Ainda Há Esperança

Por Ayame N. Yukane


Capítulo 6

O Retorno de Kikyou

Quase que instantaneamente Kagome caiu no chão—InuYasha cortara fora o braço de Naraku que a suspendia.

O meio-youkai de cabelos prateados segurou o corpo da garota próximo ao seu, sem ousar respirar o ar em volta da moça, o cheiro metálico do sangue dela intoxicava o ambiente e fazia com que o sentimento de culpa o invadisse. Sem ouvi-la respirar, seu rosto ficou pálido. Não ousou encarar seu rosto—não queria ver os olhos dela. Estariam acusando-o? Estariam vidrados e sem vidas? O brilho alegre que tanto gostava os teria deixado? Imaginou por um momento não ouvir mais a voz dela e suas mãos tremeram sob o corpo da garota de longos cabelos negros.

Naraku pegou os fragmentos da Jóia de Quatro Almas que Kagome carregava em um frasco e se afastou. Utilizando-os, ele fez com que seu próprio corpo se transformasse—suas pernas se tornaram tentáculos, que estavam em grande número e se mexiam de forma desconexa.

Sango deixou o "Osso Voador" preparado, assustara-se com o que acontecera com Kagome, não poderia baixar a guardar e deixar acontecer mais coisas com seus amigos.

Enchendo-se de coragem, InuYasha aproximou seu ouvido do rosto de Kagome e esperou pelo sopro da respiração dela. Sem sucesso, suas pernas cederam e, de joelhos, ele rapidamente alcançou o pulso da garota.

Miroku se aproximou e parou atrás do meio-youkai, olhando ansioso e, ao mesmo tempo, preocupado.

— Ela ainda está viva! — exclamou aliviado, mas mantendo a expressão preocupada.

Ele já tinha se decidido. InuYasha pegou Kagome no colo com cuidado e entregou seu corpo inerte nos braços do monge.

— Leve-a para longe daqui — pediu ele, o olhar decidido.

— O quê?

— Tire-a desse lugar — repetiu ele. — E leve a Sango junto — prosseguiu InuYasha sério.

— Está bem... Mas e quanto a você InuYasha? — perguntou o monge com uma expressão preocupada, de quem já sabia o que o meio-youkai estava tramando, que conhecia o amigo bem o bastante para saber o que ele queria.

— Eu ficarei aqui para acabar com esse maldito — respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

O monge se reteve no lugar, pensando por alguns segundos.

— O que está esperando? Vá logo!

— Desculpe, InuYasha, mas acho melhor levarmos a senhorita Kagura conosco... — disse ele olhando tristemente para a youkai dos ventos, que chorava desolada sobre o corpo da irmã mais velha.

— Maldição! — esbravejou ele, irritado. — Droga! Leve-a com vocês! Contanto que vocês saiam desse lugar o mais rápido possível!

Miroku, com Kagome desacordada em seus braços, deixou InuYasha. O meio-youkai, entretanto, postou-se na frente do monge e encarou novamente a garota desacordada. Estava mais lívida ainda—seu sangue escorria nas mãos de Miroku e caia na terra molhada pela chuva com sons ritmados. Com dor nos olhos, InuYasha não pôde evitar abaixar-se na direção da garota e depositar um beijo demorado na testa pálida da moça. Em seguida, fechou os olhos e se virou novamente para Naraku.

Atordoado, Miroku correu até a exterminadora de youkais para lhe passar a mensagem de InuYasha. Sango tentou protestar:

— Não é só InuYasha que tem motivos para lutar com ele! — bradou a moça tentando andar, mas Miroku se pôs na frente dela.

— Estou apenas passando a mensagem à diante! Se InuYasha ficar bravo, a culpa não vai mais ser minha! E você sabe como InuYasha é quando fica estressado!

Sango refletiu um pouco.

— Está certo — consentiu ela tristemente ao observar o semblante de dor de Kagome; a amiga que já a ajudara tantas vezes naquele dia estava sofrendo.

