Recordações - Fase: Fotos - Capítulo III - O Show
No capítulo anterior, Milo recebe conselhos de uma pessoa muito querida, mas acaba brigando com Kamus, depois de ter feito algo sem pensar. O Escorpiniano ainda observa a foto de divulgação do show e lembra-se dos primeiros acontecimentos que antecederam o grande dia.
... Milo ria. "Que pena" pensou, "Eu deveria ter deixado o Aioria tirar uma foto, teria sido legal". Kamus tinha se preocupado com o amigo, não deixando que Aioria o expusesse novamente. "Kamus, sempre preocupado". Olhou novamente para a foto e lembrou-se dos acontecimentos seguintes.
Capítulo III - O Show
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Recordações - Foto: O Show – Temporada de caça.
Era uma noite clara e estrelada. Milo tinha subido até o telhado do seu templo. Era uma área bem ampla, com algumas grandes pedras espalhadas. Caminhou até uma pedra lisa, um pouco inclinada e sentou-se. Desde que tinha começado a tocar, fizera uma pequena adaptação para levar o amplificador até lá e conseguir treinar no local.
Ainda errava algumas passagens cantando e tocando ao mesmo tempo e por isso repassava as músicas repetidas vezes, treinando exaustivamente.
"Se eu errar qualquer coisa, o Shura me mata" pensou.
Tocou quatro músicas e parou. Estava acertando a voz, mas não o acompanhamento com o instrumento.
Seus olhos se voltaram para o décimo primeiro templo. Pensou em Kamus e tudo o que haviam passado naquele lugar. Era ali que passaram boa parte da infância, não apenas os dois, mas os outros cavaleiros também, onde costumavam brincar de pega-pega e esconde-esconde, o que deixava as servas loucas, pois elas achavam que eles eram muito levados e poderiam cair daquela altura.
Milo riu ao se lembra disso, mas logo ficou sério quando outra lembrança veio à sua mente. Recordou-se do que costumavam fazer, somente ele e Kamus, naquele lugar, onde passavam horas juntos brincando de desenhar nas estrelas.
"Desenhar nas estrelas..." sua mente viajou até sua infância. Tinha então sete anos quando tudo aconteceu ? Não, tinha seis, faltavam poucos dias para seu aniversário de sete anos...
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Por toda a primeira infância, Milo queria um bichinho de estimação, mas sabia que o Mestre não autorizava animais no Santuário, por isso teve uma outra idéia. Alguns dos locais de treinamento dos aprendizes eram bosques que ficavam nas proximidades do Santuário. Sabendo que alguns animais silvestres habitavam estes lugares, o pequeno grego ia quase todos os dias lá na esperança de encontrar algum animal que servisse como o "seu" bichinho de estimação.
Certa vez encontrara um coelho, cinza e branco e decidira que aquele seria o seu animalzinho.
Freqüentemente pegava legumes escondidos da cozinha e levava para o bosque, para fazer o animal se aproximar. Às vezes tinha a impressão que nunca era o mesmo coelho, mas o que importava ? O importante era conseguir a aproximação do bichinho.
Já estava próximo do seu aniversário e Milo prometeu a si mesmo que até o dia, conseguiria tocar no coelho. Este seria o presente de aniversário que daria a si mesmo. Faltava pouco mais de uma semana para a data quando fez uma armadilha para o animal.
Colocou vários legumes próximos de uma grande árvore e fez uma trilha com alguns outros. Escondeu-se atrás da árvore, bem próximo dos legumes. Se o coelho quisesse comer, teria que se deixar tocar.
Do esconderijo onde estava, viu o animalzinho se aproximando. Era menor que os outros, mas era o mais bonito deles. O coelho comeu os legumes e foi seguindo a trilha, fazendo com que o menino exibisse um largo sorriso de contentamento.
O animal já estava bem perto da árvore e Milo chegou mais perto do monte de legumes, esperando o bichinho, quando ouviu uma espécie de zumbido, seguido de um pequeno guincho agonizante.
Saiu correndo de trás da árvore e viu o coelho estendido no chão. Abaixou-se e tocou o animalzinho deitado. Estava morto. Uma flecha o havia atravessado.
- Milo, você se machucou ? - Aioros que chegou correndo, levantava o menino para ver se ele estava bem.
O garoto estava com os olhos marejados e não tirava os olhos do coelho. Aioros abraçou-o fortemente e depois segurou-lhe o rosto, fazendo-o olhar para si.
- Milo, me desculpe, eu não sabia que ESTE era O SEU coelhinho.
Milo começou a chorar. Aioros o abraçou novamente, enquanto continuava a pedir desculpas.
- Você quer que eu te ajude a encontrar outro coelho ?
O menino apenas conseguiu balançar a cabeça negativamente, enquanto as lágrimas desciam sem parar.
Milo abaixou-se e pegou o animalzinho no colo. Apertou-o e soluçou. Virou-se para Aioros e fez um pedido suplicante, estendendo o coelho já sem vida:
- Tira ?
Aioros ficou emocionado com a situação do menino. Pegou o animal e forçando um pouco, conseguiu tirar a flecha. Entregou novamente o coelho para Milo.
O pequeno virou-se e foi andando sem rumo, com o coelho morto nos braços e o sangue sujando sua roupa. Caminhou muito e depois parou. Sentou-se em uma pedra com o animal no colo. Ainda chorava quando percebeu uma mão em seu ombro. Virou-se para ver quem era. Era o garoto francês.
Kamus chegara no Santuário mais ou menos na mesma época que Milo, mas nunca foram amigos. O futuro cavaleiro de Aquário era muito formal e metido a sabichão, o que aborrecia o grego. Milo satirizava o jeito que o garoto falava, carregado de sotaque francês, para menosprezá-lo.
Aioria que era muito amigo de Kamus, sempre o defendia de Milo, pedindo que o futuro cavaleiro de Escorpião fosse tolerante, pois ainda teriam que conviver por muito tempo juntos já que tinham o objetivo comum de defender a deusa Atena. Entretanto o grego não cedia, achava Kamus muito chato, parecia mais um pequeno adulto, sempre se mostrando PERFEITO em tudo, por isso Milo arrumava confusão com o francês quase o tempo todo.
Além de não gostar de Kamus, o aspirante à armadura de Escorpião tinha mais um problema: detestava que o vissem chorar.
Quando chegara no santuário era muito novo. Chorou na primeira semana porque estava com medo já que tudo era novidade. Na semana seguinte acabou caindo de uma altura razoável e se machucando, chorando novamente. Nos primeiros dois meses que se seguiram, acabava chorando por um motivo ou outro.
Shura e Máscara da Morte quase sempre estavam por perto e tiravam muito sarro do grego quando isso acontecia. O italiano comentara certa vez entre risadas "Ué, eu pensei que homem não chorava !" e Shura completou, também rindo, "Mas homem não chora, na certa erraram e trouxeram uma menina no lugar de um menino". Os dois riram bastante. Máscara da Morte ainda disse "Vai Milo, se você correr, ainda consegue entrar no treino das amazonas" riam mais ainda. Shura ainda tomou fôlego para finalizar "Vai ver ele prefere brincar de casinha com o Afrodite". Milo tinha ficado bravo e saíra correndo com as mãos nos ouvidos para não ouvir a risada dos dois.
