A Filha de Shaka
Capítulo V
É fim de tarde na Grécia, o dia, que começara nublado, lentamente passou à um típico dia de outono. O sol havia brilhado forte, mas o clima era mais para frio, mais ameno do que os dias ensolarados e quentes da região do Egeu. O Santuário mantinha-se quase indiferente ao acontecido há três dias atrás.
Um homem de cabelos e olhos azuis, vestido com roupas de treino, subia a escadaria entre as casas de Leão e Virgem. Era Milo de Escorpião que voltava para casa após um treino solitário. Ao adentrar a casa de Virgem, ele encontra Shaka, sentado ao centro concentrado na leitura de um grosso livro sobre magia Druida. O Cavaleiro de Escorpião se aproxima.
– Ei, Shaka a Avallon está por aí? – Perguntou muito interessado.
– Não, não está. Foi encontrar o Mu. Por que? Que tipo de assunto você teria a tratar com a minha filha? – Falava o pai ciumento num tom de desdém, enquanto virava uma página do livro sem dirigir os olhos para Milo.
– Nada não! Só queria cumprimenta-la ! Eu heim! Que mal humor!
– Como se eu não te conhecesse Milo! – Desta vez encarou-o - Escuta bem, fica longe da minha filha ou te faço perder todos os sentidos! Todos, entendeu!
– Hahaha! Que pai mais caxias que você se tornou , heim! Mas quer dizer que eu não posso chegar perto da tua filha, e o Kamus e o Mu podem! E pôs-se sério. - Estou ofendido!
– Eles não são como você! O Mu tem sido um grande amigo! Me ajudou a me reaproximar da minha filha...ele é como se fosse um tio para a Avallon. – Disse serenamente o Virginiano.
– Tio? – Milo ergueu uma sobrancelha.
– Sim, por que? – Shaka já estava a beira de se alterar com a possível insinuação.
– Nada, nada, eles realmente parecem tio e sobrinha – Concordou cinicamente, o escorpião.
– Olha, vou indo – e pôs-se a andar em direção à saída – E não se preocupe comigo em relação a Avallon...na verdade deveria se preocupar é com outra pessoa- Disse a última frase quase para si mesmo, mas esta não passou despercebida pelo Cavaleiro de Virgem.
Depois que Milo saiu, Shaka começou a sentir-se estranhamente incomodado com as insinuações que havia feito a respeito de sua filha. Mas tratou de extirpar esses pensamentos, que considerava totalmente descabidos, de sua mente e foi-se preparar para a reunião de logo mais...
Muito longe dali, um homem e uma moça subiam as escadas em parafuso de uma estranha casa quadrada, que mais parecia um templo religioso. O rapaz ia na frente e a moça o seguia, ambos tinham sorrisos incontidos nos rostos, lembravam um casal de namorados. Seu vestido indiano, presente de Shaka, arrastava nos degraus, e ela tinha de segurar as barras para não tropeçar.
– Mu ! Falta muito? Essas escadas estão me deixando tonta! – Disse com o ar divertido, característico seu.
O cavaleiro parou e estendeu sorrindo uma das mãos à linda menina, que retribuiu imediatamente ao gesto, sorrindo-lhe de volta e lhe entregando a mão direita. O ariano nem desconfiava, mas àquela altura Avallon poderia entregar-lhe muito mais se ele assim desejasse...
– Já vamos chegar. Você vai adorar a vista Avallon! – Disse o cavaleiro de Áries enquanto conduzia a Druida pela mão.
– Já estou adorando Mu!
Chegaram ao fim da escada onde havia um enorme terraço ao ar livre, que ficava no topo da casa quadrada, que, por sua vez estava no topo de um desfiladeiro. A vista era realmente esplendida!
A druida olhava para todos os lados, os olhos acesos, como se quisessem devorar todo o ambiente. Nada lhe escapava. Aproximou-se da sacada onde se inclinou para observar o vale à baixo. O verde de todas as tonalidades das arvores saltava aos olhos, no meio do desfiladeiro corria um fio de riacho quase imperceptível, devido a enorme distância. Depois se voltou para Mu encostando-se no parapeito, um sorriso iluminava-lhe a face.
