A Filha de Shaka
Capítulo VII
Seis dias após a partida da Druida e das amazonas para as Florestas Altas, encontramos a praça central da vila druida de Lammas envolta por uma áurea desoladora. Há poucas horas desenrolara-se ali uma luta interna de proporções jamais dantes vistas na história daquele pacífico povo.
Avallon, Marin e Shina haviam chegado ao território druida há três dias atrás,onde foram recebidas pelos opositores - em sua grande parte velhos amigos de Avallon e de sua mãe- que a essa altura já eram clandestinos entre seu próprio povo. Foram dois dias de esconderijo, até que, calculando que tinham superioridade em força, os rebeldes resolveram atacar diretamente e estourou-se o confronto aberto.
Ao final de longas horas de enfrentamento, os Druidas rebeldes haviam triunfado e posto fim ao governo déspota de Cenyra. A antiga governante ao ver-se acuada pela derrota eminente, suicidara-se aos olhos da filha de sua grande inimiga, talvez numa tentativa de fazer-lhe um último mau. Os vitoriosos agora tentavam por ordem ao caos, cuidando dos feridos e prendendo as potenciais ameaças ao futuro governo.
Em meio a tanta agitação, algo chama a atenção dos que se aglutinavam na praça. Todos pararam o que estavam fazendo para olharem intrigados na direção dos quatro homens metidos em suas armaduras reluzentes que do nada apareceram ali.
Mu, Aioria, Milo e Shura, acabavam de chegar teletransportados pelo ariano. Vieram preparados para uma luta, mas pelo que estavam vendo, da batalha só haviam restado os destroços e as vítimas.
– Parece que chegamos tarde. – Disse Milo coçando a cabeça.
Logo avistaram Shina, que saia de dentro de uma das rústicas casas dispostas em torno da praça. A amazona estava em perfeito estado e isso os deixou aliviados.
– Parece mesmo é que não precisávamos ter vindo. – Disse Aioria, lembrando-se imediatamente do pedido que Marin lhe fizera para que não deixasse o santuário até que elas voltassem.
– No final o Shaka tinha razão. – Disse Mu. – Devíamos ter confiado nas meninas.
– Cariño! – Exclamou Shura indo na direção de Shina e a abraçando.
– O que estão fazendo aqui? – Perguntou fria.
– Vocês não dão sinal de vida a mais de dois dias, queriam que ficássemos esperando de braços cruzados? – Respondeu o capricorniano.
– Pois vocês se abalaram por muito pouco, deviam ter imaginado que não podíamos nos comunicar pelo cosmo nem por aparelhos eletrônicos para não levantar suspeitas. – esclareceu Shina. – E Shura. – olhar mortal. - em casa nós conversamos. – E saiu.
– Ei Shina, espera aí... – O espanhol foi atrás de sua italiana temperamental.
– O que foi que eu te pedi Aioria?
Aioria virou-se ao ouvir uma voz muito sua conhecida vindo de trás.
– Marin! Estava te procurando... está tudo bem?
– Tá, tudo bem...Não te disse que resolveríamos? – Falou chateada.
– Você não achou mesmo que eu iria esperar, achou? – E foi logo a abraçando e beijando.
Marin sorriu sacudindo a cabeça negativamente, era inútil discutir.
– Marin, onde está a Avallon? – Perguntou Mu.
– Está tudo bem com ela Mú. Neste momento está participando de uma reunião para a formação do novo Conselho de Magia.
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Marin e Shina levaram os cavaleiros para o lugar onde estavam hospedadas, a antiga casa de Avalon, onde morara sua vida inteira com a mãe. Marin recomendou que esperassem a Filha de Shaka sair da reunião antes de retornarem, afinal tinha dúvidas se a menina partiria com eles ou permaneceria entre os druidas.
Já eram altas horas da noite quando a Druida finalmente chegou em casa.
– Mú...
A menina cutucou o homem que cochilava sentado em uma espreguiçadeira na varanda da casa. Ele despertou meio assustado, Avallon teve vontade de rir, mas ficou séria.
– Avallon... – Mu olhou em volta esfregando os olhos. Estavam só eles ali fora, pelo silêncio os outros deviam estar dormindo dentro da casa. – Já estava ficando preocupado, está tudo bem?
– Está, está tudo bem... tomamos decisões importantes... - Estava cansada demais depois de horas de discussão para entrar em mais detalhes.
– Que bom. Já sabia que tínhamos vindo?
– Sim, a notícia chegou até nós. Decidimos convidá-los para uma confraternização amanhã de manhã em retribuição a valorosa ajuda que nos deram.
– Será um prazer. - disse ele.
– Estão todos dormindo? - perguntou mudando de assunto.
– Menos o Milo que... sabe-se lá... - Deu de ombros sorrindo.
E então um incômodo silêncio se interpôs entre eles... foram longos segundos, até que:
– Mu...
– Avallon...
Falaram ao mesmo tempo.
– Fale. - disse ele.
– Não, prefiro ouvir você.
– Muito bem então. Avallon eu quero lhe pedir desculpas, cometi uma besteira naquela noite na biblioteca, eu não sei o que me levou a agir daquela forma, mas eu gostaria muito que você pudesse esquecer aquilo...
Avallon fitou os olhos cheios de frieza do Cavaleiro de Áries e baixou os seus, invadida pela tristeza.
– Esquecer?...aquele foi o meu primeiro beijo! – Disse, e podia notar-se a mágoa que sentia em sua voz..
