A Filha de Shaka

Capítulo 3

O Cavaleiro de Ouro de Virgem Olhava para a menina sem reação. Foi então que Avallon se desprendeu dos seus braços e saiu correndo daquele lugar quase chorando. Shaka ficou estático por um segundo, mas logo foi atrás da menina, sendo seguido por Mu. Kamus impediu que Aioria e Shura fossem também... Neste momento Milo se dirige aos três:

– O que porra está acontecendo aqui? - Pergunta o Escorpião olhando as faces apreensivas dos amigos.

– Você viu que o Shaka estava tentando agarrar uma moça? - Disse Aioria.

– Sim eu vi! Quem não viu? E daí? Por que ela fugiu? E por que ele foi atrás dela com aquela cara? E por que o Mu os seguiu também?

– Milo, a moça disse que era filha do Shaka! - Falou Kamus muito sério.

– Como é que é? - Retrucou Milo incrédulo

– É Isso aí mesmo mi camarada! - Disse Shura

Enquanto isso, do lado de fora Shaka alcança a menina nas escadarias do templo de Athena. Rapidamente põe-se à frente dela.

– Espere! Você é uma feiticeira Druida não é? - Shaka faz a pergunta já sabendo da resposta. E amaldiçoando em pensamento a maldita bebida que o fez ficar tão cego.

– Sou! Agora saia da minha frente seu...

– Qual o nome da sua mãe?

A menina não encarava o pai e tentava passar por ele, mas Shaka insistia.

– Por favor ! Fale comigo!

– Enya! Era o nome da minha mãe! Enya! Antes de deixar esse mundo ela me contou que você era meu pai e disse-me que procurasse por um homem sereno e bondoso! Mas, pela primeira vez na vida, MINHA MÃE ESTAVA ENGANADA!

Dito isso a menina livrou-se de Shaka que caíra de joelhos ao chão. Mu, que observara toda a cena de perto foi acudir o amigo.

– Por Buda ! O que eu fiz? Maldita bebida! Por Buda! Ela é minha filha Mu ! Minha Filha! Nunca mais vai querer olhar para mim! Que forma maldita de se conhecer um pai!

– Calma Shaka! Tudo vai se resolver. - Mu nunca tinha visto Shaka naquele estado, ele tentava acalma-lo com a mão em seu ombro.

– Mu ! Por favor vá atrás dela! Não a deixe ir! Convença-a a ficar! Eu já perdi Enya, não posso perder a minha filha!

– Eu farei tudo o que puder Shaka!

Dito isso o Ariano se tele-transporta e materializa-se na frente da menina, que se assusta.

– Espere por favor! - Diz Mu.

– Quem é você ? O que quer?

– Por favor não vá embora. É perigoso sair por aí sozinha. Fique aqui essa noite...

– Eu vim sozinha e posso muito bem voltar. Não fico aqui nem mais um minuto!

– Olha , isso tudo que aconteceu foi um mal entendido. O Shaka...o seu pai não é desse jeito. Ele é o cavaleiro mais sério desse santuário.

– Eu não tenho pai! Agora me deixa ir!

– Menina. Eu prometi ao Shaka que não te deixaria ir. Não me faça forçá-la a ficar. Venha comigo por favor.

A menina relutou por algum tempo, mas sentia-se esgotada fisicamente e perturbada emocionalmente. Talvez fosse realmente perigoso seguir naquele estado.

– Eu ficarei. Mas não quero falar com o meu..com aquele homem! Você poderia me arrumar um lugar para passar a noite?

– Como quiser. Acho que, por hora, ele vai entender... Você ficará no Salão do mestre.

Mu acompanha a menina para um dos aposentos do grande Parthenon. Enquanto isso, Kamus, Aioria, Milo, Shura e Shinna tentavam acalmar Shaka no salão já vazio.

Milo desta vez estava mais sério do que todos e quase tão desesperado quanto Shaka. O Escorpiano estava encostado em uma pilastra de cabeça baixa e não dava uma palavra. De certa forma sentia-se culpado pelo que acontecera.

