Capítulo 21
A luz se infiltrava entre as cortinas cerradas do quarto naquela manhã. Ele podia ouvir os trinados de pássaros e o gorgolejar suave do riacho que corria pelo vale italiano.
A luz o acordara. Ele agora contemplava o anjo que dormia a seu lado. A luz brincava com os cabelos dela, criando uma teia de luz e sombra em seu rosto sereno. Mas o que ele mais apreciava nela estava oculto. Os olhos. Aqueles olhos brilhantes e castanhos. Que nunca mentiam. Olhos emoldurados por cílios longos.
Olhos que agora o fitavam. Embaçados de sono. Ainda assim lindos. Ela agora se espreguiçava com movimentos graciosos. Ele apenas a observava.
Ela fora para o banheiro. Ele ouvia a água do chuveiro correndo. Ao sair, ela vestia uma camisa dele, que lhe caía sobre um dos ombros, contrastando com sua pele clara. Os cabelos ruivos estavam escurecidos pela água.
Beleza. E então dor. O antebraço enrijecera. A dor corria por seus nervos, irradiando por seu corpo. Fechou os olhos, esperando que a dor se fosse. Mas ela se intensificava.
Tão subitamente quanto viera, a dor se foi. Ele abriu os olhos, enquanto sentia os músculos relaxando. À sua frente, estava Angel. A preocupação rondava os olhos castanhos dela. Ela estava ajoelhada ao seu lado, na cama, olhando-o nos olhos.
O que foi?
Nada.
Como nada?
Não foi nada.
Ele tentou levantar-se. No entanto, ela o forçou a recostar-se novamente na cabeceira da cama.
Você não sai dessa cama enquanto não me disser o que aconteceu.
Bom dia para você também.
Não tente fugir do assunto.- ela o encarava, esperando por uma resposta que a convencesse.
Está bem! Foi essa droga de marca de novo!- ele explodiu. Não gostava de lembrar daquilo. Preferia acreditar que não passava de algum problema menor. Que tudo estava bem e que não havia nada de errado.
Ela se afastara assustada. Ele sentou-se na borda da cama. De costas para ela. Enterrou os dedos no cabelo. Sentiu os movimentos do colchão, denunciando que ela se aproximava. Ela o abraçou por trás.
É que eu me preocupo com você.- ele ouviu a voz suave dela.
É exatamente isso que eu acho estranho. Essa preocupação. Ainda não consegui me acostumar com ela.
O silêncio agora pesava no quarto. Ele sentia o toque quente dos dedos dela percorrendo o traço de uma das cicatrizes que riscavam seu peito. E sentia também o toque gelado dos cabelos molhados dela em suas costas. Ele soltou o cabelo, fazendo com que algumas mechas caíssem por sobre seus olhos e inclinou-se para trás. Apoiando a cabeça no ombro dela. Ela continuou correndo os dedos por sua cicatriz.
Desculpe.
Ela não lhe respondeu. Apenas fez com que ele virasse o rosto e o beijou. Sem saber a razão, ele sentiu-se grato, antes que ficasse inebriado por ela. Quando se separaram, ela pôs-se a fitá-lo.
Não precisa se desculpar. Não é sua culpa. Nós sabemos de quem é a culpa. E não é minha, nem sua. E saiba que eu me importo com você.
E então ela saiu do quarto enquanto ele ponderava sobre o que acontecera. E sobre o que ela dissera. E percebeu que ela tinha razão. Não fora culpa dele. De alguma forma, o pensamento o tranqüilizou. Era como se ele se culpasse pelo que fora há quase dois anos. Quando o pensamento finalmente fez sentido, ele percebeu que realmente se culpava pelo que fora. E decidiu tentar esquecer o passado.
Ele conversava com o ruivo à sua frente. Guilherme Weasley ainda usava o cabelo comprido, para desgosto da mãe. Subitamente, sentiu algo sendo atirado em seu colo.
Bem, aqui est�, Malfoy.- os gêmeos interromperam a conversa.
O quê?
A sua parte dos lucros na loja.
Ah, sim, claro. Podem entregar para o Carlinhos?
Sem problemas.
Os gêmeos se afastaram levando a bolsa que tilintava com as moedas em seu interior. Ele só conseguia distingui-los quando eles usavam os suéteres tricotados pela senhora Weasley. Ele próprio usava o seu. Era uma malha confortável e cinza grafite. Ele ouvia a risada dela, que conversava com sua prima, como ela chamava? Tonks. Ninfadora Tonks. Onde sua tia estava com a cabeça quando batizara a filha? Provavelmente no mesmo lugar em que estivera com a cabeça quando casara com um trouxa.
Sua tia se casara com um trouxa. E daí? Ele também não jogara para o alto a tradição Black e Malfoy? Não se casara com uma Weasley?
Guilherme Weasley se afastara. A esposa o chamara. Ele correu o olhar pelo jardim da propriedade dos Weasley. Todos os que ali se encontravam sorriam. Seu olhar encontrou o de Carlinhos. O ruivo acenou para ele, a bolsa cheia de moedas tilintantes em sua outra mão. Era o financiamento para as pesquisas com os dragões romenos.
Levantou-se da cadeira em que se encontrava. Foi até a esposa. Julien estava com os primos. De todos que conheciam a ele e o menino, a única que não lhe dizia que o menino era parecido com ele, era Angel. Ele não achava o menino parecido com ele. O menino possuía os traços muito acentuados. Ele não se enxergava no espelho assim.
Abraçou-a por trás, apoiando o queixo suavemente no ombro dela.
Oi, priminho!- a prima sempre o chamava assim. Tudo bem, ela era mais velha que ele.
Ol�! E o Largo?- ele dividira a herança dos Black com ela. E na partilha, ele cedera a casa de bom grado.
Vai bem. Já lhe agradeci?
Milhares de vezes. É melhor que aquela casa fique com você. Ela lhe traz memórias, não?
Sim, traz...Com exceção daquele retrato pavoroso!
Ei! Ele não é pavoroso! Ela chega a ser simpática!
Isso é só com você!- Angel rebateu.- E isso porque ela não te viu comigo. Aí, eu tenho certeza que toda essa simpatia sumiria.
Por quê? Não dá para entender...
Não? Tem certeza?- nesse ponto, Tonks já se afastara.
Tudo bem, tudo bem. Dá para entender. Vamos dar uma volta?
O que há por trás desse convite?
Nada. Não posso querer roubar a minha esposa da família dela?
Não, não pode.
Como não?- ele a soltou.
Não podendo.
Ele deu de ombros e começou a se afastar. Sabia que não passava de um jogo.
Ei! Onde você vai?
Vou dar uma volta sozinho.
Sozinho? Sei...Não acredito.- ela enlaçou os braços no pescoço dele.
Não acredita?- ele pousou as mãos na cintura dela.
Não...
Então vem comigo.
Tudo bem. Mas e o Julien?
Bem...Olha quanta gente aqui, ele nem vai perceber...
Está bem, me convenceu...
E ela se deixou levar. Ele apreciava caminhar por entre as árvores da propriedade. E apreciava ainda mais quando tinha a companhia dela.
N/A
desculpa a demora...eh q eu tô quase entrando em parafuso com a escola...
Eu sei q tô devendo respostas às reviews, mas acho que o tá de mal comigo...não quer abrir as reviews, assim naum dah pra responder!
Mas vlw pra quem mandou review! Vlw mesmo! Nunca imaginei q essa fic fosse fazer tanto sucesso!
Jinhus
G.W.M.
