Ainda Há Esperança

Por Ayame N. Yukane


Capítulo 7

Eu Vi Você

A exterminadora de youkais de longos cabelos negros presos em um rabo-de-cavalo não parava de olhar para cima, preocupada. Embora não quisesse demonstrar, sua preocupação residia na pluma da youkai Kagura, a mestra dos ventos.

Já estavam distantes do castelo de Naraku, em um lugar o qual não fora ainda afetado por sua presença—eles sobrevoavam um campo coberto por belíssimas flores, de várias cores e aromas.

Rin estava sempre sorrindo. Sango tinha de segurá-la, já que a menina se projetava para os lados, tentando alcançar algumas flores—sem sucesso.

Toda a calmaria que o campo florido proporcionou a Sango se exvairiu quando eles passaram a sobrevoar uma floresta—ela era escura e emanava uma imensa energia maligna. A pressa os impedia de analisar melhor o local, então passaram por ela com grande velocidade.

Chegaram, então, ao poço Come-Ossos. Era um poço seco, no qual as pessoas do vilarejo próximo a ele jogavam ossos de youkais mortos. Surgiram mitos sobre ele, já que os ossos jogados misteriosamente sumiam.

Esse poço também está conectado com a era da garota Kagome, estudante colegial.

O grupo chegou em um vilarejo, onde Kirara e a pluma de Kagura pousaram. Todos os integrantes desmontaram, com exceção de Kagome, que não estava em condições de explicar o ocorrido a ninguém.

Miroku se adiantou para pegar Kagome nos braços, mas Sango o impediu.

— Senhor monge, eu vou levar Rin até a senhora Kaede — alertou-o a exterminadora. — Não se atreva a fazer qualquer gracinha com a Kagome!

Quando Sango se virou e começou a caminhar de mãos-dadas com a pequena Rin em direção a uma das casas do vilarejo, uma mão segurou o ombro de Miroku com força. O monge se assustou e soltou uma exclamação. Foi o suficiente para Sango se virar rapidamente, com o "Osso Voador" já preparado.

Kagome segurava o ombro de Miroku, apoiando-se nele.

— Ka... Kagome! — exclamou Sango, aliviada.

— Senhorita Kagome! Que bom que acordou! — disse Miroku a ajudando a descer da youkai Kirara.

Kagome olhou assustada para a paisagem que estava em volta.

— O que aconteceu? — perguntou ela, exasperada. — Por que estamos no vilarejo da vovó Kaede?

— Acalme-se senhorita Kagome — pediu Miroku. — Depois que você ficou desacordada, InuYasha pediu para que todos viéssemos com você para longe da luta.

Os olhos da garota do futuro se arregalaram com um novo brilho.

— Não! — bradou ela, desespero nos olhos. — Vamos voltar! Ele não vai conseguir sozinho! Temos de voltar para ajudá-lo!

— Acalme-se! — pediu Sango. — InuYasha é bem forte, e ele ainda está com Sesshoumaru!

Kagome pareceu um pouco mais aliviada. Naraku poderia ser forte, mas se InuYasha lutasse com o irmão mais velho, eles não tinham chances de perder.

Então Rin se manifestou, assustando Kagome que ainda não havia visto a pequena:

— O senhor Sesshoumaru é forte, não é? — perguntou ela tomando fôlego. — Senhor Sesshoumaru é muito forte! — respondeu a própria pergunta rapidamente, olhando em volta. — Onde está senhor Jacken? Ficou com o senhor Sesshoumaru? — indagou ela, sem parar para respirar.

Rin continuou falando e fazendo perguntas ininterruptamente enquanto eles andavam em direção a cabana da velha Kaede.

De repente, Miroku parou.

— Que forte energia maligna!

O céu se escureceu com rapidez conforme ele falou. O cenário mudou—eles não estavam mais no vilarejo, e sim aquela floresta que passaram no caminho.

Sango trouxe Rin para perto de si. Shippou, o filhote de raposa, acomodou-se nos braços de Kagome, amedrontado. Kirara e Miroku ficavam à frente do grupo.

Conforme ouviram passos, aceleraram.

Uma foice cortou o caminho e a figura apareceu—era mais uma marionete que Naraku costumava usar.

— Kohaku! — exclamou Sango, alívio e tristeza na voz.

Rin olhava para ele. Não consegui perceber se a menina estava triste ou alegre com a presença do menino.

— Ko-Kohaku...? — chamou a garotinha confusa.

O garoto não demonstrava expressão alguma além do evidente desejo de matar. Sango olhava fixamente para o irmão mais novo, com lágrimas nos olhos.

O garoto, ainda não olhava para a irmã—estava com o olhar fixo em Kagome. Mas ele olhou para a irmã e a ela retribuiu um olhar frio.

O garoto preparou sua foice e a mirou na exterminadora. Atirou, mas a foice não foi na direção da irmã, e sim em Rin.

O reflexo de Sango não foi tão rápido.

Um som de metal se chocando ecoou pela floresta. Era Sesshoumaru. Ele usara sua espada para evitar que a foice atingisse a garotinha humana.

Rin, de sua expressão assustada, ficou completamente feliz em ver o youkai-cão.

— Idiota! — pronunciou Sesshoumaru, olhando para o garoto exterminador, que mantinha o rosto sem expressões.

Sesshoumaru levantou sua espada. Sango colocou a si mesma e o "Osso Voador" na frente de Sesshoumaru.

