Ainda Há Esperança

Por Ayame N. Yukane


Capítulo 2

O Luar na Chuva

Kagome estava muito entretida demais na batalha em que InuYasha e Naraku estavam travando para pensar em qualquer outra coisa. Esperava por uma brecha de Naraku para atirar mais uma flecha, favorecendo o meio-youkai de cabelos prateados.

Enquanto seus olhos seguiam velozes todos os movimentos executados pelos dois, sua visão alcançou um youkai creme em um canto periférico de sua visão.

Quando Kagome reconheceu-o como Kirara, uma onda de preocupação a invadiu. Seu estômago afundou quando a procurou mais uma vez e não conseguiu enxergá-la.

A morena decidiu-se por verificar a batalha que Miroku, Sango, Shippou e Kirara travavam com Kagura ao ser invadida por um mau pressentimento.

Kagome deixou o local correndo, evitando olhar para InuYasha mais uma vez. Pudera ver que ele lhe lançara um olhar preocupado quando a viu começar a correr, mas ela não podia distraí-lo. Em vez disso, continuava pensando. O que teria acontecido? Se é que realmente tivesse acontecido alguma coisa e não fora uma superstição tola.

Primeiro veio um clarão, seguido de um trovão. Este foi o sinal para uma forte chuva começar. Kagome acelerou a corrida quando as gotas de água começaram a se chocar contra seu rosto.

Em pouco tempo, seu uniforme escolar estava completamente ensopado. Locomovia-se como podia—protegendo os olhos com as mãos, tentando enxergar além das gotas da chuva que colidiam velozmente com o chão. Seus sapatos e meias se encharcaram com igual rapidez, o que comprometia seu equilíbrio e exigia dela cuidado extra para não tropeçar nas raízes das árvores.

Kagome chegou em um local não muito afastado—estava visível de onde estava anteriormente, observando a luta de Naraku e InuYasha.

A morena forçou a vista para distinguir os vultos na sua frente. Kagura se recostava casualmente a uma árvore, Kanna a seu lado. Primeiro, foi invadida pelo medo. Em seguida, horror—seus quatro amigos estavam caídos no chão.

Miroku, Shippou, Sango e Kirara estavam sem nenhuma vida expressa em seus olhos arregalados. Estavam todos mortos. Kanna havia usado seu espelho, que sugava toda a vida do ser, deixando apenas uma casca vazia.

Sob o luar, aquela chuva a castigava. Se não forçasse a vista, não precisaria ver os olhos sem vida de seus amigos—mas alguma coisa a impedia de fechar os olhos, de desviar o olhar. Suas lágrimas se camuflaram com as gotas de chuva que caiam sobre ela.

A garota, com os olhos marejados, estava com uma flecha apontada para Kanna e Kagura. O que poderia fazer? Não muita coisa, concluiu. Mas uma de suas opções—e a menos insana dentre todas elas—era essa. Kagura estava com um sorriso estampado no rosto—para ela, a vitória já era garantida.

Kagome atirou a flecha—as lágrimas finalmente rolando livremente por seu rosto. Kagura abriu ainda mais o sorriso quando ao invés do espelho fazer a flecha voltar contra Kagome, ele a absorveu.

A garota do futuro permaneceu imóvel, observando o espelho refletir brevemente os corpos sem vida de seus amigos. Aquela era uma flecha purificadora de sacerdotisa, era feita de almas, que seriam engolidas pelo espelho.

— Você já fez isso uma vez, garota! Acha que o espelho não foi reajustado para caber mais almas? — provocou Kagura triunfante, com um sorriso cada vez maior.

— Não é nada que mais flechas não resolvam! — berrou Kagome, fortalecida pela mera visão de ver os corpos estirados no chão voltarem a se mover, as lágrimas escorrendo livremente por seu rosto.

Kagome atirou mais uma flecha e o espelho a absorveu.

Nada aconteceu. Kagura ria alto.