Depois desse ocorrido, o grego começou a reparar no aspirante à armadura de Peixes para ver se os comentários eram porque Afrodite chorava tanto quanto uma menina. Milo se surpreendeu. Apesar das características bem femininas, o garoto não ficava chorando à toa.
O grego podia ser pequeno, mas era orgulhoso. Iria mostrar a eles, iria mostrar a todos. Treinaria bastante, seria um cavaleiro bem forte e não choraria, não seria mais motivo deste tipo de piada para NINGUÉM.
Milo não queria que o francês o visse chorando, por isso virou bruscamente para o outro lado, puxando seu ombro da mão de Kamus. Este não se deu por vencido. Sentou-se ao lado do grego e passou a mão na cabecinha do animalzinho.
- Coitadinho, era tão pequenininho. - falou.
Milo não conseguiu mais segurar as lágrimas e chorou, chorou muito.
Kamus passou gentilmente o braço em volta do grego, puxando-o para junto de si. Entre soluços, Milo contou o que acontecera.
O francês soltou-o, e ficou na frente do grego, com a mão estendida. Milo olhou para Ele sem entender. Kamus continuava a oferecer a mão. O grego deu-lhe a mão e Kamus levou-o até uma árvore.
O francês pegou uma pedra, abaixou-se e fez uma cova rasa.
- Vamos enterrá-lo.
- Será que vai ser melhor para ele ? - Milo perguntou ainda em soluços.
- Não.
Milo olhou suplicante para o francês. Precisava ouvir uma palavra de consolo e não uma resposta negativa.
- Não será melhor para ele, Milo, pois já está morto. Não há mais nada que se possa fazer por ele...
O grego baixou a cabeça. As lágrimas continuavam a cair.
... mas será melhor para você. - o francês falou, levantando o rosto do menino e enxugando suas lágrimas. - Poderá vir visitá-lo todos os dias...
Pela primeira vez desde o ocorrido, Milo sorriu.
- ...e poderá também procurá-lo nas estrelas.
- Nas estrelas ? - questionou o grego sem entender.
- É. Eu ouvi uma vez que o que vale a pena lembrar está desenhado nas estrelas. - Kamus falou apontando para o céu.
Milo ficou um pouco pensativo e depois se abaixou para colocar o animalzinho na cova. Os dois o enterraram. O francês não o abandonou, ficando com Ele até o anoitecer, quando passaram a ficar olhando para o céu. Kamus disse que se conseguissem desenhar o coelho nas estrelas, ele valeria ser lembrado e Milo poderia vê-lo sempre que quisesse.
Após algumas tentativas, conseguiram fazer o contorno de um coelho, unindo várias estrelas em um traço imaginário. O pequeno grego sorriu para Kamus, o francês estava certo. O coelho estava nas estrelas. Valia a pena ser lembrado.
Desde este dia, os dois não apenas passaram a ser amigos, mas passaram a ser inseparáveis.
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- Kamus, Kamus, - falou Milo lembrando do ocorrido – como é fácil gostar de você. Só falta você gostar de mim.
Balançou a cabeça em negativa.
- Chega de se distrair, Milo, vamos ao trabalho ! - falou para si próprio.
Mal acabou de tocar a primeira música e ouviu a voz do francês.
- Oi.
- Kamye ! Faz tempo que você está aí ?
- Não - disse sentando-se à esquerda do Escorpiniano - Ouvi você tocando e subi para ver esse talento de perto.
- Talento ? Qual deles ? São tantos. – riu e piscou para o francês.
Kamus achou graça do comentário do amigo.
- Milo, você é impossível ! Será que eu não posso te elogiar sem que você fique se achando o máximo ? – Kamus perguntou rindo.
- Que eu posso fazer se sou bom, mesmo.
Os dois riram mais ainda. Enquanto ria, Milo teve uma idéia. Afinal, na guerra e no amor valia tudo, não ?
Milo tirou a guitarra do colo e colocou-a em pé ao seu lado. Parou de rir e ficou olhando para as estrelas. Como previra, Kamus começou a fitar as estrelas também.
- Você se lembra que era daqui que ficávamos brincando de desenhar nas estrelas ? - Milo apontou para o céu.
- Como poderia esquecer ? - Kamus ficou olhando para o amigo.
Milo percebeu que Kamus o observava, já tinha conseguido a atenção do amigo, o que era um começo, mas ainda precisava investir mais para tentar algo mais ousado.
- É, eu sei, "quem apanha nunca esquece" e como eu quase sempre ganhava... - enquanto falava, deitou-se na pedra, sobre os braços cruzados.
- MILO ! Larga de ser mentiroso ! Normalmente empatávamos, mas se eu me lembro bem, EU ganhava MUITO MAIS que VOCÊ ! - Kamus falou sem acreditar no descaramento do grego.
- Ah é ? - Milo sentou-se novamente. - Tá se achando muito, não é ? Então prove ! - falou desafiadoramente.
Kamus foi pego de surpresa.
- Como assim ?
- Ora, escolha alguma coisa para desenhar.
- Ok. Uma espada. – falou de supetão.
Tinha conseguido o que queria, Kamus caíra em sua armadilha.
- Nossa Kamus ! Quanta criatividade ! Uma espada ! - falou debochando - Quer mudar ?
- Se está falando assim é porque não consegue. Comece !
- Tudo bem, você escolhe, eu começo.
Deitou-se novamente, seguido de Kamus.
Milo falou o nome da constelação por qual iria começar. Depois falou quais estrelas estava utilizando até formar o desenho de uma espada.
- Pronto. Faz melhor ? - perguntou olhando para o amigo com desdém.
- Humf !
Kamus fez o mesmo que Milo, mas utilizando outra constelação e grupo de estrelas. A espada de Kamus ficou um pouco melhor que a de Milo.
- É Milucho, acho que você PERDEU. - Kamus falou lentamente a última palavra enquanto sorria.
- Tudo bem, eu concordo. Essa você ganhou, mas quero ver se ganha a próxima.
- Ok. Manda.
Milo sorriu intimamente. Olhou para o céu por algum tempo, fingindo fazer o desenho antes para saber se era possível.
- Pronto Kamus. Escolho uma boca.
- Uma boca ? - Kamus olhou para o amigo.
- Acha difícil ?
- Difícil ? É MUITO FÁCIL ! Vou ganhar esta com os olhos vendados !
Os dois riram. Era esta a frase que Milo costumava utilizar quando o Aquariano escolhia um desenho muito simples.
- Ok, espertinho, comece! - Milo ordenou.
Kamus falou o nome da constelação e citou rapidamente seis estrelas.
- Pronto.
Milo começou a rir.
