Recordações

Recordações - Fase: Lembranças - Capítulo I – O começo e o fim

No capítulo anterior Kamus relembrou sua trajetória como cavaleiro, seus sentimentos pelo Escorpiniano e tomou uma decisão muito difícil. Milo reviu a última foto e lembrou-se do Lual do Terror e da massagem "terapêutica" aplicada no amigo. A fase Fotos chegou ao fim.

-oOo- Início da Fase Lembranças -oOo-

Capítulo I – O começo e o fim

Milo estacionou a moto. Caminhou por entre as pessoas e dirigiu-se a um barzinho com música ao vivo. Entrou, sentou-se no balcão e pediu uma Margarita Frozen. Enquanto aguardava sua bebida, analisava o local. Havia poucas pessoas no recinto, pois mal anoitecera, duas garotas conversavam em uma mesa e havia um casal em outra.

O barman trouxe-lhe o drink. Agradeceu.

Olhou distraidamente para o casal. O garoto já estava mais perto da menina e foi chegando cada vez mais perto até que a beijou. O Escorpiniano sorriu. Sua mente viajou até o dia em que beijou Kamus pela primeira vez.

-oOo-

Recordações - Lembranças – O primeiro beijo.

Kamus chegara de viagem pela manhã. O francês tinha viajado duas semanas antes do aniversário do Escorpiniano e só chegara agora, três dias depois do Ano Novo.

Assim que soube que o amigo estava de volta, Milo se preparou para encontrá-lo. Tomou banho, se perfumou, colocou uma camisa nova e foi ao seu encontro. Tinha contas a acertar com o Aquariano.

Entrou no décimo primeiro templo sem chamar pelo dono, mas logo o encontrou, entre as pilastras, com uma caixa na mão.

- Milo ? – disse surpreso.

- Olá Kamus. Feliz Ano Novo.

- Feliz Ano Novo. – disse retribuindo o abraço do grego.

- Como foi de viagem ? Aproveitou bem as férias ?

- Muito. Eu estava realmente precisando.

- Pena que foram BEM no período do meu aniversário. – falou com um pouco de sarcasmo.

- Verdade. Desculpe, eu tive os meus motivos.

- Claro. Tenho certeza. – disse friamente.

- Mas e você como está ?

- Sobrevivendo.

- Sem essa Milo, eu sei que não tem tempo ruim para você. – falou em tom de brincadeira.

O grego ficou quieto por um tempo.

- Eu não achei que você estaria mais uma vez ausente no meu aniversário, ainda mais de propósito. – disse olhando diretamente nos olhos do amigo.

- Desculpe. Eu realmente tinha um bom motivo para isso.

- Qual ?

- Prefiro não falar, você não entenderia.

O Escorpiniano voltou a ficar quieto digerindo o que o amigo disse.

- Ok, me desculpe. Eu não vim até aqui para te atacar. Faz tanto tempo que a gente não se vê e... eu apenas fiquei um pouco chateado por você não estar aqui no meu aniversário.

- Me desculpa.

- Tubo bem. – falou enquanto se aproximava mais - Você me paga a ausência com o Mestre dos Desejos. – completou sorrindo encantadoramente enquanto olhava-o de cima a baixo.

O francês ficou mudo enquanto o encarava. Parecia estar com receio de alguma coisa.

- Eu estava indo... na sua casa. – disse um pouco temeroso.

- Mesmo ? – o grego falou sustentando o sorriso – Por quê ?

- Porquê eu te trouxe um presente.

- Que bom. Eu ADORO presentes. – falou quase em um sussurro e chegando mais perto.

Kamus colocou a caixa que tinha na mão entre ele e Milo, bloqueando a aproximação do Escorpiniano.

- É para você.

O grego pegou a caixa tocando propositadamente a mão do Aquariano. Ao contrário do que esperava, Kamus não puxou a mão. Milo sorriu para o amigo e abriu a caixa. Era um champanhe francês, com etiqueta de procedência. Isso indicava que o presente tinha sido escolhido com cuidado.

- Não precisava ter se incomodado tanto assim, Kamye. – disse amistosamente.

- Como eu não estava aqui no seu aniversário, achei que tinha que compensar de alguma forma.

- Você está me dando este champanhe de presente de aniversário ?

- Estou. - respondeu firmemente.

- Eu agradeço Kamus – falou enquanto andava em volta do francês - eu gostei MUITO da sua oferta, mas – parou atrás do Aquariano antes de continuar suavemente ao seu ouvido - eu prefiro o MEU desejo. – e devolveu-lhe a garrafa.

O francês ficou visivelmente nervoso. Milo sorriu, o Aquariano não tinha como escapar.

- Milo, eu sei que a última vez eu te fiz ficar quatro horas em baixo de uma árvore e...

- Calma. – disse tocando suavemente com a mão na boca de Kamus, para que não falasse mais. – Eu me lembro que você tinha se oferecido para ser meu escravo por quatro horas.

- Você não vai querer que eu faça o que você quiser por quatro horas, não é ?

- Claro que não, Kamye. – disse suavemente - eu jamais pensaria em tomar quatro horas do seu tempo. O que eu quero vai te tomar no máximo quatro minutos.

- Quatro... minutos ?

- Não mais que isso. - aproximou-se mais do amigo, sorrindo sedutoramente.

Kamus afastou-se na mesma proporção e parou ao encostar as costas na pilastra. Não dava mais para fugir.

- O que exatamente... você quer ? – perguntou temeroso.

- Uma coisa bem simples. – disse se afastando um pouco, deixando o amigo mais à vontade.

- O que é ?

- Um beijo.

- Como ? – perguntou franzindo as sobrancelhas.

- Um beijo.

- Isso eu entendi. O que eu quero saber é que horas será e na frente de quem ? – falou desafiadoramente.

- Sendo hoje, na hora em que você quiser. E não será na frente de ninguém, seremos somente EU e VOCÊ. – disse mantendo a suavidade.

- Sei. – disse meio sem acreditar – E pode ser aqui no meu templo ou tem que ser no seu?

- No lugar em que você achar melhor, Kamye.

- Sem ninguém vendo ? - perguntou com desconfiança.

- Ninguém.

- Na hora e no lugar que EU quiser ?

- Desde que seja hoje.

- Você sabe que se você contar para alguém eu nego até a morte.

- Eu não teria porquê contar.

- E onde está a sacanagem, que eu não estou vendo ?