Ela chamou pela youkai Kirara que estava perto dos acompanhantes de Sesshoumaru—o dragão de duas cabeças, o youkai-lagarto e a garotinha humana Rin.

Kirara ela estava em sua forma menor; não mais parecia um grande felino, agora se assemelhava a uma pequena gatinha creme. Com uma expressão satisfeita e os olhos fechados, ela era acariciada por Rin.

Ao ver a amiga, Kirara deu alguns passos para afastar-se da pequena menina e transformou-se. Então, ela foi ao encontro do monge e da exterminadora.

Miroku ajeitou Kagome em Kirara de forma que ela não fosse cair durante o percurso, mas foi tudo em vão, pois Sango teve se ficar segurando as costas de Kagome para que ela não tombasse para trás.

Miroku tentou montar atrás de Kagome, mas Sango impediu-o.

— Não, não, não! Você com certeza fará alguma gracinha, seu pervertido! Você vai na frente, senhor monge!

Miroku montou na frente de Kagome, desapontado.

Sango passou uma perna para montar em Kirara, mas desistiu e voltou a perna para o solo. A jovem exterminadora de youkais seguiu em linha reta em direção à garotinha humana.

Miroku, então, inspirou-se pelo movimento de Sango e desceu de Kirara, dirigindo-se para a chorosa Kagura.

Sango parou em frente à garotinha Rin e agachou-se.

— Você não gostaria de vir com a gente, pequenina? — perguntou a exterminadora sorrindo.

A garota olhou para os dois lados para ver se era com ela mesmo e, então, ao perceber que realmente Sango estava falando com ela, respondeu:

— O senhor Sesshoumaru ainda está aqui... Vou ficar com ele! — disse docemente a garotinha sorridente.

— Sesshou... — começou Sango confusa. — Sesshoumaru? — contestou ela abismada, olhando para ele.

Para a surpresa da exterminadora de youkais, o youkai de cabelos prateados olhava diretamente para ela. Como se estivesse acompanhando a conversa desde o princípio, Sesshoumaru falou do lugar em que estava:

— Rin, acompanhe-os.

— Eu não posso ficar com o senhor? — perguntou docemente.

— Não, Rin — respondeu Sesshoumaru demonstrando indiferença diante de toda a doçura que a menina dirigia a ele. — Vá com eles.

— Certo! — disse ela sorrindo. Então ela se virou para Sango. — Eu vou com vocês!

Sango estendeu a mão para a garotinha para andarem juntas. Rin olhou confusa para a mão de Sango estendida. A pequena humana não segurou a mão da exterminadora imediatamente. Quando Sango começou a encolher a mão, Rin a agarrou, sorrindo.

A garotinha estava tão feliz que começou a andar e mexer sua mão e a de Sango para frente e para trás. Quem olhasse nem notaria que aquilo era um campo de batalha.

Ao ver que ia montar em Kirara, Rin abriu um sorriso maior ainda. Miroku acomodou Rin atrás de Kagome.

— Vamos, senhor monge? — perguntou Sango, montando em Kirara.

— Só um minuto! Senhorita Kagura vem conosco.

— Espere um pouco, senhor monge... — protestou a moça de cabelos negros. —Kirara não vai agüentar tanta gente!

— Você não está entendendo! Eu e Kagura vamos atrás de vocês em sua pluma... — explicou ele com um tom malicioso na voz.

— Ah... — pronunciou Sango tentando esconder a tristeza que subitamente a invadiu. Mas ela mudou rapidamente de expressão, antes que o monge percebesse. — Você não pode ir com ela, mas se você fizer uma de suas gracinhas você já era! — alertou-o.

— Já estou ciente disso. Então terei de inventar uma desculpa bem grande...

Com um movimento rápido e irritado, Sango deixara um galo na cabeça de Miroku com seu "Osso Voador".