— Não o mate! — pediu Sango, os olhos marejados.

Sesshoumaru, simplesmente fingiu que não ouviu.

— Saia, humana — ordenou friamente.

Sango não se moveu. Agora lágrimas corriam por seu rosto.

— Ele é meu irmão, Sesshoumaru — disse ela. — Não sairei daqui. Se alguém tem que livrá-lo do Naraku sou eu!

— Humana tola! — disse Sesshoumaru, avançando na direção dela.

— Sango! — gritou Miroku, adiantando-se juntamente com a youkai Kirara.

Rin segurou as vestes de Miroku com um movimento delicado, fazendo com que o monge e Kirara parassem.

— Não precisa ir até lá, senhor monge — disse a garota docemente.

Kagome puxou Rin para trás de si, com intenção de protegê-la.

Sango assustou-se, mas manteve sua posição ofensiva, então preparou o "Osso Voador". Ela o atirou, mas Sesshoumaru desviou do golpe e a ergueu do chão, pegando-a nos braços.

Quando uma foice passou a seu lado, quase atingindo seu rosto, Sango percebeu que quando o youkai-cão pedira que ela saísse da frente era para que ela desviasse do golpe de Kohaku. Ele a salvara, e seu cérebro não conseguia processar isso com rapidez.

Sango olhava descrente para o homem de cabelos prateados. Por alguma razão, em sua visão, quem a havia salvado era Miroku, o que não poderia ter acontecido, já que o monge fora detido por Rin.

Mirava-o com um olhar apaixonado e deslumbrado. A exterminadora aproximou inconscientemente seu rosto ao de Sesshoumaru cada vez mais, sem notar que quem estava à sua frente era o youkai e não o monge. Parou de se aproximar quando o homem de olhos dourados a virou bruscamente para outra direção.

Miroku olhava os dois com uma careta, os olhos azuis apertados e a boca contorcida. Rin o observava com curiosidade e divertimento.

— Por que ele está fazendo uma cara tão feia? — perguntou a Kagome, que ainda a protegia com o corpo.

— É porque ele está com ciúmes — esclareceu Kagome, segurando o riso.

Sesshoumaru depositou Sango com mais delicadeza no chão, próxima a Rin, Miroku, Kagome, Kirara, Shippou e Kagura.

— O-obrigada, Sesshoumaru — agradeceu Sango sentindo seu rosto esquentar ao notar o que quase fizera com o youkai que a tomara nos braços.

Ele não respondeu nada; apenas virou de costas e começou a andar para longe.

Rin, ao ver que Sesshoumaru estava indo embora, saiu de trás de Kagome e correu até ele. No meio do caminho, ela se virou para o grupo e acenou.

Sango estava sem palavras, mas isso logo passou ao perceber a ausência de Kohaku.

— Onde está meu irmão? — perguntou ela a Miroku.

— E-ele fugiu — gaguejou ele, com medo da reação da garota.

— Como assim "ele fugiu"?! — explodiu a exterminadora caminhando em direção ao monge.

O rapaz limitou-se a olhar para ela, paralisado por alguns segundos até recuperar a fala.

— Enquanto Sesshoumaru te salvava, ele aproveitou a brecha e...

— E posso saber porque não me avisou? — indagou ela irritada.

— Porque você estava em estado de choque...

Sango sabia muito bem disso, estava realmente assustada pela reação de Sesshoumaru. Mas ela não deu o braço a torcer.

— Por que você não foi atrás dele, senhor monge?

— E-eu... — começou ele, inseguro. Então, tomou coragem e disse mais firmemente: — A Kagome também não foi! Por que essa implicância comigo?

Kagome fuzilou Miroku com o olhar em um silencioso "Não me meta nisso".

— A Kagome estava ocupada tomando conta de Rin! — respondeu Sango.

— E... — então Miroku pensou em uma boa resposta. — Eu estava zelando por Kagura!

Então ele puxou a youkai dos ventos para perto de si—o que acabou ocasionando um estridente soco por parte da youkai.

Kagome, Shippou e Kirara saíram o mais silenciosamente possível do "campo de batalha" de Miroku e Sango. Kagura não se demorou, só aplicou mais alguns golpes e Miroku e seguiu a trajetória deles.

O resto do grupo fingiu andar um pouco e logo voltou para se esconder atrás de uma moita, na intenção de assistir o que acontecia.

E a briga dos dois não decepcionou—prosseguiu por muitos minutos.

— Não fuja do assunto! — esbravejou Sango. — Você ainda não me deu um motivo decente para não ter ido atrás dele!

— Você estava tão preocupada de admirar seu salvador que esqueceu que o mundo corria a sua volta! — disse Miroku, irritação na voz.

Sango ficou em silêncio.

— O quê? — perguntou ela calmamente.

— É... — respondeu ele sem baixar o tom de voz. — Você ficou tão encantada com o Sesshoumaru, olhando-o tão apaixonadamente... Não sei o que você viu nele para ficar daquele jeito!

Sango depositou delicadamente seu dedo indicador nos lábios do monge, na intenção de calá-lo.

— Eu vi você.


C.O.N.T.I.N.U.A.

N/A: Olá!! Primeiro eu agradeço pelas reviews de vocês, elas me animam bastante! Segundo, eu tenho que confessar que sou muito manteiga-derretida para deixar os dois sem se resolverem...

Muito obrigada a todos! Espero reviews!

Beijinhos!!

AyaNayru