Recordações

Recordações - Fase: Cartas - Capítulo III – As cartas abertas

No capítulo anterior, Milo chorou ao achar que o amigo não se interessava mais por ele e Ian o consolou. Kamus leu a última carta lacrada ficou com receio de ler a próxima carta por ter devolvido todas as cartas anteriores do Escorpiniano, enquanto estava na Sibéria.

...pensou no que tinha acabado de ler. Ele PRÓPRIO mandara devolver TODAS as cartas, INCLUSIVE as de Milo. Nem tinha se dado o trabalho de saber quem escrevera, pediu simplesmente para devolverem.

Algo lhe dizia que a resposta do porquê do grego não tocar no assunto da paixão que sentia encontraria na próxima leitura. Voltou a olhar para as estrelas. O Aquariano estava ganhando tempo e coragem. Estava com medo de ler a próxima carta.

oOo-

Capítulo III – As cartas abertas

Kamus ainda estava temeroso.

Agora estava explicado tanto carimbo de DEVOLVIDO nas cartas anteriores. Como as cartas não eram abertas, Milo apenas acrescentava um envelope a mais a cada devolução.

O francês pegou a próxima carta vagarosamente. O destinatário não era mais o Aquariano. A carta era destinada ao grego e estava aberta. Olhou bem a letra do envelope. Parecia a letra do... virou o envelope para ver o remetente. Estava certo.

Apesar do remetente assinar como "um amigo", era inegável. A letra era do próprio Escorpiniano.

"Mas por que ele enviaria uma carta a si mesmo ? Será que estava ficando doido ?" pensou.

Colocou a carta novamente na caixa, mas a curiosidade falou mais alto e violou a correspondência do amigo.

Kamus foi logo para o final da carta, certificar-se quem assinava. Estava assinado como "Milo". O francês ainda se perguntava por quê o amigo escreveria para si próprio.

Voltou para o início da carta e iniciou a leitura. O que leu, o chocou.

-oOo-

Recordações – Cartas: A primeira carta aberta

"Santuário, xx de Setembro de xxxx

Milo,

Estou te escrevendo porque tenho acompanhado a sua trajetória em busca daquilo que você nunca vai ter.

É claro que eu estou falando do amor do Aquariano.

Pare de rastejar como um verme atrás dele. Você não percebe que ele está pouco se lixando para o que você está sentindo ? Ele devolveu TODAS as suas cartas e nem o trabalho de abrir, teve.

Além disso, ele SEQUER mencionou a promessa de estar presente no seu aniversário na última carta que enviou. É isso que você chama de consideração ?

Chega de ficar implorando uma resposta que você sabe que nunca vai vir.Chega de ser submisso e ficar mendigando atenção.

E não adianta mais mandar cartas e nem mentir dizendo "aqui no Santuário temos uma realidade diferente do resto do mundo e é mais fácil nos aceitarem". Francamente, Milo, você acha que o Kamus é TÃO imbecil a ponto de não se lembrar de como os outros tratam o viadinho do Afrodite ? Não seja estúpido.

Então pare de agir que nem uma garotinha e ficar chorando pelos cantos. Não era você que dizia que era forte e que não chorava ? Que patético !

Acorda ! A verdade é uma só: seu amiguinho não te quer.

Você não lembra o que ele falava do relacionamento de dois homens ? "Esse tipo de relacionamento está fadado ao fracasso. Não vale a pena".(1)

Tanta angústia, dor e sofrimento para quê ? Para ser enxotado como um cachorro ? Desprezado como um traste ? Ignorado como um verme ?

Mas se o que você quer é fazer papel de imbecil, escreva para ele, implore uma resposta, rasteje no chão, suplique para que ele se lembre de você. Quem sabe ele não manda outra carta dando parabéns ao Shaka e ao Aioria, e nem se recorde que prometeu estar aqui no seu aniversário.

E não me diga que você realmente achou que ele se preocuparia com os seus sentimentos ou que algum dia ele sentiria algo por você. Achou ?

Francamente, assim você me decepciona, Milo.

Chega de sofrer. Jogue esta sua paixão no lixo. Isso não passa de um "sentimento barato", como seu querido "amiguinho" costuma dizer.

E não foi você quem disse que o considerava seu melhor amigo ?

Acho que ele não te considera tanto assim senão, jamais esqueceria do "melhor amigo".

Bom, talvez seja outra coisa, talvez ninguém tenha se lembrado de ensinar para o Kamus o significado da palavra amigo... Vai saber...

Ele vai chegar depois de janeiro, se você preferir, espera ele voltar e se declare para ver o que acontece. Oh, que lindo ! Que romântico !

Vou te dizer o que vai acontecer. Você vai conseguir acabar com esta amizade e com o pouco de consideração que o Kamus tem por você. Bem, como a consideração e a amizade são tão pequenas, talvez você não tenha NADA a perder mesmo.

