b Capítulo 7 /b

Ele observou com atenção o movimento na cama. Lentamente, Severus abriu os olhos, ou melhor, um deles, já que o outro estava fechado. Mexeu-se com dificuldade, e Harry foi ajudá-lo.

– Por enquanto deve permanecer deitado – Harry sorriu – Bom-dia, Severus.

Uma miríade de emoções passou pelo rosto do mestre de Poções, todas rapidamente, mas ele se controlou para não deixar nenhuma se sobressair. O olho esquerdo estava fechado pelo soco que tinha recebido e havia outras manchas roxas na altura da mandíbula. Ele olhou para Harry:

– Não pensei que estivesse aqui.

– Madame Pomfrey me deu permissão para ficar. Como se sente?

– Melhor, acho – foi a resposta. Ele olhou para a mesa de cabeceira – Hum, água.

– Deixe que eu ajudo.

Harry o ajudou a tomar alguns goles e notou que ele fez uma careta de dor ao erguer a cabeça para ingerir o líquido. Depois ele voltou a deitar e perguntou:

– Como você apareceu nos meus aposentos?

– O treino terminou mais cedo e eu quis lhe fazer uma surpresa. Sev, eu queria ter chegado antes. Desculpe.

– Preciso lhe agradecer por ter chegado naquela hora. Ele parecia disposto a... ficar a noite toda.

– Sev, eu nem sei o que dizer. Ele foi preso e obviamente será expulso de Hogwarts. Deve ficar em Azkaban um bom tempo. Você está seguro agora.

– Sinto-me um idiota. Comportei-me como uma adolescente ultrajada. Estou envergonhado. Desculpe.

– Não pense mais nisso. É perfeitamente natural, depois do que você passou.

– Mas eu não devia sequer ter passado por isso. Eu deveria ter sido capaz de me defender. Tantos anos fui espião. Consegui me defender do Lord das Trevas durante anos, como pude me deixar ser atacado por um garoto?

– Você foi drogado, seus reflexos foram afetados. Não é vergonha nenhuma. Severus, você não teve culpa. A culpa é dele. Você foi a vítima nisso tudo. Não se esqueça disso, por favor.

– Não é uma posição agradável, a de vítima.

– É uma posição como qualquer outra. Você tem outras: a de professor sarcástico, a de amante experiente, de herói de guerra... Procure se concentrar nas outras, está bem?

Severus não respondeu, e desviou seu olhar para a janela. Madame Pomfrey entrou nesse instante:

– Bom-dia, Severus. Que bom que está acordado. Mr. Potter, acredito que o café da manhã já tenha começado no salão.

– Eu não estou com fome.

– Mr. Potter, o senhor ficou aqui a noite inteira de pé. Se é que vai assistir a suas aulas hoje, vai precisar de alimento. Enquanto isso, eu aproveito para fazer novos exames no nosso paciente.

– Está bem, então. Eu volto mais tarde – ele lançou um sorriso para Severus, que tentou retribuir, depois saiu.

E foi bem a tempo. Quando Harry entrou no Grande Salão, era grande o tititi. Ron e Hermione acenam para ele, da mesa de Gryffindor, e ele foi para lá, mas de repente viu uma cena que lhe chamou a atenção: os dois Aurores passaram pelo Salão, levando Zabini de mãos atadas. Atrás deles, ia um casal de bruxos entre 40 e 50 anos, os dois parecendo extremamente abatidos – a bruxa tinha os olhos vermelhos de tanto chorar e o mesmo cabelo cor de areia de Blaise. Provavelmente seus pais.

O burburinho aumentou, mas a voz de Dumbledore fez todos se aquietarem.

– Bom-dia a todos. Infelizmente, este é um dia negro para Hogwarts. Na noite passada, o Prof. Snape foi atacado em seus aposentos por um aluno de sua própria casa. Ele está na enfermaria e deverá se recuperar em alguns dias. Por conta desse incidente, Slytherin perdeu 200 pontos – exclamações abafadas – e Mr. Blaise Zabini foi recolhido a Azkaban para esperar seu julgamento. O Prof. Snape foi encontrado por um aluno de Gryffindor. A casa recebeu 100 pontos. Espero que todos se unam a mim e aos demais membros do corpo docente nos votos de um pronto estabelecimento do Prof. Snape. Agora, tenham um bom café da manhã.

O salão inteiro explodiu em tumulto. A mesa de Slytherin inteira olhava Draco Malfoy, que, vermelho, saiu correndo pela porta lateral, seguido por Crabbe e Goyle. Já os Gryffindors se questionavam quem teria sido o aluno que encontrou Snape.

Ron e Hermione olharam para Harry. A menina cochichou:

– Foi você, não foi, Harry? Você que encontrou Snape.

– Fui eu, sim – ele disse baixinho – Mas eu não deveria estar ali, então o Prof. Dumbledore não quer dizer isso em público.

– Você tinha ido ver sua namorada lá em Slytherin, não foi? Aí você viu Snape em apuros. O que aconteceu? Zabini sentou porrada no sebosão?

Harry se lembrou de Severus no chão, machucado, sangrando, humilhado, e fechou os olhos, estremecendo.

– Olha, Ron, eu não quero falar sobre isso. Não foi nada bonito.

– Parece que o sebosão está ganhando o que merece por tudo que fez esses anos todos.

