DarkAngelAngst - É, a história é meio esquisita mesmo. Tão esquisita quanto quem escreve, ihihihihihi. Mas lembre-se dos alertas no começo!

Capítulo 3

No caminho para a aula de Poções, Harry ficou entre Ron e Hermione, que estavam estranhamente calados.

– O que há com vocês dois?

– Nada, Harry. Estamos tentando respeitar sua vontade.

– Do que é que você está falando?

– Eu vejo você sair quase todas as noites – explicou Ron, em voz baixa – É óbvio que você tem uma namorada fora de Gryffindor que não quer nos contar.

– Desculpem, mas eu...

– Tudo bem, Harry – interrompeu Hermione – Não precisa dizer, se não quiser.

– É que essa pessoa precisa de ajuda – explicou Harry – Com a guerra, as coisas se complicaram para ela. Entendem, é sobre conseqüências de guerra.

– Mas só quem teve complicações com a guerra foram os Slytherin. É alguém de lá? – Ron ficou abismado – Harry, você está transando com a filha de um Death Eater?

– Ron! – escandalizou-se Hermione – Deixe o Harry em paz. Quando ele estiver pronto, ele vai contar para a gente.

– Toma cuidado, cara – insistiu o ruivo – Se o Snape pegar você rondando as masmorras...

– Não se preocupe, eu tenho usado a capa.

Uma voz arrastada soou às costas deles:

– Cochichando, Potter? – Draco Malfoy, com Blaise Zabini e seus dois brutamontes guarda-costas soltou um risinho sarcástico – Tentando fazer Granger finalmente levantar a saia para você? Tava na hora, já que ela deu para toda a casa...

– Malfoy, seu – Ron partiu para cima do loiro, mas Harry o segurou.

– Ele não vale a pena, Ron.

– Você ouviu o que ele disse? Eu pego ele! Deixa eu matar ele só um pouquinho!

Novamente uma voz surgiu atrás deles:

– Brigando pelos corredores, Potter? – A voz de Snape parecia deslizar de tanta ironia e sarcasmo – Devo tirar cinco pontos por seu mau comportamento ou vai entrar imediatamente em sala?

Coube a Hermione puxar os dois para dentro da sala, enquanto Malfoy trocava sorrisos com Zabini. Harry entrou na sala fumegando e pisando duro. Os Slytherin entraram logo em seguida.

Durante toda a aula, Malfoy manteve o risinho de superioridade, o que aumentou a raiva de Ron e Harry. Hermione ficou discretamente observando todos os alunos Slytherin só para tentar descobrir a misteriosa namorada de Harry.

Na parte prática da aula, o previsível aconteceu: Neville, pálido, estava parado em frente a um caldeirão que, ao invés de soltar um vapor azulado sutil e efêmero, fumegava uma espessa e mal-cheirosa nuvem cinza.

– Aparentemente, Mr. Longbottom – rosnou Snape –, o senhor não vai deixar que eu passe um dia sequer sem lamentar o fato de ter permitido sua presença em minha sala. Seu trabalho está fraco e deficiente. Comece tudo de novo e não saia até ter acertado dessa vez!

Todos gelaram. A poção era extremamente demorada, e com isso Neville certamente perderia o almoço.

– S-sim, Prof. Snape.

– Talvez fosse mais produtivo investir seu tempo em outra matéria que não Poções, Mr. Longbottom. Sei que precisa dela se quiser ser um healer, mas com sua inépcia, tremo só de pensar na possibilidade de um dia ir parar em St. Mungo's e ser atendido pelo senhor! Mas acho que não há perigo disso. O hospital só aceita os melhores e o senhor certamente está longe de se enquadrar nessa categoria!

Revoltado, Harry se ergueu:

– Ele só errou uma poção! Não precisa humilhá-lo desse jeito!

– Potter, você está se excedendo! Sente-se agora.

– Não, quem está se excedendo é você! Desde o primeiro dia de aula do primeiro ano, você implica com Neville! Você é mesquinho, injusto e recalcado!

Fez-se silêncio. A turma inteira estava boquiaberta, os olhos grandes. Hermione tentava puxar as vestes de Harry, mas ele a ignorava, possesso de raiva. Os Slytherins acompanhavam tudo sem piscar, esperando a reação de Snape.

– O senhor está em detenção durante uma semana, Mr. Potter, e sua casa perdeu 50 pontos. Agora sente-se!

– Pois eu não vou fazer nem uma coisa nem outra! – Harry ouviu um "Oh" coletivo de horror – Não adianta me dar a estúpida detenção, eu não vou aparecer!