Faça, se quer continuar com o papel de idiota.

Não era você que tinha um sonho de infância de ser um cavaleiro memorável ? Como você quer ser lembrado no Santuário ? Como a bicha mais submissa ou como o imbecil mais suplicante ?

Acorda grego. Ele NUNCA vai sentir NADA por você.

E você sabe por que, Milo ? Porque o Kamus não tem coração. Ele tem uma pedra de gelo no lugar.

Ele é muito frígido para sentir QUALQUER coisa por alguém e muito egoísta para se preocupar com o que sentem por ele. A única preocupação que ele tem é se tornar o melhor cavaleiro do Santuário. E o resto ? Incluindo você, é completamente desprezível.

Pense a respeito.

Seu verdadeiro amigo,

Milo"

-oOo-

O francês tentou ficar impassível à leitura, mas não conseguiu. Seu coração estava apertado e sentia um nó na garganta. Estava muito magoado.

Era assim que o amigo o via, como uma pessoa vazia, egoísta e incapacitada para amar e ser amado.

O mestre da água e do gelo tinha sofrido muito na Sibéria, mas foi obrigado a passar por seu sofrimento calado. Não tinha autorização do Mestre para dividir as suas dores com ninguém. Às vezes chorava escondido durante o banho, sentindo-se abandonado e desprezado. Percebeu, dolorosamente, que a única forma de passar vivo por tudo aquilo, seria desenvolver um autocontrole sobre-humano e fingir que tudo estava bem. E foi o que fez quando chegaram as cartas. Os deuses sabiam o quanto ele ansiava por um contato com os amigos por tudo o que tinha sofrido, mas achou que poderia ser um teste do Mestre. Sob suas ordens não podia ler as cartas e agora, que estava sem a supervisão dele, não podia sucumbir. Era melhor sofrer de saudades que perder a confiança do Mestre.

O francês deixou a carta de lado e colocou a mão no rosto. Estava profundamente abalado com o que o amigo achava dele.

Depois de algum tempo, se levantou e respirou profundamente.

- Calma Kamus. Ele não pensa isso de você. Ele te ama. Ele só escreveu isso porque estava magoado.

O Aquariano sacudiu tristemente a cabeça em negativa. Não. Se Milo escreveu e mandou para si mesmo aquela carta, era porque o francês tinha sido realmente desprezível aos olhos do amigo tão querido.

- Kamus. – disse novamente para si mesmo tentando resgatar o seu autocontrole – veja a carta. Está manchada. Ele chorou enquanto relia.

A carta realmente tinha algumas manchas, o que demonstrava que o grego tinha chorado sobre ela, mas o que o francês tinha lido, não ia se apagar do papel.

Apesar da carta já estar mole, o que aparentava que o Escorpiniano torturara a si próprio várias vezes, se alimentando daquela leitura venenosa, a devastação a que aquela carta se propunha tinha sido completa. Não só conseguira convencer o grego a reprimir o seu sentimento, como tinha arrasado o Aquariano.

Era este o motivo do amigo não ter falado nada na sua volta. O amor que antes sentia tinha se transformado em ódio.

Kamus sentiu seu coração apertar tanto que achou que fosse parar. Estava se sentindo pior do que se estivesse no inferno. Achou que nem o pior dos inimigos seria capaz de uma destruição tão grande.

Dobrou novamente a carta e colocou-a novamente no envelope. Foi até o banheiro e lavou o rosto. Estava com uma aparência péssima.

Voltou a respirar profundamente e depois suspirou. Foi novamente até a janela e ficou olhando para as estrelas. Precisava de forças para ler as duas cartas que faltavam.

Refletiu um pouco. Não tinha palavras para dizer o quanto aquela leitura tinha afetado seu interior. Um sentimento destrutivo se apossou do Aquariano. Em um momento de recaída, encostou-se na parede e deslizou até o chão. Colocou a cabeça entre os joelhos e chorou.

Não dava para voltar no tempo. O estrago já tinha sido feito. A carta tinha conseguido envenenar o coração dos dois. Um com ódio, outro com mágoa.

A música embalava os passos do grego, que se soltava junto dos dois novos amigos. A pista já estava bem cheia. Remo, um dos gêmeos estava de papo com um belo rapaz.

- Você entendeu direitinho, Marcus ?

- Claro Remo. Não ser preocupe, essa fica por aquele dia lá no galpão.

- Fechado. – disse o gêmeo.

Remo procurou o irmão com os olhos. Encontrando-o, fez um sinal sutil para o irmão.

Rômulo ao longe fez um sinal para a garota que dançava com Milo e o francês.

A menina viu o sinal e aproximou-se do ouvido do francês para falar, pois a música era muito alta para se ouvirem. Ian concordou com a cabeça e depois chegou ao ouvido do Escorpiniano, para falar também.

