Este capítulo me fez, de certa forma, me lembrar de minha época de visitante inocente do Site da Lalachan. Sei lá, às vezes eu ainda tenho deja-vù pela noite, lembrando de minha primeira visita ao mundo yaoi... Tudo escuro, todos dormindo e eu maravilhada com o que tinha acabado de encontrar...

Para Emily Manson, que fez uma dollzeenha muito fofa do Hiei, de meia-calça cinza e cuequinha A.A Eu peguei mania de desenhar o Hiei de kimono e cara de menininha fofa, ai que vício xD

Descobri que eu pago um pau deeeeesse tamanho (nhai?) pra quem consegue fazer Hiei sofrer legal. Eu sou péssima em dramas, mas os adoro.

Avisos: Violência, por favor, obrigada xD Este episódio tem, talvez, pequeníssimos detalhes que lembrem a fic "julgamento no país do gelo", e também é PROPOSITALMENTE SEM SENTIDO.


O PÁSSARO DAS SOMBRAS

By Annie Bell

II - Na mente de Hiei

Yuko, mergulhado na mente perturbada da criança maldita, não podia deixar de sorrir. No fundo de uma alma tão fechada, havia tanta dor que poderia facilmente ressuscitar uma lembrança a esmo, e fazê-lo sofrer por bom tempo.

Mas quis se divertir, primeiro. Varreu toda a vida do pequeno, e soube quais eram as pessoas mais importantes para ele - Kurama e Yukina - e, num arroubo repentino de inspiração, começou a entrelaçar rememórias e inventar outras, criando macabros sonhos, que vinham um após o outro...


A floresta de altas árvores escuras era tão fechada que o sol mal nela infiltrava. As folhas caiam, finas e constantes, e Hiei não sabia ao certo pelo quê procurava.

Uma sombra baixa se encontrava diante dele, com cabelos que balançavam levemente ao sabor da brisa cortante. Era o que procurava - pensou. A sombra repentinamente cai ao chão, antes que Hiei possa notar que esta é uma koorime, com raros olhos vermelhos - Yukina.

A garota apenas conseguiu um soluço, ao invés da palavra que queria que saísse da sua boca - o nome de seu maldito irmão. As pérolas que se espalhavam por uma longa trilha não eram brancas, límpidas - eram vermelhas, e se desmanchavam ao ser tocadas, abrindo-se nos sedimentos das jóias koorimes e sangue. Depois de cuspir uma boa dose do líquido vermelho e gelado, a koorime começa a falar, fraca, porém irada.

"Está feliz, irmão?" Ela pergunta, expondo o kimono rasgado e ensanguentado. Ao ver o demônio negro ficar mudo, ela continua: "Eu seria pura. Eu seria malditamente pura se não houvesse dividido o útero de minha mãe com o aborto imundo de que você saiu. Está vendo? Está vendo?" Ela desenlaça o obi azul e mostra seu ventre, cheio de cortes profundos, abertos. "Eu deveria ter uma filha como todas as outras. Eu deveria ser toda koorime. Depois de tanto tempo, elas me abriram, me violaram e rasgaram, umas outras me estupraram esperando que aqui estivesse uma criança, mas não há. Seus malditos genes de fogo estão cravados em mim, maldito, maldito!"

Depois do choque, Hiei tenta dizer qualquer coisa, mas não consegue. Que dizer ao ser acusado de tal coisa? Era verdade sim, era verdade! Não poderia se desculpar, nem mesmo negar, que fazer? Fechou os olhos e disse que muito sentia, mas não era nada, não era o bastante, nada!

Ela abriu os olhos e chorou, gritando o quanto odiava o irmão, e ele apenas aceitava tudo o que ela dizia. Ajoelhou-se diante dela, e, numa atitude piedosa, tentou acabar com seu sofrimento. No ouvido pálido da koorime, enquanto a abraçava, murmurou apenas suas palavras de poder.

Não quis ver o que fez, sabendo agora a carne da koorime trespassada por uma espada de fogo. Se afastou de olhos fechados, andano rumo a escuridão das árvores fechadas - até que olhou para trás, quase que por impulso. O corpo de sua irmã lá não mais jazia.

Irritou-se. Que tipo de youkai gatuno havia roubado o corpo de sua irmã? - Mal percebeu o ki prateado que se aproximava. Deu uns passos largos para trás, até que seu corpo encontrou uma firme e fria barreira. Sem tempo de se virar, a criatura lhe agarrou os cabelos.