– Não sabe o quanto me arrependo... Se eu pudesse voltaria no tempo, mas não posso, pedi-la para esquecer é o que me resta...- Mu ergueu-se da cadeira e foi em direção a porta da casa deixando-a sozinha no terraço.
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Grécia, Santuário da Deusa Athena, duas semanas depois.
Avallon acordou um pouco mais tarde que de costume naquela manhã. Levantou com um pouco de pressa de sua cama, que ficava no quarto de hóspedes da casa de virgem, agora convertido em seu. O cheiro de café fresco e torradas de pão de centeio guiaram-na até a cozinha. Lá encontrou a mesa posta, provavelmente por seu pai, já que Shaka não gostava que lhe fizessem as refeições, só permitira isso recentemente à ela, afinal tinham gostos incrivelmente parecidos.
Depois de um breve café da manhã saiu para a parte externa da casa mordendo uma maçã. O Cavaleiro de Virgem estava lá, meditando ao centro.
Caminhou até a frente do templo, como costumava fazer todas as manhãs desde que morava ali. Gostava de sentir a brisa agradável das manhãs gregas e contemplar a paisagem que o terraço de seu pai proporcionava. A claridade que lançava seus raios pelo salão era um complemento à felicidade que ela sentia nos últimos dias. A Druida tinha motivos para estar feliz desde que regressara das Florestas Altas. Finalmente seu povo estava livre do governo déspota de Cenyra, e poderiam começar uma nova história, como sua mãe
tanto desejara...
Enya...Avallon lembrou-se dela com alegria pela primeira vez desde a sua morte. Devia estar muito orgulhosa onde quer que esteja.
Por alguns segundos ficou a observar seu pai, que fazia seu exercício de meditação vestindo apenas uma calça clara folgada, amarrada por um cordão abaixo do umbigo. O sol
refletia nos cabelos dourados dele, iluminado os traços finos do rosto e o corpo esbelto e definido. Avallon sorriu, imaginando o porque que sua mãe perdera a cabeça, seu pai era
realmente tentador. Desejou que ela pudesse estar com eles naquele momento e imaginou se alguma vez Enya pôde ver Shaka assim, meditando pela manhã, iluminado pelo sol, estava lindo.
A felicidade da menina estaria completa... não fosse a situação com o Cavaleiro de Áries...
Nos dias que sucederam o seu regresso à Grécia, o Ariano havia mantido-se distante dela e também de Shaka, que já estava estranhando o afastamento do amigo, mas atribuía seu comportamento ao fato de ele ter estado demasiadamente ocupado com os problemas do santuário, que abundavam ultimamente, enquanto que Athena continuava sem data para regressar.
Porém Avallon sabia muito bem dos motivos do atual distanciamento de Mu e enchia-se de ódio por ele a estar tratando da forma como estava, fingindo que nada tinha acontecido, escondendo-se por traz de uma mascara de responsável. Se ele a amava como disse, deveria ter coragem para enfrentar tudo e todos e ficar com ela. No fundo sentia-se rejeitada e esse era, definitivamente, um sentimento que irritava a filha de Shaka de virgem.
– Covarde! - Disse em voz baixa para si mesma, de costas para Shaka, enquanto contemplava a vista do santuário.
– Quem é covarde Avallon? - Indagou de súbito a voz tranqüila, mas suprema do Cavaleiro de Virgem.
– Cenyra pai...- Respondeu sem vacilar virando-se para ele. - Estava pensando alto...– Ela já teve o que mereceu, esqueça isso! Não é bom para o espírito guardar rancor. - Aconselhou calmamente o Cavaleiro, mantendo-se na mesma posição e com os olhos
cerrados como de costume.
– Eu sei...desculpe ter atrapalhado a sua meditação. – E beijou carinhosamente na testa; - Vou fazer o nosso almoço.
Mas antes que entrasse em casa, foi interrompida ao ouvir o barulho de passos miúdos que se aproximavam sorrateiros. Imediatamente virou-se para a entrada do templo e viu que quem se aproximava era uma pequena figura de cabelos avermelhados e olhos azuis esverdeados. Aparentava menos de seis anos, e tinha o rosto de um querubim, mas a expressão que trazia na face era de um diabinho.
Ela ficou observando-o, esperando pra ver o que ele pretendia, o menino não a havia notado, parou de frente para Shaka, mas a muitos metros de distância, tirou das costas um pequeno arco e do bolso uma miúda flecha de madeira, e já preparava-se para atirar na direção de Virgem quando Avallon o interrompeu tomando-lhe o "brinquedo". Aioros inspirou assustado, olhando-a com os olhos arregalados de surpresa.
– Aioros! - Disse ela o repreendendo em voz baixa, tentando ocultar a situação de Shaka, apesar de saber que isso era praticamente impossível. Ela agachou-se para ficar na altura do menino, que a olhava apreensivo. - Venha! Vou te levar pra casa!
– Não vou! - Disse malcriado, afastando-se de Avallon. Estava chateado em ter seus planos de acertar o "tio chato" em cheio frustrados.
– Se eu fosse você eu saia daqui o mais rápido possível. -Aioros recuou dois passos para trás ao ouvir a vós de Shaka. – Vá, seu pestinha, antes que eu desista e lhe dê uma
lição. - Ordenou autoritário, mas sem se alterar.
– É melhor você obedecer. - Disse Avallon séria e olhando-o bem nos olhos.