- A Kelly pediu para eu pegar uma água para ela. Você quer alguma coisa ?

- NÃO. – gritou o grego para o outro ouvir.

O francês saiu e se perdeu na multidão. Milo e a garota continuaram dançando. Pouco tempo depois os gêmeos chegaram perto do grego.

- OI GATO. TENHO UMA COISINHA PARA VOCÊ. – um deles gritou para que o grego o ouvisse.

- O QUE ? – perguntou sem muito interesse.

O gêmeo colocou a mão no bolso da calça, retirou um papel e desdobrou. Tinha três pílulas coloridas dentro. O outro gêmeo chegou com dois copos com água.

- E AÍ ? QUEM VAI PRIMEIRO ? – perguntou.

Milo ficou mudo, apenas olhando para os gêmeos.

- O QUE FOI, GATINHO ? ESTÁ COM MEDO ? – perguntou o primeiro gêmeo

- NÃO SEJA IDIOTA REMO. ESTÁ NA CARA DELE. ELE NUNCA USOU.

- VOCÊ NUNCA USOU ? – o primeiro gêmeo perguntou.

O Escorpiniano movimentou a cabeça de um lado para o outro lentamente, em negativa, confirmando que nunca tinha experimentado drogas.

- NÃO PRECISA SE PREOCUPAR, EU JÁ USEI E NÃO PEGA NADA. – a menina explicou.

- ESTÁ COM MEDO ? – Remo perguntou – EU TOMO PRIMEIRO.

Pegou uma das pílulas, colocou na boca e depois tomou a bebida por cima. Abriu a boca para mostrar que tinha engolido. Rômulo e a menina vibraram.

- TOMA. – o gêmeo ofereceu a Milo.

- OBRIGADO. EU NÃO QUERO.

- ESTÁ COM MEDO ? NÃO TEM CORAGEM SUFICIENTE, NÃO ? – desafiou Remo.

- EU SIMPLESMENTE NÃO QUERO.

- OLHA SÓ ! O GATINHO É MEDROSO. ACHA QUE VAI MORRER SE TOMAR. – disse tirando sarro - ISSO NÃO MATA NÃO, GATO. A KELLY TOMA DE VEZ EM QUANDO E ESTÁ AÍ VIVINHA. – falou apontando com a cabeça para garota - AGORA SE VOCÊ É COVARDE E NÃO É HOMEM PARA AGÜENTAR O TRANCO...

- DEIXA ELE, REMO. ELE NÃO TEM CORAGEM NÃO. É CAPAZ DE TOMAR E VOMITAR DE FRESCURA. NÃO É MACHO O SUFICIENTE PARA AGÜENTAR A ONDA DE UM BARATINHO PEQUENININHO.

- QUER QUE EU DIVIDA NO MEIO ? – Remo perguntou.

Rômulo e Kelly começaram a rir com a pergunta.

- AH! JÁ SEI! VAI ESPERAR O VIADINHO DO IAN CHEGAR PARA PERGUNTAR AO PAPAI SE PODE TOMAR. – Remo completou, o que fez com os outros dois rissem mais ainda.

- É BOM IR ATÉ O BANHEIRO E VER SE VOCÊ NÃO BORROU A FRALDA COM MEDINHO. – Rômulo apontou para o banheiro e os dois gêmeos ficaram rindo.

A garota tirou uma das pílulas da mão do gêmeo e entregou a Milo.

- Pode tomar, não faz mal não. – falou bem perto do ouvido do grego, para ele ouvir.

- Eu não sei.

- Eu estou aqui, o Ian também. Não vai te acontecer nada de mal. É só para experimentar. Se você nunca usou, nem vai te dar nada.

O Escorpiniano aceitou o comprimido da mão do travesti. Era um cavaleiro de ouro e já havia passado por várias batalhas, não seria isso que iria matá-lo, depois, o gêmeo tomou um deles na sua frente e parecia normal, não devia ser tão forte assim. Colocou-o na boca. Rômulo entregou-lhe a bebida. Bebeu meio copo. Era vodka. A bebida desceu queimando sua garganta.

Milo ficou um tempo parado esperando alguma reação. Não sentiu nada. Olhou para os outros três.

- ABRE A BOCA. – um dos gêmeos pediu.

O grego abriu. Estava vazia. Os outros três vibraram.

A menina pegou seu rosto e o virou para si. Passou a mão pelo corpo do grego e começou a dançar sensualmente com ele, com o rosto quase colado no seu, olhando profundamente nos seus olhos. Milo sorriu para o travesti, que sorriu de volta.

Os dois gêmeos olharam um para o outro e sorriram. Viraram e foram embora.

- Você não deixou o comprimido cair, não é ? – perguntou Rômulo.

- Claro que não. – Remo mostrou o comprimido ainda na mão, preso entre os últimos dois dedos.

- Achei que ele ia ver que você não tinha colocado na boca.