A morena alcançou outra flecha.

"Acerte!" suplicou ela em pensamento, desesperadamente.

Kagome atirou a flecha. Novamente o espelho a absorveu.

— O espelho... — começou Kanna, com a voz distante. — Está quase cheio de almas...

— Kanna, minha irmã, você não conseguiria soltar as almas dos aldeões que invadiram o castelo? — perguntou Kagura esperançosa.

— Não — respondeu Kanna inexpressiva. — Se eu tentar soltar apenas uma... Todas as outras saem...

— Eu ainda tenho uma última flecha! — interferiu Kagome, apontando a flecha para Kanna.

Kagura percorreu os olhos ligeiramente pelo terreno, como se procurasse por alguma coisa. Quando a encontrou, ela começou a rir.

— Vamos! Atire-a! — desafiou.

Kagome sentiu todos os seus músculos congelarem por alguns segundos. Por que ela estava rindo? O que a mestra dos ventos poderia estar escondendo que a prejudicaria quando atirasse a flecha?

— Do que está rindo? — exasperou-se a garota. — Eu não estou brincando!

— Atire essa flecha — começou Kagura sorrindo — e deixe InuYasha morrer.

O espelho sugador de almas, então, mostrou o rosto de InuYasha. A atenção da garota se voltou para Kanna.

Kagome olhou fixamente para dentro do espelho. Tanto InuYasha quanto Naraku aparentavam estar muito feridos—o sangue dos dois ensopavam as vestes e o solo. Observando com atenção, a garota percebeu que uma parte de Naraku, parecida com um tentáculo, encontrava-se atrás do meio-youkai de cabelos prateados, preparada para absorvê-lo.

Kagome se virou bruscamente para a direção em que os meio-youkais lutavam; horror estampado nos olhos.

— Cuidado, InuYasha! — gritou Kagome atirando a flecha na direção em que estava o meio-demônio.

O pedaço de Naraku que absorveria InuYasha desapareceu rapidamente quando a flecha se aproximou.

Foi quando Kagome viu o rosto lívido de InuYasha que entendeu a situação. Gastara sua última flecha para salvar o meio-youkai, mas não podia fazer mais nada por si mesma agora.

Kanna começou a tentar arrancar a alma de Kagome mais uma vez, na esperança de que desta vez conseguiria finalmente.

"Eu estou... fraca", pensou Kagome, os joelhos trêmulos e a cor do rosto escairindo-se.

Estava tonta, não conseguiu se manter de pé, e os joelhos cederam. Seu corpo colidiu com a terra com um baque. Levantou-se com dificuldade, ficando de joelhos na terra molhada pela chuva que começava a enfraquecer, assim como ela.

Sem conseguir manter o equilíbrio, Kagome inconscientemente pendia de um lado para outro lentamente, olhando para seus amigos mortos no chão.

— Kagome! — gritou InuYasha em tom urgente.

O meio-youkai lançava olhares preocupados, gritava o nome da garota a todo segundo, mas sentia-se cada vez mais inútil só de pensar que nada poderia fazer para salvá-la—Naraku não o dava oportunidades para sair da luta e correr para socorrê-la.

InuYasha farejou o ar por alguns segundos. Fez uma cara de desaprovação, embora sua expressão se aliviara e sinais de alívio começavam a transparecer em seu rosto.

De repente, um pequeno redemoinho de ar apareceu ao lado de Kagome. Kanna, ao sinal de Kagura, parou de tirar a alma da garota.

Quando o vento parou de girar, apareceu um youkai-lobo. Ele era Kouga, o príncipe dos youkais-lobos de sua tribo.

Ligeiramente, o jovem de cabelos compridos pegou Kagome no colo e a tirou do alcance das duas irmãs—crias de Naraku. Kouga tentou colocar Kagome de pés no chão, mas, ao fazer isso, a morena cambaleou para frente, sem força nas pernas para manter-se de pé. Ele a segurou, observando-a com preocupação e horror.