O pequeno fechou a cara e estralou a língua contrariado, entregando a mãozinha à Avallon permitindo que ela o levasse escadaria abaixo. Enquanto desciam ela resolveu puxar assunto.
– Seus pais estão em casa Aioros?
– Não...Minha mãe está com aqueles chatos dos alunos dela e meu pai foi matar um homem mau! - respondeu muito sério.
– Ele te disse isso?
– Não, eles não me falam dessas coisas, pensam que eu sou criança sabe?- disse meio emburrado. - Mas eu sei que quando meu pai usa a armadura é porque vai matar gente mau. Quando eu crescer também vou ter uma armadura de ouro pra matar os homens maus sabia? - Ele olhou para Avallon sorrindo e neste momento a druida pensou que não poderia haver no mundo coisa melhor do que ter uma coisinha dessas pra criar. Mesmo que essa coisinha fosse uma peste como Aioros.
– É claro que você vai. - Disse ela retribuindo o sorriso e afagando-lhe os cabelos.
Aioros expressava-se tão naturalmente que parecia ter esquecido que acabara de ser pego numa traquinagem, parecia mesmo outro menino, e exibia um olhar bem diferente do
endiabrado de agora a pouco. Passou pela cabeça dela que o que ele queria mesmo era atenção.
Os dois continuaram conversando enquanto desciam, até que...
– Oiiiiii! Alguém por favor! Oiiiii! Abram aqui!
Estavam entrando na Casa de Leão, quando começaram a ouvir gritos abafados vindos de dentro da casa e batidas fortes em algo de madeira.
– O que é isso? - Avallon apressou o passo puxando Aioros pela mão. O menino permaneceu calado. - Quem está gritando Aioros? - Aioros continuou mudo, até chegarem diante de uma porta fechada de onde vinham os gritos e as batidas.
– Tem alguém aí? - Disse uma voz de mulher por trás da porta.
– Tem sim, eu sou a Avallon, a filha de Shaka de Virgem. -Ela respondeu enquanto tentava abrir a porta. - Está trancada. Quem é você?
– Eu sou Ana, a baba do Aioros, ele me trancou aqui, onde está ele?
– Está aqui! - Avallon olhou com ar de reprovação para o garoto, que agora estava um pouco afastado dela.
– Graças aos Deuses! - Disse aliviada a baba.
– Aioros , como se abre essa porta? - Perguntou a druida olhando-o séria.
O menino sorriu cinicamente e enfiou a mão no bolso, tirando uma chave e a entregou a Avallon que finalmente abriu a porta.
A moça saiu de dentro do banheiro e foi diretamente até Aioros.
– Mocinho você está encrencado, vou contar tudo para sua mãe e você vai levar a primeira surra da sua vida!
– Hehe. Meu pai não deixa! - Aioros estirou língua para Ana e se atirou no sofá com um risinho provocativo.
– Ahhhh, mas você não vai assistir TV de jeito nenhum! Vá já pro quarto! Depois sua mãe decide o que vai fazer com você, mas enquanto ela não chega você está de castigo!
Aioros não deu ouvidos e ligou a televisão com o controle remoto.
– Tá vendo isso? - Disse Ana olhando para Avallon com ar de incredulidade. - Já não sei mais o que fazer com esse menino!
– Calma Ana! - Disse a Druida fazendo sinal com as mãos para que se acalmasse. Depois se pôs na frente de Aioros e com um simples estralo de dedos desligou a TV.
– Como você fez isso? - Indagou o pequeno, olhando para ela fascinado.
– É um truque bem fácil, se quiser te ensino depois, mas agora me escute. Quero que peça desculpas para a Ana pelo que fez!
– Não peço, ela é chata, todo dia ela ajuda minha mãe a sair sem que eu veja.
– Claro, se não fizesse isso você iria querer ir com ela, e você sabe que ela não poderia te levar.
O menino cruzou os braços e encostou-se no sofá emburrado. Avallon sentou-se ao seu lado.
– Escute Aioros, vamos fazer um trato, eu não irei contar para os seus pais que você tentou atirar no meu pai, e a Ana também não dirá nada do que você fez, desde que você peça
desculpas e prometa que não fará novamente. Certo Ana?
– Por mim tudo bem, e então Aioros?
Aioros respirou fundo e depois de alguns segundos, concordou mesmo com um ar contrariado. - Tá bem...desculpe Ana... não vou mais te trancar no banheiro- E fez uma pausa, depois continuou. - ...também não vou mais me esconder de você pela casa, nem jogar minha comida na parede, nem atirar nos pombinhos e nem tacar fogo no rabo do gato...- parecia que tinha se inspirado e resolveu pedir todas as desculpas que
devia de uma vez, então levantou-se do sofá e foi na direção da baba. - E você não é chata...você é muito legal!
– Ah meu amor! È claro que eu desculpo você meu anjinho! - Ana pegou Aioros no colo e ele a abraçou, podia ser uma peste, mas por outro lado era muito carinhoso e amoroso
quando queria, e somando isso aos seus brilhantes olhinhos azuis, acabava conseguindo amolecer o coração de qualquer um.
– Nossa Avallon, estou surpresa, você é muito boa com crianças! - Disse a baba agradecida enquanto punha Aioros de volta no chão.
– Parece que você também. - Avallon sorriu - Já vou tá Aioros? Se comporte hem!
– Tia Avallon - Ele correu até ela - Você vai mesmo me ensinar aquilo?