— Querida Sango, não precisa ficar com ciúmes! — disse ele a abraçando pela cintura, mas descendo um pouco mais a mão...

Com um movimento ainda mais rápido que o anterior e muito mais irritado, Miroku ficara com uma marca vermelha de mão em sua bochecha direita.

— Vá logo, desgraça! Contanto que não esteja perto de mim está bom! — gritou ela brava, preparando o "Osso Voador".

Conforme Miroku correu ao encontro de Kagura, Sango se virou para subir em Kirara e agradeceu aos céus por Rin estar preocupada demais em tentar acariciar a cabeça de Kirara—sem sucesso, uma vez que Kagome estava na sua frente—para prestar atenção no diálogo que ocorrera entre ela e o monge.

Sango montou atrás de Rin e disse a Kirara que eles poderiam partir.

InuYasha caminhava lentamente em direção a Naraku, porém, eles ainda estavam muito distantes. Naraku olhou para o rapaz, um sorriso débil de alastrando pelo rosto.

— Está tudo perdido para você, InuYasha — constatou o meio-youkai de cabelos negros quase que para si.

InuYasha ficou frente a frente com Naraku; embora separados por uma distância considerável, os dois meio-youkais lançavam olhares mútuos de profundo ódio.

Com Tessaiga empunhada, InuYasha correu em direção a Naraku, atacando-o; porém o outro defendeu o golpe. Isso desencadeou uma série de ataques por parte de InuYasha, esperando que a defesa do outro meio-youkai falhasse.

O rapaz de cabelos prateados passou Tessaiga para a mão esquerda e atacou Naraku bem de perto. O de cabelos negros defendeu o ataque. InuYasha, porém, aproveitou a curtíssima distância que os separava e deu-lhe um soco entre os olhos.

Naraku acabou sendo jogado para trás, dando um espaço curto de tempo para InuYasha atacá-lo.

InuYasha usou a "Ferida do Vento", mas o ataque não chegou a ferir Naraku—o meio-youkai envolveu-se com seus próprios tentáculos, formando algo parecido com um casulo.

Com o impacto do ataque, os tentáculos de Naraku explodiram, e o corpo do jovem de cabelos negros se mostrou intacto. Com seu processo de regeneração lento, ele estava tentando fazer com que seu corpo voltasse ao normal.

Sesshoumaru, não agüentando mais assistir, andou com sua espada empunhada até Naraku.

— InuYasha, você não faz nada direito! — disse o youkai com tom superior, sem alterar sua feição indiferente. — Meio-youkai imprestável!

— Sesshoumaru! Eu quero terminar o que comecei! — queixou-se InuYasha irritado.

Naraku regenerou-se e tomou sua forma habitual, mas lhe faltava um braço—a regeneração ainda não estava completa. Então, o meio-youkai finalmente se pronunciou:

— Sesshoumaru, se eu fosse você, cuidaria da sua garotinha.

— Maldito — praguejou Sesshoumaru com frieza.

— Se você não correr, — disse Naraku com um sorriso — não sei o que poderá acontecer com ela...

Sesshoumaru deu as costas aos meio-youkais e começou a andar.

— InuYasha! — chamou o youkai-cão.

O meio-irmão olhou-o, atendendo ao chamado.

— Deixarei por sua conta. Você queria tanto acabar com ele, então vá em frente!

O youkai desapareceu, caminhando por entre a neblina que se formava em volta do campo de batalha.

— Melhor assim! — InuYasha estralou os dedos. — Agora podemos lutar melhor!

Conforme InuYasha girou os ombros para iniciar a batalha, apertou um de seus ferimentos no braço que ardia.

Naraku, aproveitando que InuYasha estava segurando seu ferimento, usou seu braço que estava fora do corpo para tentar pegar um fragmento da "Jóia de Quatro Almas" que estava embutido em seu corpo; mas com um novo golpe de InuYasha, voou para longe.