– Nossa Mu! Estou encantada! Jamiel é mesmo um paraíso!
– Sabia que iria gostar Avallon! O seu pai adora esse lugar! – Mu pôs-se ao seu lado, encostando-se também ao parapeito.
– Ah sim! Ele me recomendou que viesse aqui um dia...disse que era um ótimo lugar para se meditar. Mas também me avisou que era um lugar perigoso... por que?
– O caminho para cá é cheio de obstáculos e é assombrado por almas de cavaleiros que morreram ao tentar chegar aqui...mas não se preocupe, aqui, onde estamos, não há perigo algum...
– Eu sei disso Mu, eu sinto a paz que emana deste lugar.. – A druida fechou os olhos e pôs na face uma expressão serena, respirando fundo o ar puro de Jamiel. Mu a observava. Seus olhos eram magneticamente atraídos para os lábios avermelhados e cheios da moça. Sentia uma incrível vontade de beija- la! Quase incontrolável, se não fosse ele quem era.
Avallon abriu os olhos e flagrou Mu a observa-la com olhar que não demonstrava o carinho de um tio, mas sim o encanto de um homem por uma mulher. Ele mudou de expressão imediatamente e voltou a mirar a paisagem. Os dois ficaram ali, lado à lado,em silêncio, até que o Cavaleiro de Aries resolve falar:
– E então Avallon? Como está sendo sua estadia no santuário? Como vão as coisas com seu pai?– Disse, num tom um tanto formal.
– Eu nem imaginava que poderia ser tão bom ter um pai! Ainda mais um pai como Shaka! Você tinha toda razão sobre ele Mu! É realmente um homem fantástico! Tenho tanto orgulho dele! Amo-o tanto!– Os olhos da menina brilhavam enquanto falava do pai. Parecia ter se tornado para ela um ser divino.
– Sabia que se dariam bem...vocês são muito parecidos!
– Sim! Temos muito em comum mesmo! Principalmente o censo de justiça...
– Você também parece ter a mesma alto confiança e altivez de Shaka... são muito parecidos mesmo. Até na fisionomia, apesar de não terem os mesmos traços, suas expressões o lembram bastante...
– Acha mesmo Mu? – A menina alegrou-se com a comparação.
– Sim, com certeza! Claro que você é bem mais sorridente e eloqüente que o carrancudo do teu pai.- Ambos sorriram.-...e quanto ao santuário? O que estas achando de lá?
– Me sinto muito bem lá! Todos tem me recebido muito cordialmente! Principalmente você e Kamus.
– Kamus? Você o tem visto? – Percebia-se um certo incômodo na fala do Ariano.
– Sim, nos encontramos ontem, ele foi tratar algo com meu pai e ficamos conversando por um tempo... Acho-o muito agradável e educado...
– Sim ele é... – Estava incrivelmente enciumado. Chegou a sentir raiva do amigo naquele momento!
Avallon fitou-o nos olhos sorrindo.
– Mas certamente... a pessoa com quem melhor me identifiquei aqui foi você. – As palavras que disse a seguir saiam-lhe naturalmente, ao ver o brilho nos olhos do cavaleiro. - Você é tão doce Mu, sereno, bondoso, inteligente e além disso... – Seu rosto se iluminou ainda mais e ela inclinava-se na direção dele.- Tem esses lindos olhos e o seu...
Mu Interrompeu-a bruscamente com um ar sério.
– Obrigado Avallon, fico lisonjeado em ouvir isso de você...bem acho que temos que ir, menina, aqui ainda está claro, mas na Grécia já é noite, e temos uma reunião marcada para as sete horas... – Frisou a palavra "menina" querendo lembrar e ela e a si mesmo a diferença de idade entre eles.