– Claro que sim! - Respondeu ela, afagando seus cabelos ruivos - Mas agora não posso, tenho que ir... Amanhã de tarde eu venho, tudo bem?
Aioros consentiu com a cabeça e surpreendeu Avallon abraçando-a.
– Você é muito legal! - E depois olhou-a intrigado. - É mesmo filha do Tio Chato?
– hahahaha! Sou sim Aioros! - Avallon sorriu e beijou-lhe a bochecha. - Mas não diga que ele chato que eu não gosto hem! - Falou fingindo estar brava e ele concordou com a cabeça.
Avallon estava encantada com o menino, como quase todos acabavam ficando. Aioros também a adorara como a poucos e ali acabara de nascer uma grande amizade...
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Mais tarde pai e filha sentaram a mesa juntos para almoçar e, enquanto comiam, conversavam a respeito do treinamento ao qual Avallon seria submetida. Esse era o principal motivo da Druida ter regressado das florestas altas. Depois que os
Druidas rebeldes derrotaram Cenyra e destituíram o antigo conselho de magia, Avallon foi convidada a participar do Novo Conselho, mas recusou, por hora tinha outros planos, queria
voltar para o santuário e aprender com seu pai um pouco sobre a fonte de poder dos cavaleiros de Athena, o cosmos. Não era sua intenção alcançar grandes façanhas, como o sétimo sentido e etc, já estava bem acima da idade para começar os treinos e além do mais não pretendia passar muito tempo no santuário, só o suficiente para desenvolver minimamente seu cosmo, e descobrir formas de utilizar esse novo conhecimento nas suas
práticas de magia. Sua verdadeira intenção era voltar para as florestas altas o mais rápido possível para poder ajuda-los no novo caminho que começavam a trilhar.
Mas a verdade é que sofria ao imaginar que teria que separar-se de seu pai. Sempre poderia visitá-lo e ele a ela. Mas ainda assim sentia-se triste em ter que deixar a casa de virgem, que já sentia como se fosse seu lar a mais tempo do que realmente era. Além do mais sabia que, mais do que qualquer coisa, sentiria falta da sensação de proteção que tinha em estar morando com ele, não somente por ele ser Shaka de Virgem, o homem mais próximo dos deuses, mas principalmente por ser o seu pai. Mesmo com todo aquele distanciamento e frieza que algumas vezes aparentava, Avallon sabia que só fora tão amada como era agora uma vez antes, por sua mãe.
Depois de muito conversarem, um longo silêncio instaurou-se entre os dois, Avallon estava tomando coragem para falar sobre um assunto que sabia, desagradaria a Shaka. Antes que
terminassem a refeição decidiu falar.
– Pai...- Parou antes mesmo de começar.
– Diga Avallon. – Shaka não estava gostando daquela hesitação e já podia ter uma ligeira impressão do que se tratava.
– Você está sabendo da festa que vai haver na casa de escorpião não é? Você vai? - Resolveu começar por aí, mas já sabia muito bem da resposta.
– Não. Por que? Você estava querendo ir?
– Estava...estou. - Corrigiu-se.
– Acho que não devia. - Falou calmamente, enquanto levantava-se da mesa levando seu prato para a pia. - Não sei o que você poderia querer lá. -continuou no mesmo tom calmo- Você já presenciou uma dessas festas e...bem não é ambiente pra você.
– Eu só queria sair um pouco...conversar com a Marin e com a Shina...dançar, só isso.
– Avallon, nós vamos treinar hoje a tarde toda acho que você não vai ter energia pra ir a essa festa...e além disso tem a viagem para a Índia amanhã. Mas se ainda assim você quiser ir..não vou proibir. - Falou de costas pra ela enquanto enxugava as mãos em um guardanapo de pano.
– Então eu vou! - Disse ela animada, beijando o rosto do pai antes que este deixasse a cozinha.
– Você quem sabe... - Falou sério. - descanse um em uma hora.
E assim ficou evidente para Avallon que estaria desagradando ao pai indo a essa festa, enquanto que para Shaka, a Druida deixou bem claro que quando queria alguma coisa era difícil impedi-la. Nem mesmo ele, a quem ela mais respeitava no mundo, era capaz de fazê-la desistir de fazer o que tinha vontade. E essa característica da filha, ao mesmo tempo que lhe inspirava uma ponta de orgulho, o deixava em pânico...estava cada vez mais claro que jamais poderia controlá-la.
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Na casa de escorpião os convidados começaram a chegar desde as dez da noite. Mal dera meia noite e o salão já estava completamente lotado, e foi por volta dessas horas que
Avallon deu o ar de sua graça no salão de Milo.
Gente de todo o santuário estava por lá e alguns outros contatos que Milo tinha por fora também. Haviam até modelos internacionais e uma atriz de cinema, mas nem mesmo ela conseguia chamar tanta atenção quanto Avallon. Todos queriam por os olhos na Filha de Shaka, a garota que tinha aparecido do nada e que diziam ser uma feiticeira druida. Avallon não estranhou os vários olhares sobre ela quando entrou no salão...
Mas em meio a toda aquela gente não conseguia achar nenhum rosto conhecido. Só depois de alguns minutos procurando avistou Shina, do outro lado do salão, uns três degraus acima
da escadaria que daria para a casa de sagitário. Então pôs-se na direção dela, espremendo-se entre a multidão de desconhecidos. Mal dera dois passos, sentiu uma mão pousar em seu ombro e depois descer para o seu braço, puxando-a para que se virasse. Ao voltar-se para quem a puxava deu de cara com um cavaleiro de olhos e cabelos azuis, já seu conhecido.