Milo sorriu. Tinha ensaiado várias respostas para dar sobre o porquê de ter escolhido um beijo. Que era por curiosidade, que não era um beijo, mas sim um presente de aniversário, mas não tinha precisado utilizar nenhuma delas. O francês parecia ter aceitado o beijo numa boa. Seu receio era descobrirem e não recusar o Escorpiniano. Só tinha uma explicação: suas investidas surtiram efeito e Kamus também queria. Em breve descobriria.

- Não há sacanagem.

- Tem certeza ?

- Estou limpo nessa. – Milo levantou as mãos.

O francês ficou quieto.

- E então ? – perguntou o grego curiosamente.

- Ok. Mas se você aprontar alguma, você vai pagar caro. – disse ameaçadoramente.

- Pode ter certeza que eu não vou te dar motivo para isso. – falou sorrindo e se aproximando do Aquariano, tirando-lhe a garrafa da mão e colocando-a no chão.

Olhou-o nos belos olhos azuis, estavam tão brilhantes que eram como um espelho para o grego. A respiração do francês estava mais rápida, assim como a de Milo.

O Escorpiniano colocou a mão delicadamente na cintura do amigo. O Aquariano fechou os olhos e respirou profundamente, seu corpo tremeu levemente. Abriu novamente os olhos, soltando o ar aos poucos. A mão de Milo deslizou até as costas de Kamus, puxando-o mais para junto de si.

O francês passeava o olhar entre a boca e os olhos do grego e mexia a cabeça levemente, para um lado e para outro, como se procurasse a melhor posição para o encaixe dos lábios. O Aquariano entreabriu a boca e ficou respirando mais forte. Seus lábios pareciam suplicar para serem beijados.

Milo estava paralisado. Sentia como se fosse a presa e não ao contrário. Estava completamente dominado pelas ações de Kamus. O Escorpiniano soltou um leve suspiro e fechou os olhos por alguns instantes.

Quase não conseguiu pronunciar os votos.

- Então... como Mestre dos Desejos... – disse olhando para a boca do amigo - eu escolho a sugestão dada por Milo... um beijo. – falou esta última palavra sorrindo sedutoramente.

Notou que Kamus estremeceu de novo. Colocou a mão em seu rosto e entreabrindo os dedos, enfiou-os pelos cabelos macios do francês, puxando suavemente sua cabeça para frente. O Aquariano fechou os olhos, esperando.

Os lábios do grego tocaram delicadamente nos lábios do amigo, começando com um beijo suave. Um calor subiu pelo corpo de Milo, excitando-o. Puxou mais o amigo para junto de si. Quando sua língua tocou a de Kamus, sentiu um tremor em todo o corpo. A boca do francês estava quente.

Milo sentia a respiração do Aquariano ficar mais forte. O beijo tornou-se mais intenso. Suas línguas se enlaçavam numa dança de movimentos. O grego passou a língua nos dentes do amigo, isso fez com que o outro respondesse deslizando a mão pelo corpo do Escorpiniano e lhe retribuísse um beijo mais ardente.

O francês beijou-lhe os lábios superiores, chupando-os delicadamente antes de adentrar em outro beijo intenso. Milo achou que iria se desmanchar. Seu corpo estremeceu completamente e ficou mais excitado. Através da roupa percebeu que Kamus também estava excitado.

Milo abriu os olhos e puxou um pouco os cabelos do francês para trás, afastando um pouco as duas bocas. O Aquariano gemeu e abriu os olhos. Olhava fixamente para a boca do grego, tentando alcançá-la novamente, mas o outro se afastava quando chegavam bem perto. Kamus sorriu, gostando do jogo do Escorpiniano. Milo se desfez ao sorriso do amigo.

O francês aproveitou o momento de fraqueza e desceu mais sua mão, passando-a pelo corpo do amigo e puxando-o de uma vez para si, arrancando um gemido do grego.

Kamus sorriu novamente. Aproximou-se da boca do amigo e beijou-lhe sedutoramente a metade dos lábios, olhando bem nos olhos do Escorpiniano. Depois virou um pouco o rosto e beijou a outra metade.

A respiração de Milo ficou mais forte e o grego puxou-o amigo violentamente para junto de si, colando os dois tórax. Puxou seus cabelos lisos para trás e ouviu um leve gemido. Sua ação colocou o pescoço do francês completamente à sua mercê.

Começou a beijar e dar leves chupadas no pescoço branquinho do amigo. A respiração de Kamus ficou mais forte e o Aquariano estremecia e se arrepiava a cada beijo. Pela roupa, Milo sentia a excitação do francês pulsando. Tocou-lhe o rosto novamente com a mão e trouxe-o pelo queixo para um novo beijo, mais ardente ainda.

- KAMUS ! KAMUS ! VOCÊ ESTÁ EM CASA ?

A voz os fez se soltarem imediatamente. Ficaram sem respirar, paralisados, de boca aberta olhando um para o outro.

- KAMUS ? VOCÊ ESTÁ AÍ ?

- ESTOU AIORIA. PODE ENTRAR.

Se arrumaram um pouco antes do Leonino chegar. Torciam para que o outro grego não desconfiasse de nada.

- Ah ! Vocês estão aí ! E aí cara, feliz Ano Novo. – disse abraçando o Aquariano.

- Feliz Ano Novo Aioria.

- E aí, foi boa a viagem ?

- Ótima.

- Acho que o Milo tá virando viado. Ficou o tempo todo choramingando que você não estava aqui no aniversário dele, que tinha sido de propósito, que você não ia passar o Ano Novo com a gente e blá blá blá.

- É mesmo ? – perguntou Kamus sorrindo e olhando para o Escorpiniano.

Milo também sorriu.

- É, mas não se preocupe, pois eu apresentei umas gatas para ele e agora não tem mais perigo. Cara ! Que gostosas ! Uma melhor que a outra, não é Milucho ?

- É verdade.

- A propósito, você é o maior zé-ruela né, Milucho. Nem para me chamar para vir com você para ver o Kamye.

- Ai, coitadinho do gatinho ! – falou imitando o piu-piu - Cai fora Aioria. Acha que eu sou o quê para querer você o tempo todo atrás de mim ?

- Tá falando que eu sou viado para ficar atrás de você, seu filho da pxxx ?

- Se a carapuça serviu. – Milo disse sorrindo.

Aioria aproximou-se rapidamente e deu um soco não muito forte na barriga do grego.

- Ai. – disse se abaixando um pouco.

- Isso é para você aprender a me respeitar.

- Ok. – falou ficando novamente ereto - Agora bate que nem homem.

