Dark Angel Angst - É né, o Sev ainda tem uns traumas a superar, e eu tenho certeza que o Harry não vai machucar o nosso querido Sev. Mas nesse capítulo surgem preocupações para os nossos heróis. :-O
b Capítulo 9 /b
Aquele contato clandestino na ala hospitalar terminou sendo fundamental para a recuperação emocional de Severus. Nas semanas seguintes, depois que foi liberado, ele foi aos poucos se sentindo à vontade com Harry, aceitando seu toque, seu carinho e sua dedicação. Claro que ainda havia seqüelas, especialmente do tipo psicossomáticas: Severus passava mal, com náuseas e vômito, bem como tinha pesadelos ocasionais.
Ele recebeu a visita de Draco Malfoy, que foi constrangedora, para dizer o mínimo. O herdeiro dos Malfoy fez questão de dizer que nada sabia dos planos de Zabini, e pediu desculpas formais, bem como garantiu que iria testemunhar durante o julgamento. Severus acreditou nele, até porque Malfoy nada tinha a ganhar com o ataque de Zabini. Ele gostaria que Harry estivesse ao lado dele quando da visita do filho de Lucius, porque por um instante ele reviveu aquele ataque.
Harry se esforçava para dar a Severus o maior apoio possível, e Severus se admirava do quanto o rapaz parecia maduro – isso sem mencionar o fato de que Severus parecia cada vez mais precisar de Harry a seu lado. Um sentimento profundo se fortalecia em Severus: amor e companheirismo. Dentro de si, ele consolidava a escolha de Harry como seu parceiro, como parte integrante de sua vida. Claro, isso se o rapaz o quisesse. Ele nunca sentira por ninguém o que sentia por Harry e nunca antes se sentira tão amado e cuidado em toda a sua vida.
Esse sentimento lhe era de grande auxílio para superar a violência da qual tinha sido vítima. Na verdade, pela primeira vez em sua vida, Severus ousava (mesmo que de maneira tímida e hesitante) ter esperança no futuro. Antes, como espião e com a vida permanentemente em risco, ele não ousava sequer acreditar em sobreviver, muito menos em algo além disso, como ter alguém para amar. Ele ainda tinha dificuldades em lidar com o fato de que alguém o considerava digno de amar. Mas agora ele tinha Harry e acreditava em Harry. Talvez o rapaz considerasse um arranjo mais permanente no futuro, talvez uma relação comprometida. Severus esperava uma ocasião propícia para levantar o assunto.
No momento, ele esperava Harry com grande expectativa. Finalmente Madame Pomfrey tinha declarado que ele estava em saúde perfeita, o que significa estar liberado para a plena atividade sexual. Severus mal podia esperar o momento de se unir completamente a Harry, entregar-se por inteiro, sem reservas. Ele tinha saudades desses momentos. Seria também um marco de que o pior já tinha passado, e que dali para frente as coisas só podiam melhorar.
Com velas, óleos aromáticos e uma atmosfera sensual no quarto, Severus sorria só de pensar nas coisas que queria fazer ao corpo de Harry. Mas quando alguém bateu à porta, ele ficou intrigado. Harry não precisava bater, então quem poderia ser?
– Auror Green – Severus olhou em volta – E sem Brown.
– Boa-noite, professor, desculpe o horário. Mas achei que iria querer suas poções de volta o quanto antes.
– Entre, por favor – deixou ele passasse – Minhas poções?
– Nós levamos algumas amostras no dia do crime, para fins de perícia criminalística. Normalmente, como uso do Veritaserum, as investigações não requerem evidência material. Contudo, como o acusado apresenta sinais de instabilidade mental, a eficácia do soro não é aceita em julgamento sem peças periciais. Um caso bastante incomum.
– Conseguiram as provas que buscavam?
– Certamente – o homem grande e musculoso sorriu e mostrou um frasco conhecido – Eis aqui a prova da premeditação do crime.
Severus reconheceu o frasco:
– É minha Poção Anticoncepcional.
– Isso era o que ele queria que pensasse – corrigiu o Auror – Na verdade, o frasco contém uma Poção de Fertilidade para fazer engravidar. O acusado confessou ter substituído essa poção há semanas.
Severus empalideceu completamente. Ele sentia o sangue gelar em suas veias, uma sensação de anestesia a tomar conta dele.
– Não só isso – continuou o Auror Green, sem perceber a reação dele – Ele conseguiu disfarçar o gosto da poção adulterada para que não percebesse a troca. É com base nisso que pretendemos provar a premeditação do crime.
– Ele... – balbuciou, lívido – substituiu... há semanas...?