- Ora Kamus ! Você acha mesmo que eu vou aceitar este desenho tosco ? eu te pedi UMA BOCA e não UM SEMICÍRCULO.
- Você não especificou que boca era. A boca daquela bolinha amarela que sorri é assim. Acho que o nome dele é Smile ou coisa parecida.
- Háháhá, muito engraçado Kamus, mas eu estou falando da boca de uma PESSOA. Quero só ver que vai rir agora. - falou e começou a rir.
Kamus ficou olhando para o céu durante algum tempo. Pelas regras do jogo, o vencedor ganhava um ponto se tivesse escolhido o desenho e dois se o desenho fosse do outro.
- Achei, mas vamos ter que virar um pouco.
Kamus mudou um pouco a posição, encostando as pernas nas pernas de Milo, este se arrumou ficando paralelo ao corpo de Kamus. Sem perceber, o grego acabou tocando na guitarra, que deslizou um pouco sobre a pedra.
O francês anunciou a constelação inicial e foi falando as estrelas vagarosamente, até finalizar o desenho. Milo ficou um bom tempo olhando para o céu.
- E então ? - perguntou o Aquariano.
- Me deixe, Kamus - falou o nome do amigo quase em um sussurro.
O grego apontou a mão para o céu e começou a desenhar o contorno da boca, sobre as estrelas mencionadas pelo amigo. Apoiou-se sobre o cotovelo e virou o corpo para olhar Kamus mais de perto, ficando quase em cima do francês.
O Aquariano estava lindo. Seus cabelos escuros estavam iluminados pela luz da lua, a boca um pouco entreaberta pedia para ser beijada e os belos olhos azuis que antes miravam o céu, agora se voltavam para o grego.
Milo tornou a olhar para o céu e repetiu o gesto do desenho depois, virou-se para Kamus e aproximou-se de seu rosto, tocando-lhe levemente o lábio superior e descrevendo com o dedo indicador, lentamente, o mesmo desenho que vira no céu. Ao passar pelo lábio inferior, percebeu que Kamus fechara por uma fração maior de segundos os olhos e ouvia a respiração do amigo aumentar. Terminou o desenho novamente no lábio superior, depois desceu suavemente o dedo, tocando no lábio inferior e abrindo um pouco a boca de Kamus.
- Perfeito - disse vagarosamente em um sussurro enquanto se aproximava mais da boca de Kamus - acho que você ganhou.
Milo olhou para os olhos de Kamus que pareciam hipnotizados pela boca de Milo. O grego aproximava-se lentamente, mas com o deslocamento do próprio corpo, tocou a guitarra, que escorregou mais ainda pela pedra.
Um grande estrondo os tirou do transe, fazendo com que se levantassem imediatamente. A guitarra havia caído no chão e como estava ligada, tinha feito um grande barulho. Milo correu para o instrumento.
- Ah, não ! - disse chateado, sentando-se no chão.
- O que foi ? - Kamus abaixou-se perto do amigo.
- Tudo bem aí, meninos ? - perguntou Afrodite que acabava de chegar ofegante - Que barulhão foi esse ?
- Não. Não está nada bem. - reclamou Milo.
- O que foi ? - perguntou o Pisciano.
Milo virou a guitarra para mostrar o estrago para os amigos. O braço estava arranhado, duas cravelhas tinham ficado amassadas, uma tinha entortado e uma das cordas arrebentara.
- Não fica assim Milo. - Kamus falou colocando a mão no ombro do amigo para consolá-lo.
- É, não fica não. Acho que o Mu consegue consertar. - Afrodite sugeriu.
- Será ? - Milo perguntou esperançoso.
- Ele não conserta armaduras ? Deve ser mais difícil que consertar guitarras. - disse Afrodite sorrindo.
O Pisciano pediu a guitarra para Milo e começou a descer do telhado com o instrumento nas mãos.
Kamus deu a mão e ajudou o amigo a levantar. Olharam-se quando o grego se levantou. O Aquariano olhou para baixo e rapidamente soltou a mão do Escorpiniano, ficando um pouco sem graça e apressou-se em acompanhar Afrodite. Milo sorriu.
A temporada de caça já tinha começado. Agora, não tinha mais como voltar.
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- É Kamus, realmente não teve mais volta... – Milo falou olhando para a foto.
O grego ficou sério ao pensar no francês.
A princípio, achou que seria bom sair e fazer ciúmes para o Aquariano, mas do jeito que tinham brigado, o tiro poderia sair pela culatra e Kamus poderia querer terminar. "É melhor ficar em casa" pensou.
Kamus já tinha arrumado a bagunça da cozinha e estava deitado na cama. Ainda não acreditava em sua atitude nem com Milo nem com Afrodite. Aliás, com o Pisciano até que podia entender. Milo saia com várias garotas, beijava-as até na frente de Kamus, mas isso para o Aquariano não era nada, não tinha ciúmes delas com Milo. Só tinha ciúmes de uma pessoa: Afrodite.
Ele e Milo eram amigos e várias vezes o Escorpiniano ia até a casa do Pisciano para conversarem. Às vezes saíam juntos. Como se não bastasse os dois ainda tinham segredinhos. Kamus não o suportava por puro ciúme, mas odiava admitir isso.
Esqueceu momentaneamente do Pisciano e voltou os pensamentos para Milo. Pensou em como seu relacionamento com o Escorpiniano estava ficando complicado. Estavam juntos a pouco mais de cinco meses, mas algumas atitudes do amigo o assustavam.
Milo era possessivo e ciumento. Normalmente conseguia administrar bem isso, mas algumas vezes, nitidamente, perdia o controle.
Costumavam se encontrar uma vez por semana, a maioria das vezes na casa do Escorpiniano, já que as casas vizinhas estavam vazias e podiam ficar mais à vontade.
O francês dizia a Milo que o relacionamento deles era muito bom porque eram MUITO compatíveis sexualmente, mas isso não significava que teriam que ficar presos um ao outro, mesmo porque socialmente, este tipo de envolvimento não era muito bem visto e com certeza esperavam que se envolvessem com uma bela garota. Por isso Kamus tinha dado a idéia de saírem periodicamente com os amigos, atrás de mulheres. Milo tinha concordado prontamente, apesar de Kamus notar que a expressão do Escorpiniano não fosse de tanto entusiasmo assim.
Em uma destas saídas, estavam Milo, Aioria e Kamus. O Escorpiniano ficara elogiando muito uma garota para o Aquariano, dizendo que os dois combinavam, que a garota era muito bonita e coisas do tipo. Kamus resolveu ouvir o amigo e aproximou-se da menina. Ficaram conversando algum tempo e acabaram a noite em um motel. No dia seguinte Milo estava uma pilha de nervos. Brigou com todo mundo que se aproximou e ainda acusou Kamus de ser um mau amigo por não voltar junto com Ele e Aioria.
- Mas Milo, quando você sai com alguma garota, é justamente isso que acontece. - o francês tinha dito em defesa própria.
- Mas com você é diferente. Não faça mais isso. - falou seriamente.
