Capítulo 26

Ele desabou pesadamente, de costas, com um estrondo, sobre a mesa de madeira maciça que havia no jardim de sua propriedade. Aparatara no ar. E despencara de costas até a mesa.

Ele sentia frio. No entanto, uma brisa morna agitava quase que imperceptivelmente seus cabelos. Os ferimentos deixados pelos estilhaços ainda sangravam.Ele sentia o calor de seu sangue se esvaindo. Escorregava para a escuridão. A última coisa que viu foi uma brecha estrelada em meio às nuvens que se afastavam.


Algo roçava levemente seu rosto. A luz feria seus olhos fechados. O que roçava seu rosto se afastara. Ele agora sentia dedos cálidos e delicados correndo por seu peito e abdômen. Algo era retirado e depois recolocado onde os dedos corriam.

Ele abriu os olhos. Piscou várias vezes tentando acostumar-se com a luz. Estava recostado, as costas apoiadas em uma pilha baixa de travesseiros. Estava apenas de calça, coberto pelos lençóis até a cintura. Observou Angel correndo os dedos por seu peito, trocando curativos. Foi quase que hipnotizado pelos dedos ágeis e irrequietos.

A posição em que se encontrava tornou-se desconfortável. Sentindo-se dolorido, ele mudou levemente de posição, ajeitando-se nos travesseiros.

Fechou os olhos, absorvendo a dor que se irradiara quando se ajeitara. Sentiu que ela se movia rapidamente sobre a cama. Ao abrir os olhos, deparou-se com olhos castanhos que brilhavam em expectativa. O rosto dela estava próximo ao seu.

Então o que acontecera o atingiu como uma bofetada. Julien soluçando no chão. Lúcio Malfoy tentando estrangulá-lo. O que Lúcio lhe dissera. E quando a verdade sufocada por anos veio à tona, atingindo a Julien também.

Ele ergueu a cabeça, unindo seus lábios aos dela. Beijou-a com sofreguidão. Durante o beijo, ele deitou-se novamente sobre a pilha de travesseiros, trazendo-a consigo. Suas lembranças se dissolviam em meio às sensações despertadas por ela.

Ao se separarem, ela baixou o olhar rapidamente. Ela praguejou baixinho. Ele também baixou o olhar. Entendeu porque ela praguejara. Alguns dos curativos se tingiam de vermelho. Ela trocou-os novamente. Passou uma poção nos ferimentos, cessando a hemorragia e os cobriu novamente.

O que exatamente causou esses ferimentos?- ela indagou.

Uma esmeralda em um anel de prata.

Como assim? Ele te bateu?

Sim e não.

Se você puder ser mais claro eu agradeço.

Só uma vez. Uma bofetada. E então aquela maldita esmeralda se estilhaçou.

Mas...

Agora não. Por favor. Agora eu só quero esquecer.

Ela corria os dedos ao longo de onde estivera o corte. Havia apenas um traço quase imperceptível agora. Em cima do traço que outra bofetada causara, anos antes, em um quarto mergulhado em penumbra.

E você acha que eu não? Você acha que eu não quero esquecer quando ouvi aquele estrondo e te achei em cima da mesa, gelado como um cadáver, com as roupas empapadas de sangue?

Ela agora chorava. Ele a puxou contra seu peito, afagando os cabelos cor de outono.

O que aconteceu?- ela soluçou contra seu peito.- Quando ouvi o Julien batendo a porta do quarto dele eu achei que tivesse te perdido.

Ele ergueu o rosto dela, fazendo que ele pudesse vê-la. Com o polegar, enxugou as lágrimas que deslizavam pelo rosto dela.

Ele sabe.- ele suspirou.

Sabe?- ela o olhou, sem querer acreditar.- Como?

Ele viu. E eu também.

Onde? Como?

Não importa. Como ele está?

No quarto. Não sai mais de lá.

Ela sentou-se. Ele percebeu o quão abatida ela estava.

Durma um pouco.

Ela aceitou, relutante, aninhando-se contra ele, evitando os curativos. Em minutos, ela dormia profundamente. Ele ficou ali por algum tempo, sentindo-se aquecido pelo calor sublime que emanava do corpo dela.

O que diabos fizera com Julien? O confronto com Lúcio agora o fazia refletir. Simplesmente o desprezara em favor de Theo. E tudo para proteger a si mesmo. Essa percepção agora ecoava em seus pensamentos.

