Recordações - Fase: Fotos - Capítulo II - Demonstrando o potencial

Nota da autora: Este capítulo foi modificado para atender às determinações do site Fanfiction Net, já que não é mais permitido exibir letras de música nas fics. Caso desejem receber a versão na íntegra, por favor, entrem em contato. Obrigada.

No capítulo anterior, Milo revê fotos com os cavaleiros de Ouro e lembra-se da primeira vez que sentiu algo por Kamus.

...Depois desta lembrança, sentiu-se mais animado. Acabou de se trocar e pensou mais uma vez na descoberta da foto do "atleta". "O Saga até que foi discreto ao encontrar comigo", pensou. "Saga". Os pensamentos de Milo foram até dois dias antes. Curiosamente, no décimo terceiro templo, seu guardião lembrava-se da mesma coisa.

Milo saiu de casa, recebendo toda a chuva em seu corpo.

Capítulo II - Demonstrando o potencial

Kamus terminara de colocar seu almoço no prato e começava a comer. Estava aborrecido e sem fome, por isso começara a cozinhar tão tarde. O Aquariano preferia cozinhar em casa a ter que almoçar com todos os outros cavaleiros.

Às vezes ficava mais sociável, mas nunca seria como Milo, que precisava de gente a seu redor. "Mesmo que seja apenas para se exibir e ser o centro das atenções !" pensou se aborrecendo mais ainda.

"Droga" pensou "Porque mesmo Você sendo tão impulsivo, irresponsável, egoísta, infantil e debochado, eu não consigo te tirar da mente ?"

Encostou-se na cadeira um pouco irritado e parou de comer, o Escorpiniano tinha também outro dom, o de tirá-lo do sério. Lembrou-se dos acontecimentos há dois dias...

-oOo-

Kamus, Saga e Shura, coincidentemente o mesmo trio que se unira na Batalha contra Hades, estavam junto da Deusa, tratando assuntos administrativos do Santuário e da Fundação.

Milo tinha ido até a casa do francês e tinha ficado à vontade, sem sapato e sem camisa e ficara deitado na cama de Kamus lendo um livro. A presença de Milo no quarto de Kamus não teria sido tão problemática assim, se ao terminarem os trabalhos, Saga não tivesse pedido um livro emprestado ao francês.

Os três chegaram à casa de Kamus e ele convidou-os para entrarem. Shura não quis entrar, alegando que tinha algumas coisas para fazer, o que Kamus encarou numa boa, pois desde a Batalha contra Hades que ele e o Capricorniano já eram um pouco mais próximos, esquecendo as diferenças que tiveram na época de adolescência e juventude.

Kamus pediu para Saga entrar e o conduziu até a biblioteca. Estavam distraídos, falando de métodos para alavancar os negócios do Santuário, quando ouviram um barulho vindo do quarto.

Saga havia se concentrado e percebido um cosmo conhecido e não-agressivo, alertando Kamus. Os dois foram até o quarto e encontraram Milo. A cama estava desarrumada, havia um grande livro de astronomia sobre a cama, Milo estava descalço e sem camisa.

- Oi Saga, tudo bem ? - cumprimentou o Geminiano - Oi Kamus, e aí ? - falou com seu jeito jovial.

Saga ficou um pouco sem graça ao encontrar Milo no quarto de Kamus, ainda mais sem camisa e com a cama desarrumada, mas nem teve tempo de falar nada, porque Kamus elevara seu cosmo assim que vira a cena.

Os outros dois sentiram frio. Kamus ficara furioso.

- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI ?

- Calma, só vim falar com você.

- VOCÊ ESTÁ PENSANDO QUE ESTÁ NA SUA CASA ?

- Kamus, eu acho que não tem motivo para você ficar desse jeito, eu apenas...

- CALA A BOCA ! - Kamus estava realmente transtornado.

- Peraí Kamus, agora você passou dos limites. - Milo falou já um tanto bravo.

- Eu REALMENTE não estou acreditando no que estou ouvindo. EU passei dos limites ? EU ? - o Escorpiniano tentou falar, mas Kamus não deixou - Pois se você quer saber Milo, você não passa de um folgado infantil, que não tem respeito algum pelas pessoas, para entrar na casa delas assim, sem ser convidado. - falou bufando e elevando ainda mais o cosmo.

- Como é que é ? - Milo perguntava sem acreditar na reação de Kamus.

- Calma Kamus, o garoto pode até ser um pouco inconseqüente, mas não é mal intencionado.

- Garoto ? Melhor chamá-lo de CRIANÇA. É isso que ele é. Não passa de uma criancinha mimada que todos fingem não ver seus erros por gostarem do seu jeitinho "cativante". - falara com deboche.

Milo aumentou o cosmo. Odiava ser repreendido por Kamus na frente dos outros. Fechara os olhos e cerrara os punhos, respirara pesadamente, pegando sua camiseta e calçados, passara feito uma flecha por Kamus e Saga.

-oOo-

"O que aquele... aquele irresponsável inconseqüente pensou que estava fazendo ? Será que Ele queria que TODOS descobrissem que estamos juntos ?"

Kamus gostava da companhia de Milo, mas a imaturidade do grego já estava excedendo os limites. O Escorpiniano sabia muito bem que Kamus não tolerava este tipo de atitude e que não queria de jeito nenhum que descobrissem sobre os dois. Tinha receio de manchar sua imagem de cavaleiro.

"O que a Deusa vai pensar ? Que sou um maníaco desajustado ? E Hyoga ? Que sou fraco e incompetente para ser um Mestre ? O que os outros cavaleiros vão pensar ? Que os enganei o tempo todo, me preocupando mais com outro HOMEM do que com a deusa, fingindo não ser homo..." não conseguia pronunciar a palavra, dava-lhe arrepios.

Sempre recriminara Afrodite e agora... não queria passar pelo mesmo que o Pisciano passava, agüentando dia após dia o desprezo de uns e o escárnio de outros. Realmente Afrodite era um cavaleiro muito forte, pois era preciso muito controle emocional para agüentar tudo isso.

"Droga Milo ! Como você é moleque ! Será que é tão estúpido que não percebe o risco em que nos colocou ?"

Seu cosmo se alterou com o aborrecimento e acabou congelando o garfo, não teve a intenção, porém estava tão irritado que fez mais força no objeto. O garfo espatifou-se.

Milo chegava no refeitório que estava vazio, a não ser por duas servas que arrumavam a cozinha.