– Certo... – A druida estava visivelmente decepcionada com a atitude do cavaleiro, baixou o olhar e dispersou o sorriso da face. - então vamos.
Tele-transportaram-se.
O Salão do Grande Mestre estava preparado para uma reunião. Bastante limpo e discretamente ornamentado. O tapete vermelho subia desde a escadaria até o assento do mestre. Não tinham cadeiras ao centro, apenas nos cantos. Apesar de estarem na Grécia, os cavaleiros de Athena haviam adquirido durante os séculos a tradição romana de reunir-se de pé, o que era uma prova de virilidade e seriedade para os antigos imperialistas da região do Lácio.
Alguns cavaleiros já estavam presentes, num canto do salão , Shura, Saga, Kanon, Aldebaran e Milo esperavam pelos outros conversando descontraídos numa roda.
– Hahaha! Então quer dizer que o Kanon se fez passar por ti e vocês trocaram de companhia? – Milo gargalhava.
– Sim! Hahaha! Vocês precisavam ver a cara do Saga quando me viu dançando com a garota dele!
– E tu, por que não desfez a troca, Saga?- Perguntou Shura.
– De repente a outra estava me chamando de Kanon e eu fiquei sem ter como explicar! Se eu contasse, elas provavelmente não iriam gostar e daí ficaríamos sem nada, fui obrigado a aceitar...
– E no que deu isso? – O espanhol estava curioso, não conseguia imaginar o sisudo Saga aprontando coisas do tipo. "Será que a personalidade dupla esta atacando novamente?". Shura pensou na piadinha, mas não ousou lança-la.
– No outro dia elas desceram em Londres e nós seguimos...- Respondeu Saga.
– Então passaste um dia fingindo ser o traste do Kanon? – Zombava Milo.
– Sim! Foi um pesadelo. – Saga levou as mãos à cabeça com um ar teatral de terror.
– Bem que você se soltou meu irmão! Tive que ensinar-lhe umas palavrinhas de baixo calão! Já eu só precisei ser um perfeito gentleman!
Neste momento Shinna chega ao Parthenon. Tinha assento nas reuniões do santuário, assim como Marin, devido às várias vezes que lutaram corajosamente junto aos cavaleiros de bronze por Athena. Já estes não estariam presentes, afinal a reunião não tinha importância tamanha, para que tivessem que deixar os países onde moravam a fim comparecerem ao Santuário.
Shura vai até sua italiana, que já não via a três dias, e a abraça puxando- a para um lugar afastado dos "urubus", os dois ficam "conversando" num canto. Shura beijava-lhe atrevidamente e as mãos corriam soltas pelo corpo da amazona, apesar dos protestos de Shinna, que quase implorava para que o espanhol se contivesse.
– Esses dois...quem diria...- Milo não escondia sua decepção.
– Pois é né Milo, bem que tu tentaste. – Retrucou Kanon provocativo.
– E se tentei! Queria saber qual é o segredo desse espanhol.
– Vai ver é esse sotaque ridículo! – Falou Aldebaran.
– Como é que é Aldebaran? Hahahaha! Como é que você tem coragem de dizer uma dessas chifrudo! Com esse teu sotaque horrendo!
Nesse momento chegavam ao salão, Aioria e Marin de mãos dadas. A amazona tinha acabado de chegar do Japão onde estivera tratando com Seiya sobre os novos aprendizes que a fundação mandaria para serem treinados na Grécia. Ela foi juntar-se a Shura e Shinna, enquanto Aioria foi para a rodinha de ouro de onde se ouviam gargalhadas.
– Aioria, Aioria – Falava Milo entre risos. - O que achas disso? O Aldebaran disse que o sotaque do Shura era ridículo!
– Hahahaha! Não acredito! Logo você Aldebaran, que parece um bárbaro falando! Não sei qual dos dois é mais ridículo!
– Podem brincar muchachos, mas o fato é que as mulheres adoram meu sotaque latino! – Disse Shura juntando-se ao grupo novamente.
