Ainda Há Esperança

Por Ayame N. Yukane


Capítulo 4

A Ponta da Espada

Decidida a amparar Miroku, Sango, Shippou e Kirara na ajuda à InuYasha, Kagome começou sua caminhada pela floresta, à procura dos amigos.

Andando por poucos minutos, seus olhos e sua boca se escancararam. Levou as mãos à boca involuntariamente e iniciou uma corrida.

Kagome movia as pernas o mais rápido que conseguia, mas não parecia avançar nem um passo sequer. Seu destino parecia estar se distanciando cada vez mais.

De repente, tudo ficou escuro. Nada mais iluminava o local—a lua sumira por entre as árvores, as folhas escondiam o céu com perfeição. Embora às cegas, a morena não parou de correr.

Já estava cansada antes mesmo de enxergar o fim do corredor mal-iluminado. Propôs a si mesma que correria em linha reta, sem desviar do curso traçado por seus olhos. Quando se deu conta de que corria há alguns minutos, tentou se convencer de que não deveria estar tão longe do local onde estavam seus amigos.

Ao tropeçar em algo que estava fincado no chão, Kagome caiu na terra com um baque. A garota não se cortou, mas como bateu com força contra o objeto—o que deixou uma marca em sua perna.

A morena tateou o solo e pegou o que a fez cair. Seus dedos sentiram o objeto frio e pontudo. Era a espada Tessaiga—ou, pelo menos, metade dela.

Kagome, desesperada, reiniciou sua corrida. Lágrimas silenciosas escorrendo pelo seu rosto, dificultando ainda mais a visibilidade.

Quando saiu da floresta e a luz da lua voltou a iluminar seu caminho, avistou seus amigos mais à frente. Miroku, Sango, Shippou e Kirara estavam caídos no chão; marcas de garras em seus corpos.

A cor do rosto de Kagome desapareceu aos poucos—não se sentia bem. Desejava muito andar até eles, ansiosa, e ver se estavam vivos, mas suas pernas se recusavam a sair do lugar.

Diferentemente do que vira anteriormente—os quatro amigos estirados no chão com os olhos sem vida—, desta vez os observava ensangüentados, mas não conseguia ver os olhos. A esperança existia, mas Kagome não conseguiu, embora tentasse, convencer a si mesma de que eles ainda respiravam.

Quando conseguiu fazer com que a coragem voltasse a pulsar em seu sangue, correu até os amigos e sentiu cada pulso com atenção—o seu próprio disparado. A cor de sua face retornou aos poucos assim que ela pôde respirar aliviada; estavam vivos.

Apressadamente, Kagome alcançou o seu kit de primeiros socorros na mochila amarela e fez curativos em cada um de seus amigos que estavam desacordados.

"Sorte de vocês que estão desmaiados", pensou Kagome se lembrando da reação da youkai-lobo Ayame poucos minutos atrás. "Ia arder muito se estivessem acordados. Seria um problema contê-los sozinha", concluiu.

Shippou e Sango não se mexeram enquanto a garota do futuro passava o remédio; Kirara, porém, soltou uma espécie de rugido, e se levantou abruptamente, olhando atenta para os lados, como se tivesse algum inimigo à espreita—ao ver que era Kagome, tentou se conter e esperou que ela passasse o remédio; Miroku acordou quase que instantaneamente, gritando ao toque do remédio e rapidamente sentou-se.

— Kagome! — ele exclamou. — O que está fazendo? Tentando me matar?!

A moça de cabelos escuros revirou os olhos com o exagero do rapaz.

— Se eu não passar aí é que você morre — censurou-o fazendo uma careta ao ouvir suas próprias palavras; não era uma boa hora para brincadeiras.

Miroku relutou-se mais um pouco a deixar a amiga passar, mas também acabou cedendo ao observar melhor o rosto da morena e perceber o olhar cansado que ela carregava.

Quando terminou de passar o remédio em todos, Kirara e Miroku ajudaram Kagome a esconder os amigos em algum lugar seguro.

— Miroku, cuide deles com a Kirara. Eu vou atrás do InuYasha.

Miroku assentiu, observando a amiga se virar para o leste para correr novamente.

Kagome podia ver a floresta ia ficando cada vez mais próxima. As árvores que estavam de pé, estavam queimadas, enquanto as demais jaziam no chão, quebradas ou arrancadas pela raiz.

Kagome correu pelo caminho sem hesitar. Conforme acelerava, a paisagem se alterava—as árvores pareciam voltar à vida conforme ela se dirigia ao coração da floresta.

O semblante determinado e confiante da garota se transformou em assombro. Horror percorreu por suas veias e ela deixou-se intoxicar pelo medo por poucos segundos.

No seu campo de visão, ela podia ver uma batalha acirrada. Identificou Naraku, mas o outro youkai que lutava, movia-se rápido demais para que ela o reconhecesse.