- Milo ! Está ensopado. Por que não pediu à Diana para que levássemos sua refeição em casa ? Pode ficar doente assim.

Ilana era uma das servas mais antigas do Santuário, sempre esteve presente na vida dos garotos. Milo lembrava-se que ela sempre o deixava lamber a panela de doces e várias vezes encobertava suas travessuras. Gostava muito dela e o sentimento era recíproco, na verdade, a senhora era como uma mãe para Milo. Quando pequeno, sempre que se machucava, fazia-se de forte na frente dos outros, mas era no colo da serva que derramava suas lágrimas.

- Boa tarde Ilana. - aproximou-se da velha senhora, beijando sua testa. - Nossa ! Quanta preocupação ! Acho que quando eu ficar mais velho, vou querer casar com você. - falou com um sorriso maroto, enquanto analisava a senhora de cima a baixo.

- Humf ! Você só tem tamanho, não é filho ? Com tanta moça bonita você quer casar com uma velha ? - enquanto falava pegou uma toalha fazendo Milo se sentar e começou a secá-lo.

- Mas eu não quero uma moça bonita. - falou sorrindo e jogando um olhar sedutor à serva.

- Eu sei.

A declaração da velha senhora fez o grego ficar sério. Como ela podia saber que NÃO QUERIA uma MOÇA ? Ilana notou a mudança de semblante do rapaz.

- Você precisa é de uma mãe, de alguém que tome conta de você o tempo todo, que te ouça, te faça carinho, que te faça sentir protegido e que te leve um leite quentinho na cama, estou errada ?

Milo continuava mudo e olhava para baixo. Estava sentimentalmente muito frágil. Seus olhos começaram a encher de água.

"Droga" pensou. "Não posso chorar, sou um cavaleiro e sou homem. Um homem não fica fazendo estas coisas em público". Duas lágrimas correram de seus olhos azuis, uma de cada lado do rosto, juntando-se à água da chuva.

A serva não o viu chorar, mas conhecia-o muito bem, não se importou com o fato do "menino" estar encharcado e abraçou-o ternamente. Milo abraçou a cintura da serva.

Olhou para a entrada do refeitório e pensou em Kamus. Sabia que o francês estava bravo com ele.

Milo estava com medo. Medo de encontrá-lo, medo de brigar com Ele, medo de perdê-lo para sempre.

Um soluço sacudiu seu corpo. Apertou ainda mais o abraço, a velha senhora afagava sua cabeça.

- Meu menininho, tão jovem e com tantas cicatrizes no coração, não é ? - sentiu outro soluço estremecendo o corpo do Escorpiniano.

Soltou-se do abraço e sentou-se com um pouco de dificuldade pela idade, na frente do jovem, no longo banco de madeira. Enxugou-lhe a face e levantou-lhe o rosto com a mão.

- Meu anjinho. Você cresceu tão rápido e ficou um jovem muito bonito. Eu sei que sou velha e que os jovens não gostam de conselhos, mas vou falar como uma mãe e conselho de mãe a gente sempre ouve.

Milo olhou para a senhora atentamente.

- Não fique guardando este sofrimento filho. Você está sempre se mostrando tão feliz para todo mundo e eu sei que muitas vezes é mentira, que você só está fingindo uma felicidade aparente... - parou de falar. As lágrimas caiam dos olhos de Milo e o garoto soluçava em silêncio.

Milo não agüentou a revelação. Era a mais pura verdade. Sempre fora uma pessoa que demonstrara grande alegria interior, o que sempre contagiava os demais, porém, embora sempre se mostrasse acessível e extrovertido, na verdade, guardava seus verdadeiros sentimentos no fundo do seu ser.

Intimamente tinha um pouco de insegurança e esta fragilidade era escondida através de alguns recursos.

A primeira postura que sempre adotava frente aos inimigos, era a de arrogância. Com um sorriso debochado no rosto, menosprezava-os, fazendo-os acreditarem que eram inferiores. Isso também fazia ele próprio acreditar que era superior e conseguir vencer.

Quando estava triste, fingia estar alegre, pois não gostava de demonstrar suas fraquezas. Não apenas porque era um cavaleiro, mas fazia parte de sua personalidade, ser misterioso, jogar com os outros, às vezes até manipulá-los, sem que notassem, escondendo sua fragilidade, erguendo uma aparência de fortaleza em torno de si.

Entristeceu-se por perceber que, em grande parte do tempo, fingia.

Fingir. Até quando teria que fingir ? Até quando teria que fingir que ele e Kamus eram apenas amigos e que não sentia nada pelo Aquariano ? Até quando teria que fingir para a deusa ? Fingir para os amigos ? Fingir para a sociedade ? Até quando ?

Mais lágrimas vieram a seus olhos e sentiu o coração apertar. Soluçava nos braços de Ilana.

- O que quero dizer, meu menininho, é que você também tem direito de ficar triste e de chorar. - afagava o cabelo cacheado do jovem enquanto falava.

"Direito ?" pensou Milo "Sou um cavaleiro, não tenho este direito !. Tenho que estar sempre firme, sempre forte, sempre atento, para encarar todos os obstáculos, qualquer que seja, para defender a deusa, mesmo que isso signifique..."

A batalha de Hades veio à sua mente. Lembrou-se do ódio que sentiu Dele, não pelo que havia ocorrido com Shaka ou por vê-lo na posição proibida, mas pelo ciúme que sentiu ao ver que depois de tudo que passaram juntos, não era ao seu lado que Ele estava, mas ao lado do Capricorniano, que tanto os desprezara.

Claro que os cavaleiros de ouro eram ensinados a lidar com os sentimentos, sabiam que isso poderia ser a ruína em uma luta, pois poderiam perder a concentração, mas naquele dia, não conseguira conter sua ira.

Agora, não conseguia conter sua tristeza.

Sentiu o peito apertar e as lágrimas descerem pelo rosto. Precisava ser forte, não podia deixar isso acontecer, era um cavaleiro e tinha que se portar como tal. Enxugou as lágrimas com força.

- Ilana, os homens, ainda mais os cavaleiros, não podem ser dar a este luxo de chorar. Temos deveres para com... - falou com a voz embargada.

- Eu já ouvi muito essa historia de que "homem não chora" e também já ouvi muito dizerem que os Cavaleiros de Atena não devem expressar sentimentos de fraqueza. - disse a serva interrompendo-o - Isso é tudo bobagem.