— Você acha que eu sou cego? — zombou InuYasha, tirando as garras de seu ferimento; elas estavam ensopadas de sangue. – "Garras Voadoras"!

O braço de Naraku desconexo ao corpo foi fatiado.

O jovem de cabelos negros tentava raciocinar e montar um novo plano quando InuYasha atacou antes que ele pudesse fazer qualquer coisa. A perna esquerda de Naraku foi cortada fora.

Agora ele estava tentando se regenerar, mas não conseguindo realizar o processo direito por estar muito fraco e sem o fragmentos da Jóia faltante.

InuYasha aproveitou que Naraku não conseguia se movimentar normalmente e pegou o fragmento da "Jóia de Quatro Almas".

Deferiu, então, o golpe final em Naraku.

Mas o golpe que era para ser definitivo acabou nem sequer atingindo o rapaz de madeixas negras. InuYasha parou de desferir o golpe ainda mesmo quando estava no ar, pois Tessaiga ficou em sua forma primária, a de lâmina enferrujada.

Isso tudo por causa de uma flecha—uma simples flecha que agora residia no chão.

InuYasha e Naraku olharam para ver quem fora que atirara. Kikyou os encarava de volta, sem emoção nos olhos.

— Kikyou! — exclamou InuYasha, a voz pesarosa e confusa mais uma vez.

A sacerdotisa chegou cada vez mais perto de InuYasha e Naraku. Os dois meio-youkais permaneceram imóveis.

InuYasha embainhou sua espada e se posicionou defensivamente.

Kikyou parou de repente em frente aos dois meio-youkais; olhou-os de um para o outro, como se estivesse se decidindo entre eles.

De repente, seus olhos negros profundos pousaram nos dourados de InuYasha. O rapaz de cabelos prateados encarou a sacerdotisa, confuso.

Naraku olhava a cena com desgosto, a boca se contorcendo em uma linha fina e torta, os lábios pressionados com força um contra o outro.

InuYasha não percebeu os olhares de Naraku, tão pouco entendeu o que se passava ou pensou em algo sensato o bastante para fazer. A sacerdotisa chegou mais perto do meio-youkai, cujos olhos dourados nada denunciavam além de dúvida.

— InuYasha, — começou ela, segurando o kimono do meio-youkai com delicadeza e urgência. — Por que a minha cópia e não eu...?

— Kagome não é sua cópia! — defendeu-se ele, livrando-se das mãos frágeis de Kikyou. — Está longe de ser isso; você é Kikyou e ela é Kagome. São personalidades diferentes!

Dor passou rapidamente por seus olhos antes de determinação.

— Você já não é mais a mesma Kikyou. Eu não te conheço mais. E eu descobri que posso voltar a sentir de novo... — o olhar dele se reteve decidido no dela, sem distrações. — A minha Kikyou está morta. Ela morreu nas mãos do Naraku, e é por isso que eu estou aqui hoje. Eu vou vingar a mulher que eu amei cinqüenta anos atrás.

A sacerdotisa nada disse. Seus olhos não deixaram transparecer nenhuma emoção. Seus braços, porém, momentaneamente abraçaram o próprio corpo antes de se esticarem para segurar a gola do kimono de Naraku, trazendo-o para perto. Com a outra mão, ela segurou a gola das vestes vermelhas de InuYasha.

Seus youkais-carregadores-de-alma apareceram e enlaçaram os dois meio-youkais, impedindo que eles se movessem.

— Se eu tiver que morrer... — começou ela; dor, fúria e frustração estampadas nos olhos. — Vocês dois vão para o inferno junto comigo!

Uma enorme cratera se abriu no chão e uma luz vermelha os envolvendo.


C.O.N.T.I.N.U.A.

N/A: Olá!! Sempre gostei da idéia de Kikyou se achar a dona dos corações alheios... E então? Gostaram do capítulo?

Muito obrigada a todos! Espero reviews!

Beijinhos!!

AyaNayru