pequenas rugas na pele em volta deles. Lily Potter parecia ainda mais linda do que quando era jovem.

O Harry do sonho admoestou afetuosamente:

– Pai, você o mima e depois nós é que agüentamos a adrenalina do açúcar.

– Para que servem os avós?

– Eu já o fiz escovar os dentes, Harry – garantiu Lily – Depois do doce.

Severus tinha o pequeno no colo e perguntou solenemente ao garoto:

– E você deu trabalho ao seu avô e sua avó? Foi um garoto bonzinho?

– Eu fui bonzinho – respondeu o menino, orgulhoso – Tio Sirius é que levou bronca.

– E o que foi que tio Sirius aprontou dessa vez?

– Padfoot rolou comigo no jardim e aí eu tinha que tomar outro banho. A vovó chamou e eu fui, mas aí Padfoot me pegou pela perna com os dentes e me arrastou de novo para o jardim no meio das tiguidas! Quebrou as tiguidas!

– Margaridas – corrigiu Lily.

O menino parecia embaraçado:

– Magatidas. Foi sem querer, vovó.

O Harry dos sonhos franziu o cenho:

– Você sabe que não pode estragar o jardim da vovó. Que tem a dizer para ela?

– Desculpe, vovó.

– Não tem problema, querido – disse a avó – Vovó ama você.

Severus dirigiu-se ao filho:

– Isso não o desculpa, rapazinho. Depois conversamos sobre isso. Agora vá colocar o pijama porque daqui a pouco está na hora de dormir.

– Papai, você vai terminar a história do Jack Barba Negra?

– Só se você estiver na cama.

– Tá bom – ele desceu do colo de Severus, contorcendo o corpinho.

James o chamou:

– Antes venha dar adeus ao vovô e à vovó. Estamos voltando para Godric's Hollow.

– Já? – o pequeno fez cara de muxoxo.

– Está tarde, John – explicou Lily – Todos temos que ir dormir.

Harry observou o menino John, que deveria ter cinco anos ou menos: cabelos bem pretos, olhos bem verdes, narizinho comprido. Ele era uma mistura perfeita dele mesmo e de Severus.

John abraçou o avô e deu um beijo na avó. O Harry dos sonhos indagou:

– John, o que você deve dizer para a vovó e o vovô, depois de ter passado o fim de semana inteiro com eles?

– Obrigado. Desculpe pelas magatidas. Posso voltar semana que vem?

– Você pode ir para a casa da vovó quando quiser, querido.

– Papaizinho, outro dia o tio Sirius pode ir dormir lá na vovó?

– É bom perguntarmos para ele mais tarde, está bem? Agora dê boa-noite.

Harry acompanhava a cena com emoção. Seu coração parecia inchado ao ver tanto amor na família que ele mais desejava ter. Aquilo era tudo que seu coração pedia. Ele não queria que aquele sonho acabasse nunca.

Seu self no sonho ainda conversava com James e Lily, mas por algum motivo, Harry resolveu seguir Severus, que tinha ido atrás do pequeno John. O menino foi para seu quarto, um ambiente alegre na casa.

– Quer ajuda para colocar o pijama?

– Não, papai, eu já sou grande. Mas pode ficar aqui?

– Está bem. Você ganhou um cartão do seu sapo de chocolate?

– Era repetido. Vovô Albus.

– Ele vai ficar maravilhado em saber que você tem mais de um cartão.

– Eu gosto do vovô Albus. Ele é muito legal. Posso ir vê-lo amanhã?

– Quem sabe no final de semana? Eu vou ver com ele.

De pijama colocado, John se virou para Severus, o rosto franzido.

– Papai?

– Sim, John?

– Por que eu não tenho uma mamãe?

– Pensei que você já soubesse. Quer que eu explique de novo?

– Quero.

Severus pegou o menino, colocou-o no seu colo e respondeu, numa voz paciente como Harry jamais ouvira antes:

– Tem famílias que têm um papai e uma mamãe, e outras que têm duas mamães. Ainda há outras que têm dois papais, como a nossa. Eu e seu papaizinho amamos muito você, John.