- Eu sou um expert. – Remo comentou sorrindo e depois se aproximou do irmão.

Segurou o rosto do outro gêmeo e o beijou apaixonadamente.

- Você não está com vontade de fazer sanduíche ? – perguntou soltando-o.

- Estou.

- Vou providenciar para você. – Remo falou acariciando o rosto do outro.

O irmão sorriu em resposta.

- Quer que eu tente falar para o Marcus levar o Ian logo para um motel ? – Rômulo perguntou logo em seguida.

- Não. Eles ainda estão se beijando. Deixa o francês aproveitar. O Marcus sabe o que faz. – respondeu o outro gêmeo, voltando a observar maliciosamente o Escorpiniano.

Kamus ainda estava chocado pela última carta que lera, mas já estava melhor. Tinha se levantado, lavado novamente o rosto e em seguida ido até a cozinha beber um pouco de água. Ficara muito abalado ao tomar conhecimento do seu conteúdo.

Voltou para o quarto e pegou a próxima carta. Tinha a data apenas escrita por fora, à mão. Não estava lacrada, mas também era endereçada ao Aquariano.

O francês se sentou para ler.

-oOo-

Recordações – Cartas: A carta inacabada

"Kamus,

A amargura que sinto agora é tão grande que se a morte viesse e me fizesse em pedaços, a dor ainda seria menor.

Perdão. Perdão meu amigo, pelo mal que te causei.

Eu prometi nunca mais te escrever, mas depois do que aconteceu, minha promessa não tinha mais razão de existir.

Eu sei que não vou conseguir colocar esta carta nas suas mãos, mas acho que escrevo mais para desabafar, tudo o que estou escrevendo é o que gostaria de estar te falando.

Me perdoe. Me perdoe por ter sido tão fraco.

Se fosse feita a justiça, eu seria queimado vivo por minha ingenuidade como cavaleiro. Não cumpri o meu trabalho e falhei em minha missão.

Quando aquele garoto loiro entrou em meu templo, carregando um outro garoto nos braços, eu o menosprezei. Ele era muito determinado e me disse muita coisa sobre acreditar em um sonho e lutar por ele, mas eu apenas ri.

Só agora vejo o quanto fui cego.

Depois de concentrar meu cosmo e pedir a sua aprovação, lutei duramente com ele e o derrubei, mas uma parte de mim se penalizou e eu simplesmente não consegui matá-lo.

Como eu podia destruir um cavaleiro do gelo, que aprendeu as suas técnicas, sentindo o que ainda sinto por você ? Eu não estaria destruindo também uma parte sua ?

Mas apesar dele parecer frágil, ele se mostrou forte e se levantou. Inexplicavelmente lutou comigo e me venceu. Saiu lentamente do meu templo, foi à sua procura e depois de algum tempo, eu senti.

Meu amigo, como eu gostaria de ter evitado o que aconteceu. Se eu soubesse que aquelas palavras, durante a batalha com o seu pupilo, seriam as últimas que eu trocaria com você...

Uma dor profunda apertou meu coração quando o seu cosmo deixou o Santuário. Era impossível de acreditar. Meu corpo se entregou à dor e eu caí de joelhos e chorei.

Eu não entendo porquê você fez isso. Eu sei que a maior alegria de um Mestre é o dia em que é superado pelo pupilo, mas por quê você se deixou morrer ? Foi para se separar de mim ? Não bastou o meu martírio enquanto você esteve fora na Sibéria ? Todo o meu sofrimento não foi suficiente ?

Eu não sei quanto tempo depois, eu senti o cosmo Dela na minha casa. Eu não podia deixar que Ela visse as minhas lágrimas e não me achasse digno como cavaleiro, então sequei o rosto.

Ela chegou perto de mim e eu me ajoelhei em sinal de respeito, então Ela tocou meu ombro e levantei meu olhar. Ela me disse que a partir daquele dia, eu lutaria apenas pela justiça e depois, me pediu para acompanhá-la.

E foi aquela criança, Kamus, aquela garota de cabelos longos e cosmo suave que me deu o pior castigo de todos: te ver sem vida.

Eu sabia que não ia resistir ao choro, então fiquei pouco tempo com você. A pedido Dela peguei seu pupilo no colo e subi, mas ao olhar aquele garoto em meus braços, um único sentimento tomou conta de mim: vingança. Em minhas mãos estava o seu assassino, o assassino do meu amor.

Fiquei louco de ódio e nem sei como a razão me fez voltar à realidade e ver que era exatamente o contrário. Era o seu pupilo quem era levado pelas mãos assassinas. Foram estas mesmas mãos que te escrevem, que selaram a sua sepultura. Foi a minha fraqueza como cavaleiro fez com que ele passasse por mim e o vencesse. Exatamente como você queria.

Por que eu fiz isso ? Por que não fui forte o bastante ?