Milo calou-se e ficou olhando para baixo.

- Todos estão errados, meu anjo, vocês são de carne e osso. Homem chora sim, só que chora só por muita tristeza ou por uma felicidade extrema, diferente da mulher, que chora por qualquer coisa. - a serva já estava chorando - Se você está chorando, filho, é porque tem uma grande tristeza em seu coraçãozinho. - enquanto falava, passava a mão no peito de Milo, na região do coração.

- Ilana... - abraçou a senhora e começou a chorar compulsivamente.

A serva abraçou-o com força enquanto acariciava seus cabelos. Depois de alguns minutos Milo acalmou-se e fitou a senhora, que também estava com os olhos vermelhos.

- Milo, os extremos são irreais - falou enxugando as próprias lágrimas - muita alegria, esconde uma grande tristeza, muito ódio, esconde o amor, muita frieza esconde um grande sentimento.

- Mas Ilana, eu sou um cavaleiro, o que eu faço ? - olhou suplicante para a serva.

- Faça o que seu coração mandar. Não siga sua cabeça. Ela vai te dizer que não pode, que não deve, que não serve, que é errado, que é feio, que é sujo, que todos vão te recriminar, que você não vai conseguir, mas é o seu coração, filho, que vai te dar força, que vai te dar esperança, que vai te mostrar o caminho. Se você seguí-lo, poderá ficar triste por não ter conseguido, mas nunca por não ter tentado. É esse o segredo da busca da felicidade. As oportunidades são poucas e precisamos estar preparados, senão elas passam, aí você fica velho, olha para trás e pensa no que fez e no que deixou de fazer. Fica querendo ser jovem de novo para mudar tudo o que passou, fazer tudo o que não fez, falar tudo o que não falou.

Milo olhava a serva atentamente.

- Você é JOVEM Milo, faça agora, fale agora, mude agora, não deixe para depois. O depois pode não existir nunca mais.

A última frase da serva ficou em sua mente. Ela estava certa, não podia deixar as coisas assim. Tinha errado há dois dias ficando muito "à vontade" na casa de Kamus e gostava demais daquele Aquariano "Todo Certinho", para deixar uma simples briguinha estragar tudo.

- Você tem razão. - levantou-se e secou as lágrimas. - Preciso encarar o mundo.

- Tudo bem, você pode encarar quem você quiser - enquanto falava, puxou o jovem para baixo, fazendo-o sentar novamente - mas primeiro vai comer, pois já dizia a minha finada mãe "saco vazio não para em pé".

Os dois riram.

Beijou ternamente a serva na testa.

- Tem certeza que não quer trocar de roupas ?

- Acho que eu não vou ficar muito bem com um vestidinho verde-água e um aventalzinho branco por cima.

Riram novamente.

- Quando chegar em casa TOME UM BANHO BEM QUENTE. - gritou para que o jovem, debaixo da chuva, a ouvisse.

- PODE DEIXAR. - gritou, olhando para trás enquanto corria.

Tomaria um banho bem quente em casa, mas não agora, primeiro, tinha algumas coisas para resolver.

Chegou à casa de Kamus pingando. Entrou decidido. Parecia que o mundo tinha desaparecido e só uma coisa importava: Kamus.

Procurou-o nos cômodos da casa e o encontrou na cozinha. Sentado na pequena mesa, com o olhar perdido.

- Oi Kâ. - sorriu enquanto sentava-se à sua frente.

Kamus não respondeu, estava sério. Olhou para o recém-chegado completamente encharcado e foi seguindo com o olhar para o chão molhado, por onde o Escorpiniano passara. Milo acompanhou-o com o olhar e engoliu seco. Kamus voltou a olhar para Milo, sem pronunciar uma palavra.

- Bem, acho que você está esperando uma explicação minha sobre o que aconteceu antes de ontem, não é ?

O francês nem se mexeu.

- Bom... é... eu vim até aqui para falar com você e... - parou para olhar para Kamus, que continuava imóvel - ...bem, você não estava e como já tinha passado do horário que você costuma chegar, eu fui até a biblioteca pegar um livro para me distrair.

Milo deu uma pausa, mas o amigo não demonstrava reação.

- Aí eu... você sabe, estava muito quente, então eu resolvi tirar a camiseta, porque o calor estava quase insuportável, não estava ?

Kamus apenas olhou para baixo e voltou a olhar para o Escorpiniano.

- Bom, Kâ, eu sei que você não gosta que eu fique na sua cama de sapatos, então eu tirei. Desculpe, eu não esperava que o Saga viesse com você... aí quando eu vi, vocês já tinham chegado.

- Será que você pode repetir novamente desde o começo ? - Kamus falou pausadamente, com a mesma expressão que estava antes na face.

- Desculpe, Kâ, eu não entendi.

- Será que você pode repetir a sua história de novo ? Eu acho que me distraí e não ouvi a parte em que você disse que ANTES DE FAZER QUALQUER COISA, VOCÊ TINHA PARADO PARA PENSAR NAS CONSEQÜÊNCIAS DOS SEUS ATOS.

O grego ficou quieto.

- AH ! JÁ SEI PORQUE EU NÃO OUVI ! NÃO OUVI PORQUE NÃO TEVE ESTA PARTE, NÃO É ESCORPIÃO ?

Milo engoliu seco novamente, sabia que quando Kamus o chamava de Escorpião era porque estava bravo. E se estava gritando e chamando-o assim, era porque estava MUITO BRAVO.

- Kâ, me desculpe, eu já disse que eu não sabia que...

- E O QUE É QUE VOCÊ SABE, hein, Milo ? Quando é que você vai crescer ? Você não pensa não, MOLEQUE ? - falou arrastando a cadeira para trás e levantando da mesa.

- EU NÃO SOU MOLEQUE ! - falou um pouco irritado, levantando-se também e ficando na lateral da mesa.

- Ah ! Não é ? - Kamus começou a andar pela cozinha - E você quer que eu te chame como, se você tem atitudes de uma criancinha de dois anos ? Você tem idéia da situação em que me meteu ? - falou chegando bem perto do Escorpiniano - Imagine só, se alguém chega na sua casa e pega um homem sem camisa e sem sapatos na sua cama.

- Você está exagerando.