Decidiu ir falar com o garoto. Tentar explicar o que fizera com ele todos esses anos. Ignorando as pontadas de dor ele saiu da cama, desvencilhando-se de Angel. Apanhou seu penhoar de seda negra e o vestiu, sobre a calça também de seda negra de seu pijama. Amarrou-o frouxamente. Saiu silenciosamente do quarto, como uma sombra.

Estava agora em frente à porta de Julien. Fechada. Ele nem sequer bateu. Sabia que não haveria resposta. A cena lhe parecia familiar. Mas ele agora a via de outra perspectiva.

O quarto estava mergulhado em penumbra. Julien estava deitado na cama, fitando o teto. No entanto, o brilho em seu olhar não beirava a insanidade. Beirava as lágrimas. O ar estava pesado e abafado.

Ele sentou-se na poltrona que havia próximo à janela, os ferimentos novamente doendo. Não sabia como começar.

Por quê?- Julien quebrara o silêncio.

Porquê? Não sei.

Você sabia?- havia um tom de acusação na voz dele.

Sabia do quê? Do que aconteceu com sua mãe? Sabia. Mas só fiquei sabendo quando não havia mais o que fazer. E tive minha cota de remorso.

Por quê?

Eu ficava pensando, e se eu tivesse feito alguma coisa? E se tivesse tirado-a de lá? Mas não fiz. E tive que aceitar isso. Mas quando a encontrei em Londres, eu fiz. O que não diminuiu a minha sensação de culpa. E ela me tirou de onde eu estava.

Onde você estava?

Em um inferno. Um inferno que só terminou quando Lúcio o pegou. E agora Lúcio está morto. Agora só restam as lembranças.

E o que isso tem a ver comigo?

Tudo. Você, justamente você, me lembrava de tudo o que eu queria enterrar. Eu olhava para você e via Lúcio. E via o que ele fizera comigo. Então, decidi ir pelo caminho mais fácil. Te evitar. E não deu certo.

O que foi que ele te fez?

Não me faça te contar.

Por favor. Eu preciso saber. Quero, preciso, entender.

O que você quer saber?

Tudo. Quem são os Malfoy?

Os Malfoy? Uma família que preza acima de tudo o sangue puro, dinheiro e poder. Uma família onde os que amam são fracos, inúteis. Uma das famílias mais influentes no Ministério da Magia e no círculo dos seguidores de Voldemort.

Voldemort?

É. Um bruxo mestiço que, ironicamente, queria eliminar os mestiços e os nascidos trouxas, chamados de sangue ruim.

Ele me chamou de sangue ruim. Eu não sou um, sou?

Não. Mas o sangue de alguém não importa. As origens não importam. O que importa é o que esse alguém é.

Você falou de uma tal de Narcisa...

Minha mãe. Mas eu não a considerava como sendo minha mãe. Narcisa Malfoy. Era esse o nome dela. Mas quando solteira, ela era uma Black. E então em mais um jogo de poder, ela se tornou uma Malfoy. E eu fazia parte desse jogo.

Como assim?

Bem, Voldemort parece que achava que o sangue dos Black e o dos Malfoy eram fracos isoladamente, mas com grande potencial se unidos. Então foi simples. Casou Narcisa Black com Lúcio Malfoy e exigiu que eles tivessem um herdeiro.

Você?

É. E Voldemort acreditava que o herdeiro do sangue Black e do sangue Malfoy, teria mais poder mágico, além de um sangue extremamente puro. E, para meu azar, era verdade. E então me tornei o sucessor de Voldemort. Mas eu não queria. E, mesmo assim, por algum motivo que até hoje não descobri, eu tentava fazer com que Lúcio se sentisse orgulhoso. Mas nunca conseguia. E ele sempre me levava para a mesma sala que você conheceu e me punia ali. Nunca entendi por que. Quando entrei em Hogwarts, já começara a ser introduzido em Magia Negra. Em Hogwarts, como era de se esperar, fui para a Sonserina.

Sonserina?

Uma das quatro casas de Hogwarts. Elas são Grifinória, Sonserina, Corvinal e Lufa Lufa. Sua mãe foi uma grifinória. E eu era conhecido como o Príncipe da Sonserina. Mas eu detestava isso. Todos em Hogwarts não me viam pelo que eu era, e sim pelo sobrenome. Aos dezessete anos, fui marcado.

Marcado?

Ele não respondeu. Em vez de responder, ele subiu a manga do penhoar, revelando a Marca.