Tudo estava perdido. Eu nunca teria mais a possibilidade de te tocar e jamais sentiria o toque de suas mãos. Eu não seria mais observado por seus belos olhos azuis, nem ouviria mais a sua voz. Não levaria mais suas broncas, nem te tiraria mais do sério com as minhas brincadeiras. Os lábios que eu tanto quis beijar, jamais se moveriam novamente.

Percebi que nunca mais poderia te dizer o que eu sentia. Percebi que nunca mais poderia te dizer o quanto te amo. Percebi que nunca mais poderia te dizer nada..."

-oOo-

Kamus parou de ler. Algumas manchas no papel demonstravam que Milo chorava enquanto escrevia.

O francês reclinou a cabeça para trás e pensou no pupilo.

Tinha se esforçado muito para derrotar Hyoga, mas ele demonstrara que era realmente bom.

Hoje tinha maturidade suficiente para analisar friamente e saber que perdera a batalha porque a determinação do russo era maior. Kamus tinha um pupilo para testar. Hyoga tinha uma deusa para defender.

O Aquariano sentiu-se desprezível. O pupilo tinha uma causa muito mais nobre para correr atrás dos seus objetivos, o francês tinha apenas vaidade. Queria apenas saber se os seus ensinamentos tinham sido difundidos e assimilados. Kamus era uma vergonha como mestre e como cavaleiro. Colocara o amigo em risco ao lutar com o outro, por mero capricho.

Mais uma vez, a vaidade do Aquariano tinha sido a causadora de sofrimentos.

Se o grego tivesse morrido, Kamus nem saberia o que fazer. Os deuses foram justos em enviá-lo ao inferno. O francês jamais se perdoaria se o Escorpiniano tivesse ido em seu lugar.

Respirou profundamente e ficou alguns momentos pensando, depois, continuou a leitura.

Ian e Marcus, o garoto que antes conversara com Remo, esfregavam-se no corredor. Estavam se beijando há um bom tempo. O rapaz abraçava o francês e passava a mão por suas costas e por sua pernas, sugando seus lábios com vontade. Ian correspondia em igual intensidade.

Dois travestis passaram por onde os dois estavam e conversavam entre si.

- Menina, estou louca de sede.

- Vou pegar uma água que estou morrendo de sede também.

A menção da palavra "água" fez o francês despertar.

- Ai ! Esqueci da água da Kelly ! Fica aqui que eu já volto. – falou para o garoto.

Foi rapidamente em direção ao bar e pediu uma água. Ficou procurando Kelly e o novo amigo com o olhar.

– Sua água, Ian.

Ian pegou a água e andou rapidamente em direção à pista, continuando a procurá-los com o olhar. O primeiro que viu foi o novo amigo. Um dos gêmeos estava atrás dele, passando a mão em seu corpo, enquanto o outro gêmeo à sua frente segurava seu rosto suavemente e tentava beijá-lo, o amigo estava um pouco diferente. Ria junto com os gêmeos e se desviava do beijo.

O gêmeo que estava à sua frente enfiou suas pernas no meio das pernas do moreno. Colou seu corpo no corpo do outro e segurou-lhe o rosto com mais força. O gêmeo de trás o ajudava a segurá-lo. O primeiro irmão aproximou-se da boca do novato e o beijou, enquanto o outro irmão passeava a mão pelo corpo do grego.

O francês estreitou o olhar e ficou furioso. Começou a andar mais rápido na direção deles.

Na oitava casa, Kamus reiniciava a leitura da carta.

-oOo-

Recordações – Cartas: A carta inacabada (continuação)

...percebi que nunca mais poderia te dizer o que eu sentia. Percebi que nunca mais poderia te dizer o quanto te amo. Percebi que nunca mais poderia te dizer nada.

Sabe, hoje passei a tarde na sua casa. Fiquei sentado, encostado em uma pilastra, te vendo no esquife em que te colocaram.

Alguns servos me disseram que você vai ficar no seu templo até que tenha um outro cavaleiro substituto para a casa de Aquário. Para eles você pode até ser substituível, mas para mim, nunca.

Engraçado. Eu pensei que as minhas lágrimas já tinham secado, mas todo dia em que vou te visitar, elas ainda teimam em cair.

Antes de ontem eu tentei desenhar seu rosto nas estrelas, mas não consegui. Chorei muito porque você disse que tínhamos que conseguir desenhar para valer a pena, mas depois eu vi que estava sendo infantil. Eu não preciso te desenhar nas estrelas. Você vale a pena. Eu te levo no meu coração e é assim que eu quero me lembrar de você e não como está no seu templo agora, congelado e sem vida.

Às vezes eu acordo no meio da noite e parece que posso ouvir a sua voz. Você se lembra que sempre que eu fazia alguma coisa que você não gostava, você brigava comigo ? Eu respondia que já estava cheio das suas lições de moral e das suas broncas. Agora, você não faz idéia o quanto sinto falta disso.