– Ei gatinha, está perdida? - Disse com um sorrindo insinuante, bem típico dele.
– Oi Milo! -Ela o cumprimentou com uma expressão irônica de onde lia-se "só podia ser você mesmo!" . Avallon se divertia com o jeito como Milo a tratava, era o único que parecia não dar a mínima pra diferença de idade entre eles ou ao fato de ela ser filha de quem era. Tratava-a como tratava qualquer uma, ou seja, como uma possível presa.
– Pensei que teu pai não ia te deixar vir! - O Som alto obrigavam-nos a falar de perto, mas Milo estava falando perto demais. Avallon não era boba pra não perceber que estava se aproveitando da situação.
– Ele não deixou exatamente...
– Está desobedecendo o papai?
– Também não...- Disse misteriosa.
– Então tá...- Milo resolveu não insistir, apesar de que estava muito curioso. Será que Shaka não sabia que Avallon estava ali? Ou teriam brigado? De qualquer forma ficou claro para
ele que a menina era corajosa, não era qualquer um que tinha a ousadia de contrariar Shaka de Virgem.
– Até mais Milo...tenho que ir falar com a Shina - Disse ela apontando para o lugar onde estava a amazona e já ameaçando se afastar, quando ele a impediu segurando-a pela mão.
– Espera, espera...quer dançar? - Propôs, bem próximo ao seu ouvido.
– Agora não...- Respondeu, afastando-se e lentamente retirando sua mão da mão de Milo. - Depois!- e sorrindo, deu-lhe um tchauzinho com os dedos.
Ele acenou de volta e ficou onde estava bebendo seu conhaque e observando-a até se perder entre os convidados. Só Deus sabe o que se passava pela cabeça do escorpião naquele
momento.
Avallon chegou à escadaria onde agora Shina e Marin e conversavam. As três se cumprimentaram animadamente. Haviam se tornado quase íntimas depois da viajem para as Florestas Altas. As duas amazonas haviam lutado bravamente, como se fosse sua própria causa e isso fazia com que Avallon lhes tivesse um eterno sentimento de agradecimento, além de uma enorme admiração pelas guerreiras que eram.
– Que bom que veio Avallon! E seu pai? - Perguntou a Amazona de cabelos verdes tentando avistar Shaka em algum lugar.
– Ele não veio...também não queria que eu viesse, mas bem..estou aqui. - Disse suspirando, depois sorriu, Marin e Shina também sorriram e resolvem não perguntar mais...
Avallon olhou para o salão e viu que de onde estavam tinham uma visão privilegiada da festa. Finalmente pode ver vários rostos conhecidos. Num canto avistou o Cavaleiro de Aquário e não pode deixar de pensar o quanto estava bonito e como sempre, muito bem vestido. Conversava com uma mulher muito elegante, tão alta que quase alcançava Kamus com a ajuda dos saltos. Mas tarde viria a saber que essa era a tal hollywoodiana da festa.
– Aquele é o Saga ou o Kanon? - Perguntou Avallon ao notar a entrada do homem de cabelos compridos azuis e quase um metro e noventa na festa.
– Hum..é o Saga. - Respondeu Shina. - O Kanon é aquele do outro lado, com o Milo e o Shura, está vendo?
– Estou..como é que vocês fazem pra diferenciar hem?
– Eu ainda confundo os dois. - Disse Marin.
– Ah, o tom dos cabelos é diferente. - Disse Shina.
– Eu só gostaria de saber quem foi a abençoada criatura que trouxe ao mundo de uma vez só duas beldades como essas! - Falou Avallon divertida.
– Essa é uma excelente pergunta! - Concordou a cobra.
– Vocês duas hem!
– Ah Marin, vai dizer que você não repara na quantidade de homens bonitos desse santuário? - Perguntou a Druida.
– Eu..bem...
– Vindo dessa daí eu nem acho estranho viu. Demorou bem uns dez anos pra reparar no Aioria.
– Só se eu fosse louca. Você sabe muito bem que não foi assim...
– Nossa Marin! Vocês demoraram tanto assim pra ficarem juntos?
– Não queira nem saber...- Respondeu Shina estralando os dedos indicando passagem de tempo.
– Mas falando sério gente...esse santuário é abençoado pelos deuses não?
– Com certeza! E você ainda nem conhece os cavaleiros de bronze, são todos umas gracinhas.
– Quem vocês elegeriam o homem mais lindo santuário? - Perguntou de repente a Druida, com os olhos brilhando de curiosidade. - Não vale o Aioria nem o Shura! -Completou.
– Hum..- Shina pensou por uns segundos antes de responder. - Tirando o Shura...acho que Saga, ou Milo...
– Realmente, não sei qual dos dois é mais lindo...
Então as duas olharam para Marin.
– Que foi? - Disse a ruiva acuada.
– Estamos esperando uma resposta. - Intimou Shina.
– Ah, não sei..nunca parei pra pensar nisso.
– Não é Possível Marin! Ahhh fala aí vai. - Dizia Avallon.
– Não sei mesmo...vamos mudar de assunto?
– É melhor responder se não, não vamos te deixar em paz! - Ameaçou a Amazona de cabelos verdes.