– Calma Shaka...esse mau entendido vai se resolver logo, é só uma questão de tempo. - Dizia Aioria, que, com o coração mole que tinha, já estava quase chorando junto com o amigo.

– Você tem uma família Aioria! Viu seu filho crescer e ele te adora! Não sabe o que eu estou sentindo agora! A mulher que eu amava morreu e a minha filha vai me odiar para sempre!

– Shaka se acalme. Isso vai passar. Você deveria estar contente por ter uma filha.- Falou o leonino.

– Si mi camarada! E é uma bela de una mujer! Devias estar orgulhoso!

– Olha como você fala da minha filha seu espanhol safado!

– Se você quiser espancá-lo eu ajudo. - interveio Shinna - Vamos embora daqui Shura! - E foi puxando o namorado que tentava acalma-la em vão.

Kamus, que não era muito bom com esses assuntos. Voltara suas atenções para Milo que não dava uma só palavra.

– Milo Você não teve culpa - pousando a mão no ombro do amigo que permanece calado. - Vamos. Você dorme na minha casa hoje. Do jeito que está não vai conseguir chegar a sua. Vamos?

O Escorpiano consente com a cabeça e os dois também saem.

– Shaka, vamos amigo . Eu te acompanho até sua casa. - dizia Aioria tentando levantá-lo.

Nessa hora Mu aparece. E Shaka volta-se imediatamente para o ariano.

– Onde ela está Mu?

– Calma Shaka. Ela já está acomodada em um dos aposentos do Templo.

– Eu vou falar com ela!

– Não. Acho melhor não. Deixe as coisas se acalmarem...

– O Mu tem razão Shaka, amanhã as coisas vão estar mais calmas e você fala com ela. Você não está acostumado a lhe dar com as mulheres... quando elas se enfezam é melhor lhes dar um tempo... - Disse Aioria.

– Isso. Amanhã você fala com ela.- Concordou Mu.

– Mu. Cuide dela para mim por favor...

– Claro Shaka, pode ficar tranquilo.

Os dois partem e Mu volta para o salão do grande mestre. No caminho para o quarto ele observa aquela enorme bagunça e amaldiçoa sua festa de aniversário. Ao chegar no corredor onde ficavam os cômodos, Mu encontra a menina ainda acordada sentada em um banco. Ele senta ao seu lado.

– Algum problema, Avallon?

– Não cavaleiro. Só não estou conseguindo dormir...

Só agora Mu tinha observado a beleza rara de Avallon e estava realmente impressionado. Os seus olhos verdes pareciam ser ainda mais intensos à noite. E todo o seu rosto, emoldurado por finos e lisos cabelos castanho-claro, que descem ate bem abaixo da cintura. Finalmente estava diante da tão falada e quase nunca contemplada beleza Druida.

– Quer que eu te faça companhia?

– Não é necessário - nisso a moça levanta-se e Mu também.

– Avallon eu queria que me escutasse. Você precisa conversar com o seu pai...

– Ele não é o meu pai... o homem que a minha mãe descreveu jamais tentaria agarrar uma mulher que mal conhecera.

– Então Avallon. Você não confia na sua mãe? O Shaka não é assim. Fazem anos que ele nem sequer chega perto de uma mulher! As coisas saíram fora de controle nessa festa! O seu pai é um grande homem! O cavaleiro mais poderoso entre nós e também um dos mais sábios. Ele é realmente o homem mais próximo de Deus!

Avallon ficou observando a Mu enquanto falava, apesar da idade, ele parecia muito jovem , e tinha uma aparência exótica, como se fosse de outra raça que não a humana. Ela reparou bem nos dois círculos redondos que possuía no centro da testa e em seus enormes olhos azuis. A menina definitivamente simpatizara com o rapaz , já sentia por ele uma afeição que não podia explicar. Seu coração dizia que podia confiar nele.