– Harry!... – Hermione estava lívida.

Snape se voltou para ele, como uma ave de rapina que fechasse o ataque sobre sua presa:

– Está me desafiando, Mr. Potter? – O tom do professor fez diversos alunos se encolherem, mesmo os que nada tinham a ver com o peixe.

– Você não é desafio para mim, Snape. Eu matei Voldemort, esqueceu? – Várias pessoas gritaram diante do nome – Suas detenções não me assustam!

Houve silêncio sepulcral na sala, os únicos ruídos eram os caldeirões borbulhando. Snape se ergueu, as vestes esvoaçando ao atravessar a sala tão rápido que não devem ter sido mais do que três passos:

– Acaba de enterrar seus sonhos de se tornar um Auror, Potter! – Ele abriu a porta da sala com violência – Ponha-se daqui para fora! Você está permanentemente expulso de minhas aulas! Suma-se daqui!

Harry começou a juntar suas coisas, ainda dizendo:

– Isso não fica assim! Vou falar com Dumbledore!

– Ao fazer isso, lembre-se, matador de Voldemort: até o Lord das Trevas temia o Prof. Dumbledore. Que isso lhe sirva de aviso.

Para isso Harry parecia não ter resposta, e saiu da sala pisando duro. Os alunos estavam em choque. A gêmea Parvati Patil parecia prestes a desmaiar. Ron e Hermione também estavam pálidos e trêmulos, especialmente porque Snape voltou para a frente da sala e olhou para todos com um olhar ameaçador:

– Qualquer um que não queira seguir o mesmo destino de Mr. Potter deve voltar sua atenção para seu caldeirão! Agora!

Aterrorizados, todos voltaram a trabalhar nas suas poções. Ninguém ousou dar sequer um pio até o sinal bater. Ninguém notou o sorriso discreto no canto da boca do Mestre de Poções.

Mais tarde, olhando em retrospecto, Severus e Harry concordaram que o plano poderia ter sido diferente. Ao ser informado de que a grande discussão em sala tinha sido mera encenação e que na verdade os dois estavam romanticamente envolvidos, o diretor Albus Dumbledore apontou que Harry realmente poderia ter sido expulso de Hogwarts pelo que fizera. No final, o diretor decretou que Harry iria continuar a ter aulas de Poções com a Profª Sinistra, e que a semana de detenção seria servida com Mr. Filch. Harry pensou em protestar por ter de ficar uma semana longe de Severus, mas deu-se conta de que poderia ter sido muito mais grave. E, no final, eles tinham conseguido a aprovação tácita de Dumbledore.

Aquela semana que Harry e Severus passaram separados foi de intensa fofoca em toda a escola. Hogwarts inteira acompanhava a intensa troca de olhares entre os dois, sem desconfiar o verdadeiro motivo pelo qual eles mal conseguiam tirar os olhos um do outro.

Diversos alunos vieram cumprimentar Harry ao saber do ocorrido, dizendo que Snape realmente era uma peste e merecia ouvir aquelas verdades. Neville confessou sentir-se culpado pelo castigo, mas Harry tranqüilizou-o. Ron e Hermione ficaram dias chocados com a atitude de seu amigo. Hermione estava duplamente escandalizada: não só Harry tinha enfrentado um professor, mas tinha sido justamente um com quem ele tinha trabalhado durante a guerra. Ela tinha esperança de que os dois pudessem se entender melhor depois de terem enfrentado Voldemort juntos, mas depois do que Harry jogou na cara de Snape, aquilo parecia uma esperança longínqua.

Os Slytherins passaram a ver o Menino-Que-Sobreviveu com ódio redobrado. Severus recebeu mais uma visita solidária do casal Draco Malfoy e Blaise Zabini. Malfoy tentou convencê-lo a pedir a expulsão do Harry junto ao Conselho de Diretores da escola, passando por cima da autoridade de Dumbledore. Snape agradeceu a sugestão e achou melhor decliná-la, alegando uma questão de estratégia política. Isso não impediu Zabini de encurralar Harry na primeira oportunidade que o viu sozinho, ameaçando-o a manter distância de Snape. A chegada de Ron, Dean Thomas e Seamus Finnegan fez Zabini recuar, mas Harry percebeu o sentimento de proteção dos Slytherins em relação ao seu chefe de casa.

Mas tudo aquilo com certeza seria esquecido com o tempo. Durante os sete dias que não viu Harry, Severus passou por dias de extremo mau humor e cólicas menstruais excruciantes.

Finalmente, o tempo de separação chegara ao fim.