Marin olhou desgostosa para as duas e, contrariada, resolveu responder. - Depois do Aioria...- Pensou um pouco. - O Kamus.
– Hum, excelente escolha! - Disse a druida com um sorriso.
– E você Avallon, qual seria a sua escolha? - Perguntou a amazona de cobra mal notando o duplo sentido da sua pergunta.
– Eu...
– Boa noite!
De repente as moças ouviram, vindo de trás, uma cordial voz masculina conhecida de todas. E ao virarem depararam-se com o Cavaleiro de Áries alguns degraus acima de onde elas estavam.
Avallon sentiu um calafrio subir-lhe a espinha... há dias não o via, e ele estava absolutamente lindo!
Os cabelos ainda úmidos, presos para trás, deixavam a mostra o pescoço torneado, e a blusa branca de viscose, com um decote profundo em U, exibia uma boa parte do peito dividido. Pra completar uma calça Jeans e um sapato de camurça semi-social. E o que o deixava mais irresistível era o fato de que certamente havia posto a primeira roupa que encontrou na sua frente e provavelmente não fazia a menor idéia de o quão sexy estava, vestido daquela forma.
Avallon perdeu o ar. O coração da adolescente dava pulos diante daquela visão e a voz mal saiu quando respondeu o "boa noite" junto com Marin e Shina.
– Você por aqui Mu! - Shina falou o que todas estavam pensando, ninguém esperava por ele naquela festa, a não ser Avallon, que, como boa apaixonada, ainda tinha uma pontinha
de esperança de que ele viesse.
– Pois é. - Disse exibindo um sorriso meio tímido. - Vim garantir que o Milo não apronte das suas!
– Ah tá! - Disse Shina pausadamente, olhando-o de uma forma que o estava deixando incomodado.
– Também tenho uns assuntos a tratar com o Aioria..você sabe onde ele está Marin?
– Bem ali. - Respondeu a Amazona apontando na direção do seu marido.
– Já vi. - Disse sorrindo em agradecimento. -Vou lá falar com ele, até mais meninas.
Antes de sair não pode evitar em cruzar os olhos com a filha de Shaka, que lhe lançou uma mirada férrea, parecia querer trucidá-lo com o olhar. Ele não a encarou por muito tempo, foi menos de um segundo de contato antes que desviasse seus escuros olhos azuis dos verdes claro dela e saísse do local.
Avallon mal esperou que ele se afastasse e já disparou.
– Vocês viram isso? - Disse a menina enraivecida, seu olhos umedecidos demonstravam a vontade que sentia de chorar.
As duas amazonas se entreolharam em silêncio sem estar muito certas do que deviam dizer. Por um lado entendiam perfeitamente a atitude de Mu, mas por outro, compreendiam a
revolta de Avallon e tinham medo que qualquer coisa que dissessem a deixasse ainda mais magoada.
– Ele vai se arrepender! - Disse vingativa. - E vai ser ainda hoje!
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Passavam das três horas da madrugada e o salão da casa de escorpião já não estava mais tão cheio. No entanto estava longe de estar vazio. Enfim, ainda havia um número razoável de pessoas, e a música, a dança e bebedeira rolavam soltas na casa de Milo.
Ainda se faziam notar a presença de quatro dourados na festa. No canto à esquerda, sentados na mais isolada das mesas, Mu e Aioria conversavam seriamente há horas. Um pouco à direita deles estava Kamus, na companhia da celebridade de plantão, que não o largara desde que a ele fora apresentada por Milo. E por fim o dono do templo, que não podia deixar de estar lá...
No centro do salão, junto à mesa das bebidas, Avallon enchia sua taça de vinho mais uma vez, ao seu lado Milo aguardava.
– Essa é a última hem! - Disse sorridente o dourado de cabelos azuis enquanto, com uma das mãos, ajeitava o cabelo da druida para trás da orelha.
– Já sei, já sei "tio Milo" - A Druida frisou as duas últimas palavras da frase enquanto lançava um olhar provocador para o homem a sua frente, depois gargalhou pendurando-se no braço de Milo. As várias taças de vinho tinto já estavam, evidentemente, fazendo efeito.
– Hum! Assim está bom, gosto de sobrinhas obedientes como você. - Respondeu o escorpião enquanto guiava a menina pendurada em seu braço para algum lugar...afastado.
– Para onde está me levando "tio Milo"? Posso saber? - Avallon falava irônica, enquanto apoiava a cabeça no ombro de Milo e segurava-se firmemente no seu braço, deixando-se levar por ele pelo salão.
– Aqui! - Disse o dourado enlaçando-a pela cintura e jogando-se para trás, caindo sobre um leito de almofadas num canto do salão.
– Aaah! -Avallon soltou um grito rouco e divertido, deixando- se cair sobre Milo, até estar bem sentada em seu colo, depois pôs seus braços em volta do pescoço dele sem cerimônias e o encarou, o riso do cavaleiro a estava embriagando mais do que o vinho. Os olhos, o sorriso, a voz, tudo nele era hipnotizante.
Milo não desviou os olhos da Druida e a acomodou melhor em seu colo. Os dois ficaram se olhando em silêncio por poucos segundos, até que a filha de Shaka, soltou-se do abraço do
escorpião jogando-se para trás no ninho de almofadas que acolheram seu corpo lânguido. O dourado a acompanhou, deitando-se de lado, de modo que podia ver cada traço do seu perfil delicado.
Do lado oposto do salão alguém não tirava os olhos da cena que se desenrolava...