Depois, sempre que saiam para este fim, Kamus só passava a noite com a sua menina se Milo passasse com a dele também.
Nesta ocasião o Aquariano tinha ficado um pouco preocupado. Será que o Escorpiniano estava desenvolvendo algum sentimento mais forte por Ele ? Nunca tinham falado sobre o assunto, mas o francês achava que estava implícito - por serem cavaleiros, pelos cargos que tinham dentro da Fundação e por seus treinamentos sobre o assunto - que o relacionamento entre ambos não deveria seguir este caminho.
Porém isso não era nada, comparado a dois fatos que tinham ocorrido nos últimos dez dias.
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Numa noite, dormiam na cama de Milo, quando o Escorpiniano acordou em prantos.
Kamus ficou surpreso porque era muito difícil ver o amigo chorar desta forma. O francês o conhecia muito bem, mesmo quando criança, o grego não costumava derramar lágrimas em público, fazendo-se de forte, mas Kamus também sabia que quando Milo se sentia muito à vontade com uma pessoa, mostrava-se abertamente. Era assim que acontecia com Ilana, uma serva já em idade avançada, a quem o Escorpiniano amava como a uma mãe. Não que Ele nunca tivesse chorado na frente de Kamus ou de Aioria, mas isso só ocorria quando não conseguia se controlar. Ilana era a ÚNICA a quem Milo recorria quando QUERIA chorar.
A razão do choro tinha sido uma série de pesadelos sobre a forma com que as pessoas o tratavam ao descobrirem que estava com outro homem.
Ver Milo se aconchegando em seu colo e se desfazendo em lágrimas o deixou um pouco assustado, mas ao mesmo tempo feliz. Sentiu uma grande emoção pelo amigo dividir sua fragilidade com Ele. Abraçou-o e acariciou seus belos cabelos cacheados. Beijou-o ternamente na testa e puxou-o mais para junto de si. Perguntou para o grego o que exatamente tinha sonhado, pois achava que o Escorpiniano precisava desabafar.
- Eu e você... morávamos juntos... e eu fiz... uma coisa... ruim... e você disse... disse... - Milo quase não conseguia falar entre as lágrimas e os soluços.
Kamus insistiu para que Ele continuasse.
- ... você disse que... não me amava mais e que... estava tudo... acabado entre...
Milo não conseguiu completar a frase, chorava mais ainda e se agarrava ao francês, com desespero. As últimas palavras pronunciadas, seguidas da reação do grego, fizeram Kamus congelar.
Demorou algum tempo para voltar a si. Abraçou o amigo mais forte e continuou a acariciar seus cabelos, mas agora estava com medo. Já vinha sentindo algo diferente pelo Escorpiniano, o que identificou como um sentimento que nunca tinha sentido antes. Será que era amor ? Não podia ser. Eram cavaleiros. Não podiam se relacionar amorosamente um com o outro. As pessoas e os outros cavaleiros jamais aceitariam que os dois ficassem juntos. Era homens e homens se relacionam, amam e se casam com mulheres.
Será que Milo também estava sentindo a mesma coisa ? Estavam começando a despertar o amor ? Será que a compatibilidade sexual tinha sido somente um pretexto para o amor se manifestar ?
Kamus estava cheio de dúvidas, que em pouco tempo foram esclarecidas.
Poucos dias depois, estavam na cama do Escorpiniano após uma noite de prazer. Milo tinha abraçado Kamus, beijado levemente seus lábios e lhe dito palavras doces, o que era normal fazerem entre si, o que não tinha sido normal foi o que o grego disse ao se encaixar em seus braços antes de apagarem a luz para dormirem.
- Kâ, eu gosto muito de você. Não, na verdade, eu não gosto, - deu uma pequena pausa para olhar nos olhos azuis do francês. Beijou-o novamente com suavidade e aproximou-se do seu ouvido - eu te amo - falou em um sussurro.
O Aquariano chocou-se com a declaração, mas não quis que o amigo soubesse disso. Abraçou o Escorpiniano e beijando-o ternamente na testa disse-lhe:
- Boa noite, mon ange, vamos dormir.
Apagou a luz do quarto. No escuro pensava no que Milo havia dito.
Uma parte de si tinha ficado extremamente feliz com a declaração, era exatamente o que gostaria de ouvir de uma pessoa. Não, na verdade, era exatamente o que gostaria de ouvir da boca do Escorpiniano. O que estava sentindo por Milo aumentava a cada dia. Ficava boa parte do dia pensando no grego e contando as horas para se verem novamente. Apesar de saírem periodicamente com mulheres, era nos braços do amigo que sentia os maiores prazeres. Milo o completava totalmente, o compreendia totalmente.
Outra parte de si o repreendeu. Era um relacionamento proibido. Eram cavaleiros. O relacionamento de ambos jamais seria aceito. Como poderiam ser exemplo, já que diziam aos aprendizes que um cavaleiro deveria passar por cima dos sentimentos, se não conseguiam controlar os seus próprios ? E o pior de tudo. Eram homens. Dois homens. A sociedade jamais aceitaria, ainda mais pela posição que assumiam dentro da Fundação, poderiam perder seus cargos. E se isso acontecesse com Milo, Kamus não se perdoaria.
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Kamus se sentiu muito mal com estes dois fatos e numa situação muito complicada, ainda mais quando se lembrou da primeira vez que percebeu o amigo de uma outra forma. O sentimento piorou ao se lembrar que perguntara certa vez a Milo quando tinha começado a se interessar por Ele e o Escorpiniano respondera que tinha começado logo depois deste mesmo acontecimento.
Kamus se culpava, pois achava que as atitudes do grego tinham sido influenciadas por seus atos. Ele só não sabia uma coisa: Milo mentira.
Na oitava casa, o Escorpiniano olhava novamente a foto de divulgação do Show e sorriu ao lembrar dos detalhes do grande dia...
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Recordações - Foto: O Show - O grande dia
No dia do show, as doações estavam sendo feitas em quantidade, fossem em alimentos, roupas, brinquedos, ou dinheiro.
A Sétimo Poder era a oitava banda a se apresentar. Seria a segunda a se apresentar depois que escurecesse. Mais uma banda tocaria e o show seria fechado pelo tecladista Vangelis.
Entre o intervalo de uma banda e outra, Mu ia até o microfone central e informava o valor que já havia sido arrecadado. Um TV local cobria o evento e Saori tinha conseguido que uma rádio local também fizesse várias chamadas e até tocasse parte de cada um dos shows.
Os cavaleiros também tinham feito sua parte. Tinham convidado todos os que conheciam. Havia muita gente lá para prestigiar o evento.
Os componentes da Sétimo Poder estavam nos bastidores, assistindo aos outros shows e auxiliando Mu, Shaka e Afrodite, que orientavam as demais bandas e verificavam se todos os detalhes estavam corretos.
Tudo estava bem, até que Shura entrou em crise.