Gostaria que você pudesse estar aqui, nem que fosse um único dia, nem que fosse só para me dar uma bronca...

-oOo-

Kamus parou novamente a leitura. Percebeu todo o sentimento que o amigo estava colocando naquele papel e ficou triste por saber que o grego havia sofrido tanto. Passou a mão nos olhos úmidos, para evitar que as lágrimas caíssem.

-oOo-

Recordações – Cartas: A carta inacabada (continuação)

...gostaria que você pudesse estar aqui, nem que fosse um único dia, nem que fosse só para me dar uma bronca.

Me parte o coração, se é que ainda tenho um, te ver dentro daquele caixão.

Juro que tentei me restabelecer da sua perda, mas foi impossível.E é por isso que estou deixando tudo pronto para a minha partida.

Pouco me importa se é proibido ou não. Para mim a vida perdeu o sentido no dia em que você morreu, então não fará a menor diferença.

Eu ainda me lembro da resposta que o Mestre Shion me deu quando eu era bem criança e perguntei porquê um cavaleiro não podia se suicidar. Ele respondeu que se isso acontecesse, a nossa alma não ficaria vagando pelo mundo dos mortos, mas seria destruída definitivamente.

Um outro dia eu estava conversando com a Ilana e ela me falou que na religião dela, quando uma pessoa se mata a alma não é destruída, apenas vai para o inferno.

Sempre falaram que quando um cavaleiro morre a alma passa primeiro pelo inferno, então, se ela estiver certa e a alma não for destruída definitivamente, eu ainda tenho uma chance de te encontrar.

Eu já deixei tudo planejado. Meus últimos minutos de vida serão naquele monte em que o pessoal costuma pular de asa delta. Além de ser um lugar alto, tem várias pedras pontiagudas lá em baixo e o mar é bem violento. É realmente um lugar perfeito.

Por favor entenda que eu PRECISO morrer e não me recrimine. Eu não quero mais a vida e não vou lutar por ela.

Eu acabei de me lembrar o que me disse quando passou pela minha casa, em direção à casa de Libra para esperar o seu pupilo ? Você disse que ele precisava te mostrar que era bom, porque existiam vários cavaleiros, mas só os mais dignos mereciam estar vivos.

Acho que é isso. Não me sinto mais digno.

Mas não me sinto traindo o Santuário. Acho até que nem serei uma perda tão grande.

Parto apenas com a intenção de te encontrar. Quero apenas chegar até você. Só peço que não me rejeite nem me despreze. Eu não ia suportar esta dor. Tenha piedade de mim.

Acabou de pousar um passarinho na minha janela. Ele cantou um pouquinho e foi embora. Me fez lembrar do dia em que você queria que eu tocasse uma música na guitarra, mas como eu falei que não conhecia, você ficou assobiando ela todinha para mim. Era mentira. Eu conhecia a música, mas fazia tão pouco tempo que você tinha voltado da Sibéria que a única coisa que eu queria era você perto o maior tempo possível, mesmo com a minha consciência me falando o tempo todo para te esquecer.

Eu tentei Kamus, tentei mesmo. Acho que até te odiei, mas isso só serviu para o amor vir com mais força depois.

Por favor não me peça controle nas próximas palavras, elas serão as últimas e as lágrimas já não me deixam prosseguir com coerência.

Eu não estou pedindo muito. Quero apenas te ver novamente. Se eu precisar entregar a minha alma para fazer isso, eu entrego. Eu só queria poder te olhar uma última vez e ver um último sorriso seu. Se isso acontecesse, minha alma poderia ser dilacerada, que ainda assim, eu ficaria feliz.

A única coisa que não dá para suportar é a dor de todos os dias acordar e saber que você está morto, que não foi apenas um sonho ruim.

Se não nos encontrarmos mais amigo, saiba que te amei. Amei com um sentimento verdadeiro, que vou levar para sempre em meu peito, ainda que esteja encerrado em um caixão, tal como você está agora.

Desculpe pelas lágrimas que mancham esta carta, mas não tenho mais estrutura emocional para "

-oOo-

Assim terminava a carta. Duas lágrimas correram pela face branca do Aquariano. Kamus se levantou e andou pelo quarto até a janela.

Seu Anjo, seu lindo Anjo sofreu uma dor incalculável. Desejando ardentemente o beijo da morte. Nada mais era importante para o Escorpiniano.

O grego realmente o amava e em uma última tentativa, contrariando sua própria essência e tudo o que acreditava, chamou a morte para se deitar em seu leito. Queria tirar a própria vida, na esperança de poder encontrá-lo uma última vez.

Kamus sentiu um calafrio. Um sentimento lhe atravessou a alma como se fosse uma espada afiada.

"Não" pensou "Ele não tentaria". Ficou um tempo sorrindo e balançando a cabeça em negativa. Parou. Se o grego tentasse, sua alma seria destruída.

