O LOBO E O FALCÃO
Capítulo 11
Longe da confusão do salão, Tomoyo e Yamazaki percorriam os longos e sombrios corredores do castelo de Nimah. O elfo tentava buscar alguma pista da princesa usando seus apurados sentidos e a fada tinha o pressentimento de que precisavam encontrar Sakura o mais rápido possível. Sentia os nervos à flor da pele e se mantinha alerta para qualquer sinal da amiga humana.
"Droga...", resmungou Yamazaki. "É como se Lady Sakura tivesse evaporado no ar...".
"Não podemos desistir! Ela precisa de nós!", exclamou Tomoyo.
Encostando-se na parede de pedra, o elfo foi escorregando lentamente até chegar ao chão.
"Eu sei... Mas o que podemos fazer? Não há sinal... Nenhuma pista dela... O duque a escondeu tão bem... Se houvesse um jeito de entrar em contato com ela...".
"Mas não há... E a esta hora, ela deve estar sob a forma de falcão mais uma vez", replicou a fada. "Será que o capitão Li já chegou?".
"Não sei...".
Ficaram em silêncio no corredor imerso nas sombras. Estavam próximos às masmorras e não haviam tochas iluminando o local. A pouca claridade que tinham provinha de uma pequena tocha que Yamazaki segurava.
"Droga! Sinto-me tão inútil!", explodiu o elfo de súbito, dando um soco na parede.
Talvez tivesse sido o acaso ou a mão do destino, mas o fato foi que Yamazaki acertou o tijolo que acionava uma porta secreta. Ele e Tomoyo recuaram assustados e olhavam, atônitos a abertura aumentar cada vez mais e um outro corredor aparecer.
"Que fizeste?!", perguntou a fada.
"Nada... Só bati na parede!", respondeu Yamazaki, trêmulo.
Voltando os olhos para aquela descoberta, Tomoyo começou a ponderar. "Claro... Claro que Susano não esconderia Sakura num aposento normal do castelo", ela murmurava para si mesma. "Qual o melhor lugar para se colocar algo que não quer que seja achado?".
"Num lugar que ninguém saiba que exista?", devolveu o elfo, hesitante.
"Exatamente!! Em uma câmara secreta!", ela exultava com as próprias conclusões. "Vamos, Yamazaki! A princesa está por aqui!".
Os dois correram para dentro e nem sequer notaram que a abertura se fechou tão logo eles passaram.
* * *
"Esse é um risco que teremos que correr...".
As palavras de Eriol ressoavam na cabeça de Syaoran enquanto ele tentava assimilar a situação na qual se encontrava, a situação de Sakura.
O plano dera todo errado. De alguma forma, Susano conseguira um poder para alterar o feitiço e assim dominar Sakura. Agora, ela estava presa em algum lugar do castelo, esperando por ajuda. Não poderia ficar ali de braços cruzados, não seria apenas um mero espectador. Levantou-se, pegou a espada e, com longas passadas, dirigiu-se à saída do salão.
"Li!", chamou Eriol, que ainda conversava discretamente com o Rei Kinomoto. "Aonde vais?".
"Procurar Sakura, é claro!", respondeu sem se virar. "Já fui chefe da guarda de Susano, conheço muito bem este castelo... Se Sakura está escondida aqui, irei encontrar!".
"Vou contigo", disse o bruxo, pegando seus objetos.
"E eu também", complementou Touya.
Syaoran olhou de um homem para o outro. "Se estais dispostos a enfrentar os perigos que haveremos encontrar no caminho, então vamos!".
Fujitaka interferiu. "Levem Kerberus... Talvez ele seja de grande ajuda!".
Os três homens e o guardião saíram pelos corredores, em direção às masmorras. No salão, ficaram apenas o rei, sua nora e Spinel.
"Achas que eles conseguirão. Kaho?", perguntou o soberano à esposa do filho, que nada respondeu, pois estava na janela olhando o céu com extrema atenção. "Kaho?", chamou tocando o ombro dela.