– ...por isso eu acho que o Santuário deveria ter uma política mais incisiva em relação à isso. Não é a primeira vez que temos que dar cabo de uma situação como essas, e...- O Cavaleiro de Leão deteve-se ao perceber que estava falando sozinho, o homem a sua frente definitivamente estava em outro lugar. Aioria virou-se na cadeira para olhar na direção em
que o Cavaleiro de Áries olhava tão fixamente.
Ao virar-se deparou-se com a cena de Avallon e Milo aos risos deitados um ao lado do outro nas almofadas. Depois olhou para Mu novamente e ficou preocupado com o que leu no olhar do ariano.
– Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? – Indagou o Cavaleiro de Leão.
Mas do outro só obteve o silêncio.
Mais à direita uma segunda pessoa assistia a tudo mais do que incomodado com o que via. Aliais estava mais do que incomodado com praticamente tudo o que havia acontecido naquela festa. Não haviam dúvidas de que a sua célebre acompanhante estava pra lá de encantada com o Cavaleiro, que por seu lado não a tinha achado criatura das mais
interessantes (demos-lhe um desconto, não é fácil agradar a Kamus), mas a referida nem sequer desconfiava disso, afinal seu ego era tão grande que não podia imaginar que algum homem fosse capaz de não se interessar por ela.
Enquanto a mulher não parava de falar sobre como adorava Paris e a França, que na verdade não sabia como podia ter nascido nos EUA, já que sentia-se praticamente uma francesa, etc,etc, Kamus estava pensando numa boa maneira de matar um escorpião...desde que fosse com muita dor!
– Para quem está olhando Cherrie? - Kamus estava tão distraído em seus pensamentos que não notou que a mulher havia se aproximado. Só deu por conta disso quando ouviu sua voz quase junto ao ouvido e sentiu a mão dela virando seu rosto para que ele a encarasse. Ágata, não podia imaginar o quanto aquele gesto irritou Kamus . Quem ela pensava que era para toca-lo como se fossem íntimos? Ele não lembrava de ter lhe dado tal liberdade até então!
– Nada demais...- Respondeu o francês cordialmente, sem deixar transparecer um milímetro de suas verdadeiras emoções.- Pode me dar licença por um minuto? - E levantando-se sorriu discreto, mas tão divinamente que a mulher mal pode pronunciar qualquer coisa, apenas sacudiu a cabeça afirmativamente com um ar entorpecido, enquanto Kamus beijava-lhe a mão antes de afastar-se.
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Nas almofadas Milo e Avallon gargalhavam à vontade. A Druida estava definitivamente bêbada. Enquanto Milo estava perfeitamente sobre controle. O Escorpião sabia exatamente até onde iria, mas o que queria mesmo saber era até onde Avallon iria...
Naquele momento três forças pareciam mover Avallon para um mesmo fim. A força número um, sem dúvida a principal, o motivo de tudo, o que realmente a fizera chegar àquele ponto: Mu de Áries e o desejo implacável de fazê-lo sofrer tanto quanto ele a fizera. A segunda força era de natureza química, e bastante considerável àquela altura: a embriaguez, que a deixava bastante susceptível à terceira força: Milo de
escorpião, o cavaleiro cujos olhos azuis tinham a proeza de combinar perfeitamente com os cabelos, eram do mesmo tom, e somando-se com aquele sorriso safado, podiam deixar qualquer uma tonta!
A menina ria deitada sobre as almofadas, com a cabeça jogada para trás, o corpo esticado fazia o vestido branco, de pano mole, aderir às suas curvas generosas. Milo, deitado de lado
com a cabeça apoiada no braço, podia ter uma visão privilegiada tanto do corpo quanto do rosto tentador da Druida. De repente, num giro de noventa graus , ela fica de frente para ele...
Milo a encarou em silêncio, contemplando seu rosto de anjo com um ar divertido. A Druida por sua vez exibia um pequeno sorriso e mantinha o olhar fixo nos olhos de Milo. Então ele
usou a mão que estava livre para ajeitar delicadamente os cabelos dela que caiam sobre o rosto e...
– Avallon! - De súbito ouviu-se uma voz firme e gelada, que quebrou de imediato o que quer que estivesse acontecendo.
Kamus de pé os olhava com uma expressão séria. Avallon sentou-se e ia dizer alguma coisa quando ele a puxou para cima.
– Venha comigo! - Ele disse, e saiu dali levando-a pela mão.
Milo não moveu um músculo nem disse nada. Ficou apenas observando enquanto Kamus levava Avallon pelo salão, então um misterioso sorriso formou-se em seus lábios...
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Na mesa com Aioria, Mu observava à tudo claramente perturbado, sua angústia estava estampada na sua face e gestos. O cavaleiro de Leão ainda estava atônito com o que se passava ali.
– Por Zeus! O Shaka vai matar um! - Pensou alto o leonino enquanto observava o Cavaleiro de Aquário levando Avallon pela mão.
Mu lançou-lhe um olhar neutro, prova de que lhe tinha ouvido e depois voltou a olhar para Avallon e Kamus que acabavam de entrar para a parte interna da casa de escorpião. Então finalmente o sangue lhe subiu à cabeça e a preocupação com Shaka foi lançada para algum lugar muito, mas muito secundário dentro de si. O sensato cavaleiro de Áries foi tomado por um ciúme tão intenso, que qualquer outro sentimento que tinha fora absolutamente sufocado. Ele levantou-se de súbito e pôs-se a caminhar em direção à casa de Milo - que ficava do lado oposto a onde estavam - sob o olhar preocupado de Aioria.