– Não sei Mu. Estou tão confusa...- Sem mais controle sobre si ela entrega-se à um choro compulsivo. O cavaleiro a sua frente tentava acalma-la passando a mão em seus cabelos. Avallon num impulso se atira nos braços dele que a abraça.

– Calma menina, calma, tudo vai se resolver...

Depois de algum tempo chorando Avalon finalmente se acalmou e sem dizer uma palavra afastou-se de Mu, e foi para o seu quarto. O cavaleiro também recolheu-se.

No dia seguinte Avallon acordou com o cantar dos pássaros. Procurou algo para vestir em uma espécie de sacola de pano que trouxera apenas com itens essenciais. Tomou um banho e vestiu uma roupa leve, como era de seu costume. Saiu do quarto e não encontrou ninguém nos corredores nem no salão, seguiu até chegar a escadaria e reparou que havia um lindo jardim florido na sua lateral. Dirigiu-se para ele, afim de sentir a paz que o ambiente emanava. Encantada com o ambiente ela agachou-se para colher uma flor e quando se ergueu deu de cara com Mu que lhe sorria.

– Bom dia ,Avallon...

– Bom dia, Mu...

– Como passou a noite?

– Não muito bem, tive dificuldades em pegar no sono...

– Imagino que sim. Toma café conosco?

– Sim , obrigada! Partirei em seguida...

Os dois vão até a sala de refeições do santuário e sentam à mesa de café posta pelas servas, são os únicos ali presentes. Provavelmente os outros cavaleiros custariam a acordar depois da bebedeira de ontem a noite. Depois de alguns minutos o cavaleiro de Áries interrompe o silêncio que se instaurara entre os dois.

– Avallon, não acho que deveria partir sem ao menos conversar com o seu pai.

– Mu, eu estou muito magoada com aquele homem, não me peça para conversar com ele.

– Ele é o seu pai Avallon , a única pessoa que lhe restou nesse mundo. Não deve ser tão dura. As pessoas tem direito de errar...

– Mas ele é tão diferente do homem que a minha mãe descreveu...

– Você está enganada. Ele é exatamente como sua mãe o descreveu...já lhe disse que o que aconteceu ontem foi um mal entendido... Shaka estava fora de si...

– Ele estava completamente bêbado! E bebeu porque quis! Provavelmente ninguém o forçou!

– As coisas são bem mais complicadas do que isso.. Shaka bebeu para esquecer seu sofrimento , bebeu por causa da sua mãe, que o abandonou sem nunca mais voltar e ainda teve uma filha sem que ele soubesse. Acho que Shaka sentiu a morte dela e foi demais para...

A menina levantou-se da mesa bruscamente.

– Olha como fala da minha mãe! Ela teve seus motivos! - E deu as costas para Mu. Já ia retirando-se quando este segurou-a pelo braço...

– Avallon, espere...eu não quis ofender a sua mãe. Longe de mim...não sou de julgar as pessoas dessa forma...Por favor termine o seu café.

A bela Druida sentou-se à mesa novamente. Ela não sabia explicar o porque, mas sentia-se bem e segura na presença do cavaleiro de Áries, apesar de se conhecerem a tão pouco tempo. Os dois voltam a comer em silêncio...

Depois de um tempo Kamus e Milo chegam ao refeitório. Milo parecia ter caído de um prédio de tanto que se contorcia e gemia de dor. Ao longe os dois avistam Avallon e o Escorpiano já vai cutucando o amigo.

– Kamus! Quê que é isso? Essa mulher é muito gata!

– Milo, você não tem jeito né? Mesmo nesse estado você ainda tem cabeça pra pensar nessas coisas...

– Não da pra não reparar nela!

– Oui, é realmente bela a menina. - Concorda o francês, que também não era santo nem nada.

– Milo, você está péssimo. - Fala Mu rindo da cara do amigo.

– Nem me fale, Mu! Parece que minha cabeça vai explodir e esse chato aí ainda me acorda essa hora da manhã!