– Isso mesmo. Veja o senhor que o rapaz pretende alegar insanidade, para escapar de Azkaban, e até chamou uma equipe de i psicohealers /i de St. Mungo's. Mas com as evidências criminalísticas que colhemos, pretendemos provar que ele tinha noções de moral, que ele tinha conhecimento pleno de que estava cometendo um crime e assim, portanto, não era de fato insano – o Auror Green parecia entusiasmado – Ah, esse caso foi realmente muito refrescante e inspirador para mim, do ponto de vista profissional. Sem contar que se o Ministério estivesse liberando fatos para a imprensa, tudo isso iria ajudar muito a minha carreira.
Severus não se deteve no fato de que aquele homem considerava o seu sofrimento "refrescante e inspirador" nem que ele queria ver tudo espalhado por manchetes de jornais. Ele estava estupefato com o que ouvira.
– Bom, professor, minha missão está cumprida. Estão aí suas poções. Tenha uma boa-noite.
O Mestre de Poções continuava sob choque quando abriu a porta para o Auror sair. Mas não ficou parado muito tempo: logo em seguida, ele saiu rumo à ala hospitalar.
Madame Pomfrey estava pálida ao observar os resultados do exame que acabara de fazer:
– Oh, Merlin...
– E então?
– É positivo. Você está com criança.
Se antes Severus estava gelado, ao ouvir aquilo ele ficou lívido. Mas não inerte.
Ergueu-se de um pulo só e disparou para fora da enfermaria, com Madame Pomfrey a gritar em seus calcanhares:
– Volte aqui, Severus! Preciso fazer mais exames!
Ele a ignorou, a cabeça girando, uma cacofonia interna grande enlouquecedora. Ele atravessava corredores, descia escadas, passava por retratos e fantasmas alheio a tudo que o cercava. Só no que ele pensava é que estava grávido – grávido de seu agressor. A violência tinha resultado numa conseqüência física, uma conseqüência que estava crescendo dentro de si.
Aquilo era poderoso demais, ter uma vida dentro de seu corpo. Severus imaginou que deveria odiar o ser que estava dentro de si, que deveria sentir repulsa por tudo que ele o fazia lembrar, por ser um testemunho vivo da violência que sofrera. Ninguém o condenaria se quisesse arrancar de dentro de seu corpo aquela criatura gerada em tão infame momento. Mas estranhamente ele não se sentia dessa maneira.
Ao invés disso, Severus experimentou um sentimento forte de maternidade, um instinto intenso de proteção. Podia ser culpa dos hormônios, talvez do seu desequilíbrio metabólico causado pela gravidez, mas o fato é que Severo, a partir daquele instante, passou a pensar na criança como seu filho, alguém inocente, que não tinha culpa do modo como fora gerado. Ele criaria e amaria seu filho. Porque ele era seu. E de mais ninguém.
Essa certeza lhe trouxe um pouco de paz, aliviando o pânico inicial. Ele não precisaria reviver o que acontecera cada vez que olhasse para a criança, porque seu filho era mais do que isso. Era seu filho, e ele não precisaria lidar com o pai.
Mesmo que estivesse mais calmo quando chegou às masmorras, Severus ainda estava sob o impacto da notícia. Quando chegou a seus aposentos, encontrou Harry, que suspirou aliviado:
– Onde você esteve? Nossa, eu pensei que algo pudesse ter acontecido – ele notou – Severus, o que aconteceu? Você não parece bem.
– Na verdade, Harry, aconteceu algo – ele convidou com um gesto – Sente-se que eu lhe explicarei tudo.
Não demorou muito para Severus relatar o que ele tinha descoberto graças aos exames de Madame Pomfrey, detonados depois das revelações do Auror Green. O que demorou foi a reação de Harry. O rapaz ficou pálido, os olhos arregalados:
– G-grávido...?
– Por causa da poção que Zabini trocou. Todo o mal-estar que eu venho sentido é um sintoma de gravidez.
– E o que você vai fazer agora?
– Não há muito que eu possa fazer – deu de ombros – Vou consultar Albus sobre minha situação funcional. Há uma chance de que eu precise ser demitido por ter tido relações com um aluno.
– Não podem fazer isso! Você foi forçado!
– Não acho prudente ter esperanças de que o Conselho de Diretores de Hogwarts seja compreensivo a esse respeito. A regra é clara: se a aluna ou professor engravidar, ela deve se casar com o pai para evitar a demissão. Eu não pretendo me casar com o homem que me violentou.
– Severus, você não precisa ter essa criança. Ela vai ser sempre uma lembrança do que aconteceu. Ninguém vai condená-lo se optar por não ter esse bebê.
– Harry – Severus tinha a voz firme – Eu vou ter o bebê.
– Vai ter? Mas por quê?
– Porque é meu filho, antes de tudo. Ele não tem culpa do que aconteceu. Não deve pagar pelo crime do pai com a vida. É uma coisa estranha, Harry, que ele esteja crescendo dentro de mim. Não sei se consigo explicar isso.