Faltava pouco mais de uma hora para se apresentarem e o Capricorniano começou a andar de um lado para o outro e depois desatou a suar. Ainda bem que não havia se trocado ainda, pois já estaria todo encharcado.
Shura chegou até Milo, segurando seus ombros com uma leve sacudida.
- Milo, eu não posso abrir o Show. Você vai começar.
- O QUÊ ?
- Isso mesmo. Eu não posso. - tremia muito - Você já olhou lá fora ? - perguntava com uma voz desesperada - Tem milhares de pessoas ! Não vai dar.
- Shura, você NÃO pode fazer isso comigo ! - desta vez o Escorpiniano sacudia-o - Eu NÃO treinei para abrir o Show e depois, você ensaiou até palavras para falar para o público! - falou sem esconder o desespero.
- Eu sei Milo... - Shura mostrava-se muito assustado - mas você já viu o que acontece com cada banda que entra ? - Shura nem esperou Milo responder - A galera fica vidrada, com os olhos colados neles, esperando que façam o MAIOR show da vida deles. E não é só isso Milo, muitos destes caras são profissionais, já tocaram em bares, pequenos shows, alguns já viajaram o país e outros até foram para o exterior. Sem contar que você viu o que aconteceu com a penúltima banda, aquela que não conseguiu agitar o pessoal ?
Milo engoliu seco. Tinha acompanhado parte da apresentação da banda em questão. Enquanto tocavam, a multidão conversava. Vários chegaram a ficar DE COSTAS para o palco. O vocalista falava com o público e não obtinha resposta. Os gregos eram nacionalistas, mas eram exigentes. Milo gelou.
- Shura, eu acho que eu não...
- ÓTIMO ! - disse interrompendo o grego, falando rapidamente - Eu sabia que você não iria se incomodar ! Cante a primeira música que você iria cantar, que seria a segunda do nosso show, depois, eu canto a que seria a da abertura.
- Mas Shura, eu não...
- Não se preocupe, eu aviso o Aioria e o Kamus para eles não se confundirem.
- SHURA ! NÃO DÁ !
Shura parou e ficou olhando para Milo. Colocou a mão no ombro do Escorpiniano e falou mais devagar.
- Milo, eu não vou conseguir.
O grego fez cara de espanto. Não acreditava que o todo-perfeito Shura estivesse REALMENTE confessando uma fraqueza.
- Eu te dei um desafio dois meses atrás. Você tinha uma hora para aprender uma música e ainda dançá-la e... - parou momentaneamente, quando falou, balançava a cabeça afirmativamente, como que confirmando cada palavra - você foi muito bem e demonstrou que é capaz. Você ensaiou muito esta segunda música e eu sei que você consegue !
Milo estava mudo.
- Por favor ! - falou suplicante.
Agora não tinha escapatória. Era um cavaleiro e tinha um outro cavaleiro em dificuldade. Se bem que era uma dificuldade diferente, mas não importava. E a palavrinha mágica tinha feito em Milo o efeito que Shura esperava.
O Escorpiniano suspirou profundamente.
- Ok.
- Belê, vou avisar a galera - estava saindo, mas lembrou-se de algo e voltou - e Milo ? – o grego fitou-o - vê se não me faz passar vergonha, pois a Shina vai estar vendo.
Só faltava esta ! Agora, além de se preocupar em abrir o show, ainda ia ter Shura controlando seus movimentos. "Eu sabia que este filho da p estava aprontando comigo" pensou aborrecido.
- E ai cara ? O Shura me contou.
- Pois é, Aioria.
- Eu já falei com o Kamus, será que eu posso te pedir um favor ?
- Claro.
- Dá para você não ficar muito na minha frente, eu vou estar sem camisa e quero que as garotas me vejam, principalmente a Marin.
Milo riu com a sinceridade do amigo. Só o Aioria mesmo para pensar em mulher numa situação daquelas.
- Tudo bem Aioria, mas o Shura vai te matar se você ficar sem a camiseta da banda.
- Eu vou deixar ela pendurada no ombro.
- Ok.
Kamus chegou e cumprimentou os amigos. Aioria se despediu alegando que tinha que conversar com a Marin.
- Já está sabendo ? - Milo perguntou
- Já.
- O Shura mandou eu não errar nada, pois a Shina vai estar aí e ele quer impressioná-la. Estou um pouco tenso.
- Meia hora para vocês entrarem - Mu passou pelos dois e falou, dirigindo-se rapidamente para um corredor.
- Eu vou avisar o Aioria que falta meia hora.
Milo concordou com a cabeça. Viu Kamus se afastando. Estava ficando mais nervoso.
Já estava quase na hora de entrarem. Estavam todos juntos nos bastidores. Shura estava mais calmo.
A banda que se apresentava acabou o show, mas voltou para um bis. A multidão estava gostando. "A Sétimo Poder vai precisar continuar neste ritmo" pensou Milo.
A música acabou, os integrantes se despediram da multidão. Ao passaram por eles, desejaram sorte.
Mu foi até o microfone e falou novamente dos colaboradores do evento e que em breve teriam a atração principal. A galera vibrava. Falou também que já estavam com um volume muito alto de doações e que já estavam com mais de vinte mil pessoas assistindo ao show no momento. Todos aplaudiram, gritaram e assobiaram. Mu esperou fazerem um pouco de silêncio para continuar.
- E agora vamos receber uma banda pouco vista, mas muito competente, a banda dos Cavaleiros de Ouro do Santuário. Com vocês o "Sétimo Poder".
Kamus apertou o ombro do amigo e sussurrou em seu ouvido "você consegue". Milo olhou para o Aquariano que sorriu e piscou. Sorriu de volta, estava mais confiante agora.
Entraram no palco. A quantidade de pessoas era impressionante. A multidão gritava e batia palmas. Começaram a se ajeitar nos instrumentos.
- LINDOS !
- GOSTOSOS !
- EI GUITARRISTA ! MANDA UM BEIJO PARA MIM !
Milo olhou para as garotas das primeiras filas e colocando a mão nos lábios, beijou-a e depois fez um gesto como se espalhasse seu beijo para elas. As meninas ficaram enlouquecidas.
- QUE VENHAM AS MULHERES. É PRA ISSO QUE EU TÔ AQUI ! gritou Aioria para Milo, já sentado na bateria.
Milo sorriu ao se lembrar do motivo da banda existir. Olhou para Kamus. O amigo mexeu os lábios como se dissesse "você consegue" e piscou novamente, exibindo um sorriso. Milo sorriu de volta. Virou-se para Shura, que fez um sinal positivo com a cabeça. O grego foi até o microfone.
- Boa noite galera !
A multidão gritou e assobiou de volta. Milo olhou para Shura que sorria em resposta para todo mundo.
A iluminação começou o jogo de luzes. Aioria começou a bater forte nas caixas, quatro vezes, a cada frase que Milo falava.