– E o meu também! – Aldebaran tentava não perder a paciência.
– Olha amigos..– Milo pôs o braço em volta do pescoço de Shura – Vamos ser realistas! Quem são os homens mais lindos e charmosos desse santuário?
– Hiii mi camarada! Essa eu não vou poder te responder porque pra mim só existe mesmo um homem bonito neste santuário, que soy jo!
– Pois eu respondo essa! – Falou Kanon – Só podemos ser nós, os sangue puro, os gregos legítimos!
– Desta vez serei obrigado a concordar contigo meu irmão! – Falava Saga, que parecia ter voltado um tanto mais espirituoso da viajem com Kanon.
– Mas a beleza grega é um fato notório desde os tempos mitológicos! Esses estrangeiros não tem mesmo nosso charme! – Falou o leonino.
– Isso não tem o que se discutir! – Milo exibia um riso largo - A gente já sabe que nós gregos somos mais bonitos, mais gostosos, mais charmosos... Bem, o único cara que eu diria que é assim... pinta, pinta mesmo e não é daqui seria o Kamus...
– Todos os olhares voltam-se para Milo, que quase se arrepende do que havia dito.
– Você acha mesmo Milo? –Shura falava num tom sério e curioso. – Mas assim...o que foi que te atraiu mais nele? Os olhos azuis, ou aqueles cabelos compridos azulados? Ah! Não responde! Já sei! Foi aquele corpo esbelto não é? – E piscou um olho encarando o amigo.
Aioria teve que segurar o Escorpião, para que não avançasse em Shura, que continuava sorrindo-lhe cinicamente. Saga, Kanon e Aldebaran riam da situação.
– Milo deixe de ser infantil! Por que isso te irrita tanto? – Dizia Aioria enquanto o detinha.
– È esse espanhol que me tira do sério! Tá bom Aioria, já desisti de quebrar a cara dele! Pode me soltar por favor?
Enquanto Marin tratava com Seiya ao celular, assuntos relativos aos novos aprendizes que viriam do Japão, Shinna, que já estava farta do assunto, afinal não fizera outra coisa além de dar aulas durante a semana inteira, dirigiu-se para o grupo de cavaleiros.
– Vocês já estão se estranhando de novo? – Repreendeu-os a Amazona enquanto seu espanhol a abraçava. - Acho que o motivo da briga acaba de chegar.
O cavaleiro de aquário acabara de adentrar o Parthenon, muito sério, mais do que de costume. Cumprimentou a todos com os olhos, nem mesmo um leve sorriso, e dirigiu-se para onde estava a Amazona de Águia, os dois, sensatos e disciplinados como eram, acabaram criando afinidade, e sempre que se encontravam conversavam por horas a respeito de vários assuntos, desde questões sobre a existência humana até a política interna do Santuário.
– Que mau humor heim? Por que ele não veio para cá? – Perguntou saga.
– Não estão sabendo? – Shura preparava-se para provocar mais uma vez. – Brigou com o namorado!
– Brigou contigo Milo? – Perguntou Kanon fingindo seriedade.
– Kanon, pelo visto você deve ter apreciado a experiência de receber 13 agulhas escarlates no couro né? QUER EXPERIMENTAR NOVAMENTE? – O marina somente pôs-se a rir, assim como os outros. - Olha , vão para o inferno viu! Dá licença!
Milo saiu da roda enfezado e foi ao encontro de Kamus, que ainda aguardava Marin parar de falar ao telefone para conversar com ela.
– O que você quer Milo? – Falou o francês rispidamente ao ver que o outro se aproximava, antes mesmo que este pudesse dizer qualquer coisa.
– Quero conversar com você. – Disse Milo, já costumado com as reações do amigo, afinal brigas como aquela eram freqüentes entre os dois. – Já faz três dias que não me dirigi a palavra, você não acha que está exagerando não?
Marin aproveitou para deixa-los a sós e foi para onde estavam Aioria e os outros.