– Você tem certeza?
– Sim, eu tenho. Além do mais, nunca fui de fugir à responsabilidade na minha vida, e não vai ser agora que vou começar.
A isso Harry não respondeu. Ficou pensativo e calado, o que não lhe era característico. Severus respeitou-lhe o silêncio, ocupando-se em preparar chá para os dois. Harry não pegou a xícara. Ele meneou a cabeça, angustiado.
– Eu não posso fazer isso – Severus o encarou, intrigado – O bebê... Eu não posso...
Severus sentiu o coração se contrair.
– Como assim, Harry?
– Eu só tenho 17 anos, não posso ser pai! Sev, eu amo você de todo o meu coração, mas não posso assumir um filho, ainda mais um que não é meu.
Pela segunda vez naquela noite, Severus sentiu o sangue gelar dentro de suas veias. Por aquilo ele certamente não esperava. Harry pegou-lhe as mãos, angustiado:
– Eu não quero deixar você, Severus, mas não posso ficar e assumir uma paternidade quando ainda nem me formei. Eu quero fazer o treinamento de Auror, e ele dura três anos. É longo e puxado. Vou precisar dar tudo de mim, não posso assumir um bebê. Por favor, não me odeie, mas é assim que eu me sinto.
Severus não saberia dizer como se sentia. Ele estava simplesmente anestesiado, seu peito parecia estar aberto com uma ferida sangrando. Feridas grandes, dizem, não doem tanto quanto cortes de papel. Parecia que era verdade.
– E não pense que isso é porque o filho é de Zabini – acrescentou o rapaz – Mesmo que fosse meu, eu ainda estaria apavorado. Eu só tenho 17 anos.
Era uma verdade que caiu como uma bomba sobre ele. Por mais que Severus tivesse se admirado da maturidade de Harry ao ajudá-lo e apoiá-lo numa hora terrível, o fato era que o rapaz tinha apenas 17 anos e uma vida toda pela frente. Fazia sentido que ele não quisesse um compromisso dessa envergadura ainda tão jovem.
Mas ainda assim era dolorido.
– É claro – a voz de Severus saiu estrangulada – Você tem que pensar em sua própria vida. Eu entendo.
– Por favor, Severus, não me odeie. Eu ainda amo você, mas o que está me pedindo é demais.
– Harry, eu não vou pedir nada a você. Nem vou odiá-lo por causa da maneira como se sente. Entendo o seu ponto de vista e respeito os seus sentimentos.
– Sem ressentimentos, então?
– Claro que não. Eu só tenho a lhe agradecer por tudo o que você fez por mim. Jamais esquecerei o que fez – havia sinceridade naquelas palavras.
– Eu sinto muito. Sinto muito mesmo.
– Eu também.
– Eu... – Harry estava subitamente constrangido – Eu vou deixar você ir dormir agora. Boa-noite.
Pegando sua Capa de Invisibilidade, saiu sozinho, enquanto Severus o acompanhava com os olhos, o coração pulverizado em mil pedaços. Ele se levantou do sofá e foi até o quarto, onde as velas usadas com a intenção romântica de reaproximá-lo de Harry tremeluziam e pareciam caçoar de sua dor.
Hermafrodita. Estuprado. Grávido. Abandonado. Talvez, despedido.
Ele sentiu como se tudo estivesse perdido, como se nada valesse a pena.
A não ser o bebê.
Naquele momento, só o bebê fazia Severus ficar de pé e encarar o futuro. Por seu bebê, fosse filho de quem fosse, ele criaria forças para ir em frente, sozinho como sempre, lutando contra tudo e contra todos. Por seu bebê, ele enfrentaria o que fosse preciso: solidão, desemprego, fome, até o escárnio alheio.
Talvez assim ele conseguisse lidar com a ferida aberta que tinha substituído seu coração. Era irônico que ele tivesse acreditado que podia ser feliz. Severus Snape nunca tinha sido feliz em sua vida. Um garoto de 17 anos tinha mudado isso, apenas para quebrar seu coração de novo.
Severus amava Harry com todas as suas forças, e tinha certeza de que jamais amaria alguém de novo daquele jeito. Talvez não conseguisse amar mais ninguém depois de Harry, além de seu filho. Seria uma existência longa e solitária, mas Harry nunca sairia de seu coração.
Ele apagou as velas, uma a uma, enquanto as lágrimas rolavam por sua face. Ficou no escuro, sozinho, ouvindo sua respiração entrecortada por seus soluços.
Gente, o próximo capítulo é o último. O que vcs acham? Será que vai ter um final feliz? Ou será que Sev e Harry não ficam juntos? Não percam!