"A hora está passando...", ela sussurrou, sem tirar os olhos do céu. "O momento se aproxima e o perigo aumenta cada vez mais...".
Ao ouvir aquelas palavras, Fujitaka estremeceu. Será que o destino de sua filha era morrer nas mãos de Susano?
* * *
"Isso... Venham para minha armadilha...", Susano riu alucinadamente, enquanto observava a movimentação. "Tudo está correndo como o planejado".
Afastando-se do quadro, dirigiu-se para a câmara onde estava a jaula com o falcão.
"Logo, eliminarei a todos... Irei governar o mundo e terei Sakura apenas para mim!".
Estava tão envolto em seus devaneios, que não reparou quando o quadro mágico mudou de imagem e mostrou duas pequenas figuras esgueirando-se pelo corredor que levava a câmara secreta...
* * *
"Nossa... Que escuridão!", gemeu Yamazaki, trêmulo, esfregando a mão livre no braço.
Estavam dentro de um corredor escondido por trás das paredes do castelo, mas era como se tivessem entrado dentro de um buraco muito fundo. O lugar era frio e cheirava a mofo. A sensação de vazio e solidão os incomodou e Tomoyo se aproximou do rosto do elfo.
"Não dá seguir nessa escuridão...", ele continuou se lamentando. Olhando para os lados, avistou algo. "Tem uma tocha na parede...", apontou para fada. "Vou acender..."
"Acho melhor não...", sussurrou Tomoyo vacilante. Um sentimento estranho, um sexto sentido lhe dizia para não acenderem a tocha, mas não poderiam seguir naquela escuridão.
"Como assim não?", o parceiro reclamou. "Está escuro e frio aqui... Pra ti, não há problema, podes brilhar! Mas, e eu?".
Sem ligar para a preocupação da amiga, aproximou a tocha que tinha da que estava encostada na parede. Aos poucos, esta foi queimando. Yamazaki suspirou aliviado. Tudo ali parecia tão velho que talvez a tocha não servisse mais. Porém, o alívio deu lugar a surpresa e ao temor quando, assim que acendeu a primeira, as demais tochas começaram a queimar clareando totalmente o corredor, como num passe de mágica.
"Mas... Mas o que...?", Tomoyo olhava para os lados tentando entender.
"E-eu não sei...", gaguejou o elfo, quando um ruído persistente alcançou seus ouvidos. "Tomoyo... Alguma coisa vem vindo...".
"O quê?".
Antes que a fada pudesse continuar, o corredor começou a tremer e o barulho aumentou. Do teto, terra e pedaços de pedras caíam aos poucos, como se alertassem do perigo. Os dois olharam para cima. Subitamente, uma estaca caiu, cravando-se ao lado deles.
"Corre, Yamazaki!".
Saíram em disparada, desviando das estacas que pareciam cair sobre eles, como chuva. Usando toda sua habilidade de vôo, Tomoyo evitava as colisões, sempre orientando o amigo pelo melhor caminho a seguir.
"Veja! Uma escada!", exclamou. "Vamos depressa!".
Nunca em sua vida de meliante, Yamazaki tinha passado por um momento tão desesperador. Sentia as pontas afiadas das estacas arranhar-lhe a pele e não estava nada feliz por isso. Foi com alegria inenarrável que alcançaram a escada. E para sua surpresa, as estacas pararam de cair assim que pisou no primeiro degrau.
"O que foi isso?", perguntou, arfante.
Tomoyo também respirava com dificuldade. "Não sei... Começou quando acendeste a tocha... Avisei para não fazer, Yamazaki! Eu tinha um mau pressentimento sobre isso!".
"Tiveste um mau pressentimento e nada disseste?! Como eu poderia adivinhar?".
"Tentei alertar-te, mas me escutaste?", ela perguntou, respondendo em seguida. "Lógico que não!". O elfo bufou, cruzou os braços e sentou-se. Não adiantava ficar brigando, ainda mais num momento como aquele.
"O duque está à espera do Capitão Li...", disse a fada, depois de um momento de silêncio. "Por isso o corredor está cheio de armadilhas...".
"O que faremos agora?".