- Filho da pxxx. – disse rindo e partindo para cima do Escorpiniano.

- Ei, seu dois viadinhos, parem. Se querem se agarrar vão fazer isso em outro lugar. Este templo é um templo de gente de família ! – Kamus falou sério, mas tirando sarro dos amigos.

- O que você acha que devemos fazer com ele Aioria ? – perguntou Milo.

- Porrada ! – falou o Leonino e indo para cima do francês.

Kamus levou alguns socos dos amigos e deu alguns também. Depois os três se entreolharam e ficaram rindo.

- Cara, eu estava com saudades de você. – disse Aioria para Kamus.

- Sai fora que eu cheguei primeiro. – falou Milo brincando com o Leonino.

- Tá com ciuminho, é ? – provocou Aioria.

- Ciúmes de uma coisa feia que nem você ? Fala sério.

Os três ficaram rindo.

- E aí, o que vocês estavam fazendo ?

- O Kamus estava me dando meu presente de aniversário.

- É ? E o que foi ? – perguntou olhando ora para um e ora para outro.

Kamus ficou mudo. O Escorpiniano foi mais rápido.

- Um champanhe francês.

- Legal ! Vamos abrir agora.

- Pode tirar essas suas patas sujas de cima do MEU presente.

- Tá regulando, é ?

- Não, só estou evitando um carinha MUITO abusado.

- Ok. Tomara que você beba a garrafa inteirinha e NEM fique bêbado.

- Tá praguejando contra mim ?

- EU ?

"Oi. Está esperando alguém ?"

-oOo-

Milo voltou a si e olhou ao seu lado. Era uma das garotas que antes estava sentada na mesa que o interrompera. O Escorpiniano estava tão submerso em seus pensamentos, que a resposta foi rápida e seca.

- Estou.

- Que pena. - disse se afastando e sorrindo para o Escorpiniano.

O grego terminou o drink e ficou vendo o movimento. O bar já estava um pouco mais cheio. Pediu uma outra Margarita.

Certamente Kamus não viria, então resolveu sentar-se com as meninas que o interromperam anteriormente, que continuavam sozinhas. Eram mulheres, o francês não ficaria com ciúmes. O problema do Aquariano chamava-se Afrodite.

Ficou ainda no bar por volta de uma hora. Inventou uma desculpa qualquer para não encerrar a noite com as garotas, mas ainda beijou uma delas.

Subiu na moto e colocou o capacete. Pensou no amigo. Começou a se lembrar do que aconteceu na semana do primeiro beijo enquanto ia para casa.

-oOo-

Recordações – Lembranças - Durante a semana

Depois de ter dado a Milo o presente que ele queria, o Aquariano tinha ficado arredio e o grego estava com dificuldades para falar com ele.

Achou melhor ter uma conversa em particular com o amigo e convidou-o para sair. Kamus recusou dizendo que estava com muito trabalho, pois estivera por dois meses fora. Para o Escorpiniano isso era apenas uma desculpa. Insistiu para o amigo aceitar o convite e marcaram de sair na sexta-feira. Milo chegou na casa de Kamus pontualmente.

- Oi Kamye, vamos ?

O francês estava vestido uma pouco formal demais para o encontro, usando até gravata, mas o grego achou melhor não desestimulá-lo e não fez nenhum comentário.

- Desculpa, Milucho ! Esqueci de te avisar ! Hoje eu tenho um jantar de negócios com um grupo inglês de investimentos para avaliarmos a criação de uma fundação Kido na Inglaterra. Desculpa mesmo, cara.

- Ok. – falou visivelmente chateado – podemos marcar para amanhã ou domingo ?

- Achou que não. Este final de semana nós vamos sair todos juntos, esqueceu ? E no domingo eu preciso me reunir com o Saga, pois ele vai viajar para o Japão e tenho que deixá-lo preparado para as reuniões.

- Hum, hum. E segunda ?

- Segunda não tem problema. Fica marcado para segunda.

- Ok.

Saiu da casa do Aquariano desconfiado. O amigo parecia que o estava evitando. Primeiro ficara o tempo todo afastado e quando Milo se aproximava, ele se afastava, mantendo a distância, depois, não o olhara nos olhos em nenhuma das vezes em que lhe dirigiu a palavra.

Isso tudo era muito estranho, mas o Escorpiniano não ia desistir agora, justamente quando estava tão perto de conseguir o que sempre quis.

Na segunda-feira Milo chegou na casa de Kamus dez minutos atrasado e encontrou o francês de chinelo, short e camiseta.

- Caramba, Milo ! Esqueci completamente ! - falou se desculpando.

- Kamus. O que está acontecendo ? Se você marcou, está marcado. Cadê a sua palavra ? Perdeu na França ? - falou irritado.

- Retire o que disse ! - falou visivelmente alterado, olhando nos olhos do amigo.

- Ok. Eu retiro se você provar que eu vou chegar aqui amanhã e você VAI sair comigo e NÃO VAI ficar inventando uma desculpinha qualquer.

O francês ficou quieto.

- Do que você tem medo ? – perguntou ao Aquariano - Eu não mordo. – disse em tom de brincadeira - É mais fácil você me colocar em um esquife de gelo antes que eu possa fazer qualquer coisa que você não queira. - falou sorrindo.

O outro sorriu.

- Isso é um sim ?

- Ok.

-oOo-

O grego chegou ao Santuário, estacionou a moto na garagem e se dirigiu para o seu templo, ainda pensando nos acontecimentos da semana seguinte ao primeiro beijo.

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Recordações – Lembranças - O Encontro

No outro dia, terça-feira, o Escorpiniano chegou na décima primeira casa meia hora antes.

- Kamus, Kamus.

Como não obteve resposta do Aquariano entrou. Chegou no quarto e ouviu barulho do chuveiro. Ficou um pouco excitado ao pensar que o francês estava se preparando para ele.

Foi até a sala para esperar o amigo. A espera valeu a pena. Kamus estava arrasador, com uma camisa branca e uma calça jeans bem escura. O perfume que usava chegou ao nariz de Milo. O grego adorava o perfume do francês.

- Oi. Faz tempo que você chegou ?

- Quase quarenta minutos.

- Sério ? – perguntou preocupado.

- Não. – falou sorrindo – Brincadeira, mas a espera valeu a pena.

- Como assim ?

- Hoje você vai ser SÓ meu. – disse sorrindo.

- Milo.

- O quê ?

- Não fica bravo, mas vamos ter que voltar cedo.