"Aqui está o bastardo fratricida..." Sussurrou a voz, quase arrastada, do youko que havia, certa vez, lhe conquistado a amizade com uma forma humana. "Seu nada... O pior tipo de covarde, que agride inocentes feridos..."

Hiei pensou em explicar que negara a dor prolongada para sua irmã. Pensou em argumentar que era melhor matá-la que a ver sangrar até o esgotamento. Sem sua resposta, sentiu Youko Kurama lhe puxar os cabelos com mais força. O koorime se manteu impassível, soltando, talvez, um breve murmúrio dolorido.

"É esse tipo de perdedor que todos os youkais desejam exterminar..." Kurama lhe confessa, os cabelos longos e prateados, com a brisa, envolvendo o corpo menor como uma cortina de seda. Uma das mãos pálidas do youko trazia uma semente, que, quase em tom de brincadeira, foi deslizada pelo rosto de Hiei - que a sentia grudar em sua pele, como se nela fosse se enterrar. Então entendeu que tipo de brincadeira perigosa o outro lhe fazia - estava neste momento o ameaçando matar com a semente da morte, que de fato se enterrou nele, sumindo em meio a pele de seu pescoço.

Esteve assustado, até que o toque o youko se tornou suave. Os dedos entrelaçados nas mechas negras agora as acariciavam, e a outra mão do agressor, do ombro se enlaçou em sua cintura.

"E agora?" Lhe murmurou uma voz diferente e doce, enquanto a mão pálida massageava o local onde a semente do youko havia sido plantada.

"Shuuichi... Eu vou morrer..." Ele sussurra, não com medo, mas sim com tristeza.

"Eu também." O ruivo confidenciou a ele "Eu matei Yukina..."

"Não, não, eu matei Yukina... Eu matei minha irmã..." Ele diz, seu corpo não querendo sair do abraço doce do humano. Pôde, então, sentir seu amigo sorrir...

"Mas eles vão me pegar por isso..." Shuuichi suspira, soltando Hiei e começando a andar de costas, a floresta magicamente abrindo uma longa e reta trilha conforme o garoto andava. Correndo, o koorime o tentou alcançar, mas mesmo o outro estando a andar não conseguia, as árvores lhe bloqueando a passagem e machucando seu rosto e ombros com seus galhos.

Parou ao ver seu amigo ruivo parar, eles em lados opostos de um abismo, que se abria e os afastava cada vez mais e mais... Pedras rolavam enquanto a terra acabava por sob os pés do koorime que, com uma estranha esperança de alcançar o outro, correu alguns passos e usou de sua força para atravessar o espaço vazio...

As pontas de seus dedos foram esfolados quando tentou, desesperado, se apegar á borda do outro lado - esta que por pouco lhe escapou. Ferindo-se, escorregou pela parede de terra até o fundo do abismo de pedras pontigudas...

E tudo ficou escuro.

Tudo ficou escuro por poucos segundos, até que, com difculdade, Hiei abrisse os olhos. Sentiu cada parte do seu corpo quebrada e lacerada, sentiu cada osso estalar quando tentou se mover. Olhando para cima, podia ver os olhos azuis claros de cada koorime que o odiava e recebia o mesmo sentimento dele em reciprocidade. Das mãos delas pareciam sair os pássaros de rapina que se alimentavam da carne dos condenados, e se punham a rodear o monte de feridas que havia se tornado o pequenino.

Surpreendentemente, Hiei ainda tinha forças para correr. Seus joelhos pareciam feitos de palha quebradiça, de puros feixes de nervos que pareciam se romper a cada passada. As aves enormes lhe bicavam e arrancavam pequenas porções da pele, enquanto ele avançava pelo corredor de rochas...

Sabia que, se corresse mais, poderia ver Kurama. Poderia pedir que ele afastasse os animais e o curasse. Mesmo que não pedisse, Hiei sabia que o faria. Não entendia ao certo por que, mas se ele continuasse a correr e se suportasse seu martírio, ele seria tratado pelas mãos suaves de seu amigo ruivo...

As aves se esforçavam para alimentar-se da carne macia do qual seu rosto era feito... Amavam devorar os olhos dos condenados, e era isso o que tentavam fazer agora, até agora bem afastadas pelas mãos enfaixadas e aflitas, que buscavam consolo, buscavam apoio, buscavam a força que Hiei sabia que não tinha mais...