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– Avallon, aí está... - Kamus soltou a mão da menina e apontou na direção do banheiro, calmamente continuou.- tome um banho você vai se sentir melhor.
Foi até o armário de Milo, onde abriu várias portas até encontrar uma toalha e jogou-a para Avallon.
– Depois, vou leva-la para casa. È bom que seu pai não perceba que você andou bebendo...
– Me levar para casa? - Um risinho debochada surgiu na face da druida. - Foi pra isso que me tiraste das "garras do escorpião", Kamus? Pra me levar pra casa?
Kamus a olhou em silêncio, Avallon estava mesmo brincando com fogo e como uma menina mal criada, podia sair muito queimada daquela brincadeira.
Outra ficaria intimidada com o olhar impassível do cavaleiro, mas Avallon era confiante demais para isso... Ela era jovem, pensava, merecia se divertir e se Mu não estava disposto a dar-lhe o que queria... haviam outros ali que poderiam substituir-lhe muito bem. Kamus com certeza era o melhor entre eles... Ela se aproximou.
– Responda cavaleiro. - Insistiu, provocando. - Foi para isso que me trouxe?
Avallon olhou para os olhos profundamente azuis do homem a sua frente e viu que algo mudara neles. Em instantes sentiu o corpo do cavaleiro encostando-se ao seu, lentamente, ele a empurrou com seu corpo para trás até encosta-la contra a parede. Com uma mão levantou o rosto da menina, Avallon se perdeu novamente naqueles olhos azuis, e só acordou do transe quando sentiu os lábios dele pousarem sobre os seus... logo se viu perdida em um beijo longo e sedutor. Suas mãos já acariciavam os longos cabelos azuis de Kamus quando ele interrompeu o beijo... olhou-a nos olhos uma última vez... deu-lhe um beijo carinhoso na testa e saiu dali...
Avallon ficou parada observando-o enquanto deixava o quarto... ainda filtrando o que acabara de acontecer. Depois de alguns segundos pegou a toalha que havia deixado cair no chão, e entrou no banheiro da casa de Milo.
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Kamus deixou Avallon para trás e percebeu que estava mais envolvido por ela do que imaginava. Respirou fundo, trancando em seu peito qualquer emoção que pudesse vir a emergir, e caminhou pelo salão, até chegar ao seu ponto de partida.
– Demorou. - Disse a mulher que o esperava impacientemente, no mesmo lugar onde ele a havia deixado.
– Desculpe Ágata. Tive que resolver um problema...
– Ah não tem problema, por você vale a pena esperar - respondeu insinuante.
Ele apenas sorriu.
– Bem, Ágata eu tenho...- Ia despedir-se, mas foi interrompido.
– Kamus. - A Mulher ergueu-se ficando frente a frente com o Cavaleiro de Aquário. - Eu gostaria muito de terminar esse noite em outro lugar... - E aproximou-se um pouco mais, deslizando a mão pelo peito do cavaleiro, concluiu. – com você.
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Minutos depois, A Druida saía do banho... distraída, enxugava os cabelos quando percebeu a presença de alguém no quarto. Estancou do susto, e mais ainda quando percebeu que se tratava do Cavaleiro de Áries.
O homem que ela amava e que a tratara com grande frieza nas ultimas semanas, agora estava ali, de pé, frente a frente com ela.
Finalmente Avallon podia sentir os olhos dele sobre ela novamente...e diante daquele olhar, o único que ela verdadeiramente desejava sobre si, a garota subitamente começou a sentir-se culpada, como se realmente o tivesse traído. Primeiro Milo, depois aquele beijo com Kamus, do qual ele nem mesmo desconfiava.
Em silêncio os dois se olharam por segundos... Mas não demorou muito para que ela, num impulso, corresse para os braços Mu.
Mu a acolheu num abraço puro e carinhoso, acalentando-a, como se fosse uma criança...
Ficaram ali abraçados em silêncio por alguns minutos, com Mu lhe fazendo carinho nos longos cabelos castanhos escuros, enquanto a mantinha cativa em seu peito. Avallon sentia vontade de ficar ali para sempre, e temia pelo momento em que Mu se afastaria dela novamente...
– Vamos pra casa Avallon. – A voz do cavaleiro de Áries cortou o silêncio, ele então a suspendeu-a no colo e os teletransportou dali.
Milésimos de segundo depois apareceram na casa de virgem, bem diante de Shaka que, ainda acordado, esperava por Avallon e não parecia estar de bom humor...
Continua...
Pois é gente, mais de oito meses sem atualizar u.u Só posso mesmo pedir desculpas para quem esperou, dar explicações a essa altura seria perda de tempo pra mim e pra vcs.
Aos que tiveram a paciência de ler, espero que tenham gostado desse capítulo!
Quero agradecer a todas as minhas queridas amigas que me incentivaram a continuar publicando essa fic, Juliane.Chan, Arthemisys, Pandora Amamiya. E um agradecimento especial à Aurora de Aquário que além de me incentivar de forma decisiva ainda revisou o capítulo na maior boa vontade! Mil Bjus amigas!
Um grande abraço a todos, e garanto que o próximo sairá em breve'. Me mandem reviews, que assim eu escrevo mais rápido hehehe!
o/
Mari Marin