- Não seja idiota Kamus, o Milo jamais faria uma coisa dessas. – disse para si mesmo e depois gelou.

Como não ? O grego tinha escrito na carta. Provavelmente já tinha tentado uma vez. Por algum motivo não tinha dado certo, mas o francês não sabia porquê. Ainda havia uma última carta. Poderia lê-la, mas o medo tomou conta de todo o seu ser. Se perdesse tempo lendo, poderia ser tarde demais.

Voou até o telefone e ligou para o amigo. Um telefone tocou. O Aquariano seguiu o som e abriu a gaveta do criado mudo. O celular estava tocando lá dentro. Milo não tinha levado o aparelho.

Kamus saiu correndo da oitava casa em direção ao estacionamento. Entrou no carro e dirigiu velozmente. Alcançou a avenida e depois de algum tempo, pegou a estrada. Continuou dirigindo até que chegou em uma bifurcação. Tomou rapidamente a pista da direita. Sabia que ela acabava exatamente na pequena estrada que subia o monte. Era o mesmo caminho que os praticantes de asa delta tomavam.

Muito tempo já tinha se passado. Kamus acelerou o carro. Era melhor correr.

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI ? – o francês falou furioso, jogando a água no chão e arrancando o gêmeo do beijo.

- Calma, IAN.

- CALMA, O CXXXXXX ! – gritou e puxou o amigo das mãos do outro gêmeo. – Vem Mon Ange.

Pegou o moreno pela mão e o levou pela multidão, para fora da pista. O grego estava meio mole. O francês parou e segurou o outro pelos ombros.

- Ian, não fica bravo. Eu só beijei o Shaka para fazer ciúmes para o Kamus. Eu combinei com ele, foi só para fazer ciúmes. – falou com a voz lenta.

O francês o sacudiu. Ele estava com um olhar diferente, parecia que estava bêbado.

"Será que foi o lambrusco ?" pensou.

Kelly apareceu ofegante atrás do outro.

- Ele está bem ? – perguntou-lhe

Milo respirava descompassadamente e apresentava um olhar perdido.

- Você está bem ? – Ian perguntou-lhe

O novato olhou-o estranhamente. Depois de algum tempo deu um passo em sua direção. Estava completamente ofegante. Abraçou-o um pouco de longe e deitou a cabeça no ombro do francês, com o rosto para o outro lado.

- Mon Ange, você está bem ?

- Estou – falou se aproximando e abraçando-o mais - Eu adoro quando você me chama assim, Kâ.

O moreno gemeu um pouco e Ian se afastou.

- O que foi ?

- Esse barulho e esta luz estão me incomodando. – O Escorpiniano falou colocando a mão no rosto para cobrir a luminosidade.

Ian levou-o para uma das pilastras e o encostou nela. Kelly os seguia.

- Será que ele vai ficar bem ? – a garota perguntou.

- SUA VADIA PEITUDA ! – o francês berrou jogando o travesti contra a pilastra e segurando-o pelos ombros. – ME FALA O QUE ACONTECEU ! – gritou se aproximando bem do rosto do seu rosto - E é bom ser a VERDADE, ou eu arranco seu silicone COM AS MÃOS. – falou raivosamente, apertando o braço do outro.

A menina começou a chorar.

- PARA DE CHORAR E FALA, SUA VACA. – gritou com a garota, sacudindo-a.

- Ele tomou um comprimido... foi só isso. Um dos gêmeos pediu para eu chamar vocês para dançar... porque ele ia oferecer uma balinha pro seu novo amigo... só que ele nunca usou... deve ter ficado mal... é só isso que eu sei... me solta por favor... você está me machucando... – disse entre lágrimas.

- SUA PXXX DESQUALIFICADA ! ELE PODIA TER MORRIDO ! – gritou para o travesti.

A garota chorou mais ainda. Ian voltou a sacudi-la e depois se aproximou bem do rosto dela.

- Tomara que o seu peito seque e caia ! Traveco ridículo. – praguejou soltando a menina.

Ian pegou o braço do novo amigo e passou por seu ombro, ajudando-o a andar. Os dois se dirigiam à saída.

O francês pagou as comandas e saiu com o grego. Chamou um táxi e entraram.

- Vou te levar para a minha casa.

- Tá bom, Kâ. – falou se aconchegando no peito do outro.

Depois de algum tempo chegaram em um prédio mal conservado. O francês pagou o táxi e tirou o moreno de dentro dele.

Abriu a porta do prédio e entrou. Começaram a subir.

- Para onde você está me levando ?

- Para a minha casa.

Pararam em frente a uma casa. Milo olhou para o número.

- Onze ? – o grego perguntou duvidoso.

- É.

- Aqui é a décima primeira casa ?

- Se prefere desta forma, oui, é sim.

