Capítulo III

Enterros eram horríveis, mas aquele parecia infinitamente pior. Muitos estavam em silêncio. Artur murmurava algo estranho. Rony, Fred, Jorge, Carlinhos e Gui estavam juntos e em um canto, tentando se consolar. Harry, Hermione e Gina estavam abraçados e em silêncio, o rosto lavado pelas lágrimas. Percy estava afastado, balançando a cabeça, em um desespero mudo, se culpando internamente pela morte da mãe. Não haviam nem reconsiderado as relações. Tonks e Remus estavam juntos, o rosto dela inchado e os olhos dele vermelhos. Muitos membros da Ordem estavam presentes, mudos ou conversando baixinho, pensando quantos ainda teriam que enterrar.

"Eu não posso acreditar." - disse Tonks, analisando tristemente o caixão de madeira escura. - "Molly sempre esteve ali, presente."

Remus concordou com a cabeça.

Quim Shacklebolt chegou perto deles e colocou a mão no ombro dos dois, dizendo com sua voz grave algumas palavras de consolo.

"Infelizmente a vida é assim." - disse ele, vendo o bruxo albino se preparar para fechar o caixão e enterra-lo. - "Mas o que importa é que a gente continue fazendo o que Molly nos ajudava. E que nós achemos Dumbledor..."

Ele pareceu com dificuldade de continuar falando. Isso também era um assunto dolorido.

O bruxo albino fechou o caixão e começou a desce-lo. Quase todos foram para frente, acompanhar o triste movimento. Os únicos que não fizeram isso foram Remus e Tonks, abalados demais com tudo, e Gina e Harry, que pareciam pregados ao chão, acompanhando somente com os olhos a despedida de Molly Weasley.

"Vamos embora?" - murmurou Remus, virando-se.

Tonks não respondeu, só começou a andar. Ele foi junto com ela.

"Eu estou cansado."

"Eu também estou."

Os dois haviam sido responsáveis pelo velório e enterro, e não haviam parado um único minuto naquele dia.

"Que tal nós voltarmos para casa? Eu sei que parece uma desfeita, mas infelizmente eu não tenho nem condições psicológicas nem físicas para continuar aqui." - disse ela, enquanto descansava a cabeça no ombro de Remus.

"Eu também não tenho. Mas nós só vamos para casa se você me jurar uma coisa."

"O quê?"

"Que não vai ter aquele sonho comigo de novo."

Ela balançou a cabeça.

"Se dependesse de mim, eu juraria por tudo, Remus. Eu não gosto de ter aqueles sonhos."

Tonks estava sentada no último degrau que dava para a cozinha de madrugada. Dessa vez estava sozinha. Não sabia como se sentir. Tinha tido novamente o sonho com Remus, mas de alguma forma Sirius tinha se infiltrado no sonho.

Ele ainda estava vivo.

"Será que é uma intuição? Será que ele está vivo?" - resmungou ela.

"E será que algo vai acontecer com Remus?" - disse uma voz em sua cabeça.

"Tonks? O quê está fazendo aí?" - perguntou Artur do alto da escada. Descia calmamente.

"Pensando, Artur. Está sem sono?"

Ele se sentou ao lado dela.

"Sem sono e sem vontade de ficar parado. Esse foi um dia muito difícil."

"Eu imagino." - disse ela, e esfregou as mãos. - "Como estão os meninos?"

"Sofrendo bastante. Rony especialmente, não consegue se conformar com a morte da mãe... Gina também, não consegue falar nada. Mas acho que os outros até que estão levando bem. E se, Deus que me perdoe, aconteceu alguma coisa boa hoje foi que Percy pediu desculpas por tudo que fez no ano passado..."

Ela concordou com a cabeça.

"Mas você não pode estar acordada só para pensar." - insistiu ele.

"É que eu tenho tido um sonho, Artur. Que o Remus morre. E hoje o Siriu..." - ela respirou fundo. - "O Sirius estava junto. Mas vivo."

"Você tem tido esses sonhos com quanta freqüência?"

"A mais de dois meses."

Por algum motivo, ele pareceu surpreso.

"Já falou com o Remus?"

"Já."

"E o que ele disse?"

"Que não era para eu me preocupar, que isso nunca iria acontecer."

"Talvez exista algum motivo para se preocupar, Tonks. Normalmente quando se sonha alguma coisa a mais de duas semanas é um aviso."

"Eu não sabia que você era ligado nessas coisas de sonho."

"Ligado talvez não." - disse ele em um sorrisinho. - "Mas eu sei de algumas coisas importantes".

Eles ficaram em silêncio durante algum tempo, até ouvirem um barulho de alguém correndo.

"O quê é isso?" - disse Tonks, pulando do degrau e virando-se para a escada. Nem precisou esperar muito. Rony veio correndo, e acabou escorregando do quarto degrau da escada, e caiu, parando aos pés de Tonks.

"O quê foi, filho!" - perguntou Artur, assustado.

Rony massageou a cabeça, e tentou recuperar o fôlego, mas sem conseguir.

"Harry... teve... mais um... daqueles... sonhos."

"Daqueles que ele..."

"Está na mente de você-sabe-quem!"

Tonks e Artur se olharam assustados.

"Eu vou lá em cima ver o Harry. Tonks, você chame o Remus e vá depois no quarto de Harry também."

"Certo."

Os três subiram rapidamente a escada, mas Tonks foi para a direita e Artur e Rony para a esquerda.

Tonks abriu tremendo a porta do quarto de Remus. Ele estava de lado, descansando como um anjo. Ela se aproximou devagar, e o acordou.

"Quem está aí? Tonks?"

"Remus, temos um problema."

"Qual?"

"Harry entrou na mente de Voldemort. Em sonho. Rony veio me avisar."

Remus levantou rapidamente e colocou um roupão para sair do quarto. Os dois saíram rapidamente e chegaram no quarto de Harry e Rony.

Artur estava debruçado sobre Harry, que respirava em grandes sorvos. Rony estava ao lado, parecendo preocupado com o amigo. Tonks e Remus se aproximaram, sentando na beirada da cama do garoto.

"O quê aconteceu, Harry?" - perguntou Remus.

"Dumbledor. Ele está duelando com Voldemort. No cemitério onde Cedrico morreu."

"Duelando? E quem estava vencendo?" - perguntou Rony.

"Dumbledor, ao que parece. Mas ele vai ter problemas. Os Comensais estão chegando."

"Então se os Comensais estão chegando, a Ordem da Fênix também vai chegar." - disse Artur. - "Tonks, Remus, vão chamar os outros."

Em menos de quinze minutos, Artur, Tonks, Remus, Quim e Moody estavam perto da lareira, esperando o sinal de Fawkes. Fred, Jorge, Rony, Gina, Harry e Hermione pareciam ansiosos, em um canto. Percy estava mais longe, acompanhando a movimentação.

"Vocês esperam. Caso nós demorarmos muito, ou se Harry tiver uma nova visão, vocês avisam a professora McGonnagal." - disse Artur.

"Certo." - disse Hermione, na hora em que uma única pena vermelha desceu na frente deles. - "Boa sorte."

"Isso normalmente dá má sorte, Mione." - disse Tonks.

"Me desculpe."

Mas eles não ouviram, pois já haviam sumido.