- Por quê ? – perguntou irritado.

- Porque hoje vai passar a entrevista do grupo Inglês de investimento na TV e eu quero assistir. Apesar de toda terça e quarta pela manhã eu poder trabalhar em casa, eu tenho reunião amanhã às quatro da tarde e preciso estar pronto.

- Eu não acredito, Kamus.

- Calma, o programa só começa depois de onze e meia, dá tempo.

- Se eu te arrumar uma pxxxx de um lugar com uma mxxxx de uma TV, para você assistir esta bxxxx de entrevista, você para com esta viadagem ?

O Aquariano apenas ficou calado, mas torceu a boca em tom de desaprovação.

- Cxxxxxx Kamus ! Desculpa falar assim com você, mas pxxxx. Você está me tirando do sério. TODO DIA é uma desculpa diferente ! Pxxx qxx pxxxx, vai se fxxxx.

- Acabou o repertório ?

- Acabei, agora vamos. – falou irritado com o francês.

Milo quase não falou com Kamus no carro, se limitando a responder em monossílabos para indicar o caminho do lugar aonde iam.

Demoraram mais de quarenta minutos para chegar em um barzinho de estilo praiano. Era um lugar grande, todo em madeira descascada. Havia quatro TVs no lugar. Sentaram-se perto de uma das TVs. Pediram as bebidas e também para colocarem no canal da entrevista.

O garçom trouxe as bebidas e mudou de canal, deixando-os a sós. Foi o francês quem puxou conversa.

- E então ? Por quê estamos aqui ?

- Porque você quer assistir a pxxxx da mxxxx de um programa de bxxxx.

- Se você vai ficar xingando a noite inteira, é melhor voltarmos para casa.

- Desculpa, mas que droga Kamus. Será que não dá para você reservar nem um horinha para mim na sua agenda ? Sempre tem que ter alguma coisa concorrendo comigo ?

- Foi mal.

- Mal ? Foi péssimo. – disse bem aborrecido.

- Desculpa, tá ? Eu estou aqui, não estou ? Agora se você me trouxe até aqui para ficar brigando comigo, achou melhor voltarmos. – disse se virando para o outro lado.

- Desculpa Kamus. Eu fiquei irritado, só isso. Eu não quero que você vá embora. Quero ficar esta noite com você. – falou com sinceridade.

- Ok. – disse o francês, um pouco mais maleável.

Conversaram durante muito tempo sobre a viagem de Kamus e o aniversário de Milo. Depois, o Aquariano fez uma pergunta que o grego já estava preparado para responder.

- Milo, por que você me fez aquele pedido de aniversário ?

- Curiosidade.

- Curiosidade ?

- É. Você nunca teve curiosidade de experimentar alguma coisa ?

- Já.

- Foi por isso. Aliás, foi um presente de muita qualidade, mesmo não sendo completo.

- Como assim, não sendo completo ?

- Ora, o Aioria chegou e acabou com tudo.

- Nem adianta me chamar de caloteiro, pois o combinado eram quatro minutos e tenho CERTEZA que eu te dei bem mais que isso.

- Mas você gostou ?

- Isso é pergunta que se faça, Milo ?

- Não vejo qual o problema.

O garçom veio interrompê-los e pararam de falar.

- Senhores, desculpem, estou com esta mesa grande aqui ao lado bem cheia e o aniversariante pediu para colocar na MTV e o gerente autorizou. Realmente desculpem.

- Não esquenta, pode mudar. – falou o grego.

O garçom mudou e saiu.

- Bem, já é quase onze horas, acho melhor voltarmos. – disse Kamus já procurando o garçom novamente para pedir a conta.

- Tenho uma idéia melhor, Kamus.

- O que é ?

- Acho que toda esta briga me deixou um pouco tenso e eu pensei em relaxar um pouco em uma piscina. E olha só – disse chamando o Aquariano mais para perto – eu sei de um lugar que tem piscina e TV também. Enquanto você assiste à sua entrevista, eu fico na piscina.

- Que lugar é este Milo ? – perguntou o francês desconfiado.

- É um lugar bem mais perto daqui do que o Santuário. Você vai chegar bem a tempo de pegar o começo do programa.

- Não sei, Milo.

- Kamus, não há o que temer. Se eu tentar te morder – disse com um sorriso encantador – você me faz uma focinheira de gelo. Que tal ? – disse piscando para o amigo.

O Aquariano sorriu com o comentário.

- Ok, mas se você tentar alguma gracinha, fica congelado.

- Sim senhor. – completou sorrindo.

-oOo-

Milo chegou em casa e se trocou. Viu que o bilhete que tinha deixado não tinha sido tocado. Kamus não tinha ido até sua casa.

Estava com um pouco de sono. Deitou-se e continuou a lembrar do que acontecera logo depois que saíram do bar em direção ao Sete Pecados.

-oOo-

Recordações – Lembranças – A Soberba

Kamus dirigiu por cerca de dez minutos e chegou em uma estrada.

- Vire aqui, Kamye.

- Ainda demora ?

- Não se preocupe, já estamos chegando.

Cerca de dez minutos depois estavam de frente para uma bela construção, chamada Os Sete Pecados. Era um motel.

- VOCÊ ESTÁ MALUCO ? – vociferou o francês.

- Calma ! Eu não estou te convidando para fxxxx, Kamus. O que eu sei é que aqui tem uma bela piscina e uma TV maravilhosa. Você fica na cama e eu na piscina. Não vou tocar em você. – explicou o grego com cara de inocente.

- E você acha que vão pensar o quê em verem dois homens entrando em um motel ?

- Corta essa Kamus. Primeiro você sabe MUITO BEM que aqui na Grécia famílias INTEIRAS passam o final de semana em um motel para se divertirem SEM CONSTRANGIMENTO algum. E depois, você acha que eles nunca receberam dois homens aqui ?

O Aquariano ficou calado. O que Milo estava falando era verdade.

- Sem frescura Kamye, vamos escolher o quarto e entrar.

Kamus andou um pouco com o carro até chegar em uma base com um computador. Abriu um pouco a janela de vidros bem escuros e apertou um botão "clique aqui" na tela.

O computador mostrou os vários quartos e a disponibilidade. Havia o Avareza, que era o mais simples; a Ira com mais opções; a Preguiça, um quarto mais requintado; a Inveja e a Gula eram para swing ou para "uma família" e os dois quartos mais luxuosos eram a Soberba e a Luxúria. A Soberba não tinha pista de dança, nem teto solar, nem espelho no teto.

