Capítulo 25

Ergueu o rosto contra a tempestade. À sua frente, uma forma negra contra o céu, estava, mergulhada em decadência, o que um dia fora a Mansão Malfoy.

O que um dia fora um jardim bem cuidado, embora sombrio, agora não passava de mato e ervas daninhas. Ele forçou todas as memórias de instintos e feitiços do que agora apenas parecia um pesadelo negro e distante a voltarem à tona.

Segurando firmemente a varinha com a mão esquerda e sentindo o ódio avolumar-se dentro de si, ele entrou cautelosamente na propriedade. Ele sentia os feitiços de proteção cedendo ao seu redor, enquanto avançava. O Ministério nem se dera ao trabalho de tentar remover esses feitiços.

Alcançou as pesadas portas maciças de carvalho. Ficando a alguns metros de distância, abriu-as com um feitiço. As pesadas portas abriram-se lentamente, com rangidos ecoando nas paredes do saguão.

Ele entrou pé ante pé no saguão empoeirado. Ali havia apenas os móveis cobertos de pó e teias de aranhas. Os ornamentos e os quadros haviam sido levados pelo Ministério.

Estava ficando tenso. O ar empoeirado e denso fazia com que todos os instintos que ele reavivara se alarmassem. Ele caminhava pelos corredores, a varinha erguida, ouvindo atentamente. Parava por instantes em cada porta, mas ele ouvia apenas o silêncio.

Ele pôs-se a andar ainda mais cautelosamente ao se aproximar de uma porta que deixava escapar uma névoa tênue e prateada por suas frestas. Ele ouviu gritos que pareciam ecoar através dos anos. E soluços que escapavam agora. Com um feitiço, escancarou a porta.

Ao perceber o que acontecia ali dentro, arrependeu-se. mas já era tarde demais. A sala repleta de lembranças já o arrastava para dentro da lembrança escolhida por seu dono.

À sua frente, ele via estarrecido uma cena que acontecera havia mais de uma década. Uma masmorra. Uma jovem ruiva. Angel. E cabelos platinados, limpos e brilhantes. Lúcio Malfoy. Á sua frente, ele via a cena que apenas ouvira. E que ainda fazia com que Angel acordasse soluçando.

Um soluço fez com que ele olhasse para olhasse para o lado.

"Não...Mãe..." Julien soluçava em desespero, encolhido contra a parede.

Ergueu os olhos, antecipando o que veria. E viu. Lúcio Malfoy, encostado em uma parede. Os cabelos sujos e desgrenhados. Um sorriso dançava em seu rosto iluminado pela obsessão, como se apreciasse a cena à sua frente e os soluços do garoto.

"Finite Incantatem!"

A sala voltou a ser o que era. Uma sala com paredes de pedra. Uma sala que ele freqüentara o suficiente para odiar. Ao ter sua diversão interrompida, Lúcio desencostou-se da parede e olhou ao redor.

"Mas que diabos...Ah...Draco..."

O sorriso escarninho de Lúcio fez com que a fúria voltasse. Mas ainda não era a hora de se deixar explodir.

"Serviço bem feito, não?" Lúcio desdenhou.

"Cale a boca."

"Tsc, tsc...Onde foi parar a educação que te dei? Mas, admita, pegar o pivete aqui para atraí-lo até aqui foi uma boa idéia, não? Afinal, seria mais do que óbvio que você viria resgatá-lo."

Ele achou melhor apenas ouvir. Depois contra-atacaria.

"E então eu poderia tentar colocar algum juízo nessa sua cabeça oca e fazer você ver que o melhor a fazer é continuar com os projetos do Mestre. Você sabe, purificar a sociedade, apenas sangue-puros. Não é algo que vale a pena lutar?"

"Claro, especialmente se o mentor dessa idéia ridícula não tivesse sido um mestiço."ele desdenhou.

"Não diga bobagens! Mas é uma causa nobre, não, Draco? Afinal, essa marca que você tem no braço é símbolo de quê?"

"Da pior coisa que aconteceu comigo?"

"Bem, pelo menos continua insolente. Senão, já acharia que aquela amante de trouxas da Weasley virou sua cabeça. Mas você não permitiria isso, não? Pelo menos não é uma sangue-ruim. Mas é visível a supremacia do sangue Malfoy. Veja o pivete. Não é um Malfoy? Pena que tenha o sangue Weasley também...Mas isso pode ser facilmente remediado. Basta matar o pivete, não fará falta a ninguém, e então podemos achar alguma jovem de alguma rica família puro-sangue."

"E a outra opção seria...?"

"Não há outra opção. A menos que você queira continuar essa sua farsa de traição. Mas isso não pode durar para sempre."

"Quando você vai entender que não há traição nenhuma?"

"Como não há traição? É claro que h�! Você era quem devia reavivar nossa filosofia brilhante. E você fez isso? Não diga nada. Deixe que eu responda: NÃO, você não fez isso! Me deixou naquele maldito hospital durante mais de dez anos quando eu deveria ter passado no máximo um ano!"

"Bem, é exatamente onde você deveria estar: um manicômio!"

"Inferno, Draco! Você não entende? Foi apenas teatro! Foi apenas para que eu não fosse entregue aos dementadores!"

"Teria sido melhor. Para toda a sociedade bruxa."

"A sociedade bruxa iria nos agradecer!"

"A parte que sobrevivesse, talvez. Mas eu duvido muito."

"Pai..." Julien disse, em uma voz estrangulada.

"Cale a boca!"

Lúcio avançou para cima do garoto encolhido no chão, empunhando uma varinha de origem desconhecida. A tormenta ainda rugia. Ele interpôs-se entre o irmão e o pai.