– Você é um ingrato Milo! Se eu não tivesse cuidado de você , no mínimo teria dormido em alguma escadaria do santuário, com já fez outras vezes mon ami...

– Ah! Kamus estou brincando , não sei o que seria de mim sem você... - E dirigi-se a Avallon - E aí moça? Dormiu bem?

– Sim...Você é o...

– Milo, muito prazer! - Beijando a mão da garota.

Ela reconhece o rapaz que vira somente de cuecas e com duas mulheres na noite anterior. Apesar de tudo, simpatizara com seu jeito, além de que ele era, com toda certeza, muito agradável de se olhar. Aliais Avallon nunca tinha visto tantos homens bonitos juntos. O francês, que agora lhe dirigia um sorriso em cumprimento, tinha o rosto mais belo entre todos e quando ela achava que não podia haver ainda mais homens bonitos naquele lugar, acabava de chegar um grego lindíssimo com uma criança no colo.

– Bom dia ,Aioria! Ei amigo o que faz aqui tão cedo? - Perguntou Milo enquanto mordia uma maçã.

– Bom dia à todos...senhorita. - E dirige um sorriso cordial à Avallon, depois se volta para Milo - Há muito tempo que perdi o prazer de dormir até tarde Milo. E você? Seu boa vida? Me admira que já esteja acordado.. Ah ! Nem precisa responder...dormiu na casa do Kamus ,foi?

– Pois é...o chato...digo...o meu querido amigo, muito preocupado com a minha saúde, me acordou às 7:00 da manhã para que eu não perdesse o café. Ele não é um amor?

Kamus nem se dignou a responder, sentou-se ao lado de Avallon e começou a puxar conversa com Mu e a moça.

– E aí pestinha? Como você está? Já falou com o tio Shaka hoje? - Milo falava com Aioros, enquanto Aioria fora preparar sua comida.

– Cadê o tio Shato? Ele não vem não? - Aioros procurava Shaka com os olhos pelo refeitório. Em não encontrando voltou-se para Milo com os olhinhos brilhando de maldade. - Tio Milo! Você me arruma mais bombinhas!

– Ei! Fala baixo muleque! Arrumo sim, hehe. Porque você não faz uma armadilha daquelas que te ensinei pro Kamus?

– Eu faço, eu faço! - O menino sorria satisfeito. Os dois formavam uma dupla infernal.

– O que é que o Milo te disse pra você ficar tão alegre Aioros? - Perguntava Aioria meio desconfiado...

– Eu estava só contando uma piada pra ele, não é Aioros? - Ele pisca pra o menino.

– Tá bom, faz de conta que eu acredito... Aioros, venha comer...

– Num quero papa naum!

O menino fazia birra enquanto seu pai tentava pacientemente convence-lo a comer.

Nesse momento chegam ao refeitório Shura e Shinna.

– Esse menino precisa de um belo de um corretivo. Esto si!

– Desde quando eu pedi a sua opinião para como educar o meu filho Shura? - Falou o leonino, com o seu característico pavio curto, dez vezes piorado quando se tratava de algo relacionado ao filho.

– Sem estress camarada! Já não está mais aqui quem falou.

– Acho bom! – Disse Aioria voltando-se novamente para o filho, que continuava recusando-se a comer.

– Bom dia à todos! Como passou a noite senhorita? - Falou o espanhol dirigindo-se à Avallon. Shinna olhou-a enciumada e puxou Shura para perto de si.

– Bem cavaleiro. Obrigada.

Milo estava agora sentado à mesa, um pouco afastado de todos, com as mãos, ele massageava a cabeça e gemia de vez em quanto. Shura não contou conversa ao vê-lo.

– Hahahahaha! E aí peladão? hahahaha! Está doentinho é? Seu amado não cuidou de você direito não? Hahahahaha!

– Você se interessa tanto na minha relação com o Kamus não é Shura? Isso tudo é saudades do Aioros?