- Escolha um quarto Luxúria.

- Nada disso. Não se esqueça que quem paga é a Fundação.

- Fala sério, Kamus ! A gente trabalha para quê ? Se não recebemos salário, temos que no MÍNIMO ter nossas despesas pagas !

- Mas sem grandes exageros. Vamos escolher um quarto mais barato.

- Só o Soberba e o Luxúria tem piscina e disso eu NÃO abro mão. E nem adianta escolher só três horas. Eu NÃO estou a fim de ficar dormindo no carro na volta e se a gente NÃO dormir aqui você vai ter que me levar NO COLO escadaria acima, pois eu NÃO vou subir.

- Você está doido ? Não tem que trabalhar amanhã ?

- Amanhã é quarta. Eu não trabalho na quarta de manhã e pelo que me lembro, você trabalha em casa, na terça e na quarta de manhã também.

- E você REALMENTE acha que eu vou dormir na mesma cama que você ? – perguntou sarcasticamente.

- Claro que não. O quarto tem duas camas.

Por essa resposta o Aquariano não esperava.

- Humf ! – suspirou aborrecido – OK ! Então vamos ficar com a Soberba. Mas com UMA condição: vamos sair cedo. Não posso me atrasar e tenho muito o quê fazer para a reunião.

- Ok. Fechado.

Milo olhou para o amigo maliciosamente, mas sem que o outro percebesse. Kamus apertou o botão de escolha e a cancela abriu. Entraram e estacionaram o carro onde o mapa da entrada mostrava. Saíram do carro e apertaram um botão para fechar a garagem. Havia uma escada para subir até o quarto.

Assim que abriram a porta do quarto entraram em uma ante-sala, com uma mesa para quatro lugares e duas cadeiras bem confortáveis. Um tapete bege claro, com detalhes em vermelho e negro, um divã em couro negro e um grande quadro com uma mulher bem vestida e de olhar frio, no terraço de uma bela casa, com vista para um jardim de tulipas ajudava a compor este ambiente.

Subiram outro lance de escadas e chegaram no quarto. Era um lugar bem amplo. Uma cama em madeira escura, de tamanho king-size, estava colocada próxima da entrada do cômodo. Um lençol bege bem claro, com detalhes em negro e vermelho, se destacava na cama. O piso era frio, mas a cama ficava sobre um tapete de tom de bege mais forte que o lençol.

Seguiram para a direita e foram até o banheiro. O box era bem grande, mas não havia banheira. O piso era branco com a faixa central em detalhes de negro. As toalhas felpudas eram vermelhas, com o detalhe do nome do motel bordado em branco.

Na frente do banheiro ficava a sauna. Não era muito grande e era toda em bege claro com alguns detalhes em vermelho e negro.

Do lado esquerdo da sauna, três degraus abaixo, ficava uma grande banheira de hidromassagem branca, com torneiras douradas. O desenho dela era irregular e o piso à volta era negro. As toalhas eram brancas e na lateral estavam dispostos dois roupões, um branco e um vermelho.

Bem ao lado da banheira ficava uma grande cama em uma espécie de couro branco, impermeável, com travesseiros do mesmo material. Era do estilo futton, mas encostada na parede.

O piso passava a ser de madeira, separadas uma da outra, como se formasse um deck, na frente da banheira, da cama de couro e da piscina.

A piscina tinha duas grandes esculturas de mármore, uma em cada lateral. Uma era uma mulher com ar autoritário, segurando uma jarra e a outra era um homem, também com ar superior com a mão em um tronco de árvore. Entre as duas esculturas havia algumas pedras claras pelas quais descia água, como em uma cascata. A piscina era quase o dobro do tamanho da cama e o fundo azul escuro tinha o número sete e a letra P em branco. As laterais eram do mesmo azul, com as bordas em branco. A forma da piscina era irregular e sua profundidade também.

Entre a piscina e a cama tinha um lance de três degraus e havia outro divã em couro negro e duas cadeiras em couro vermelho, com braços também em couro. Havia um grande painel acima dos três móveis. Um belo tapete bege claro completava o conjunto.

Um grande móvel claro e discreto, próximo à cama king-size, depois de aberto revelou conter vários objetos para o prazer, desde gel lubrificante até vibradores, todos liberados mediante a passagem do cartão de abertura que também era utilizado como chave da porta.

Dentro do frigobar havia garrafas de vinho, água e champanhe.

Todas as esculturas e quadros espalhados pelo quarto retratavam a soberba. Era evidente o requinte do local. O decorador tivera bom gosto.

Uma rosa vermelha sobre a cama dava o toque final.

- Agora dá para entender o preço.

- Você ainda nem viu a TV.

- Onde fica ? – perguntou Kamus olhando em volta.

Milo subiu na cama e apertou um dos botões que ficava ao lado. A luz dos outros ambientes diminuiu e houve um foco de luz na piscina. O grego apertou novamente o botão e as luzes foram apagando ou acendendo, até que a primeira configuração retornou. Tentou outro botão. Uma faixa que estava no teto desceu. Era a TV, com 34 polegadas. A finura do aparelho era impressionante. Quando a tela desceu por completo, o Escorpiniano pressionou outro botão e a TV girou um pouco, ficando de frente para a outra cama.

- Você já tinha vindo aqui ?

Milo ficou quieto. Achou melhor não falar a verdade. Teria muito para explicar se dissesse ao amigo que tinha vindo com o Aioria. Ainda não era a hora de Kamus saber de tudo.

- Vim com uma gata muito gostosa, mas já faz um bom tempo.

A resposta pareceu satisfazer a curiosidade do Aquariano.

Kamus apertou os botões e virou a TV novamente para a cama principal, depois colocou no canal que queria. Como o programa não havia começado, o francês foi mudando de canal para ver o que estava passando. Milo ouviu alguns gemidos e olhou para a TV. Dois homens e uma mulher estavam transando em um balcão de bar, enquanto um deles penetrava-a por trás, a garota fazia sexo oral com o outro.

- Oba ! Canal educativo ! – disse o grego.

Kamus ficou vermelho e mudou de canal.

- Qual é Kamye ! Vai dizer que você nunca aprende nada nestes canais ?

- Eu vou ver a entrevista, vá para a sua piscina. – falou sem olhar para o amigo.

- Você está bem ? – disse se aproximando do francês e levantando a mão para tocar-lhe o rosto.