– Anita Weasley disse que só as mamães podem carregar filhos na barriga. A mãe dela está carregando um irmãozinho. Quem me carregou na barriga?

– A Srta. Weasley está errada. Ela provavelmente não sabe que dois papais que se amam muito também podem carregar um filho. Foi o que seu papaizinho e eu fizemos: carregamos você sem precisar de uma mamãe porque nós amamos você muito.

– Eu fiquei na sua barriga, papai?

– Não, querido, foi na barriga do papaizinho Harry.

– Você ajudou, não foi, papai?

– Ajudei sim. Eu coloquei a sementinha na barriga dele, e ela cresceu, porque nós regamos todos os dias com muito amor. Quando você nasceu, era um bebezinho muito bonito e muito amado. Quer ver as fotografias?

– Depois – John esfregou o olho com as mãozinhas – Conta a história do pirata Jack agora?

– Já sabe: tem que ir para a cama. Não quer ir ao banheiro primeiro? Se não, você pode molhar sua cama.

– Papai! – ele parecia indignado – Eu não sou mais bebezinho! Não faço pipi na cama.

– Claro, você já é grandinho. Mas mesmo assim, é bom ir ao banheiro. Para garantir.

O menino correu e voltou rapidamente. Ele se abraçou a Severus com força.

– Você e o papaizinho vão querer carregar outro bebê na barriga?

– Por que está perguntando isso, John?

– Porque aí ele é quem ia molhar a cama.

– Você ia gostar de ter um irmãozinho ou irmãzinha, John?

– Não sei – ele deu de ombros – Meninas não são divertidas.

– Você pode mudar de idéia quando ficar mais velho e descobrir que as meninas podem ser bem interessantes. Você cuidaria de sua irmãzinha para ninguém implicar com ela?

– Eu acho que sim. O irmão de Anita é grande, e ela toma conta dela. Ela não precisa porque ela deu um empurrão no Chester Parkinson-Malfoy, e ele é um menino!

Severus segurou o riso. John o olhou com atenção, os olhinhos brilhando:

– Você cuida de mim, não é, papai?

– Sempre, John. Seu pai e eu vamos sempre cuidar de você.

– Mesmo com um outro bebê?

– Mesmo com um outro bebê ou com dois outros bebês. Você é nosso tesouro. Nunca se esqueça disso.

– Eu te amo, papai.

– Eu também te amo, filho.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Harry quando ele viu o seu self de sonho acompanhando a cena da porta do quarto, também muito emocionado. O problema é que aquela lágrima terminou despertando sua consciência e a cena foi se desfazendo diante dele, que lutava para manter-se no sonho, para não deixar aquela cena morrer, para manter viva um pouco mais tempo a memória de um desejo...

Era manhã alta quando ele acordou, e sentiu uma umidade no rosto. Ele também estava chorando de verdade, por isso acordara. A força do sonho o deixara ofegante e trêmulo. Ele se sentou na cama, tentando recompor-se. Harry podia compreender naquele momento porque a tal poção era proibida.

Nunca antes Harry tinha sentido tanto a falta de alguma coisa que nunca tivera. Uma família. Isso era o que ele mais queria, e ele sempre soubera disso, mas nunca tinha idéia de que quisesse uma família com essa intensidade.

Harry sabia que jamais poderia ter a família do sonho que a poção induzira. James, Lily e Sirius estavam mortos, e jamais voltariam. Mas ele podia ter parte daquela família. Um filho, uma coisinha pequenina para ter nos braços, para chamá-lo de papaizinho. E Severus, alguém para amar e a quem se entregar.

Ter uma razão pela qual viver.

Aquilo não seria feito de um dia para o outro, sabia Harry, finalmente acalmando-se depois da intensidade do sonho.

Mas tinha que começar em algum lugar.