"Onde está InuYasha?" perguntou-se Kagome tentando enxergar o rosto do youkai que lutava com Naraku por entre a fina névoa que envolvia o lugar. Tentou afastar o pensamento de que InuYasha fora derrotado de sua mente.

A moça de cabelos escuros se aproximou dos youkais com mais cautela, alerta.

As roupas vermelhas rasgadas do youkai desconhecido faziam com que ela fraquejasse. Quando viu seus cabelos prateados, fechou os olhos momentaneamente, um lágrima solitária escorrendo pela bochecha esquerda. Os olhos de InuYasha estavam vermelhos e alucinados; a boca estava escancarada, as presas à mostra.

— InuYasha...

Kagome percebeu, assombrada, que Naraku estava perdendo a luta. Ensangüentado e machucado, mal tinha chance de se defender frente a rapidez e os golpes seqüenciais de InuYasha.

— InuYasha! Pare! — gritou uma voz feminina vinda do lado oposto em que Kagome estava.

Conforme a névoa se dissipava, a garota de cabelos escuros percebeu de quem se tratava—não conseguira reconhecê-la só de ouvir a voz, estava atormentada demais para isso. A recém-chegada tinha uma aparência semelhante à de Kagome. Ela estava com o cabelo preso em uma fita branca e carregava uma expressão fria de sabedoria antiga.

Essa estranha mulher era uma sacerdotisa chamada Kikyou, que morreu pelo desejo de Naraku de corromper a Jóia de Quatro Almas, mas ela foi ressuscitada pela bruxa Urasue e vivia agora com um novo corpo, feito com a terra de sua sepultura e seus ossos; ela morrera nas mãos de Naraku, pensando que InuYasha a matara. O meio-youkai tivera o mesmo destino, embora tenha ficado lacrado em uma árvore até que Kagome, uma estudante colegial da era atual, tirasse o lacre feito por Kikyou. Acreditavam que Kagome Higurashi era a reencarnação dessa sacerdotisa.

Esse meio-youkai, Inuyasha, transforma-se em youkai quando sua espada Tessaiga é quebrada; quando isso ocorre, porém, sua vida fica em risco e ele não tem controle do que faz.

Kagome encarou longamente Kikyou. O que ela fazia ali? Assustada demais para pensar nos motivos da finada sacerdotisa, a garota do futuro olhou mais uma vez para InuYasha, agora um youkai-completo, atacando Naraku impiedosamente. Provavelmente fora ele mesmo quem atacara Miroku, Sango, Shippou e Kirara mais cedo, sem controle sobre seus atos.

Kikyou pegou uma de suas flechas em um movimento lento e vagarosamente a preparou em seu arco.

"O que ela pretende fazer?" perguntou-se Kagome curiosa.

A sacerdotisa mirou sua flecha em Naraku, que continuava perdendo para o outro youkai.

O semblante de Kagome se iluminou momentaneamente quando ela entendeu o que estava acontecendo. A garota começou a correr em direção à batalha que estava sendo travada com esforço—correra demais naquela noite; suas pernas exaustas limitavam sua velocidade.

Kikyou olhou com desprezo pelo canto dos olhos para a garota que corria. Atirou a flecha que estava segurando sem pestanejar.

"Eu vou chegar a tempo!" obrigou-se Kagome em pensamento. "Eu tenho que chegar a tempo. Por favor!"

A flecha atirada pela sacerdotisa de cabelos negros, entretanto, não estava indo em direção a Naraku—InuYasha seria atingido no peito, e a cena de cinqüenta anos atrás da era feudal se repetiria.

Kagome tentou acelerar a corrida com lágrimas nos olhos. InuYasha estava muito longe dela; longe demais para que ela conseguisse alcançá-lo correndo.

"InuYasha... Eu não vou conseguir chegar a tempo", lamentou-se a garota com as lágrimas rolando livremente pelo rosto.

Ela cessou a corrida com um movimento brusco. Só de pensar em InuYasha com uma flecha novamente cravada em seu peito, tinha vontade de gritar, em plenos pulmões, esperando que fosse um sonho ruim e que em breve acordaria. A imagem dele ferido, atingido pela flecha da antiga amante era uma imagem atordoante o bastante para que Kagome agisse com rapidez.

— SENTA!

Com a ordem de Kagome, InuYasha caiu de boca no chão em um movimento brusco, começado pelo pescoço e se estendendo por todo o corpo do youkai. A flecha purificadora atirada pela sacerdotisa passou velozmente sobre a cabeça dele.

O pescoço do youkai de cabelos prateados e olhos vermelhos estava envolto por um colar de pequenas esferas negras e presas brancas. Combinado com uma palavra espiritual proferida por uma sacerdotisa, o colar aplaca os espíritos, ou seja, acalma o portador de alguma forma.

Ao ver que InuYasha desviara inconscientemente de sua flecha espiritual, Kikyou caminhou até Naraku com uma expressão de desgosto estampada na face. O youkai de longos cabelos negros estava caído no chão e mal se movia.