O espanhol, cínico por natureza, dificilmente se irritava, sua única resposta foi uma gargalhada sonora. Mas Milo tinha conseguido irritar outra pessoa.

– Eu ouvi o que você disse Milo! Por acaso está querendo morrer? - Aioria deixou o prato de papa, intacto e já frio, em cima da mesa e dirigia-se ameaçador para o lado de Milo.

– Ei Aioria foi só brincadeira, cara! – desculpou-se o escorpiano, percebendo que tinha passado dos limites.

– Você pode brincar com qualquer coisa que quiser Milo, mas não toque no nome do meu irmão!

Avallon observava a tudo admirada. Parecia-lhe que os famosos defensores de Athena, não podiam se reunir sem que tivessem que beber ou brigar. Kamus desconfiou do que se passava pela cabeça da menina pela forma como observava a tudo.

– Não lhes de atenção mon cherie. Eles brigam , mas se adoram no fundo...

– Eu já percebi isso Kamus. Vocês parecem ser uma grande família não é?

– Oui... Nos conhecemos desde muito jovens e passamos por muitas coisas juntos...Há muita amizade, mas também muita mágoa entre nós...como em uma família.

– Você parece ser o mais distante...

– Ah ! Isso é só pose dele Avallon. Apesar de não parecer ele também tem um coração.

– Com o Milo você é bem atencioso...vocês são namorados? - A menina pergunta naturalmente.

Mu sorri da pergunta. Kamus também acha engraçada a franqueza de Avallon.

– Non. - Ele responde, sem se incomodar.

Neste momento chegam ao refeitório os irmãos Saga e Kanon.

– Ora, ora, todos aqui! E o santuário às moscas! - Falava Saga em tom de brincadeira.

– Pois é amigo, há anos que nem as moscas nos atacam neste santuário. Se bem que o Aldebaran ainda está em Touro.

– Hahahahaha! Nós vimos! Ele estava dormindo na escadaria entre a casa de Touro e a de Gêmeos! – Falava Kanon a gargalhar.

– Tio Saga! Tio Kanon! - Aioros deixou Aioria, que agora tentava lhe convencer a comer outra coisa, e correu na direção dos gêmeos.

– E aí muleque? Olha o que eu trouxe pra você. - Saga entregou ao menino uma caixinha de música.

– Eu também te trouxe algo, só que muito melhor! - Kanon entrega para Aioros um jogo de arco e flecha.

– Quando você comprou isso? - Saga lançava um olhar de desaprovação para o irmão.

– Ah! Deixa de ser chato Saga, o muleque gostou, não gostou Aioros? - O menino sacudia a cabeça radiante. - É bom que ele já vai treinando para conquistar a armadura de Sagitário, não é Aioros?

– Sim! Eu sou Aioros de Sagitário!

Os olhos do menino brilhavam, definitivamente esse era o melhor presente que ele já tinha recebido na vida. Aquele joguinho de arco e flecha para ele era o próprio arco de Sagitário! Agora ele apontava a "flecha da justiça" em direção ao loiro que acabava de chegar ao salão. Sem pensar duas vezes o menino atira, sob os protestos de Aioria e de Saga. Aioros tinha uma força surpreendente para a sua idade e a flecha passa entre o ombro e o pescoço de Shaka numa velocidade incrível, por milímetros não o atingiu.

– O que...! – Shaka se assusta e depois do susto, volta seu olhar para o pestinha, que sorria-lhe ainda em posição de ataque.

– Quem foi o criminoso que deu isso pra esse menino? - Questionava Shaka.

Aioria tomou o brinquedo do menino, que se conformou por hora... Naquele dia Aioros aprendeu uma lição: teria que treinar melhor sua pontaria.

Em outra ocasião Shaka teria tido um chilique, mas naquele momento não tinha tempo para isso. Procurou Avallon com os olhos pelo refeitório e quando a encontrou foi em sua direção. Ao ver o pai ela levanta-se subitamente e retira-se do local, sendo seguida por ele.