- CLARO QUE ESTOU ! Para uma pessoa que não tem UM PINGO de discernimento como você, tudo é exagero, não é Milo ? Aposto que você não pensa no que Atena vai achar se descobrir que dois dos seus cavaleiros estão tendo um caso. Ou no que o Hyoga vai pensar de mim como Mestre ou ainda nos seus alunos. E os nossos amigos ? Você acha que vão encarar numa boa, achar bonito, moderno. É isso ?

- Kamus...

- Imagine só, se Atena fizesse uma reunião informal e convidasse, hoje, empresários ou personalidades do meio dela para conhecerem seus cavaleiros. O Shura iria apresentar a Shina, o Aioria a Marin e eu, Milo ? Como você acha que eu iria encarar todas as pessoas com quem eu me relaciono ?

- Espere só um minuto. - falou antes que o francês começasse outro sermão - Eu acho que devo estar com algum problema no ouvido, pois não ouvi você perguntando "E você Milo ? Como você vai ficar ? Como você vai se sentir ?" Ah ! Eu já sei ! - falou repetindo o francês - Acho que eu não ouvi porque VOCÊ NUNCA SE PREOCUPA COM ESTA RESPOSTA, NÃO É KAMUS DE AQUÁRIO ?

Kamus se aborreceu. Sabia que na maioria das vezes que Milo o chamava assim, era para debochar dele.

- Você não passa de um moleque, infantil e egoísta. Francamente Milo, eu até gosto de você, mas você é TÃO irresponsável, inconseqüente e imaturo que eu acho que está TUDO errado e que assim não vai dar. Não vê como tratam o Afrodite ?

- EGOÍSTA ? - Milo ignorou as últimas palavras de Kamus - É CLARO QUE EU TENHO QUE SER EGOÍSTA. VOCÊ NUNCA PENSA EM MIM ! - Kamus tentou falar, mas Milo não deixou - Sim, você não pensa não, ou você acha que eu não ouvi você dizer que "ATÉ GOSTA DE MIM" ? POIS EU NÃO QUERO FICAR COM ALGUÉM QUE "ATÉ GOSTA DE MIM". Pode não parecer, Kamus, mas EU NÃO SOU UM BRINQUEDINHO QUE VOCÊ USA QUANDO TEM VONTADE E DEIXA DE LADO QUANDO NÃO QUER MAIS, ATÉ QUE TENHA VONTADE DE BRINCAR DE NOVO. Mas eu sei o que acontece com você. Sei REALMENTE qual é o seu problema. VOCÊ SABE QUAL É O SEU PROBLEMA ? SABE ? - Milo estava alterado.

- Não. Você pode me dizer ? - perguntou Kamus, cruzando os braços.

- O SEU PROBLEMA É QUE VOCÊ NÃO VIVE ! VOCÊ SE PREOCUPA DEMAIS COM QUE OS OUTROS VÃO FALAR, VÃO PENSAR, PARA O INFERNO COM ELES, CXXXXXX !

Kamus balançou a cabeça negativamente, desaprovando a reação do Escorpiniano e deixando o outro mais bravo.

- Kamus, é MUITO difícil conviver com você. Você está SEMPRE me criticando. Para você, eu estou SEMPRE errado. NUNCA sou suficiente para você. Você pode se achar PERFEITO, Kamus, mas não é - Kamus tentou interromper, mas Milo não deixou novamente e ficou mais aborrecido quando o francês fez cara de quem diz "Você está louco" - VOCÊ FINGE QUE ACEITA NOSSO RELACIONAMENTO, MAS NA VERDADE É TÃO OU MAIS PRECONCEITUOSO QUE TODOS ESTES QUE VOCÊ MENCIONOU.

- Bobagem.

- BOBAGEM ? POIS VOCÊ É O VIADO MAIS PRECONCEITUOSO QUE EU...

Kamus não o deixou continuar. Deu-lhe um forte soco, jogando-o contra a parede. A mesa que estava encostada nela despedaçou-se. O corpo do Escorpiniano quebrou um pouco a parede da cozinha.

Milo se recompôs. Ficou olhando para Kamus sem acreditar na reação do outro. Sentiu um gosto estranho na boca e levou a mão até ela. Havia um pouco de sangue.

- VOCÊ ESTÁ LOUCO ?

- Saia da minha casa. AGORA !

- O QUÊ ?

- Saia. Eu não te dei o direito de falar assim comigo.

- Do que você está falando, Kamus ?

- Saia. Nossa conversa acabou.

- Peraí, você bate em mim e ainda me expulsa ?

- Entenda como quiser.

- Você deve estar brincando.

Kamus estava sério.

- Você quer REALMENTE, que eu vá embora ?

- Você é surdo ?

- Eu vou FINGIR que não ouvi isso. - Milo disse bem aborrecido - Tudo bem, se você quer que eu vá, eu vou, mas vou te dizer uma coisa.

Kamus ficou olhando com olhar de superioridade, esperando.

- Eu vou, mas eu NÃO VOLTO. Para eu voltar, você vai ter que ir até a minha casa e me pedir DESCULPAS. Você entendeu ?

Kamus abaixou-se e começou a recolher pedaços da mesa, ficando quase de costas para Milo.

- Se já terminou, saia, tenho muito que fazer. - falou sem olhar para o grego.

Milo sentiu o sangue subindo pelo corpo. Elevou o cosmo e cerrou o punho. Percebeu que Kamus deu uma pequena pausa no que estava fazendo, mas depois recomeçou a recolher os pedaços.

Saiu do templo de Aquário com o sangue fervendo. Começou a descer as escadarias.

Shura, que estava em casa, sentira o aumento dos cosmos na décima primeira casa e fora até a entrada do templo.

- O que aconteceu, Milo ? Você e o Kamus brigaram ? - o Capricorniano parecia realmente preocupado.

- VAI PARA O INFERNO E NÃO VOLTE MAIS DE LÁ.

Milo passou por Shura pisando forte e seguindo para a casa de Escorpião.

"Mas que droga ! O que deu em mim ? Eu que sou tão controlado, por que perdi o controle assim ? Por que desta vez não consegui ficar impassível com mais esta molecagem do Milo ?"

Kamus suspirou fortemente e fechou os olhos, sentindo uma enorme tristeza. Encostou-se em um dos armários e deslizando as costas por ele, sentou no chão. Abraçou os joelhos e enfiou a cabeça entre eles.

A chuva continuava a cair com força.

Milo chegou em sua casa tremendo de raiva. Entrou em casa pingando. Estava com vontade de socar Kamus.