O francês segurou-lhe a mão, evitando ser tocado na face. Olhou nitidamente para a boca de Milo. O grego sentiu a mão que o segurava ficar mais quente. Kamus soltou-o.

- Me deixa assistir ao programa. – falou friamente.

- Ok. Vou estar na piscina. Eu não quis te aborrecer. – disse sem olhar para o Aquariano.

O Escorpiniano suspirou profundamente, levantou e caminhou em direção da piscina. Parou apenas na última cadeira antes de descer as escadas e começou a se despir lentamente, sempre de costas para o amigo e sem olhar para Ele.

-oOo-

Milo suspirou mais forte, virou-se para o outro lado na cama e adormeceu.

No outro dia treinou um pouco com o Aldebaran e depois deu aula para os aprendizes. Os filhos das servas tinham sido incorporados às suas aulas e o grego tinha dividido a classe em pequenos grupos para aprenderem melhor.

Na hora do almoço estava faminto. Foi até o refeitório e encontrou vários cavaleiros lá. Cumprimentou-os e depois de montar o seu prato sentou-se na mesa em que estavam Aioria, Mu e Aldebaran.

Kamus chegou depois de meia hora e sentou-se na mesa em que estavam Kanon e Shaka, mas cumprimentou os outros quatro cavaleiros antes de começar a comer.

Afrodite chegou no refeitório e passou direto pela comida. Chegou do lado de Milo e colocou as mãos na mesa, olhando para o grego.

- Preciso conversar com você. Passa na minha casa no final da tarde ?

O Pisciano parecia bem aborrecido.

- Está tudo bem ?

Afrodite olhou de rabo de olho para Kamus.

- Não. Te espero lá. - disse saindo da mesma forma tempestiva em que entrou.

- O que foi ? - perguntou Aioria.

- Não sei. - disse o Escorpiniano.

Kamus ficou indiferente ao aparecimento do Pisciano.

- Mas vou descobrir. – completou o grego.

Quando Milo chegou na casa de Afrodite já passava das seis da tarde.

- DIDO !

- OI MI, PODE ENTRAR !

Afrodite estava sentado no sofá com várias revistas de jardinagem espalhadas na sala.

- Oi. O que está acontecendo ? - disse cumprimentando o amigo e sentando-se ao seu lado.

O Pisciano fechou a revista que estava na mão e colocou de lado.

- Milo, você sabe o quanto eu gosto de você e te considero.

- Claro que sei.

O morador da décima segunda casa se aproximou do grego e tocou-lhe o rosto e levantando-o um pouco, analisou-o bem.

- O que você está procurando ?

- Abre a boca.

- Por quê ? - perguntou sem entender.

- Quero saber onde ele te machucou.

- Corta essa Dido. Você continua ouvindo atrás da porta ?

- Se for para evitar que Ele te machuque, vou sim. Me mostra. – falou analisando o rosto e o corpo do Escorpiniano.

- Ele NÃO me machucou.

- MENTIRA. Eu vi o estado da cozinha.

- Você foi até lá ? - perguntou incrédulo.

- Claro.

- E como o Kamus estava ?

- Querendo ficar sozinho.

- Imagino.

- Mas eu insisti. Depois que vi a parede, deduzi o que ele fez com você.

- Ele não fez nada.

- Se não fez nada, por quê tentou me bater ?

- COMO É QUE É ? – perguntou duvidando - Por que ele faria isso ?

- Ele tentou me bater porque eu perguntei de você.

- Foi REALMENTE isso que aconteceu ? - o grego perguntou desconfiado.

- Ora, depois de ver aquele DESASTRE na cozinha eu perguntei o que tinha acontecido e ele me chamou de fofoqueiro. Disse que eu estava indo lá para espalhar o que tinha visto.

- Ele devia estar bravo.

- Com certeza, pois ele me enxotou dizendo que queria ficar sozinho e que me odiava. Aí eu disse que ele me odiava porque era viado e via em mim o tanto que um viado sofria.

- VOCÊ CHAMOU ELE DE VIADO ? VOCÊ ESTÁ LOUCO ? - perguntou sem acreditar.

- Bem, Mi, não chamei abertamente, mas chamei. Eu só disse que achava que ele me odiava porque ele se via em mim.

- Ai, não ! Mas foi JUSTAMENTE por isso que ele me bateu.

- Como assim ?

- Eu chamei o Kamus de viado.

- Então está explicado porque ele voou em cima de mim. Acho que só não me matou porque o Shura chegou bem na hora e me defendeu.

- O SHURA TE DEFENDEU ? - levantou e ficou de frente para o amigo.

- Para você ver como a coisa foi séria. Até aquele MONSTRO me defendeu ! E ainda bem, pois acho que a vontade do Kamus era de me destroçar.

- Não achou que ele chegaria a tanto.

- NÃO ? Depois que eu perguntei se ele ia bater em mim como fez em você os olhos dele até ficaram vermelhos.

- Ele chegou a te bater ? - Milo perguntou preocupado.

- Não. - fez cara de coitadinho - Mas também não precisava me tratar daquele jeito.

Afrodite se levantou e ficou de costas para o Escorpiniano.

- Ele disse que odiava meu cheiro, minha presença e tudo que eu representava. Eu sou TÃO desprezível assim, Mi ? – virou-se para o outro, suplicante por uma resposta negativa.

- Não, meu anjo. - disse abraçando o sueco.

- Então por quê TODO MUNDO me odeia ? - falou deitando a cabeça no ombro do grego.

Milo passava a mão pelos belos cabelos do Pisciano, para confortá-lo.

- Dido, as pessoas são muito complicadas. Elas não conseguem gostar do que não conhecem e...

- Então porque não me dão uma chance ? – falou soltando-se dos braços do amigo - Por que não querem me conhecer ? - perguntou com cara de choro.

- É que... - o Escorpiniano ficou sem fala.

Era realmente muito difícil ser homossexual e suportar o preconceito.

- É por que eu sou viado ? É por que eu gosto de homem ? É por isso ? - perguntou com lágrima nos olhos.

- Dido...

- Milo, você ganhou este cargo para ensinar as crianças e eu fiquei muito feliz por você. Mas me diga sinceramente. Você acha que se soubessem que você ama outro homem teriam dado o cargo a você ?

- Dido...

- Você acha que se soubessem que o Kamus dorme na sua casa, na sua cama, ele ainda teria a posição que tem, administrando coisas tão importantes no Santuário e na Fundação?

Milo ficou mudo.