Todos os seguidores de Voldemort tinham essa marca. No entanto, quando ele foi destruído, as outras se apagaram. Menos a minha. Porque era meu dever continuar com o que Voldemort começara. Mas eu não fiz isso. Finalmente me recusei a cumprir o que outros haviam estabelecido.

Por que você não fez isso antes?

Não havia uma razão. Não havia ninguém que me motivasse a lutar contra isso. E então me deixei levar. Foram oito anos assim. Até que encontrei sua mãe em Londres. E ela me fez ver o outro lado da vida. E pensar que eu a ofendia sempre que podia...A ela e ao irmão dela.

Por quê?

Porque era assim. Havia simplesmente ódio e desprezo entre os Malfoy e os Weasley. Mas só descobri que sua mãe era uma Weasley muito mais tarde. E então, eu já havia caído por ela. Assim como ela caiu. Mesmo sabendo quem eu era, ela me ajudou. Ela já havia caído antes. Ela caiu quando Lúcio a aprisionou. E eu caí quando a conheci. Eu caí de meu inferno para a Terra. Ela caiu do paraíso para a Terra. Na última batalha Voldemort foi destruído e os seus seguidores condenados sem julgamento, com exceção de Lúcio. Lúcio foi para o Saint Mungus graças à encenação de loucura. E ele nunca me deixou em paz. Me acusando silenciosamente de traição, ele continuava me trazendo dor. Quando ele me acusava de traidor, a Marca se manifestava. Era como uma tentativa de voltar a me controlar. Que foi o que aconteceu quando fui atrás de você.

Eu tive tanto medo...- Julien agora libertara as lágrimas, que escorriam por seu rosto.

Não há problema em sentir medo. Não é sinal de fraqueza. Você não é fraco por ter visto o que viu naquela sala. Você se tornará fraco se se deixar tomar pelo que viu. Eu é que fui fraco. Fraco por ter apenas evitado em vez de enfrentar.

E se eu fosse mais parecido com a minha mãe? Teria sido diferente?

Provavelmente sim. E é exatamente isso o que me atormenta.- ele agora enterrara os dedos nos cabelos.

A partir de agora será diferente?

Você me ajudará?

Ajudarei. Você me deixará sair a cavalo com você?- a voz de Julien adquirira um tom infantil.

Não. Eu preciso desses momentos de solidão. Preciso ficar sozinho às vezes.

Tudo bem.- agora Julien tinha um ar desapontado.

Mas o resto será diferente. Eu prometo que vou tentar. Mas você terá de esquecer tudo o que aconteceu antes. Você acha que consegue?

Consigo.- Julien agora enxugava as lágrimas e tinha um ar confiante.

Você é um grifinório, sabia?

Sabia. Mamãe sempre me diz isso.- Julien sorriu.

Ele recostara-se contra a poltrona. Quando deu por si, Julien o abraçava. O garoto o soltou, permanecendo sentado sobre seus joelhos.

Só mais uma pergunta. Por que seu pai o chamou de Draco?

Porque esse é meu nome.

Mas mamãe não te chama assim. Ela te chama de Alex.

Esse é meu segundo nome. Meu nome inteiro é Draco Alexander Malfoy.

E por que meus tios chamam ela de Gina?

Porque o primeiro nome dela é Virginia Angélica Weasley. Eu a chamo de Angel, porque é o que ela é para mim. Um anjo. Mas os irmãos dela a chamam de Gina porque é o apelido de Virginia.

Alex!

Bem, acho que sua mãe acordou. Lá vem sermão...

Alex! Ficou doido de vez? Olha só! Está sangrando de novo! Vou ter que trocar tudo de novo...

Sinceramente? Eu não me importo... – Julien já saíra de seus joelhos.

Ele levantou-se. Voltou ao quarto. Se sentia aliviado. Angel o seguia, suspirando irritada. No entanto, não deixou que ela trocasse os curativos imediatamente. Disse a ela que precisava tomar uma ducha. Teve de insistir muito para que ela deixasse.

Agora ele sentia a água batendo em suas costas doloridas pelo tempo que passara deitado. Num primeiro momento, a água ficara vermelha de sangue, mas os ferimentos haviam cessado sua hemorragia.

Começaria de novo com Julien. E isso o motivava a esquecer o que acontecera antes. E ele esqueceria.

N/A

pronto! Deu pra me redimir? Se naum deu, eu me mato! Naum vai dar pra responder as reviews pq eu realmente to sem tempo...Toh atulaizando tudo, ateh a QAC, entaum...

Jinhus

G.W.M.