"É assim que Ele quer, é assim que vai ser. Vamos ver quem agüenta mais o tranco".

Pensou em sair, mas ainda era muito cedo. Antes de tirar a roupa para tomar um banho quente, foi até a cozinha e pegou uma pedra de gelo para colocar no machucado. Lembrou-se do outro e apertou a pedra na mão, desfazendo-a completamente.

A chuva havia parado.

- Kamus ? Kamus você está aí ? - Afrodite entrava na casa do Aquariano com cuidado.

- Estou. - Kamus saia da cozinha e ia de encontro ao Pisciano.

- Eu ouvi alguns gritos e uns barulhos, depois eu vi o Milo saindo da sua casa e vim ver se está tudo bem.

- Está, pode ir embora.

- Nossa Kamus, é assim que se fala com os amigos que se preocupam com você ?

- Eu JÁ disse que está tudo bem, agora, pode ir embora - Kamus apontou para a saída e virou-se, para entrar na cozinha novamente.

- Espera Kamus ! - Afrodite apressou-se e segurou o braço do francês. Olhou por sobre o ombro deste e viu a situação da cozinha. - OH! POR ZEUS! O QUE ACONTECEU AQUI, KAMUS ?

- Você não tem mais o que fazer, não ? Por que veio aqui ? - encarava Afrodite - Veio matar a sua curiosidade para sair fofocando por aí ? Ou veio ver como eu estava depois de brigar com seu amiguinho ?

- KAMUS ! Claro que não. Eu vim porque estava preocupado. Ouvi uns gritos, já disse e...

- Saia. - Voltou a apontar para a saída.

- Por quê ? Se eu não sair você vai me bater como bateu nele ? - falou desafiadoramente.

Kamus se aproximou rapidamente de Afrodite, surpreendendo-o. Agarrou seus braços com força e sacudiu o Pisciano.

- Kamus, você está me machucando !

- Pois eu deveria ACABAR com a sua RAÇA. Você me irrita, sua voz, seu cheiro, sua presença, TUDO O QUE VOCÊ SIGNIFICA ! SAIA. - disse empurrando Afrodite com força em direção à saída.

- Eu sei porque você está assim. É ELE quem você vê refletido em mim, não é ? Ou será que é VOCÊ que você vê, hein, Kamus de Aquário ? - Afrodite falou de uma vez, depois se arrependeu e colocou a mão na boca.

Era tarde para se arrepender. Os olhos de Kamus ficaram vermelhos. A temperatura caiu rapidamente. Cristais de gelo começaram a se formar e tomar conta do ambiente.

Kamus avançou em direção a Afrodite. Shura que acabara de chegar, viu o estado do Aquariano e usando a velocidade da luz colocou-se na frente do francês, segurando-o com dificuldade.

- Kamus, por favor, pare ! Afrodite o que está acontecendo aqui ?

- Saia AGORA da minha casa e não volte NUNCA MAIS. - falou pausadamente, fuzilando Afrodite com os olhos.

- Eu vou Kamus, mas sei que estou certo.

Kamus tentou se soltar de Shura e socar Afrodite, mas Shura com muita dificuldade conseguir detê-lo.

- Esse viado, filho da pxxx, eu tenho NOJO dele.

- Calma Kamus, eu também não gosto de viados, mas isso não é motivo para querer matar um "deles".

- E você, o que quer ? - olhou desafiadoramente para Shura.

- Ei, calma aí, só vim ver se você está bem. O Milo passou por mim há algum tempo e parecia muito bravo e eu pensei que...

- Estou bem, agora saia.

- Calma Kamus, eu não vim aqui para piorar as coisas, eu só queria ajudar.

- Vai ajudar mais se for embora. Por favor. - apontou a saída para Shura.

O capricorniano obedeceu. "Tem alguma coisa muito estranha nesta história toda" pensava enquanto retornava à sua casa.

Milo saiu do banho e olhou-se no espelho. O lábio inferior ainda estava um pouco inchado, mas apresentava apenas um pequeno corte. Sentiu um leve remorso. Não devia ter falado com Kamus daquele jeito. "Mas Ele também não tinha direito de partir para a agressão" pensou em seguida.

Seus sentimentos brigavam dentro de si, ora achava que estava certo, ora achava que estava errado. Suspirou. "Será que Ele vai vir até aqui ? Será que Ele ainda está bravo ?"

Passou para o quarto e olhou pela janela. Shura estava entrando em sua casa. Parecia que tinha vindo do templo de Aquário.

Fechou a cortina e acendeu a luz. Olhou para a cama desarrumada. As fotos ainda estavam espalhadas sobre ela. Sentou-se ao lado da caixa e pegou a próxima foto.

Aioria estava sério, um pouco de lado e segurava duas baquetas na mão, ao seu lado estava Milo, de braços cruzados, sorrindo levemente, enquanto mantinha uma guitarra negra encostada em seu corpo. Kamus ao lado do Escorpiniano, segurava o braço de uma guitarra vermelha, que estava encostada no chão. Shura virado para o outro lado, segurava o braço de um baixo negro e branco, enquanto fingia tocá-lo.

"O Show" pensou sorrindo. Forçou a mente para se lembrar de como tudo havia começado...

-oOo-

Recordações - Foto: O Show - O início de tudo

Saori não apenas tinha se mudado do Japão para o Santuário, mas depois de todas as batalhas, começou a montar uma fundação para crianças carentes, tão grande quanto a do Japão. A menina queria difundir o sonho do avô. A Fundação Kido Grega receberia meninos e meninas carentes.

A garota estava com muito trabalho, ser deusa não era uma tarefa fácil e precisava muito da ajuda dos cavaleiros para este empreendimento.

Descobriu que a cultura grega era um pouco diferente da japonesa, pois não bastava para uma instituição manter-se bem financeiramente, precisava possuir doadores, para que a população a aceitasse. Assim, Saori reuniu os cavaleiros para exporem idéias de como divulgar o nome da Fundação e conseguir doadores para a mesma.

Alguns deram idéias de ir até grandes investidores e pedir doações, até se ofereceram para fazerem isso, outros falaram em promover uma campanha com entrega de folhetos, mas a idéia que agradou a todos foi a de Afrodite.

- Por que não fazemos um show beneficente ?

- Ótima idéia ! Podemos chamar grandes nomes para tocar, todos vão comparecer e conseguiremos grandes doações. - Saori juntou as mãos de contentamento.