- Diga. Você acha ? Você acha que eu estou em casa fazendo o quê aqui com este monte de revistas espalhada ? Pensando em melhores adubos ou melhores formas de plantar as minhas florzinhas ? O cxxxxxx ! Eu estou aqui porque NINGUÉM me dá uma pxxxx de um trabalho de responsabilidade SÓ porque eu sou viado. E sabe o que isso significa ? SABE ? - perguntou sacudindo o grego e completamente alterado.

O Escorpiniano apenas conseguiu negar com a cabeça.

- Significa que eu sou uma mxxxx Milo. Significa que eu sou um bxxxx que não tem nenhum cargo de responsabilidade porque acham que eu não tenho capacidade. Só que EU TENHO. E você sabe o que é isso?

- Dido...

- Isso é preconceito, Milo. Eu não tenho NENHUM cargo, eu não ensino NADA, eu não posso NADA porque eu sou um FILHO DE UMA PXXX DE UM IMBECIL DE UM VIADO QUE SÓ SABE DAR O CX.

O grego abraçou o Pisciano que tremia violentamente.

- "Por que a gente não põe o viadinho para fora do Santuário?" – Afrodite falava em voz de falsete - "Para quê ? Deixa ele aí. Ele está na última casa mesmo. Os inimigos terão que passar por uns onze machos antes de chegarem até a deusa." "E se passarem pelos onze ?" "Aí é só ele tirar a roupa e oferecer o rabo, quem sabe eles não gostam de comer cx de viado". - terminou de falar e desabou no choro.

Milo apertava mais o amigo junto de si. Os soluços de Afrodite sacudiam a ambos. O Escorpiniano não conseguia pronunciar uma palavra. O amigo estava coberto de razão. Com certeza era assim que pensavam. Acreditava até na possibilidade de terem REALMENTE falado isso do Pisciano.

- Me desculpa. - disse afagando o rosto do amigo - Eu também tenho culpa nisso. Nunca procurei te ajudar mostrando aos outros o quanto você é capaz e te apoiando para você ter mais responsabilidades.

Afrodite só chorava nos braços do grego.

- Eu estive muito ausente, só pensando em mim. Me perdoa. Eu sou mesmo MUITO egoísta. Só pensei em minha felicidade e esqueci de você. Por favor, me perdoa. – falou enquanto apertava mais o amigo no abraço e afagava seus cabelos.

- Não é culpa sua, Mi. - disse enxugando os olhos e se soltando um pouco do abraço para olhar o grego nos olhos. - Uma andorinha só não faz verão. Não adianta você falar. E se você ficar falando muito de mim, é mais provável que eles achem que você é viado e tirem as suas responsabilidades também.

- Não importa. – falou passando a mão no rosto e no cabelo do sueco - Posso ser só uma andorinha, mas eu vou tentar.

O grego pegou o rosto do amigo entre as mãos e deu-lhe um beijo na testa.

- Eu te prometo. Eu já sei até com QUEM vou falar e o QUÊ você vai fazer. - falou sorrindo.

- O que é ? - perguntou sorrindo enquanto enxugava as lágrimas.

- Surpresa. Confie em mim. Mas antes eu tenho umas coisinhas para resolver com um certo Aquariano que o tratou muito mal.

- Mi, não vai brigar com ele.

- Ele não podia fazer isso com você. – falou secando o rosto do Pisciano – Mas não se preocupe. - deu outro beijo na testa do amigo - Isso eu resolvo hoje.

- E quando você vai falar de mim ? – perguntou esperançoso.

- Dido, se até o final do mês você não tiver uma nova atribuição, eu me DEMITO do cargo de cavaleiro de Escorpião.

- Tá poderoso assim ? – perguntou sorrindo.

- Você ainda não viu nada. – respondeu piscando.

Kamus saia da primeira casa e começava a subir as escadas quando ouviu uma voz conhecida.

- Mestre ! Mestre !

Virou-se e desceu os degraus para falar com seu discípulo.

- Oi Hyoga, você quer alguma coisa ?

- Você pode entregar este CD ao Milo ? Amanhã vamos ter aula livre e ele ficou de me ensinar a tocar a segunda e a quarta música. Por favor, não esqueça, pois já tem quase uma semana que ele está prometendo e estamos querendo incluir uma destas músicas no show.

- Pode deixar. – disse pegando o CD - E como está o treino para o show de um ano da Fundação ?

- Está ótimo. Todos têm se esforçado muito. Sem contar que o Milo tem sido dez. Ele é muito bom profissional, além de excelente professor. Tem uma paciência inacreditável. Ele ajudou a gente a corrigir vários problemas nas músicas que já escolhemos.

- Que bom. Continuem ensaiando. Pode deixar que entrego o CD ainda hoje, sem falta.

- Obrigado Mestre. Oi Mu !

Mu que estava no alto da escada fez um aceno ao menino. Ser o guardião da primeira casa dava muito trabalho já que atenção e concentração eram indispensáveis para avaliar os cosmos que chegavam no local.

- Olá Hyoga. Eu e o Kamus tomamos um lanche juntos, mas ainda sobrou muito bolo e sanduíche, você não quer tomar um lanche com o Kiki antes de ir embora ?

- Oba ! Obrigado Mu, quero sim.

O Aquariano acompanhou o pupilo até a casa de Mu e depois subiu as escadarias. Ainda precisava passar em Virgem para entregar alguns formulários de avaliação dos alunos, que Atena tinha pedido.

Milo descia da casa de Afrodite e pensava nas ações do Aquariano. Kamus não tinha o direito de tratar o Pisciano daquele jeito. Provavelmente a ação do francês desencadeara a reação autodestrutiva do morador da décima segunda casa.

O grego ficou bravo. "Kamus é tão controlado, como pôde fazer isso com o Dido ?" pensou. Passou por sua casa e ia começar a descer as escadas quando viu que o francês saía da casa de Virgem. Ficou esperando.

Mal o francês chegou, Milo já disparou.

- Kamus, que história é essa de tentar bater no Afrodite ? Já não basta o que você faz comigo, não ? - falou em tom desafiador e cruzou os braços esperando resposta.

O Aquariano olhou o amigo e ficou um tempo pensativo. Tinha que agir, ou fazia agora ou não conseguiria nunca mais. Precisava de autocontrole, não podia se deixar levar pelas emoções. Tinha que tratá-lo com frieza. Era a única chance de ambos.

- Tem razão. Acho que já basta o que faço com você.

Milo perdeu um pouco o tom ameaçador e ficou um pouco desconcertado pela concordância do outro

- Como assim ?