Furioso, Kouga se virou para InuYasha e encheu os pulmões de ar antes de gritar:

— Cara-de-cachorro! Como deixou isso acontecer com ela?

Embora InuYasha estivesse ocupado com a luta que travava, conseguiu gritar de volta:

— E você acha que eu estou em condições de fazer alguma coisa? — exasperou-se, o alívio do rosto sumira.

Kouga, que agora não conseguia mais conter sua raiva, dirigiu-se a Kanna e Kagura.

— O que fizeram com ela? — gritou ele, enfurecido.

— Nada de mais... — respondeu Kagura cinicamente. — Só arrancamos metade da alma dela.

Kouga lançou a ela um olhar de profundo desprezo. A raiva lhe fervia o sangue de youkai e o seu rosto se contorcia em fúria. As presas de lobo instintivamente à mostra. A youkai dos ventos só havia visto aquele olhar sofrido e furioso uma vez—quando matou os companheiros da alcatéia de Kouga. Nunca esperou ver aquele olhar novamente. Não queria. Era um olhar com um instinto... Assassino? Talvez—mas algo mais dizia aquele olhar.

— Dê um fim nisso, Kanna! — demandou Kagura com urgência na voz, tentando evitar olhar Kouga nos olhos.

Kanna concentrou-se em Kagome—a garota permanecia de joelhos, pendendo para a direita, exatamente onde Kouga a deixara. Eventualmente, suas mãos se retraíam, trêmulas, mas logo voltavam a pender ao lado do corpo.

A youkai-nada a observou sem nada demonstrar. Finalmente arrancaria por inteiro a alma daquela garota que Naraku tanto temia. Só não conseguia compreender para que temer tal insignificância. Não compreendia como seu criador podia temê-la, uma humana tão frágil.

Kanna começou a tirar a alma da garota do futuro, mas com um movimento rápido de Kouga, a youkai começou a cair com a rasteira que ele passara nela. Em seguida, Kanna flutuou a alguns centímetros do chão, antes que caísse, e logo se recompôs. Concentrou-se em arrancar fora aquela alma que tanto perturbava seu mestre.

"Espero que isto resolva", pensou Kouga correndo rapidamente na direção de Kagome. Postou-se na frente dela, não sem antes observar por um segundo seu rosto inexpressivo. Os olhos da garota, porém, ainda detinham lágrimas—como se ela estivesse consciente o bastante para saber o que ele estava fazendo. Deu um breve sorriso para ela, tentando tranqüilizá-la.

Kanna retraiu seu espelho quando terminou de arrancar a alma. O corpo vazio emitiu um baque quando atingiu o chão. Para a surpresa da youkai-nada, fora a alma de Kouga que absorvera. Kagome continuava de joelhos, imóvel.

As lágrimas escorriam livremente por seu rosto. A garota não conseguia gritar, não conseguia se mover. Viu o corpo do príncipe dos youkais-lobo se chocar com a terra e não pôde fazer nada. Estava impossibilitada, sem forças. Gritar de terror e tristeza era a primeira coisa que provavelmente faria.

Kagura andou lentamente até Kouga, passando por Miroku, Sango, Shippou e Kirara. Estendeu seu braço para pegar os fragmentos da Jóia que estavam nas pernas do rapaz. Por que temia tanto o olhar assassino daquele youkai? A mestra dos ventos preferiu não pensar.

Quando tocou os fragmentos, Kagura sentiu uma forte dor no estômago e foi arremessada para trás.


C.O.N.T.I.N.U.A.

N/A: Olá!! Fiquei muito feliz em saber que gostaram da reformulação do fic! A única dificuldade em fazer este capítulo foi por um certo personagem inexpressivo... *cof Kanna cof*Eu não conseguiria de jeito nenhum encaixar uma risada maquiavélica em seu perfil...

Muito obrigada a todos! Espero reviews!

Beijinhos!!

AyaNayru