Capítulo
2
Alguns dias depois, Kaoru já estava de volta ao dojo. Tudo transcorria normalmente e Kazu não aparecera mais desde então.
Kaoru?
-Sim,
Yahiko. O que foi?
-Sobre
o Kazu... É verdade que ele é seu irmão?
-Sim,
Yahiko. Mas eu vou falar depois sobre isso.
-Minna-san,
vamos almoçar...
-Hai
Assim, depois que as tigelas haviam sido esvaziadas e tiradas da mesa, Megumi trouxe o chá e alguns doces. Yahiko, impaciente e muito curioso, já foi perguntando:
-
E então, busu? Vai ou não contar sobre o
Kazu?
-Não me
chame de busu, seu moleque. Kazu é meu irmão mais
velho. Quando mamãe morreu, eu era muito pequena, devia ter
uns dois anos no máximo. Meu pai ficou muito abalado com isso
e durante alguns dias, não quis saber de treinos, da casa e
até dos filhos. Meu irmão mais velho, Kazuhiro ficou
revoltado e fugiu de casa, pois não queria ter um pai fraco. O
estilo Kamiya Kashin demorou a se restabelecer com isso, pois era
Kazu quem seria o shihandai (mestre susbstituto), mas ele abandonou o
estilo. Então quando meu pai Koshijirou Kamiya faleceu, fui eu
quem herdou o estilo. Kazu pelo que sei alistou nas fileiras dos
monarquistas, mas depois disso nunca mais tive notícias.
Pensei que já estivesse morto há muito tempo, por isso
nunca comentei a respeito dele, pois isso me traria mais tristeza
ainda. Há alguns dias, Tae o viu no restaurante. Daí
concluí que ele devia estar metido em alguma encrenca. Naquele
dia em que vi Kenshin com um pedaço de papel, tive três
vezes o mesmo pesadelo, de que Kenshin estava lutando contra alguém
que eu conhecia, mas no sonho não pude distinguir. Por isso eu
convenci Yahiko e Sano a irem atrás de Kenshin no dia
seguinte. Sabia que alguma coisa não estava cheirando bem.
Quando vi que Kenshin estava lutando com Kazu, fiquei apavorada. Sei
como meu irmão pode ser violento e também sabia que
Kenshin podia ser morto por ele e isso seria algo que eu não
agüentaria.
-
Mas você foi louca, Kaoru!
-Sei
disso, Yahiko. Eu poderia estar morta agora. Mas nada disso me
importava. Eu não quero perder meus amigos e nem posso
permitir que o estilo Kamiya Kashin mate mais pessoas. Este estilo
prega a espada para a vida, lembram? Mesmo Kazu sendo meu irmão,
eu tenho que impedi-lo de matar mais pessoas. Não estamos mais
no Bakumatsu. Acabou. A Era Meiji não é uma maravilha,
mas se continuar assim, com tantas mortes e lutas desnecessárias,
tudo volta a ser como antes, não é, Kenshin?
-Sim, Kaoru. Eu fui o mais temido dos retalhadores do Bakumatsu, mas hoje sei que não adianta ter lutas desnecessárias para provar qualquer coisa. Quando me contrataram como um retalhador das trevas, conheci Kazu. Ele era um bom companheiro. Mas naquela época as coisas eram diferentes. O medo de ter espiões entre as tropas era muito grande e ninguém confiava muito em ninguém Aos poucos, descobri que Kazu tinha inveja de mim. Ele achava que eu era o mais querido dos monarquistas, por causa de minha perícia com a espada. Mas como eu já disse antes, a espada é uma arma e retalhadores não passam de pessoas das trevas. Assim, não tenho do que me orgulhar nessa época. Eu esperava que tudo isso terminasse logo e que a nova era trouxesse uma esperança, um pouco de luz aos corações desesperados. Mas Kazu nunca acreditou no que eu dizia. E tudo piorou quando eu trouxe a Tomoe para hospedaria em que nós estávamos. Ele logo se apaixonou por ela. Mas eu também estava disposto a lutar pelo amor dela, mas não conseguia admitir isso nem para mim mesmo. Conforme se passavam os dias a relação de amizade que este servo tinha com Kazu só foi piorando, dia a dia, até que...
Flashback
Kazu
já havia bebido além da conta e estva num canto da sala
com a garrafa de saquê na mão. Kenshin entrou na sala
muito rapidamente, parecendo ter pressa e se dirigiu a seu
companheiro embriagado.