"Continuaremos nosso caminho", respondeu ela com determinação.
* * *
Li, Eriol, Touya e Kerberus não demoraram a chegar ao aposento principal do castelo: o dormitório de Susano, o duque de Nimah. O ambiente era sombrio como o proprietário e o restante da grande construção. Com passos firmes, o ex-capitão da guarda seguiu até uma bela tapeçaria. Esticando o braço, puxou uma tocha que havia bem ao lado do ornamento. A parede começou a girar, dando passagem a um corredor iluminado.
"Por que essas tochas estão acesas?", perguntou o príncipe, desembainhando a espada.
"Não sei...", Li também puxou sua arma. "Ficai atentos para qualquer movimentação estranha...".
Entraram no corredor. Eriol não pode evitar que um calafrio percorresse sua espinha assim que pôs os pés na estranha passagem. Deixou seus sentidos se expandirem. Novamente, sentiu um calafrio. Estavam rodeados por magia. 'Uma magia perversa...'.
"Esse corredor está enfeitiçado...", disse aos companheiros. "Precisamos ser cautelosos...". Mal terminou de falar, o chão sob seus pés cedeu e eles começaram a escorregar, numa descida vertiginosa.
"Mas que diaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...!", foi a exclamação de Kerberus, enquanto eles desciam pelas pedras.
* * *
Tomoyo e Yamazaki continuavam subindo as escadas. Aliás, o elfo era quem subia os degraus, enquanto a fadinha sobrevoava a procura de algum sinal de perigo. Chegaram até um patamar, onde o caminho se dividia em dois.
"Para que lado?", perguntou ele, parando e aproveitando para refazer-se da longa subida.
"Não sei...", disse ela, coçando a cabeça.
Ficaram olhando para os dois caminhos até que falaram ao mesmo tempo. "Direita!"
"Esquerda!". Tomoyo revirou os olhos e Yamazaki ergueu uma sobrancelha. Aquilo definitivamente não estava ajudando. Olharam-se com faíscas nos olhos.
"Vamos tentar mais uma vez...", falou ela, respirando fundo. Olhou para os caminhos e exclamou esquerda, enquanto Yamazaki gritava direita.
"Por que não seguimos cada um por um caminho?", o elfo perdeu a paciência. Estava cansado, suado, com sede e com fome, sem falar no medo que sentia por estar num corredor repleto de armadilhas e de onde, a qualquer momento, o duque de Nimah poderia aparecer.
"Acredito que ficar juntos é nossa melhor opção...", a voz sombria de Tomoyo o assustou. "Esse lugar é perigoso". Ela calou-se e o fitou. "Usa teus instintos, Yamazaki... Concentra-te. Por onde achas que devemos seguir?".
Fechando os olhos e deixando seus sentidos fluírem. Ruídos distantes, estranhas sensações. Os sons eram vagos, mas estavam ali, presentes, como uma farpa no dedo do pé. "Direita", disse ele por fim.
"Então é para direita que seguiremos...", concordou a fada. Com extrema cautela, tomaram o caminho escolhido.
Conforme andavam, o corredor se tornava mais frio e as tochas iam se apagando lentamente. Tomoyo e Yamazaki trocaram um olhar desconfiado. O que mais aquele estranho lugar lhes reservara? Caminharam até a luz apagar completamente. A luminosidade da fada era a única coisa que permitia o elfo enxergar naquele escuro. De repente, ela parou de avançar.
"Yamazaki, pare!", ordenou, com voz forte.
Prontamente, o ex-gatuno parou de andar. Tomoyo voou até o amigo e olhou em volta. Tinha algo diferente ali. Desceu até a altura dos pés e concentrou-se, liberando um pouco mais de luz, para clarear o caminho. Mas o detalhe era que não havia mais nada ali. Diante deles, um imenso buraco.
Yamazaki estremeceu. Soltando a respiração que estava presa, deu um sorriso fraco para amiga, que voejou até seu ombro. "Obrigado, Tomoyo... Se não fosse por ti, eu quase...".