Entraram. Ian acendeu a luz e Milo automaticamente se virou para o outro lado.

- Pardon, esqueci que incomodava. Venha – falou puxando o grego para o quarto – é melhor você se deitar um pouco.

Entrou no quarto e deixou o outro na porta. Voltou e acendeu a luz da sala. Pegou o outro na porta e entrou com ele, deixando a porta um pouquinho aberta para entrar uma pequena claridade.

Sentou o Escorpiniano na cama e tirou seus sapatos. Milo ainda estava ofegante.

- Calma Mon Ange. Assim que você acordar vai se sentir melhor.

- Mon Ange ? – perguntou puxando o francês para cima do seu corpo.

- O que você está fazendo ?

- Me chama de Mon Ange.

- Pourquoi (por que) você quer que eu te chame de Mon Ange ?

Mesmo à meia luz, Ian percebeu que o outro sorria. O Escorpiniano puxou o rosto do francês e o beijou longamente.

- Nós estamos na décima primeira casa ? – perguntou.

- Oui, Mon Ange, estamos. – o francês respondeu.

Milo puxou novamente o outro para mais junto de si, tirou-lhe a camisa e depois o beijou.

Ian parou de beijar a boca do moreno e tirou-lhe a camiseta. Em seguida tirou sua própria calça. A cueca que o francês vestia não escondia a sua excitação e seu membro já despontava fora dela. Em seguida desabotoou a calça do novo amigo e começou tirá-la. O moreno também estava excitado. Colocou a mão na cueca do outro e tirou, depois tirou a própria cueca.

O grego se arrumou na cama e puxou o outro para cima de si. Se aproximou do ouvido do francês e fez uma confissão.

- Eu quero te sentir dentro de mim, Kamus.

O francês ficou um tempo parado, digerindo o que o outro lhe disse, depois foi puxado para um outro beijo.

Depois de alguns minutos se beijando, o belo jovem simplesmente parou de beijar o francês.

- Mon Ange ? – perguntou assim que o outro parou de corresponder aos beijos.

O outro não respondeu. Chamou-o mais três vezes. Nenhuma resposta

Levantou-se acendeu a luz. O amigo tinha apagado. Abaixou-se sobre o seu rosto para saber se estava respirando. Estava.

Chamou-o novamente, mas ele não respondeu. Tinha apagado completamente.

O francês olhou novamente para o belo garoto que estava deitado em sua cama.

- Mon Ange ? - chamou para ter certeza que não estava ouvindo.

O francês colocou a mão no próprio sexo. Seu membro doía de excitação.

Ian subiu na cama e puxou o moreno um pouco para o lado.

- Não se preocupe Mon Ange.

O francês se abaixou, aproximou-se da boca do outro e o beijou.

- Vou cuidar de você direitinho. - disse deslizando a mão pelo corpo bronzeado do grego.

No próximo capítulo, Kamus sai à procura do grego. O francês vai até a casa de Afrodite pedir ajuda e acaba fazendo uma descoberta. Kamus lê a última carta do grego e compreende várias coisas. Milo acorda e se culpa por ter passado a noite com Ian.

(1) Frases ditas por Kamus ao ser questionado por Shura o que achava de um relacionamento entre dois homens na fase Fotos - Capítulo I – Os amigos (fic Recordações)

Nota da autora - agradecimentos: Gostaria de agradecer a todos que escreveram.

Ana (Nica-Bel) – Que me mandou outra historinha com o Mi e o Kâ. Divertidíssima ! (Vou ler sua fic esta semana sem falta !)

Pipe – Que se solidarizou com os homossexuais, vítimas de preconceitos variados. (realmente não é fácil)

Anjo Setsuna – Que também fez coro contra os preconceituosos e estava ansiosa pelo próximo capítulo (aqui está. Espero que tenha gostado)

Ilia-Chan – Que pediu para os meninos sofrerem menos e terem um pouquinho de felicidade. (desculpe Ilia, como disse, estou na minha fase MUITO má)

Ia Chan – Que está curiosa para saber sobre o relacionamento entre Milo e o Aioria (vocês vão descobrir no próximo capítulo o que aconteceu entre os dois)

Dricka – Também implorou para os meninos pararem de sofrer (como eu disse para a Ilia, estou na minha fase MUITO má e quase passando para EXTREMAMENTE má, mas logo eu volto só a ser má)

Fernando – Que ficou todo cheio porque eu contei de onde surgiu meu nick. (É claro que escolhi este nick por sua causa, Belo. Satisfeito com a declaração ?)

Bjinhos a todos e até o próximo capítulo. Podem escrever para comentar, sugerir, reclamar, criticar ou contar historinhas dos douradinhos Mi e Kâ. Eu me divirto muito.

Nota da autora: contato.

Podem me contatar via e-mail no erika(ponto)patty(arroba)gmail(ponto)com ou via review neste site.