-
Kazu, é você que vai proteger o sr. Tani hoje, não
é?
- Por quê
tem que ser eu? Vai você, já que é o queridinho
aqui por ser o maior retalhador, Battousai... Eu vou aproveitar e
sair para beber um pouco, para variar. - Kazu estava
irritado
- Mas, Kazu,
isto é importante. Eu fui destacado para vigiar a hospedaria
onde está o sr. Yamagata. – Kenshin tentava dar uma
resposta, mas ainda um pouco confuso com a atitude inesperada do
companheiro.
- Ah, é
claro. Os serviços mais sujos ficam para mim, certo? – Kazu
já tinha pego sua espada e estava próximo ao
Battousai
- É
claro que não, eu também faço muito trabalho
sujo, tá? – Kenshin já estava nervoso com as
insinuações de Kazu.
-
É? Qual? – Kazu estava sendo sarcástico, o que fazia
o sangue de Kenshin começar a ferver e já se preparar
para o ataque – Encontrar-se com aquela mulher chamada Tomoe por
quem já está completamente apaixonado? Era eu quem
deveria estar cortejando-a. Eu a amo, mas não sou
correspondido. Ela só conversa com você. Suponho que
você já tenha a cortejado e só esperando uma
autorização do sr. Katsura, certo?
-
Quê? – Kenshin não estava entendendo era mais nada, o
amigo parecia totalmente fora de si. A bebida o deixava ainda mais
descontrolado e mais ameaçador que nunca.
-
Não se faça de desentendido, seu idiota – ao dizer
isto, Kazu acertou um golpe no ombro de Kenshin que caiu para trás
e logo em seguida, partiu para cima de seu agressor. Os golpes foram
ficando cada vez mais ferozes e letais. De repente, a porta da sala
se abre com estrondo.
Parem com isso – Katsura estava
furioso com a atitude dos dois e acabou expulsando Kazu por achá-lo
muito imaturo e irresponsável (também quem manda o
bobão beber durante o serviço?), além do que,
Kenshin era muito mais habilidoso que Kazu.
-
Himura, você me paga... Um dia eu voltarei e me vingarei de
você. – estas foram as últimas palavras de Kazu há
cerca de quase quinze anos atrás.
Fim do Flashback
-Depois
disso, eu também nunca mais vi Kazu. Pensei também que
estivesse morto, até receber o recado dele de que queria
vingança. Mas...
-Mas?
O que foi Kenshinzinho? – Megumi também estava muito
interessada na história, já que era uma das raras vezes
em que Kenshin e Kaoru contavam sobre seus passados para
todos.
- Eu nunca pensei
que ele pudesse ser o irmão de Kaoru-dono.
-
É, acho que ninguém pensou que Jou-chan pudesse ter um
irmão que é seu total oposto, né?
-É,
não sei como essa historia vai terminar, mas espero que fique
tudo bem no final. – Kaoru já havia se levantado e caminhava
em direção da porta do dojo. Ela precisava respirar um
pouco, refletir, tudo havia acontecido tão depressa, que ela
precisava ficar só um pouco. Ficou na varanda, sentada de
frente para o portão do dojo, enquanto Yahiko foi ao Akabeko
ajudar Tae e Tsubame, Megumi foi para a clínica e Sano foi
jogar com os amigos. Kenshin ficou no dojo, lavando a louça.
Kaoru
estava na varanda absorta em seus pensamentos, quando percebeu que
alguém a observava. Era Kenshin, que vinha lhe trazendo uma
bandeja com chá e alguns doces.
-Senhorita
Kaoru, trouxe um lanchinho. Gostaria de um pouco de chá?
-Sim.
Obrigada, Kenshin. Kenshin
sentou-se ao lado de Kaoru e ficou em silêncio,
pensativo. -
Kenshin, é verdade que você e Kazu se conheceram na
época em que você ainda era Battousai?
-Sim,
é verdade.
-Então,
ele ainda pensa que é o mesmo Battousai. Não posso
deixar que isso volte a acontecer. Eu preciso impedi-lo.