- Essa noite é uma noite muito especial. Todos estamos aqui em nome de uma causa muito justa. Precisamos dar um lar digno para as nossas crianças gregas. - a multidão gritava de volta, concordando - E como todos vocês sabem, nossas crianças merecem o melhor. - parou de falar e olhou para os amigos. O povo aplaudia e gritava - Então, VAMOS DAR O MELHOR ! - gritou no microfone.
Quando acabou de falar, os efeitos especiais explodiram nas laterais do palco, gerando três cogumelos de fumaça de cada lado. Milo começou um solo de guitarra. Uma grande bandeira com o emblema da banda começou a descer no fundo do palco. Quando acabou, todo o palco foi iluminado e um foco central foi dado à bandeira. Milo deu um último agudo e parou.
A multidão respondeu imediatamente, pulavam, aplaudiam, assobiavam e gritavam. Era uma cena mágica, parecia uma onda de pessoas. A iluminação, ainda em jogo de luzes, apontava repetidas vezes para a multidão, como se todos estivessem em uma balada. As luzes pararam. O povo gritava enlouquecido e aplaudia. Quando Milo pegou no microfone, fizeram silencio.
O Escorpiniano ficou sério, virou-se e apontou para Aioria, que bateu três vezes as baquetas uma na outra.
Pegando o microfone, Milo começou a cantar.
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Música: You Give Love A Bad Name - Bon Jovi
Shot to the heart and you're to blame Darlin' you give love… A bad name
Começou o solo de guitarra e jogou a cabeça para baixo e para trás fazendo com que os cabelos balanceassem com força. A multidão ficou ensandecida, gritava, assobiava e pulava. O grego colocava o microfone em direção ao público que pulava e cantava junto.
- E agora galera, eu quero ver AS PALMAS ! - Milo começou a bater palmas sobre a cabeça, sendo acompanhado por toda a multidão.
Colocou o microfone no lugar e correu pelo palco até onde estava Shura, cantando ao seu lado, a luz ficou focando os dois. Depois, foi andando e tocando pelo palco, ficando junto a Kamus e Aioria, fazendo com que os iluminadores também o focassem. Toda vez que aparecia um close dos cavaleiros nos telões, as garotas gritavam.
Acabaram a música e a multidão gritava e aplaudia mais ainda.
Milo correu para o lado de Kamus e iniciaram juntos o instrumental da próxima música. Todos gritaram mais ainda ao reconhecerem os primeiros acordes. Aioria fazia sua parte.
Shura, que estava mais calmo, pegou o microfone e cantou perfeitamente, o que deveria ter sido a música de entrada.
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Música: Like Teen Spirit – Nirvana -
A iluminação passeava pelos integrantes da banda. Tocaram mais umas sete músicas, parando a cada duas ou três músicas para falar com o público, que respondia prontamente.
Milo pegou o microfone e falou com a galera.
- A próxima música é um pouco mais lenta para vocês relaxarem um pouco, mas eu quero ouvir todo mundo cantando comigo.
A multidão respondeu assobiando e pulando. Ao vivo, a música ficou bem menos lenta do que era e os quatro capricharam no instrumental.
www Kboing com br - Música: Like a Stone – Audioslave -
O público cantou junto cada estrofe. Aplaudiram muito quando a música acabou. Tinham passado pelo teste de fogo. A população grega tinha aprovado.
Shura pegou no microfone.
- Essa é a nossa última música. Valeu pelo carinho ! Quero ver todo mundo acompanhando.
Mal o espanhol acabou de falar, Milo e Kamus iniciaram a guitarra. O som animou a multidão que pulava e gritava. Shura chamou Milo para cantar junto com Ele.
- Música: Enter Sandman – Metallica -
Ao término da última música, Shura pegou o microfone para agradecer, e apresentar os membros da banda.
- Aí galera, foi muito bom poder tocar para vocês. Obrigado pela contribuição para as nossas crianças.
A multidão batia palmas e assobiava sem parar.
- Esta foi a banda Sétimo Poder, com Aioria na bateria.
Shura apontou para Aioria e a iluminação focalizou o Leonino que deu um show no solo de bateria. As garotas não paravam de gritar "Lindo, Tesão, Bonito e Gostosão". Aioria levantou-se e mandou um beijo para as garotas, fazendo-as gritar mais ainda.
O Capricorniano continuou.
- Kamus, na guitarra base.
Graças à ajuda de Milo, Kamus tinha preparado um solo muito legal que fez a multidão se empolgar mais ainda. As garotas estavam enlouquecidas e continuavam o "Lindo, Tesão, Bonito e Gostosão".
- Milo, na guitarra principal.
O Escorpiniano foi até a beirada do palco e começou a tocar. Sua mão deslizava rapidamente pelas cordas. A multidão calou-se para ouvir o excelente guitarrista. Ao terminar, gritavam e batiam palmas. As meninas voltaram a fazer o coro e Milo ainda pode ouvir várias delas gritarem também "Me leva para casa" "Fica comigo esta noite". Levou a mão aos lábios e repetiu o gesto de quando entrou no palco, mandando um beijo a todas.
Milo se aproximou de Shura e pegou o microfone.
- E no baixo, o líder da banda - olhou para Shura que ficou surpreso e feliz, com o comentário do Escorpiniano - SHURA !
Foi uma loucura. Todos aplaudiram e assobiaram, inclusive os três amigos, afinal, se Shura não tivesse sido tão duro, talvez tivessem cansado da brincadeira e a banda nem existisse, tinham que dar o braço a torcer neste ponto.
Shura era muito competente com o baixo e fez uma bela apresentação. Claro que as meninas continuaram o coro para ele também.
Juntaram-se os quatro e foram até a beira do palco para agradecer. A multidão gritava e aplaudia.
- CANTA OUTRA ! - gritaram alguns.
- MAIS UM, MAIS UM, MAIS UM - formou-se um coro que contagiou a todos.
- POR QUE PAROU ? PAROU POR QUÊ ? – gritavam sem parar.
Shura voltou e pegou o microfone.
- Vocês querem mais ?
- QUEREMOS !
- É ISSO AÍ !
- MAIS UMA !
Os quatro rapazes se olharam e sorriram.
- Essa é para todas as idades. VAMOS AGITAR GALERA !
Voltaram para seus instrumentos. Kamus iniciou os acordes da guitarra e parou na primeira pausa. Milo continuou perfeitamente como se fossem apenas uma única pessoa tocando e não duas.
Shura pegou o microfone e começou a cantar.
Música : I can´t get no satisfaction – Rolling Stones
Milo caprichou nos momentos de solo de guitarra, ficando bem perto da multidão que vibrava. O espanhol chamou o Escorpiniano e cantaram juntos. Pedindo para que o público os acompanhasse também. Todos cantaram a música até o final.
A iluminação que os acompanhava durante a música, ao término desta, apagou-se por completo. Poucos segundos depois, acendeu quatro focos, um em cada integrante.
A multidão vibrou intensamente, aplaudia e gritava. Começaram a gritar o nome da Banda repetidamente. Os quatro se aproximaram novamente abraçados, na beira do palco para agradecer. A multidão não parava.