– Avallon espere por favor!

– O que quer? - Disse rispidamente, voltando-se para Shaka.

– Quero falar com você minha filha. Por favor...

– Não me chame de "minha filha"!

– Tudo bem Avallon. Se te incomoda eu não...

– Na verdade...VOCÊ me incomoda ...SHAKA! – Os olhos de Avallon pareciam que iam soltar raios de tamanha raiva que ela tinha pelo homem em sua frente –

– Você não sabe como eu sofro em ouvir isso de você. - Falou o discípulo de Buda abaixando o olhar.

Avallon observava seu pai. Ele realmente parecia sofrer. Com certeza não lembrava em nada o homem que conhecera na outra noite, na verdade agora lhe parecia muito sério, como lhe falara sua mãe... Mas Avallon ainda estava magoada e queria continuar descontando toda a sua a dor e sofrimento em Shaka por tê-la feito sofrer ainda mais depois de já ter encarado a pior dor da sua vida que fora a morte da mãe.

– Pois estas são as únicas palavras que tenho a lhe oferecer Shaka. Mas não se preocupe, logo não me verá mais...

Avallon saiu e entrou no seu quarto antes que o cavaleiro pudesse responder qualquer coisa.

– Avallon! Avallon! Por favor fale comigo filha, por favor!

Neste momento uma mão amiga pousa no ombro se Shaka.

– Shaka meu amigo. Você tem que entender, ela está magoada...mas não se preocupe isso vai passar - Mu consolava o amigo.

– Mu eu não sei o que fazer! Sempre que as mulheres entram na minha vida elas me deixam confuso! Eu estou desesperado com essa situação! Fico sabendo que a Enya morreu e que tenho uma filha, tudo de uma vez! Isso tudo depois de tentar agarrar minha própria filha! Isso só pode ser castigo de Buda!

– Você devia pensar nisso mais como uma benção! Quando isso tudo se resolver, você terá uma família Shaka!

– Tem razão Mu. Darei a Avallon o tempo que ela precisa pra pensar, mas não vou desistir da minha filha! Ela já é a coisa mais importante do mundo para mim. Quero te pedir, mais uma vez, que cuide dela para mim.

– Não se preocupe Shaka, farei isso com o maior prazer, ela é uma ótima menina. Com certeza te dará muito orgulho.

– Obrigado amigo!

Shaka deixa Mu à porta do quarto de Avallon, passa pelo refeitório sem dirigir a palavra à ninguém e sai rumo à sua casa.

No corredor do templo do mestre, Mu batia a porta de Avallon.

– Avallon, Avallon...Seu pai não está mais aqui. Por favor abra a porta , quero falar com você.

A menina abriu a porta. Mu olhou nos seus olhos e viu que eles estavam muito vermelhos.

– Avallon, quero te pedir uma coisa...como amigo...pois já te considero minha amiga e quero que me tenha como um amigo também.

– Fico muito feliz em ouvir isso Mu...

– Então me deixe feliz também e não vá embora agora...

– Mu, eu...

– Você nunca veio à Grécia não é? Posso te mostrar lugares lindos! Por favor.

Avallon permanecia em silêncio sem saber o que responder. Seus sentimentos misturavam-se...ao mesmo tempo que queria sair dali para ferir o pai que lhe magoara, também sentia vontade de ficar e dar uma chance à Shaka, por mais que negasse isso à si mesma. Além disso sentia-se animada com a idéia de passear com Mu e isso à estava inquietando.

– Então? Vamos? - Mu sorria para a menina. Ele ficava ainda mais encantador quando sorria.

– Não posso negar um pedido seu que tem sido tão bom comigo... mas no fim do dia partirei com certeza.

Mú suspira ao olhar para o belíssimo rosto de Avallon e sente-se estranhamente mal pelas palavras ditas por ela, ele talvez quisesse ter a companhia dela por muito mais tempo, mas ela partiria...

Continua...