InuYasha mantinha-se caído, de bruços. Kagome o mirava com preocupação, afinal, ele não se levantara como costumava fazer.

Um som estridente ecoou na floresta, surpreendendo Kagome e os presentes, que viraram os rostos na direção das árvores.

Kagome virou seu corpo inteiro, então, e olhou com desconfiança para a floresta, onde se originara o barulho. Ao perceber que o que fosse que estivesse lá não havia se mexido mesmo com a reação da garota, a garota de cabelos escuros se levantou de seus joelhos e começou a andar cautelosamente em direção ao local.

Kikyou alcançou uma flecha e a mirou no arco, com um movimento lento e pensado.

Do local em que Kagome olhava, saíram Miroku, Sango, Shippou e Kirara. Kirara carregava Sango e Shippou, enquanto Miroku andava ao lado da youkai com dificuldade.

Kikyou soltou a flecha.

— Kagome! — alertaram Miroku e Sango em um grito uníssono.

Uma silhueta, rápida como o vento, pegou Kagome no colo e tirou-a do caminho da flecha da sacerdotisa. Era InuYasha. Mas seus olhos já não estavam mais vermelhos, voltaram a apresentar o brilho dourado de meio-youkai.

A garota de cabelos negros foi depositada no chão com cuidado ao lado dos amigos, sem conseguir ao menos pronunciar o nome do rapaz que a salvara, enquanto InuYasha voltara rapidamente para lutar contra Naraku.

Kikyou estava lívida e trêmula. Não esperava que InuYasha salvasse Kagome; não esperava que ele passasse por ela sem lhe direcionar um olhar sequer, com frieza. Kikyou não estava mais no campo de batalha e Naraku estava sozinho, tentando se levantar.

Miroku aproveitou-se da situação para abrir o "Buraco do Vento".

Antes que os insetos infernais Saimyo-sho aparecessem, Naraku naturalmente estava sendo sugado. Eles se direcionaram para a mão direita do jovem monge, mas não foram sugados. Ao invés disso, ficaram voando livremente.

Os Saimyo-sho eram insetos mortalmente venenosos. O que o monge Miroku poderia fazer era continuar com o "Buraco do Vento" aberto, ser envenenado e aguardar por sua morte que não tardaria a chegar.

Sango não ficaria parada esperando que o sonho demente de Naraku fosse realizado e seu amigo morresse. Então, a moça de longos cabelos presos em um rabo-de-cavalo começou a acertar os insetos com seu "Osso Voador", matando-os no ar. Estava ajudando, mas ainda restavam muitos deles.

Shippou, ao ver o que a exterminadora de youkais fazia, encheu-se de coragem e começou a usar seu "Fogo de Raposa" nos Saimyo-sho, na tentativa de ajudar a amiga. Mesmo com pouco de seu poder, Shippou acabou se tornando uma grande ajuda.

Se a situação continuasse naquele ritmo, Naraku seria completamente sugado.

Mas de Sango e Shippou, três insetos infernais escaparam; e seu destino era a mão direita do monge. Miroku recuou um pouco, mas manteve o Buraco do Vento aberto.

Os insetos estavam muito próximos, a ponto de envenená-lo, quando InuYasha surgiu perto dos amigos e usou suas "Garras Retalhadoras de Alma", reduzindo os três a pedaços.

Naraku, sem ver outra saída para si mesmo, jogou uma colméia inteira de insetos do inferno contra a mão do monge. De dentro da colméia saíram milhares de insetos, que começaram a atacar Sango e Shippou, que não conseguiram barrar sua passagem.

Miroku rapidamente fechou o "Buraco do Vento".

O céu escureceu novamente, mas o que se diferenciava do negro, era uma nuvem arroxeada de gás miasma que pairava sobre as cabeças dos presentes.

Desta nuvem, apareceu uma grande e majestosa pluma. Em cima dela, estavam Kanna e Kagura.

Quando aterrissaram, Kagura transformou a grande pluma, que adquiriu o tamanho real e a colocou em seu coque.

As youkais crias de Naraku caminharam lentamente até InuYasha, que ficou em posição de ataque, desembainhando sua espada.

— Abaixe a Tessaiga, InuYasha — disse uma voz masculina vinda de trás dele. Era uma voz muito conhecida pelo meio-youkai, uma voz muito odiada. — Não há necessidade alguma de lutar.

InuYasha olhou para trás sem necessidade. Ele reconhecia aquela voz fria. Encontrou atrás de si um youkai de longos cabelos prateado como ele, trajando vestes brancas com uma armadura.


C.O.N.T.I.N.U.A.

N/A: Olá!! E então, gostaram? Finalmente a Kikyou apareceu—sinto muito para as pessoas que gostam dela, mas, como deu para perceber, eu definitivamente não gosto.

Muito obrigada a todos! Espero reviews!

Beijinhos!!

AyaNayru