Aioria jogou as baquetas ao público. Shura voltou correndo para os bastidores e voltou com várias camisas com o emblema da banda. Entregou aos componentes que jogaram para o público.
Milo ainda jogava as camisas quando um grupo de garotas, da turma do gargarejo começou a gritar.
- JOGA A SUA !
- JOGA !
Milo colocou a mão na barra de sua camiseta e levantou vagarosamente, mostrando um pouco do abdômen definido. As meninas foram à loucura.
Aioria chegou ao lado do Escorpiniano.
- JOGA A SUA TAMBÉM !
- JOGA, JOGA, JOGA.
As meninas estavam eufóricas e não paravam de gritar. Milo continuava com a mão no mesmo lugar. Aioria chegou perto e perguntou.
- Você vai tirar mesmo ?
- Claro, "o cliente sempre tem razão". - piscou para o Leonino enquanto tirava a camisa. Jogou-a para o grupinho que quase se matou para pegar a camisa. Milo deitou no palco para ficar mais próximo das meninas e deu a mão para elas.
- Calma meninas, por favor não se machuquem, é só uma camiseta.
No outro lado do palco, a cena se repetia com a camiseta de Aioria.
As garotas gritavam e choravam, pegavam as mãos de Milo e tentavam puxá-lo, mas o segurança não deixava.
- Adeus, meninas.
Milo se levantou, e correu até o microfone.
- Tchau galera ! VALEU ! - e mandou um beijo no ar para todos.
Aioria também veio correndo e falou no microfone.
- Aproveitem o próximo show e obrigado pela doações. UM BEIJO ! - e mandou um beijo para a multidão enlouquecida.
Todos se encontraram nos bastidores. Os gritos continuavam lá fora, pedindo novo bis. Os quatro integrantes se cumprimentaram. Tinham arrasado.
Mu foi até o palco para dar as informações de quantidade de pessoas e valores arrecadados.
Saori chegou muito sorridente, seguida de Afrodite e dos cinco garotos de bronze.
- Parabéns meninos ! Vocês foram espetaculares ! - falava enquanto abraçava a cada um.
- Fizemos apenas o que era nosso dever, Senhorita.
- Não precisa ser modesto Kamus, vocês são realmente MUITO bons. - Saori estava radiante.
Afrodite e os cavaleiros de bronze também os cumprimentaram e os encheram de elogios. Ikki puxou Milo de lado para conversar.
- Cara o que foi aquilo ? Quanta mulher bonita ! Você precisa me ensinar a tocar deste jeito !
- Mas foi justamente por isso que a banda foi criada.
- Hein ?
Milo contou a história a Ikki e eles ficaram rindo da situação. Aioria e Seiya chegaram logo em seguida.
- Aí Milo, o Seiya está querendo que eu o ensine a tocar bateria. - colocou o braço no ombro do garoto e piscou para o amigo - Você acha que eu devo ?
- Não sei não Aioria, eu fiquei sabendo que estes franguinhos de lata não estão com nada.
- EI ! - falou Ikki fingindo um aborrecimento, pois tinha visto Aioria piscar para Milo - Quem é franguinho de lata ?
Começaram a rir e Seiya não entendeu nada. Saori que estava perto, interrompeu-os.
- È justamente por isso que eu vim. Shaka, venha até aqui.
Agora, todos se olharam sem entender nada.
- Pessoal ! - Saori chamava-os com a mão - Shun, Shiryu, venham até aqui.
Os cavaleiros de bronze, os quatro da banda, Shaka, Afrodite e Mu, que acabara de chegar se aproximaram e ficaram olhando para a deusa, esperando.
- Estou pensando em mudar o treino de vocês. - disse olhando para os cavaleiros de bronze - Vou pedir para o Aldebaran e o Aioria, que hoje ajudam os cavaleiros de ouro a se prepararem fisicamente para acompanharem o treino físico de vocês. O Shaka tinha se oferecido para acompanhar todos nos treinos mentais e acho que será uma boa oportunidade para por isso em prática, se você não se incomodar, Kamus.
- De modo algum, Senhorita, eu realmente acho que está um pouco puxado para o Hyoga e o Shun, já que passo muito tempo nas empresas e os treinos costumam ser no fim das tardes ou final de semana.
- Ótimo. Milo, eu quero que você fique com a parte disciplinar dos garotos...
- DISCIPLINAR ? - Shura começou a rir, Aioria não pôde segurar o riso também - Desculpe Senhorita, mas só pode ser brincadeira. O Milo ensinando disciplina para outra pessoa ? Ele nem sabe o que é isso ! - Shura caiu na gargalhada. Todos foram contagiados pela alegria do Capricorniano, exceto a deusa e Milo que ficaram quietos.
Kamus apenas sorriu. Shura tinha razão, em parte.
- Já acabou, Shura ? - o tom de voz da deusa fez todos se calarem. Aproximou-se do Escorpiniano - Eu já conheço a fama do Milo.
O grego, que olhava para baixo, arregalou os olhos para encarar a deusa. Não esperava que a garota dissesse isso
- Gosta de sair à noite, arruma confusões, nem sempre cumpre os horários, é bagunceiro, às vezes preguiçoso... - Saori continuava a olhar para Milo, o Escorpiniano baixou o olhar. Tinha que aceitar a bronca da deusa, afinal era tudo verdade - estou mentindo, Milo ?
- Não. - Milo continuava a olhar para baixo.
- Eu sei que não - disse olhando para cada um, desta vez - pois eu conheço MUITO BEM cada um dos meus cavaleiros. - todos ficaram mais quietos ainda.
- Durante todo este tempo de preparação para o show, o Afrodite, o Kamus, o Saga e até mesmo você Shura, cansaram de me dizer que além do Milo ajudar o Kamus na guitarra e também ficava no salão treinando sozinho até tarde, principalmente depois que tinha combinado de dividir o vocal com você. - Saori falou olhando para o espanhol.
A deusa passou por trás de Milo, ficando do seu outro lado.
- Eu mesma o ouvi, cantando e tocando várias vezes a mesma música, no telhado da sua casa.
Milo caiu em si.
- Desculpe pelo barulho, eu ...
- Não tem problema Milo - a deusa falou suavemente - eu não estava no templo quando te ouvi, eu estava passando por todas as casas e só ouvi chegando perto da casa de Escorpião. - completou olhando ternamente para o jovem cavaleiro.
- Se vocês acham - a deusa continuou, olhando para todos os outros - que isto não é disciplina, precisam rever os seus conceitos.
Todos ficaram um pouco desconfortáveis, exceto Milo, que agora sorria.
- Shura, não era você que iria cantar a música de abertura do show ? - a garota foi direta.
- Era.
- E por que não cantou ?
Shura olhou para Milo um pouco aborrecido.
- Eu não disse nada.
- Você acha que o Milo precisava me contar para que eu descobrisse Shura ? Você acha que eu não acompanho vocês e não sei o que estão fazendo ?
- Desculpe Atena, não acho nada disso, eu apenas não cantei porque fiquei um pouco nervoso.