– Isso não é hora nem local para conversarmos. Mas quer saber mon ami! Eu não quero papo contigo pelos próximos meses...minha vida é bem mais tranqüila sem você por perto. Prefiro assim. - Kamus adorava convencer a si mesmo de que realmente preferia estar longe de Milo.
– Acha que vai me fazer se sentir mal com isso?Você pensa que engana a quem heim? Kamus eu te conheço desde que éramos crianças! Sei muito bem que o teu problema vai além da nossa briga, o que é que tá rolando?
– No momento não esta "rolando" nada, mas se você continuar ai falando o que vai rolar vai ser a sua cabeça!...
– Ei, calma... Você sabe que eu sou praticamente formado em ciências ocultas, filosofia dramática, perditia charlatânica, biologia dogmática e astrologia eletrônica, portanto você sabe que pode contar para mim todos os seus problemas que eu verei uma solução bem simples para seus flagelos...
– Milo... – Fala Kamus, fulminado o amigo com uma frieza implacável. – Ás vezes é melhor ficar quieto e deixar que pensem que você é um idiota, do que abrir a boca e não deixar nenhuma dúvida... Como é possível que você consiga falar tanta besteira em tão pouco tempo!
– Isso é mulher, não é não! – Milo cruzou os braços e olhou para o amigo com um sorrisinho no canto dos lábios. - Você tá assim por causa de uma mulher!
– Milo, me faz um favor... Vai nadar naquela piscina de sangue escaldante lá na Sexta prisão de Hades, vai... – Diz levando as pontas dos dedos às têmporas, tentando se auto massagear para manter a calma ao lado daquele homem que se recusava a crescer.
– Eu sabia!... É mulher! Fala ai, quem é ela? – pergunta o escorpião como se não tivesse escutado Kamus.
– ...
– Bom, deixa eu te falar uma coisa...
– Se você falar mais uma vez, eu juro que te congelo em um esquife de gelo e de lá você num sai nem se o Dohko chegar aqui com a armadura de Libra e todas as armas versão 2.0 !...Além do mais você morreria da mesma forma! Por que nem o Shun ia querer te aquecer! – E lança um olhar assassino para Milo, saindo em direção à roda onde estavam Aioria , Shura, Shinna, Saga, Kanon e Aldebaran.
– O Mu está atrasado... – falou o francês.
– É verdade - Concordou Saga.
– Além dele, já estão todos presentes? – Perguntou Marin.
– Não, acho que só estão faltando o Shaka e a menina, a filha dele. - respondeu Aldebaran.
– E onde estão Afrodite e Mascara da Morte? – Perguntou Kanon.
– Eles partiram logo depois de vocês...mas não dão sinal de vida fazem semanas... – Respondeu Shinna.
Nesse momento, chegam finalmente Mú e Avallon, juntos. A jovem sorri pouco, e Mú, ainda mais sério, vai até os amigos e percebe que alguns estão intrigados com seu atraso.
– Vejo que estão se divertindo! Fico feliz que não tenham se incomodado com o nosso atraso! – Brincou o regente em exercício. - Estão todos aqui?
– Não estou vendo meu pai...- Diz Avallon.
– Estou aqui! - Shaka acabava de chegar, mantinha os olhos fechados e trajava sua armadura assim como os demais.
–Óimo, então estão todos, podemos começar a reunião...
Mu teve que esperar um pouco até que todos pudessem se recompor para começar a explicar o motivo daquela reunião. Ele também permaneceu de pé de frente para os outros sem ousar sentar-se no trono que agora era ocupado somente por Athena.
– Bem como nem todos devem estar cientes do que aconteceu há três dias sinto necessidade de fazer uma breve explanação sobre os fatos.