"Saia da frente!"

"Não."

"Ora, vamos! Deixe de ser um estúpido! Não me lembro de você ser tão sentimental!"

"Talvez porque você não me conhecesse como filho e sim apenas como uma forma de ganhar poder."

"Não me diga que você não sabia!"

"Sabia. Claro que sabia!E mesmo assim tentava atingir seus níveis doentios de perfeição! E nunca consegui! Todas as vezes, você me trazia para essa maldita sala e me enchia de maldições. Maldições de cortes. De dor. E enquanto isso, Narcisa simplesmente se embebedava em vinho!"

Ao trazer todas as lembranças que afogara à tona, a fúria o tomava cada vez mais. A atmosfera na sala vibrava, tamanha sua fúria e ódio daquele que estava à sua frente.

"Aliás, isso me intrigou. Esse pivete não fez uma magia sequer. Por que ele não tem tanta magia quanto você? Deveria ter, tem o sangue Malfoy e Black...Não creio que o sangue Weasley seja podre o suficiente para eliminar a nobreza do seu sangue...De nosso sangue..."

"Não te interessa!"

"Talvez por que ele seja um bastardo? Talvez ele pareça um Malfoy por coincidência? Você é um imbecil mesmo. Aceitar um bastardo em sua casa! Duvido que você saiba quem é o pai dele. Talvez seja um sangue-ruim! Ou um trouxa!"

"Cale a boca!" Ele finalmente explodia, assim como a tempestade lá fora. "Você quer saber por que ele é tão parecido com um Malfoy?"

"Seria interessante..."

"Você tem razão! Ele é um bastardo! E é um bastardo seu! Ele não é meu filho! É meu irmão!" Ele gritava, externando toda a sua fúria. O ar ao seu redor vibrava cada vez mais intensamente. "E pensar que você, Lúcio Malfoy, tão orgulhoso e arrogante fosse ter um filho com uma Weasley! Você me culpa, mas eu apenas fiz o que você fez! Com uma diferença: eu não a obriguei a nada!"

Uma pedra verde cintilou em sua direção. Verde e prata cintilando. Lúcio Malfoy ainda possuía aquele maldito anel. Novamente aquela pedra verde o atingira em uma bofetada. Um filete de sangue escorria ao longo do corte. Ele ouviu Julien resfolegar assustado.

Instantes depois, a esmeralda explodia em pedaços pequenos, os estilhaços atingindo-o e a Lúcio Malfoy. Enquanto Lúcio se recuperava do impacto dos estilhaços, ele enviou o irmão, com um feitiço, de volta para os braços da mãe. Acenando a varinha, ele retirou os estilhaços cravados em seu corpo, sentindo o sangue aflorar à superfície nos cortes deixados pelos estilhaços.

Enquanto esperava Lúcio se recompor dos estilhaços, ele o observou. Lúcio Malfoy envelhecera. Agora tinha cerca de sessenta anos. Lúcio ainda possuía os mesmo traços pontudos, mas agora seu rosto possuía rugas.

"Maldito! Enlouqueceu?" Lúcio praguejava.

"Não. Acho que quem enlouqueceu aqui foi você."

Lúcio, em um salto, jogou-o contra uma das paredes de pedra, as mãos encardidas fechando-se ao redor de seu pescoço.

"Solte-me."

"Só depois que te matar!"

"Solte-me."

"Não!"

"Tem certeza?"

No instante seguinte, Lúcio era arremessado contra a parede oposta. A varinha do Malfoy mais velho estava largada no chão. Ele inclinou-se e pegou o objeto, enquanto o outro o olhava. Jogou a varinha para Lúcio e apanhou a sua.

Esperou até que o outro se erguesse relutantemente do chão. Mas a relutância foi substituída por determinação. Não conseguindo conter uma careta de dor, Lúcio assumiu a posição de combate.

No entanto, o Malfoy mais velho não jogaria limpo. Ele quase podia ver a raiva e o ressentimento que Lúcio alimentara durante anos se erguendo. E então dor. Ele mal conseguia se manter de pé. Um feitiço veio sibilando em sua direção. Ele girou, evitando o feitiço. Sabia que se caísse no chão não se levantaria. Girou novamente, instintivamente, fugindo de outro feitiço.

Lúcio gargalhava, a mesma gargalhada áspera de anos antes. A mesma gargalhada maliciosa que deixava escapar quando ele ruía finalmente após horas de duelos ou punições. Ao ouvir novamente a gargalhada que o acuara durante aqueles anos, ele sentiu a fúria avolumando-se dentro de si. E o ódio.

Ele agora só sentia ódio e fúria. A dor estava em algum lugar distante. Ele quase ouvia a apreensão em que Lúcio mergulhara. Os feitiços haviam cessado. Agora o Malfoy mais velho concentrava-se apenas no ressentimento, para tentar controlar o herdeiro através da dor como fizera um dia.

O ar na sala começara a vibrar. Ele estava perdendo o controle de sua magia. Mas por que ainda lutava para mantê-lo? Finalmente deixou a magia se esvair. Com um estampido, ela emanou dele.

Com um rugido que se transformou em um uivo, Lúcio Edward Malfoy desmoronou no chão. Morto. O teto da sala começou a ruir. Exausto, ele apenas desaparatou. Para qualquer lugar em sua propriedade. Longe dali.

N/A

pronto! A bomba explodiu! Mas fiquem calmas, no próximo cap tudo se resolve! Eu tô estourando meu tempo na Internet então não vai dar para responder às reviews...

Mas fica meu "Valeu!" pelas reviews!

Jinhus

G.W.M.