- Mas confiou no Milo o suficiente para avisar para Ele que ELE teria que abrir o show faltando pouco mais de uma hora para pisarem no palco, não foi ?
Os cavaleiros de bronze olharam surpresos para o Escorpiniano.
- Foi. - respondeu Shura muito sem graça.
- O Milo pode ter muitos defeitos Shura, mas Ele é comprometido com o trabalho dele além de um excelente cavaleiro, e isso eu posso afirmar e não só pelo que demonstrou na Batalha de Hades. Eu tenho CERTEZA que Ele tem toda a condição de ensinar disciplina a uma outra pessoa.
Milo sorria. Aioria e Kamus também.
- Milo, eu sei bem que os garotos estão ansiosos para aprender a tocar e quero também que você monitore os outros aprendizes que devem estar eufóricos, principalmente depois do show que vocês deram. Não se preocupe, não vou colocar todos os aprendizes de uma vez para que você os ensine. Eu quero apenas que, com a música, você mostre aos meninos que é necessário dedicação para conseguir alguma coisa.
- Tudo bem.
- E você também sabe Milo, que na Fundação terá crianças de todas as idades e como eu fiquei sabendo que você gosta muito de crianças - a deusa olhou para Kamus para confirmar, recebendo um aceno positivo - eu gostaria que você fosse o professor delas também. Isso se você quiser, é claro.
Milo estava boquiaberto. Não conseguia pronunciar uma palavra.
- Eu.. eu.. eu nem sei o que dizer. - Milo estava muito feliz.
- Diga sim, ou não. - falou Saori sorrindo.
- Sim, sim, SIM. Muito obrigado. - se abaixando em reverencia e dando um beijo na mão da deusa.
Saori ficou um pouco corada e ajudou o Escorpiniano a se levantar.
- Não precisa agradecer assim Milo, foi você mesmo quem conseguiu isso. Parabéns.
O Escorpiniano teve vontade de dar um grande abraço apertado na menina, mas se conteve, ela era uma deusa. Saori virou-se para ir embora, mas voltou.
- Milo, só mais uma coisa.
- Sim.
- Se você receber alguma queixa de indisciplina por parte do Aldebaran, do Aioria ou do Shaka - olhou para Ikki - este aluno estará suspenso das aulas de música.
- Ok.
A garota foi embora e o grupo de dispersou. Ficaram apenas Milo, Aioria e Kamus.
- YES ! YES !
- Parabéns cara, e eu que achei que você só prestava para farrear ! - Aioria dava um abraço no amigo.
- Parabéns - Kamus chegou perto do amigo. Milo aproveitou para abraçá-lo um pouco mais forte.
- Marin !
Aioria afastou-se do grupo para falar com a amazona.
Milo soltou Kamus vagarosamente, olharam-se nos olhos. Milo ficou olhando para a boca de Kamus por algum tempo e depois desviou o olhar e afastou-se um pouco do amigo. "Controle-se Milo" pensou. "Você não pode fazer isso". Olhou novamente para Kamus. "Ao menos, não em público" sorriu perante este pensamento.
- O que foi Milo ? - perguntou Kamus um pouco desconcertado.
Milo se aproximou de Kamus.
- Ei, Milo, posso falar com você ? Ou devo te chamar de Mestre Milo agora ? - Ikki acabava de voltar.
"Droga !" pensou.
- Não Ikki, não serei um Mestre, me veja mais como um professor ou um instrutor. - tentou disfarçar o aborrecimento.
- Eu vou deixar vocês à vontade. - Kamus mal falou e virou-se para ir embora, Milo percebeu que estava levemente ruborizado.
Ikki queria que Milo indicasse a ele o melhor instrumento para tocar. Ficaram algum tempo conversando sobre instrumentos e músicas. Ikki falou da intenção dos cavaleiros de bronze de montar uma banda, já tinham até nome: Círculo de Bronze. Depois de algum tempo, se despediram.
Milo se deu conta que ainda estava sem camisa. Sabia que tinha colocado uma camiseta na mochila. Procurou sua mochila e se lembrou de tê-la deixado no vestiário feminino, pois com tantas bandas masculinas se apresentando, era mais difícil encontrar suas coisas no meio de tantas outras.
Desceu as escadas e caminhou pelo corredor. Ao virar uma das esquinas, estacou. Arregalou os olhos, sentiu um misto de frio, calor e arrepio percorrer o corpo, parecia que a respiração e o coração tinham parado. No meio do outro corredor, já um tanto escuro, pois todos estavam usando o vestiário masculino, Mu e Shaka se beijavam apaixonadamente.
Voltou um pouco sem fazer barulho e ficou colado na parede. O coração queria sair pela boca. "Shaka e Mu" pensou "tudo está claro agora, o dia do strip poker, alguns acontecimentos antes da batalha das doze casas, a troca de olhares, algumas atitudes, comentários". Milo ficou feliz. Isso lhe deu forças para continuar a investir em Kamus.
Voltou um bom tanto para trás e começou a assobiar uma música para avisar os namorados, continuando a seguir no corredor.
- Milo ? - Shaka estava controlado como sempre.
"Só pode ser a yoga" pensava Milo enquanto sorria.
- Oi Shaka, vim pegar minha mochila que deixei no vestiário feminino, pois o masculino estava lotado. Você está sozinho ? "Droga, Milo, larga de ser indiscreto" pensou.
- Estou.
"O Mu deve ter se teletransportado. Realmente é um dom muito útil." pensou sorrindo novamente. Pegou suas coisas e saiu.
Aquele dia tinha sido realmente incrível.
oOo
Milo olhava para a foto com nostalgia.
- Kamus, Kamus, se o Ikki não tivesse chegado, acho que eu o teria agarrado ali mesmo.
E pegou a próxima foto.
Próximo capítulo - No próximo capítulo, Milo revê a foto de uma aposta feita com Shura e lembra-se de fatos relacionados a uma grande amizade com um dos cavaleiros de bronze. Kamus lembra-se do dia em que começou a sentir algo pelo amigo e faz algumas considerações.
Nota da Autora: Obrigada a todos que escreveram e peço que continuem a escrever, mesmo que seja apenas para dizer que os dois estão brigando muito ou que eu estou enrolando muito para chegar nos finalmentes (rsrsrsrs). É isso que me motiva a escrever.
Agradecimentos a pessoas especiais: Obrigada Ilía (por todos os comentários e idéias); Anjo Setsuna (pelos comentários feitos e a motivação); Ia-chan (por me desculpar por uma falha técnica (rsrsrs)); Dricka (pelos comentários e idéias); Fernando (pelo apelido e pelas dicas, a propósito, desculpe, não dá para colocar mais mulheres, mas se te serve de consolo, foi em vc que me baseei para montar as características do Aioria ). Beijos a todos.
Nota da autora – Contato
podem entrar em contato comigo pelo e-mail erika(ponto)patty(arroba)gmail(ponto)com ou via review neste site.