- Bem... desculpe senhorita - Saori pedia para chamá-la informalmente quando o assunto não era o Santuário. - mas como é para começar a Fundação, acho melhor fazer de uma outra forma. - Afrodite ainda ficava sem-graça de contrariar a deusa.

- Por quê ?

- Porque os gregos são meio nacionalistas e dão mais valor às coisas que saem de sua própria terra.

- Desculpe Afrodite, mas eu não entendi.

- Bem, senhorita, eu achava melhor fazermos um show com bandas locais e pedir doações em alimentos ou roupas para os que vão assistir ao show, mas podemos pedir a grandes empresas gregas que patrocinem o evento e pedir doações em dinheiro durante o show.

- O Afrodite tem razão, assim funciona melhor, isso é bem "grego". - confirmou Saga.

- Bom, então vamos fazer isso, mas não seria bom ter uma atração especial ? - a menina insistiu.

- Bem, a senhorita poderia tentar trazer o tecladista grego Vangelis, que fez o tema dos filmes Carruagem de Fogo e Blade Runner, ele é muito bem conceituado na Grécia. - falou Mu.

- Mas poderíamos ter uma apresentação caseira também, vocês poderiam se apresentar. - Aldebaran se pronunciou apontando na direção de Shura, Milo, Kamus e Aioria.

- Temos uma banda no Santuário ? - perguntou Saori animada - Isso seria ótimo ! Acho que mostraria um maior envolvimento de nossa parte. Se até o Santuário, que normalmente fica distante dos acontecimentos diários resolver aparecer, será uma boa jogada de marketing !

- A senhorita realmente aprendeu rápido a se virar no mundo dos negócios - disse Saga sorrindo.

- Peraí, mas para isso teremos que treinar, pois faz muito tempo que não tocamos. - Kamus falou um pouco preocupado.

- Quem está na banda ? Saori questionou.

- Eu, o Milo, o Kamus e o Aioria.

- Tudo bem Shura, vocês ficam liberados para se prepararem para o evento. Quero marcá-lo para final do mês que vem. Afrodite, como você deu a idéia, me parece que tem uma boa noção do todo, acho melhor que coordene tudo. Você consegue ?

- Claro senhorita ! Vou me esforçar muito e mostrar que sou capaz ! - Afrodite não cabia em si de felicidade

- Ótimo ! Sentamos para acertar os detalhes e você me passa informações do andamento do evento. Senhores, obrigada pelo auxílio. Estão dispensados.

- Tenho a impressão que esta bicha vai acabar com tudo. - Shura falou baixinho a MM, mas Milo que estava ao lado de MM, ouviu o comentário maldoso.

- Dá um desconto Shura, o cara é bom.

- Tô te estranhando, já tá se enturmando com as "purpurinadas" ?

- Shura, você não conhece o Afrodite direito, ele é REALMENTE capaz e quer saber ? Cala a boca. - MM foi embora e deixou Shura falando sozinho.

- Você entendeu ? - Shura perguntava a Milo.

Milo olhou Shura de cima a baixo e não respondeu. Torceu um pouco a boca em reprovação e virou-se, indo juntar-se a Kamus e Aioria, que já discutiam sobre o show, mas ainda em tempo de ouvir Shura murmurar um "viadinhos" antes de se juntar a eles.

-oOo-

Milo pensou em Afrodite. Não era apenas Shura que sempre duvidara de sua capacidade, até Milo já tinha achado algumas vezes que o Pisciano não deveria ser um cavaleiro. Claro que agora não pensava assim, mas entristeceu-se por ter sido TÃO preconceituoso.

Lembrou da discussão com Kamus. Levou a mão ao lábio machucado que ainda doía. Dificilmente o Aquariano se exaltava tanto, apesar de parecer o tempo todo que usava uma máscara de autocontrole.

"Será que TODO MUNDO finge ser outra coisa ?" se perguntou.

O francês era sempre correto, polido, calmo, um verdadeiro lorde, mas quando estava junto do Escorpiniano, mostrava um lado que poucos conheciam. Milo achava que era a pessoa que mais conseguia retirar a máscara do francês fazer com que Ele se mostrasse exatamente como era. Sorriu. Com Milo, Kamus, era simplesmente, Kamus.

Ainda estava com a foto na mão. Suspirou e olhou-a novamente. "Ah! Depois teve a briga com o Shura por causa do vocal..." relembrando outro acontecimento que antecedeu o show dos cavaleiros...

-oOo-

Recordações - Foto: O Show - O Vocal

- Precisamos arrumar um nome para a banda.

- É, não pode ser "a banda do Santuário".

- Acho que é mais importante treinar mais músicas e repassar as que já treinamos.

- Mas é legal ter um nome.

Os quatro estavam reunidos no grande salão. Já fazia duas semanas que treinavam, mas ainda não tinham ajustado todos os ponteiros.

Afrodite entrou no salão com vários papéis na mão.

- Pronto. O Mu me ajudou e já tenho alguns cartazes, o que acham ?

Havia alguns desenhos com sugestões de nomes para a banda. A escolha foi unânime. O nome escolhido foi Sétimo Poder, talvez até pelo desenho apresentado, pois o T do Sétimo era uma espada e o O do Poder era um escudo, exatamente o que eram os cavaleiros: o ataque e a defesa, segundo Afrodite, mas a junção do desenho no meio das letras gregas também dava um toque especial.

- Foi o Mu quem desenhou isso ?

- Foi.

- É, parece que o carneirinho tem mais habilidades do que as que conhecemos.

- Falando em habilidades, Shura - começou Milo - me deixa cantar também ? Assim podemos escolher mais músicas e ...

- Esquece Milo, você não tem fôlego para cantar e depois, você é muito duro, só fica parado, parece mais um obstáculo.

- Eu vou te mostrar QUEM é um obstáculo aqui.

- Calma rapazes. - Afrodite se colocou no meio dos dois. - Milo, CALMA. Shura, você está sendo injusto.

- INJUSTO ? Fala sério ! Esse aí não tem gingado nenhum. Parece mais um muro de concreto. Nem que Apolo, o deus da dança, viesse aqui, seria capaz de transformá-lo.

- Você está é com inveja, pois Apolo já me deu dois dons: o da música e a beleza. - falou Milo esnobando o Capricorniano.

- Pena que nenhum deus quis te dar inteligência, né ? - Shura falou debochando.