"Não foi nada, Yamazaki...", respondeu ela, igualmente trêmula. O que teria acontecido se Yamazaki tivesse dado mais um passo? Não querendo pensar mais naquilo, sacudiu a cabeça.
As luzes voltaram a acender. E os dois puderam ver bem o tamanho da armadilha.
"Uau...", foi tudo o que o elfo conseguiu proferir.
Reparando que ainda havia uma pequena borda em torno do buraco, Tomoyo chamou o companheiro. "Vamos, Yamazaki. Não devemos estar muito longe".
Devagar, eles continuaram a jornada.
* * *
Divertido, Susano observava os acontecimentos de seu 'quadro'. Li e os outros mal sabiam o que aquele corredor tinha para eles. Ainda tinha coisa para acontecer.
"Isso... Venha, Li... Venha... Que estarei esperando para matá-lo!".
* * *
Li e os outros continuaram naquele gigantesco escorregador de pedra pelo que lhes pareceu ser uma eternidade até que foram separados. Cada um caiu num cômodo escuro, sem qualquer iluminação.
Eriol se levantou e, com sua magia, fez a ponta de seu báculo brilhar. Estava numa pequena câmara, paredes de pedra nuas, como o resto do corredor, sem nenhum enfeite. Pensava num modo de sair dali quando pressentiu uma outra presença logo atrás de si. Virando-se, deparou-se com os olhos azuis escuros de seu mestre. Clow lhe sorria.
"Mestre...", murmurou, surpreso. Deu dois passos adiante, mas logo foi lançado com força contra a parede. Erguendo a cabeça, viu o outro mago abaixar um báculo semelhante ao que tinha nas próprias mãos. Levantou-se com dificuldade, sentindo o corpo doer e novamente foi lançado contra a parede com fúria.
Não houve tempo de se defender. Deixou-se ficar ali, tentando entender o que estava acontecendo. Por que seu mestre estava fazendo aquilo? Sentiu o peso da culpa que carregava nos ombros por todos aqueles anos aumentar. Olhou para Clow que se aproximava, báculo erguido. Os olhos azuis sempre tão compreensivos e calorosos estavam frios, os lábios curvados num sorriso frio, sem vida. Aquele não podia ser seu mestre. Percebeu que ele se preparava para atacar outra vez. Não queria morrer ali, a mercê de algo que parecia com seu falecido mestre. Não era sua hora de morrer. Precisava ajudar Li, Sakura e os outros. De joelhos, sentiu a magia do outro se aproximar rapidamente. Empunhando o báculo com firmeza, proferiu um antigo encantamento. Luzes e trovões ressoaram dentro da câmara.
"Desculpai-me, mestre... mas é preciso terminar a missão", falou entre os dentes, antes de esticar o báculo na direção de Clow e mandar toda a energia acumulada para cima do outro mago. Houve uma grande explosão de luz, que obrigou Eriol a proteger os olhos. Quando a claridade se desvez, ele já não estava mais na pequena cela de pedra e sim de volta no corredor.
"Era um feitiço", concluiu, respirando aliviado. Olhou para as formas de Li, Touya e Kerberus, que pareciam dormir, estendidos no chão. 'Lutai com bravura, meus amigos, qualquer que sejam seus temores! É um feitiço!', direcionou seus pensamentos e sua energia para os outros três, numa tentativa de ajudá-los.
* ~ * ~ *
Continua...
N/A: Realmente, não tenho desculpas para uma demora tão longa. Muitas coisas aconteceram e acabei deixando de lado muitas coisas, não só este fic. Quero humildemente me desculpar com todos que estão acompanhando esta história. Falta muito pouco pra acabar, como eu já havia dito antes. Mas como este capítulo ficaria muito grande, optei por dividi-lo. No próximo, teremos o reencontro de Li e Susano e a tão esperada luta.
Dedico este capítulo a todos que comentaram, que mandaram e-mails ou mensagens pelo MSN pedindo a continuação deste fic. O incentivo de vocês foi o meu maior estímulo. Muito obrigada, de coração.
Um grande abraço,
Andréa Meiouh