O regente em exercício tratou de fazer um breve resumo sobre o ataque dos Druidas enviados por Cenyra à Avallon e pediu para que a menina falasse um pouco sobre a conjuntura em que vivia o povo druida naquele momento. Avallon falou sobre como os Druidas se organizavam e sobre a nova Shalafi, que era uma espécie de mestra/orientadora do seu povo. Explicou que esta tinha uma orientação conservadora e que dirigia o povo com mão de ferro. Era capaz até mesmo de mandar executar seus opositores como tentara com Avallon. Tinha apoio quase unânime no conselho de magia, mas não entre a maioria dos druidas, onde a insatisfação contra Cenyra crescia à cada dia.
– Bem então diante disso , acho que devemos ir imediatamente as florestas altas e acabarmos com essa Cenyra. Isso não será problema...- Aioria pronunciava-se.
– Exato! – Concordou Milo prontamente.
– Não acho que seja simples assim... - Disse Marin.
– Si, é simples assim! Os druidas que atacaram a chica deixaram bem claro que estavam a comando da tal da Cenyra. Se ela tentou matar a Avallon não podemos fazer outra coisa se não revidar...
– Non! Isto non está correto! – Bradou Kamus. – Não podemos interferir na soberania de um povo dessa forma. Não estou duvidando da tua palavra Avallon, e pelo que aconteceu aqui a três dias atrás imagino que Cenyra deva mesmo ser uma déspota, mas não cabe a nós derrota-la e sim aos próprios Druidas!
– Esperem! – Falou Aioria um pouco alterado. – Deixe-me entender o que está acontecendo aqui! Essa mulher é uma assassina capaz de mandar matar qualquer um que se interponha no seu caminho! Mandou dois capachos a fim de matarem a Avallon dias atarás e vocês estão defendendo que sejamos complacentes com ela e este conselho, que segundo as palavras da menina, está ao seu lado!
– Isso é inacreditável! – acrescentou Milo.
– Eu concordo com o Kamus! – Disse a Amazona de Águia - Nós temos que fazer alguma coisa sim Aioria. Até para proteger a vida da Avallon, mas não temos o direito de matar a governante dos druidas, destituindo-lhe o poder que eles mesmos lhe deram, isso é uma tarefa que cabe somente a eles, eu acho que nós...
– Acontece Marin, que ela nos atacou primeiro! Nós estaríamos apenas revidando – Dizia Shura.
– Como defensores de Athena nossa missão é levar a justiça a qualquer parte do mundo. Se sabemos que lá governa uma déspota iremos lá e a destituiremos! – Disse Shina com exaltação.
– Essa corja teve a coragem de vir ao Santuário de Athena e atacar a filha de um dos nossos cavaleiros! Não podemos deixar isso assim! Pela nossa honra de Cavaleiros! – Falava o orgulhoso Milo.
– Vejam bem cavaleiros! Talvez estaríamos empenhando nossa honra se atacássemos dessa forma.. – Ponderou Saga. – Gostaria de saber o que a Avallon pensa disso...
– Mas Saga,- Kanon o interrompeu – se não fizermos algo, se deixarmos esta Cenyra e a corja dela vivos, a vida da Avallon estará em perigo constante.
– Vamos Mu, Shaka! Pronunciem-se! O que tem a dizer sobre isso? - Questionou Aioria, irritado com o silêncio dos dois cavaleiros.
– Bem...acho que devíamos ouvir o que a Avallon tem a nós dizer sobre isso. – Disse o Cavaleiro de Áries calmamente voltando seus enormes olhos azuis para a druida.
Shaka descruzou os braços e abriu os olhos para poder olhar para sua filha. Avallon e Shaka entreolham-se por um momento, fixamente. Os olhos intensamente verdes dela, herdados de Enya, e os azuis safira do seu pai, cruzam-se como se entendessem mensagens apenas com os olhares. Ela respira fundo para reunir o fôlego e todos passam sua atenção para a jovem, que começa, ininterruptamente.