O Pisciano não gostava do jeito que Shura falava com as pessoas, alguém tinha que dar um basta naquilo. Esse "eu sou perfeito" do espanhol já estava dando nos nervos.

- E se ele provasse que consegue ? - Afrodite falou rapidamente, antes que Milo pronunciasse qualquer palavra ou tentasse matar o Capricorniano.

- Como assim ? - perguntaram os dois ao mesmo tempo.

- Eu trago uma música para o Milo cantar e dançar e se ele conseguir, você aceita dividir o vocal com ele.

- Esquece, Afrodite. Tenho certeza que você vai trazer uma música fácil e ele...

- Você está com medo. - falou Aioria, quieto até então.

- Claro que não estou.

- Prove.

- Tudo bem ! Traga estas porcarias, mas EU escolho a música.

Afrodite foi rapidamente em casa, pegou vários CDs e voltou ao salão. Os três continuavam discutindo.

- Você não consegue tocar esta droga de bateria sem abafar minhas notas.

- Você é que não tem capacidade para tocar este baixo no tom certo.

- Calma gente. Aqui está Shura, pode escolher. - falou e entregou-lhe os CDs.

- Ok ! Vem cá. - levou os CDs e Afrodite para uma sala separada.

Dez minutos depois, Shura voltou sorridente, colocando o CD na mão de Milo.

- Música quatro. Você tem uma hora para se preparar e me convencer.

- UMA HORA ? Mas eu nem sei que música é essa !

- Se vira. Você não é bom ? Prove.

- Não se preocupe Milo, eu te ajudo. - Afrodite foi puxando Milo do salão antes que ele golpeasse o Capricorniano com umas trinta agulhadas.

Não se passara nem meio minuto quando ouviram Milo gritando, apesar da porta estar fechada.

- O QUE ? NEM PENSAR ! ESQUECE ! NÃO VOU ME PASSAR POR UM TRAVECO ! NÃO VOU DANÇAR ESTA MXXXX POR NADA NESTE MUNDO ! - Milo saia da sala fumegando de raiva e indo na direção de Shura.

- SEU MALDITO, FILHO DE UMA PXXX ! TÁ QUERENDO ME DESMORALIZAR, SEU DESGRAÇADO ? - Kamus e Afrodite seguraram o Escorpiniano com dificuldade.

- Se não tem capacidade, cai fora, inútil.

Agora Shura havia passado dos limites.

- MILO, O QUE É ISSO ? POR QUE EU NÃO CONSIGO ME MEXER ?

- POIS VOCÊ VER O QUE VAI ACONTECER ASSIM QUE EU CONSEGUIR SOLTAR AS MINHAS MÃOS. - Milo se debatia tanto que Aioria teve que ajudar Kamus e Afrodite a segurá-lo.

- MILO, CHEGA ! - Afrodite gritou. - Você aceitou o desafio do Shura. Vai desistir agora ? Eu tenho certeza que você consegue e supera TODAS as expectativas. Solte o Shura, por favor. - Afrodite estava na frente de Milo e segurava seu rosto enquanto falava, forçando-o a olhar para o Pisciano.

- Tudo bem. - Milo retirou o golpe Restrição de Shura.

Shura pensou em revidar, mas viu que os outros três estavam do lado de Milo. Estava em desvantagem, decidiu mudar a estratégia.

- Milo, se você quer cantar no show, vai ter que provar que é bom. Você não conhece a música e nem tem jeito para ela... - deu um sorrisinho desmentindo o que tinha dito. Milo percebeu e fez menção de partir para cima - Brincadeirinha. - falou se afastando um pouco, enquanto os três voltavam a segurar o grego - Se você conseguir, prova que é bom e ninguém vai contestar. Você tem quatro testemunhas aqui.

Milo se soltou dos três. Ajeitou a roupa.

- Ok. Mas se eu perceber alguma coisa por trás, eu QUEBRO A SUA CARA ! - disse apontando para Shura.

- Milo ?

- O QUE É SHURA ? - falou virando-se, pois já acompanhava Afrodite novamente para a sala.

- Com essa música você ainda quer perceber alguma coisa "por trás" ? - falou e riu do duplo sentido da frase de Milo.

Milo fechou a cara a princípio, mas depois riu também.

- Tudo bem, um a zero. - falou sorrindo para o Capricorniano e depois foi para a sala com Afrodite.

Passou-se uma hora e Shura pediu para Kamus chamar os dois. Não se atreveu a aborrecer mais uma vez o Escorpiniano.

Afrodite saiu da sala rindo muito e correu para o aparelho de som, colocando o CD para tocar. Ajustou o aparelho para diminuir a voz e aumentar os instrumentos.

- PRONTO MI.

Milo saiu da sala devagar. Estava tenso.

- Fica calmo, Mi, basta fazer exatamente como você fez dentro da sala.

- Eu não sei se consigo. - falou suplicante a Afrodite.

- Claro que consegue, é só entrar no clima.

Milo olhou para os outros três com cara de derrota. Shura sorria com superioridade. De repente o Escorpiniano arregalou os olhos ao olhar na direção de Aioria. Passou rapidamente pelos três e caminhou até um grande armário onde havia várias roupas de treino, escolheu algumas e foi para a sala.

- Tá legal, se é assim, eu vou REALMENTE entrar no clima. - falou rindo. Piscou para os amigos e fechou a porta.

- É ISSO AÍ CARA ! É ASSIM QUE SE FALA, NÃO LIGUE PARA OS PERDEDORES ! - Aioria gritava para o amigo enquanto olhava de rabo de olho para Shura.

- AFRODITE ! - Milo gritou de dentro da sala, pouco tempo depois.

- Fala.

- PODE COMEÇAR.

Ninguém entendeu porque Milo queria que a música começasse se estava dentro da sala. Afrodite ligou o som. Os primeiros acordes começaram. Milo saiu da sala vagarosamente, caminhando como um felino e mexendo os ombros. Vestia uma calça de treino bem menor que o seu número, por isso, estava curta e colada ao corpo. A blusa também estava colada e Milo ainda tinha rasgado a barra e amarrado a mesma com um nó na lateral do corpo, deixando as pontas caídas e a barriga à mostra.

Todos estavam boquiabertos. Somente Afrodite sorria.

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Quando a música começou, Aioria foi o primeiro a rir, riu tanto que caiu no chão de joelhos, mas mesmo assim, não tirava os olhos de Milo, pois não queria perder a performance.