-Não,
senhorita Kaoru. É muito perigoso. E arriscado. Este servo não
gostaria de perder novamente a pessoa que mais me é cara. Eu
te amo muito Kaoru e não permitirei que aconteça algo a
senhorita. Eu a protegerei...Sempre. Kaoru
ficou um pouco surpresa com a reação inesperada do
rurouni, mas logo respondeu: -Kenshin,
você não percebe? Se eu não conversar com Kazu,
sou EU é quem posso perder a pessoa que mais amo. Eu também
te amo Kenshin! Por
essa, o lendário Battousai não esperava. Mas como se
tivesse ensaiado isso por muito tempo, Kenshin abraçou a sua
amada e assim ficaram por um longo
tempo. No
dia seguinte, logo após o café, Kaoru e Yahiko foram
treinar na sala de treinamentos, Kenshin lavava roupas (que coisa
criativa :P!), e Megumi tentava curar a ressaca de Sano. No portão
do dojo encontrava-se um homem relativamente alto, longos cabelos
negros amarrados na cabeça, trajando um kimono azul e um
hakama preto, portando uma espada japonesa. Ao ver Kenshin,
exclamou: -
Ainda temos algumas contas a acertar, não é Battousai?
Além de Tomoe , ainda quer ficar com Kaoru-chan? Não
vou pertmitir que você cause desonra aos Kamiya. Kaoru não
sabe quem você realmente é, seu desgraçado.
-Este
servo não tem nenhuma intenção de lutar... –
mas foi interrompido por um golpe lateral de Kazu.
-Covarde!
Nem parece o temível Battousai. Lute como um homem... – Kazu
ia desferindo golpe atrás de golpe em Kenshin, que só
se desviava. Kaoru
e os demais correram par ao pátio do dojo, ao ouvirem o
barulho das espadas. -Essa
não! Kenshin está lutando contra o Kazu! – Yahiko
estava preocupado com a luta.
-Kaoru,
acho que só você pode fazer alguma coisa agora! – diz
uma Megumi apreensiva.
-É,
Jouchan – diz o Sano (só porque o coitado ficou sem fala
nenhuma nesta parte da fic!) -CHEGA!
– Kaoru defendeu Kenshin do último golpe de Kazu usando o
seu bokken – Kazu, você ainda não percebeu que este
homem não é o Battousai? Kenshin Himura não é
o mesmo monarquista de antes. Hoje ele usa sua espada apenas para
proteger os que precisam. Pare com isso. Você é a maior
desonra dos Kamiya. Desde que a mamãe faleceu, você
ficou violento, revoltado e onde quer chegar com isso? A nenhum
lugar, aposto. O que vocês passaram ficou para trás. Na
Era Meiji não há lugar para vinganças bobas.
Você deveria se preocupar em ajudar os outros e não
atrapalhar a vida de quem está tentando reconstruir a sua.
-Mas,
Kaoru-chan, você não entende. Este homem é
Battousai, e...
-Eu sei
quem foi Battousai, apesar de não conhecer sua fúria.
Eu tinha muito medo dele até conhecê-lo pessoalmente.
Mesmo sabendo de seu passado tenebroso, eu o acolhi em casa, da mesma
forma que papai faria se ainda estivesse vivo. Você também
deveria esquecer o passado e perdoar o Kenshin. Vamos
Kazu.
-Está bem.
– Kazu permanecia de cabeça baixa. Estava muito envergonhado
por admitir derrota frente a seu maior adversário e ainda
levar uma tremenda bronca de sua irmã mais nova, era algo um
pouco humilhante a ele. – Desculpe-me Himura.
-Tudo
bem, Kazu, este servo não se atém a detalhes. –
Apertaram-se as mãos.
-Ótimo!
Agora vão se lavar e fazer uns curativos com a Megumi, pois
vocês dois estão péssimos - virando-se para
Yahiko disse: - Eu acho que a partir de hoje você vai ter que
dividir o seu quarto com ele.
-
O quê?
- Anda logo
moleque. E depois vem treinar. Eu não tenho o dia
todo.
-Está bem,
busu.
-Volta aqui seu
moleque. E
assim, o dojo Kamiya voltou a ficar calmo e sossegado como antes.
Oiê!
Último capítulo. Sim, eu já publiquei esta fic antes, em outro site. Mas acontece, que eu adoro ela. Não tem nada muito meloso, mas é muito kawaii. (Eu acho, né? Até a coruja acha os filhotes bonitos, então eu também tenho que achar linda a minha cria!).
Agradecendo os reviews:
Anna Lennox e Karol Himura, que sempre comentaram em todas as minhas fics, meus sinceros agradecimentos.