– Cavaleiros. Meu povo vem sendo governado a quase duas décadas por uma mulher retrograda e autoritária, que chegou ao poder somente devido a um deslize de minha mãe, que na época não pode ser compreendido nem aceito pelo povo druida. Sim me refiro ao fato , de Enya, minha querida mãe, ter se entregue a um homem, ao meu pai... Felizmente, depois de anos de repressão, a consciência meu povo parece ter avançado e muitos tornaram-se partidários de minha mãe, por a acharem mais sábia e mais compromissada com a liberdade do povo Druida do que Cenyra. Sei que depois da morte dela, a esperança de alguns agora está depositada em mim, pois também carrego todos os seus conhecimentos em magia e as mesmas déias...adianto que não é meu desejo tornar-me governante dos druidas, meu desejo é apenas o de liberta- los. Bem...fiz essa explanação para que possam entender minhas idéias. Não acho que seja papel dos cavaleiros de Athena, aliados à uma druida decidir quem deve ou não governar os druidas. Agradeço a preocupação para comigo, mas a minha posição é de que eu devo voltar às Florestas Altas e juntar-se ao meu povo, para que possamos juntos destituir Cenyra e esse conselho que agora infelizmente nos governa e estabelecer um novo governo.
– Espere minha filha. – Shaka pronunciava-se pela primeira vez. – Isso eu não posso permitir. Seria muito arriscado para você.
– Certamente – Concordou Mu – Não permitiremos que vá sozinha Avallon.
– O povo druida é um povo quase inteiramente formado por mulheres não é mesmo Avallon? - Marin intrometeu-se.
– Sim, Marin.
– Então você deve temer que seu povo se sinta invadido com a presença de cavaleiros de Athena por lá certo?
– Sim é verdade...os druidas não gostam de presença externa nas Florestas Altas. E os cosmos dos cavaleiros de ouro chamariam muita atenção.
– Então eu e a Shina poderíamos ir com você. Seria menos ofensivo. E você não cometeria o suicídio de ir sozinha.
– Eu estou à disposição...bem alguém teria que assumir nossos alunos. – Disse Shina.
– O Santuário cuidará disso. – Falou Mu.
– Ei esperem aí...Eu não posso permitir isso Marin. – Aioria cruzava os braços. – Esses Druidas não são de brincadeira. Para nós cavaleiros de ouro, não passam de mosquitos, mas acho que pra vocês duas seria perigoso.
– Eu concordo com o Aioria. E tu não vais Shinna. – Disse Shura.
– Bem se só Aioria e Shura não concordam, então está decidido. Irão as três amanhã pela manhã. A reunião está encerrada. – Falou Mu recebendo um olhar de fúria dos dois cavaleiros. Marin e Shinna se entreolharam, teriam muito trabalho para convencé-los durante essa noite.
Os cavaleiros começaram a dispersar-se em direção às suas casas. Milo tentava convencer alguém de que deviam ir para algum lugar encher a cara como era costume depois das reuniões, mas recebeu um sonoro não de Aioria e Shura, seus companheiros habituais de noitadas. Os outros também tinham outros planos. Sobrou Kamus, claro que ele não iria aceitar, mas não custava nada tentar afinal a cara de pau também era um ponto forte do escorpião.
– Ei Kamus. Pra onde você vai agora?
– Vou para uma boate. J'ai besoin d'une femme!...Urgentemente!- Disse quase num desabafo - Quer ir comigo?
– Você ainda pergunta! Vambora francezinho! – Milo pos-se a caminhar ao seu lado em direção a saída. Ele certamente ficara curioso por saber o que se passava com o amigo. Kamus estava realmente estranho. Depois de dias sem lhe dirigir a palavra, e do tratamento de ainda a pouco, convidava-o, sem mais nem menos, para ir a uma boate dizendo que precisava urgentemente de uma mulher! Ah! Teria muitas explicações para lhe dar durante essa noite. E o escorpião sabia muito bem como fazer o reservado francês se abrir. Se bem que ele podia ter uma ligeira idéia do que se tratava. Algo lhe dizia que a bela Druida tinha a ver com isso. E suas suspeitas se confirmavam ao ver o olhar de Kamus deter-se na menina antes dos dois deixarem o Parthenon.
Continua...