- Acho que já basta.

- O que você quer dizer com "já basta" ? – falou descruzando os braços.

- Quero dizer que já basta. Acabou.

O Escorpiniano engoliu seco. O francês não podia estar falando sério. Sorriu antes de falar.

- Tudo bem, Kamus, você quer brincar. Não acha que deveríamos conversar um pouco antes ? - falou em tom amistoso, mas com muito medo. Tremia um pouco.

Kamus balançou a cabeça negativamente.

- Milo - suspirou - eu estou dizendo que acabou, de verdade. Não dá mais para continuar. Não vale a pena.

- Mas por quê ? - o desespero do Escorpiniano era evidente. Abriu os braços e ficou com as mãos no ar.

Kamus, com muita dor no coração reuniu toda sua frieza para responder. Não conseguiu olhar para o amigo ao falar. Andou um pouco e ficou de costas.

- Ora Milo, talvez para você significasse outra coisa, mas para mim...

Kamus virou-se para encarar o amigo, precisava VER a reação Dele e saber o que o outro sentia. Quando falou, não expressava nenhum sentimento.

- ...era APENAS sexo.

Milo deixou as mãos cair ao longo do corpo. Olhou para baixo. Apenas repetiu as últimas palavras do Aquariano.

- Apenas sexo.

Kamus não podia voltar atrás. Tinha que acabar com tudo agora. Seria melhor para ambos. Precisava inclusive desestimulá-lo a prosseguir neste tipo de relacionamento.

- É. Apenas sexo. – confirmou - E confesso que fiquei constrangido quando você me disse AQUILO há duas semanas - falou rindo um pouco.

- Aquilo ? - Milo olhou para Kamus sem entender.

O Aquariano se penalizou. O amigo parecia um zumbi, só repetindo o que falava. Certamente estava muito abalado, mas Kamus não podia demonstrar piedade.

- É. Quando você me disse "aquelas" palavras proibidas. O "eu te..." você sabe.

Milo lembrou-se do ocorrido.

Estavam em sua cama, depois de uma noite maravilhosa. Milo tinha se aconchegado nos braços de Kamus pouco antes de apagarem a luz.

- Kâ, eu gosto muito de você. Não, na verdade, eu não gosto. - parara para olhar nos profundos olhos azuis do francês. Beijara-lhe novamente e aproximando-se do seu ouvido confessara - Eu te amo.

Milo ficou muito aborrecido.

- Quer dizer então que você se incomodou quando eu disse "Eu te am.." - sorriu em tom sarcástico - desculpe, você se incomodou quando eu disse AQUILO ? - ficou olhando Kamus com ar de superioridade.

O francês ficou com um pouco de medo, mas não demonstrou.

- É.

- Ok Kamus, não precisa mais se preocupar. Você não vai mais ouvir AQUILO.

- Olha, é... eu acho que podemos continuar a ser amigos e eu não quero que você fique...

- Não precisa continuar. Eu já entendi. Apenas sexo, lembra ? - falou ainda em tom sarcástico.

O Aquariano ficou mudo e olhou para baixo.

- Não se preocupe Kamus, não estou reclamando da sua qualidade. As transas foram de fato muito boas.

O francês encarou o Escorpiniano. Por trás da raiva, pôde perceber que Milo estava MUITO magoado. Viu que os olhos do grego brilhavam com as lágrimas que começavam a lhe encher os olhos. Sabia que o orgulho do amigo não o deixaria chorar na sua frente.

- Era só isso ? Já acabou, Kamus ?

- Milo, eu...

- Acho que sim. Não temos mais nada para conversar.

- Mas eu...

- Não se preocupe. Obrigado pela sinceridade. Acho que até podemos continuar a ser amigo. Adeus.

Sua voz estava alterada. Kamus sabia que Milo não agüentaria muito tempo até as lágrimas começarem a cair. Gostava de Milo, não, na verdade o amava. E por amor decidiu respeitá-lo em sua dor. Concordou positivamente com a cabeça e virou-se, começando a subir as escadarias. Não olhou para trás. Não sabia se conseguiria resistir se fizesse isso.

Assim que Kamus virou-se, a primeira lágrima correu por sua face, seguida de muitas outras. Milo acompanhou um pouco o amigo com o olhar e depois entrou. Encostou-se em uma pilastra e deslizou por ela, caindo sentando do chão.

Tudo o que passara ao lado do Aquariano passou-lhe como um flash pelos olhos. Tantos momentos felizes, tantos sorrisos, tanta alegria. Tudo acabado.

Batalhara muito e conseguira conquistar seu grande sonho, mas no final, perdera. O francês não estaria mais em sua cama, não estaria mais em seus braços, não seria mais seu.

Milo não tinha mais forças para lutar, Sua esperança o tinha abandonado.

- No fundo - falou com a voz embargada pelo choro - eu sabia que era impossível.

Abraçou os joelhos e chorou, os soluços sacudiam o corpo fragilizado. As lágrimas desciam sem cessar por sua face angustiada.

A guerra tinha acabado. Seu coração estava em pedaços.

O sonho tinha chegado ao fim.

Estava feito. Kamus voltara a controlar os sentimentos. Não tinha mais volta, estava tudo acabado. Entregara a própria alma, mas isso não significava mais nada. Uma lágrima desceu sobre o rosto do francês e ele não a secou. Nada mais importava.

O Aquariano ainda andava, mas por dentro, estava morto.

Próximo capítulo - No próximo capítulo, Milo decide sair e acaba se lembrando da sua primeira vez com Kamus. Em seu templo, o francês culpa a si próprio por sua amargura.

OBS: O próximo capítulo contém material erótico - verifique a indicação de permissão de idade do site antes de prosseguir.

Nota da autora:

Obrigada a todos que escreveram. Agradecimentos especiais: Senhorita Mizuki, Pipe (ofereço a parte do Dido especialmente a você, por não se incomodar que eu o chame de Dido. Beijinhos), Anjo Setsuna (você é um Anjo mesmo. Minha fiel escudeira, sempre alerta ainda me citou no blog dela. Ela não é fofa ? Obrigada mesmo.), Ilia Chan (desculpe por ser TÃO má e te deixar curiosa com relação aos próximos capítulos); Fernando (que apesar de gostar de mulher tem lido a fic e me dado algumas dicas) e a todos os que tem acompanhado a fic. Escrevam por favor ! Nem que seja para dizer que está horrível e que eu enrolo demais !

Beijinhos.