Milo cantava exatamente junto com a cantora. Colocou a mão no coração e cantou, demonstrando muita dor e tristeza. Movia os ombros e corpo acompanhando o sentimento demostrado, enquanto caminhava vagarosamente, até chegar no meio do salão.

Nota da autora: Por não ser permitido exibir letras de música no estou substituindo cada estrofes por reticências.

Fez uma cara de superioridade, tirou a mão do peito e apontou acusadoramente para Shura.

Levantou um dos braços evidenciando os músculos e com a outra mão bateu levemente no muque.

(parte instrumental)

Colocou uma mão na cintura e outra ficou para cima, fazendo movimentos circulares com o indicador. Começou a balançar ritmadamente o quadril de um lado para outro e mexer os ombros. Sorria enquanto cantava.

Shura não se agüentava em pé de rir, mas não tirava os olhos de Milo. Ninguém queria perder o "show".

Colocou as duas mãos na cabeça e balançava-a de um lado para outro, enquanto fazia o movimento contrário com o quadril.

Parou fazendo cara de mau e fazia sinal para Shura sair, como se o enxotasse.

Apontando para Shura fazia um círculo no ar com o indicador, mostrando que deveria virar-se para sair.

Empinou a bunda para trás e fazia uma negativa com o indicador, remexendo o corpo todo.

Virou-se jogando os cabelos para trás e caminhando felinamente na direção de Aioria, que ainda estava no chão.

Colocou a mão no queixo do amigo e abaixou-se, fazendo menção de beijá-lo.

Soltou o queixo de Aioria e olhou-o com desprezo. Começou a caminhar sedutoramente até Kamus.

Kamus ficou paralisado, olhando-o de boca aberta.

Milo posicionou-se na frente do francês, ficando de costas para ele. Pegou as mãos do Aquariano e puxou-o para junto de si, colando o corpo do amigo nas suas costas. Colocou as mãos do francês em seu tórax e deslizava as mãos do amigo em seu corpo, enquanto fazia movimentos circulares, forçando Kamus a acompanhá-lo, de tão colados que estavam.

Aioria chorava e rolava no chão.

Jogou repentinamente a bunda para trás puxou ainda mais Kamus para junto de si. Mexia-se para frente e para trás como uma cobra fazendo com que Kamus repetisse todos os movimentos.

Jogou as mãos de Kamus para o lado, soltando-se demonstrando desinteresse por este. Kamus riu, mas não deixou de ficar um pouco vermelho com a ousadia do Escorpiniano.

- Hey, Hey – gritou.

Rodopiava no salão enquanto levantava o cabelo com as mãos e olhava para os amigos sorrindo sedutoramente, mordia o lábio inferior e rebolava vagarosamente, subindo e descendo o corpo.

Os quatro não se agüentavam de tanto rir. Shura chorava e Aioria ainda estava deitado no chão. Kamus estava em pé, segurando a barriga e Afrodite, estava sentado em um banquinho quase caindo de tanto rir.

Colocou novamente a mão no coração, virou um pouco o rosto e piscou repetidas vezes.

Fez cara de coitadinho e olhava para os amigos suplicante.

Fez cara de quem estava chorando.

De repente jogou os cabelos para trás e rebolava enquanto passava a mão por todo o corpo. Sorria e olhava-os sedutoramente.

Parou e apontou dançando para cada um dos quatro.

Empinou a bunda para um dos lados e deu um tapa de leve nela.

Voltou a repetir os movimentos que havia feito antes para Shura, nesta mesma parte da música, só que voltando a caminhar felinamente e aproximando-se de Afrodite.

Virou-se e apontou acusadoramente para Aioria e Kamus.

Fez uma careta.

Olhou para cima sorrindo e balançando a cabeça em negativa.

Chegou perto de Afrodite e levantou-o do banco, puxou-o junto a seu corpo e pegou em sua mão, como quem fosse dançar um tango.

Jogou o corpo de Afrodite para trás e jogava-o de um lado para outro.

Trouxe-o de uma vez. Passou a mão no cabelo do Pisciano e puxou-os para trás. Aproximou-se da boca de Afrodite.

Oh…

Ainda perto da boca de Afrodite, olhou para os amigos e piscou. Levantou o braço e ainda segurando Afrodite pela mão, rodopiou-o. Os outros três batiam palmas e riam alto.

Milo soltou-se do Pisciano e chamou todos com a mão.

Os quatro se juntaram rapidamente ao Escorpiniano e ficaram dançando, rebolando e rindo bastante. Milo continuava cantando, enquanto ensaiavam alguns passinhos e ficavam, os cinco, balançando o corpo com os braços para cima.

Quando a música acabou, todos bateram palmas. Shura abraçou o Escorpiniano.

- Milo - disse quase sem fôlego, de tanto que ria - você REALMENTE provou que é capaz. Pode dividir o vocal comigo.

- YEEEEEEEEEESSSSSSSS. UH UH!

Milo pulava e vibrava.

- Milo ? Milo ? MILO ! - Kamus tentava falar com o amigo, mas sem sucesso.

- Oi Kamus, desculpa. Fala aí, o que é ? - parou de pular e deu atenção ao francês.

- Vai tirar esta roupa antes que o Aioria volte.

- Ué ! Cadê ele ?

- Foi pegar a câmera.

Milo ficou sério. Kamus olhou Milo de cima a baixo e começou a rir. Milo olhou para a própria roupa e começou a rir também.

-oOo-

Milo ria. "Que pena" pensou, "Eu deveria ter deixado o Aioria tirar uma foto, teria sido legal". Kamus tinha se preocupado com o amigo, não deixando que Aioria o expusesse novamente. "Kamus, sempre preocupado". Olhou novamente para a foto e lembrou-se dos acontecimentos seguintes.

Continua . . .

Próximo capítulo - Milo relembra dos últimos acontecimentos que antecederam o show e do grande dia da banda Sétimo Poder. Kamus reflete sobre seu o relacionamento com Milo.

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Nota da autora: Obrigada pelos comentários enviados. Agradecimento especial à Ilia Chan (escritora Saint Seiya Dreams e Fanfic) que me ajudou em um momento de grande dúvida na metade do capítulo.

Nota da autora – Contato

podem entrar em contato comigo pelo e-mail erika(ponto)patty(arroba)gmail(ponto)com ou via review neste site.