– Ele não merece! – Harry se inflou – Você não sabe o que está dizendo, então cala a boca!

– O que deu em você?

– Calma, Harry – interveio Hermione – Ele não fez por mal.

– Ele não estava lá, então não devia falar de coisas que não sabe!

– Qual é o seu problema? – indagou o ruivo – Até parece que você está defendendo o Snape.

– Ron, enfia na sua cabeça que ele é a vítima. Não se esqueça disso. Eu vi o que aconteceu. Eu estava lá.

– Tá bom, tá bom.

– Vamos – Hermione chamou – Se não a gente se atrasa para a aula.

Harry mal conseguiu se concentrar em suas lições o dia inteiro, devido ao cansaço da noite passada e à tensão com tudo que acontecera e o estado de Severus. Ele mal podia esperar para ir à enfermaria.

Quando finalmente ele se liberou (e despistou seus amigos), Madame Pomfrey o impediu de entrar. Harry esticou o pescoço na direção de Severus e viu que havia dois homens com ele.

– Ele está dando depoimento aos dois Aurores – Madame Pomfrey fechou a cara – Não permitiram que eu ficasse junto.

– Como ele está? Ele pareceu bem, hoje de manhã – dentro do possível, claro.

– Ele também me pareceu bem, e eu me arrisquei a diminuir a Poção Calmante. Mas Severus normalmente esconde muito bem suas emoções. Ele pode explodir a qualquer momento.

Ela ia falar mais alguma coisa, mas o barulho de alguém passando mal a interrompeu. Ela correu para o lado de Severus, Harry logo atrás. O Mestre de Poções estava deitado de bruços, a cabeça pendurada para fora da cama, o rosto ligeiramente esverdeado, vomitando. Madame Pomfrey foi cuidar dele, e Harry ia ajudá-la quando um dos homens o deteve:

– Você é Harry Potter, não é? Íamos procurá-lo para fazer algumas perguntas.

– Não pode ser mais tarde? Ele não está bem.

– Desculpe, mas tem que ser agora – o homem insistiu, o outro concordando – Vamos para fora.

A contragosto, Harry obedeceu. Os dois eram altos, um deles bem musculoso. O mais magro apresentou-se:

– Aurores Green e Brown, deve saber que estamos investigando o que aconteceu com seu professor. Foi você que deu o alarme, não foi?

– Isso mesmo. Eu encontrei os dois, imobilizei Zabini e chamei o Prof. Dumbledore.

– E o que estava fazendo ali naquela hora?

– Eu tinha terminado o treino de Quidditch naquela hora, por isso não estava no meu dormitório.

– Como conseguiu entrar nos aposentos do Prof. Snape?

– A porta estava aberta – mentiu.

– Só isso? A porta estava aberta e você foi entrando?

– Se a porta não estivesse aberta, eu não poderia ter entrado. O Prof. Snape tem proteções em seus aposentos.

– E o que estava fazendo tão longe de seu dormitório? As masmorras não são caminho para a Torre de Gryffindor.

– Bom, eu... er... – ele empacou – Estava só passando.

Os dois aurores se entreolharam, mas não fizeram comentário.

– Conhece Zabini?

– Claro. Ele é namorado de Draco Malfoy. Por que não vão falar com ele?

– Não se preocupe, nós vamos. Sabe por que Zabini atacaria o Prof. Snape?

– Não faço idéia. Eles são da mesma casa, deveriam se dar bem.

– É verdade que você teve uma briga com o Prof. Snape mês passado?

– É, foi uma discussão em sala de aula.

– Bem feia, pelo que ouvimos.

– Ele terminou me expulsando de suas aulas – Harry ficou intrigado – O que isso tem a ver com o que aconteceu?

– Zabini lhe disse o que pretendia fazer?

– Claro que não. Ele não é meu amigo. Por que acha que ele me contaria? – ele arregalou os olhos, subitamente dando-se conta de que estava sendo interrogado como um suspeito – Acha que eu tive alguma coisa com isso?

– Você tinha motivo.

– Não para i isso /i ! – Harry perdeu as estribeiras – Eu jamais faria uma coisa dessas! Se esse é o tipo de pergunta que vocês vão me fazer, eu não vou responder mais nada!

– Já terminamos mesmo. Mas podemos ter mais perguntas, então fique a postos.

Os dois saíram, e Harry estava uma pilha de nervos diante das acusações sem o mínimo fundamento. Parecia que o Ministério só tinha incompetentes. Era bem verdade que ele não tinha dito toda a verdade, mas seus motivos eram bem diferentes. Harry forçou-se a ficar calmo para ver como estava Severus.

Mais uma vez, foi impedido por Madame Pomfrey:

– Eu tive que sedá-lo. Aqueles dois Aurores o deixaram muito agitado, e ele terminou reagindo fisicamente. Espero que ele consiga dormir a noite toda. Vai ser bom para ele.

– Posso ficar com ele? – pediu Harry.

– De novo? Mas eu disse que ele deve dormir a noite toda, não precisa ficar.

– Quero ter certeza de que ele vai dormir mesmo, só isso.

– Só o deixarei ficar se prometer que vai ficar de olho nele e vai me chamar assim que for necessário. Assim talvez eu consiga uma noite inteira de sono.

– Está bem.

– Muito bem, então. Pode ocupar a cama ao lado da dele.