Ele enfiou a primeira roupa que pôs nas mãos e saiu quarto afora, procurando Severus. Encontrou-o no laboratório, onde entrou sem bater.

Severus o encarou, surpreso com sua ousadia. Mas então os olhos se encontraram. E havia algo no olhar de Harry que fez Severus simplesmente esquecer a bronca que estava se preparando para soltar.

– Eu não quero esperar.

Severus não respondeu, ainda sem entender.

– As duas semanas. – esclareceu Harry – Eu não quero esperar tudo isso. Preciso de você agora.

E simplesmente atravessou o laboratório, puxando Severus contra si, colando os lábios nos dele, apertando seu corpo contra o dele, mais uma vez sentindo-se como se chegasse em casa depois de um longo tempo de exílio. Ali ele se sentia seguro, confortável. O cheiro já familiar de Severus, de ingredientes de poções e madeira, só contribuía para a sensação de estar fazendo a coisa certa.

Por um segundo, Severus ficou tão chocado que seus reflexos o traíram, e ele não conseguiu impedir o rapaz. Uma vez que ele avançou e o envolveu, porém, Severus perdeu as forças para lutar contra aquilo e simplesmente entregou-se ao beijo, com Harry moldando-se ao seu corpo. Havia um gosto diferente, e um cheiro exótico que parecia estar sendo gravado no fundo do cérebro de Severus. Parecia que ele estava simplesmente sendo levado, sem poder resistir.

E de repente, ele precisava estabelecer limites.

– Espere! – ele se afastou de Harry, ofegante – É preciso primeiro deixar uma coisa bem clara.

Harry o olhou, incrédulo. E delicioso, pensou Severus. Os lábios estavam inchados e rosados, as maçãs do rosto coradas, os cabelos revoltos, os olhos escurecidos de desejo. Ele teve que desviar o olhar para não se distrair.

– Nem tente me convencer de que você não me quer! – começou Harry, alterado – Não diga que você não quer isso!

– Eu quero apenas estabelecer condições – esclareceu Severus – Isso tudo pára quando voltarmos a Hogwarts.

– Mas por quê?

– Preciso mesmo explicar? Harry, se ao menos estivéssemos com a cabeça no lugar, isso nem estaria acontecendo!...

– Mas está acontecendo, Severus, não tente negar a realidade!

– Não se trata disso. Só não pode acontecer em Hogwarts.

– E se tomássemos cuidados para esconder de todos?

– Quanto tempo um segredo consegue ficar sem ser descoberto naquela escola?

Harry não riu da ironia – até porque ela era verdade.

– Severus, eu não quero só um verão. Você apareceu no meu sonho! É você que eu quero, e aquela família que eu vi no sonho. Eu quero mais do que um verão.

Severus também queria. Mas ele raramente obtinha o que seu coração deseja, então ele simplesmente esmagou aquele desejo, como sempre fazia. Seu controle se perdeu por um instante.

– Harry, eu estou falando sério. Se não for assim, isso pára aqui e agora!

Harry arregalou os olhos. Severus falava sério.

– Posso pelo menos visitá-lo na escola? – tentou negociar – Só para... conversar?

– Só conversar mesmo? – Harry assentiu – Se não puder se controlar, saiba que não hesitarei em expulsá-lo de meus aposentos.

Aposentos? Harry pensava em encontrá-lo no seu gabinete, então não ia reclamar se finalmente tivesse acesso aos aposentos de Severus.

Ele passou os braços em volta da cintura do seu professor e apertou-o contra si:

– Está bem, você venceu. Mas agora eu vou querer você inteiro no verão. Esse é o nosso tempo e eu vou querê-lo integralmente. Agora tenho certeza de uma coisa, mais do que nunca: amo você.

Severus desviou o olhar, sentindo-se sujo e indigno.

– Você não precisa dizer isso.

– É a verdade – Harry não podia entender como Severus relutava tanto em aceitar isso – Você não acredita. Mas é verdade. Eu vou provar.