Viu sua mãe. Viu Rui. Aquelas únicas que haviam ousado amá-lo. Era isso e sempre seria - quem tentasse amar a criança maldita morreria...

Hina abriu os braços, e sorriu, esperando talvez que o filho se aninhasse contra ela.

Sangrando, Hiei sentiu cada junta de seu corpo parar e estalar, justo quando acreditava que estaria a salvo. Parou como estava, de olhos arregalados e assustados, sentindo como se horrendas veias verdes brotassem de debaixo de sua pele - a semente da morte finalmente havia se alimentado do seu interior o suficiente para crescer...

A planta crescia, mas não o bastante para o rasgar internamente todo de uma vez... Sentia cada vinha fina o atravessava e se arrastava, dolorosamente. Sentia os corvos se alimentando de seus lábios e bochechas, até que finalmente algumas resolveram se servir da maior iguaria que aquele garoto lhes tinha a oferecer - os grandes olhos vermelhos e cheios de pânico, que sequer ousavam se fechar...

Não podia mais ver a cada pontada, as lágrimas de dor, rancor e medo vinham espessas pelo rosto agora desfigurado... Sentia Hina por perto, sentia-a parada e aguardando... Por quê não se aproximava? Tinha nojo de seu sangue, tinha nojo de ver o que eram quase ossos clamando por ajuda?

Se sentiu desprezível, rendido. Chamou por Kurama, por Hina, Rui, Yukina, qualquer um mas que viesse... Gritou o quanto podia até sentir sua garganta ser bloqueada e ferida.

Invocou seu fogo demoníaco com um resto de energia, e o sentiu queimar cada parte da carne viva em que havia sido transformado, o causando mais e mais dor. As aves agora voavam para longe, soube quando não sentiu mais as dores agudas de seus bicos. Caiu por terra, sentindo como os grãos ásperos grudavam no que sobrara dele.

Sentiu seu núcleo pulsando devagar, e soube que morreria. Esperou. Deixou que cada parte de seu ki fosse absorvido pelo chão, entregou seu corpo para alimentar a grama que viria talvez um dia habitar o chão árido. Enfim, paz, quem sabe.

Tentou não sentir ou tentar se mexer, sabendo que, mesmo a planta demoníaca tendo morrido com sua energia quente, havia entregue os pontos.

Agonizante, não ainda morto.

E vivo ficou. Assustado, notou que sequer conseguia abandonar a consciência.

Era, talvez, parte de sua maldição: jamais conseguir o que se quer, embora sua vontade seja a de todos que já o conheceram - sua morte.

Talvez houvesse alguém que não desejava que morresse... Mas não queria aparecer diante dele tão deformado e horrível... Não havia nele vaidade, não mesmo, mas não queria que sentissem asco ou pena de seu estado deplorável...

Esperou mais. Deixou que sua vida escorresse, mas esta parecia não querer acabar... Se ainda sangrasse poderia morrer, mas seu fogo negro cauterizou cada uma de suas feridas superficiais, além de danificá-lo mais...

Esperou talvez mais do que esperou sua vida inteira. Desejou morrer com todas as suas forças.

Simplesmente não conseguia.


Sequer houve soluço. Os olhos abertos e desfocados de Hiei foram, aos poucos, se tornando mais e mais úmidos, até que uma pequena lágrima escorresse. Assustado, Yuko recolhe sua mão com pressa, tropeçando em si mesmo até cair sentado no chão. - Por todos os demônios, aquele garotinho era muito resistente!

Respirou fundo, retomou o ar. Havia aprendido como manipular mentes de youkais que as tinham abertas - como no caso dos jaganshis - mas era primeira vez que fazia isso. Se surpreendeu ao ver o quanto era cansativo... E doloroso! Sua cabeça ainda rodava.

Quando coseguiu fazer seus joelhos pararem de tremer, finalmenta se aproximou de Hiei, e notou a pequenina gema ao lado de seu rosto, recém-formada e brilhante.

Ofegou, antes de soltar a primeira risada, ainda atordoado. Logo em seguida outras sequências de riso, cada vez mais histéricas. Talvez tivesse realizado sua maior ambição agora - estava diante de possivelmente o youkai mais caro de qualquer mundo.

CONTINUA u.u


Oi, crianças x.o

Antes de qualquer flame, reclamando que esse pesadelo é muito ridículo, pensem o quanto foi difícil pra essa garotinha com crise intelectual bolá-lo...