PT 2 - PAREDES BRANCAS, CÉU AZUL.
Eu gostaria de dizer que sou o tipo de pessoa que não é esquecida para
nada. Eu sempre pensei que estava no topo das coisas, notando tudo que
estava acontecendo ao meu redor. Pessoas sempre me viram como o tipo
carente, e eu acho que foi por um tempo. Mas, desde que eu comecei a sair
com o Matt, você pode me chamar de Sora insensível.
Não tinha idéia do que estava acontecendo se não tivesse a ver com Matt ou
comigo. Tudo ao nosso redor era 'Quem liga?' e 'Não tenho idéia'. Aquilo
foi o ponto de volta na minha vida. Um ponto de volta muito ruim.
Normalmente, o ponto de volta consiste em reações como ver a luz ou uma
maquiagem pessoal completa. Meu ponto de volta, me deixe, por favor,
esquecê-lo, foi arruinar minha vida. Funcionou, não funcionou?
Você pode imaginar o quanto aquilo afetou minha vida. Pessoas pararam de
falar e viraram suas costas para mim. Eu nunca pensei que fosse por causa
do jeito que eu estava agindo, completamente descuidada. Eu pensei que era
porque todos estavam com ciúmes de mim, da nova e não-melhor Sora.
Todos estavam preocupados comigo, todos meus amigos, exceto os
Digiescolhidos. Olhando de volta para isso, eu acho que eles ficaram comigo
porque eles se sentiram obrigados. Eu sei que não estavam apreciando minha
companhia.
Eu finalmente percebi o que estava acontecendo comigo enquanto sentava na
cadeira um dia. As paredes brancas refletiam toda a luz que entrava pelas
janelas. Era quase insuportável. Eu só estava sentada lá, tentando o meu
melhor para manter o sol fora dos meus olhos e anotando como formular
elementos complexos e deixar eles semelhantes aos outros (trabalho enquanto
nossa professora tentava achar um jeito de pagar seus impostos), quando ela
olhou dos papéis dela e disse:
"Sr. Kamiya, você está se sentindo bem?".
Todas as cabeças na sala se viraram para olhar para o Tai, até eu, quem tem
estado ignorando ele, acidentalmente, de propósito, também estava intrigada
com o que havia de errado com Tai. Olhando para ele rapidamente, ele
parecia ótimo. Mas eu olhei um pouco mais longe e vi porque nossa
professora perguntou para ele. Tai estava em outro lugar, química
esquecida. Ele parecia doente. Gotas de suor estavam cascateando pelo seu
rosto, como se ele tivesse acabado de acordar de um pesadelo. Eu me achei
imaginando se ele estava bem, e esperando que ele estivesse. Eu não
importava tanto assim com uma pessoa desde o Natal.
"Sr. Kamiya, tudo bem com você?".
Sem resposta.
"Sr. Kamiya".
Tai vagarosamente olhou para ela. Ele apresentou-se confuso e fora de
toque, como se ele não tivesse a mais fraca idéia de onde ele estava.
"Eu acredito que você precise ir ver a enfermeira, Sr. Kamiya".
Tai acenou em aprovação, mesmo que eu ache que ele não sabia o que ela
estava perguntando. Ele colocou sua mochila nas costas, pegou o passe e
saiu. O resto da minha sala voltou aos seus trabalhos ou, no caso de
algumas garotas, pintar suas unhas, até mesmo suas unhas do pé. Mas eu não.
Sem saber disso, eu levantei minhas mãos para o alto.
Eu lembro de olhar para minhas mãos estupidamente, tentando fazer minha
mente forçar isso retornar sua atenção de volta ao papel cheio de números e
elementos. Não tinha idéia porque elas estavam no alto, até a professora me
chamar.
"Sim, Srta. Takenouchi?".
Assim como Tai, eu não tinha idéia do que estava acontecendo, mas eu me vi
lhe perguntando uma pergunta, enfim.
"Você não acha... Ver Tai? Eu devo, eu posso ter certeza que ele está bem?
Ele não parecia muito bem. Eu só quero ter certeza que ele chegou lá...".
Blah, blah, blah. Eu realmente não acho que ela fazia idéia do que eu
estava dizendo, mas ela me deixou ir, provavelmente então eu calaria a
boca. Eu, também, me vi colocando minha mochila nas costas para deixar a
sala.
Virando a esquina, eu vi que Tai ainda estava andando vagarosamente pelo
corredor. Eu só o observei por um momento, vendo tudo que acabava de
acontecer. Senti como se estivesse chorando ali mesmo no corredor, vendo
ele ir...para algum lugar. O escritório das enfermeiras era em outra
direção.
Eu tentava descobrir o que dizer e o que perguntar a ele. De repente, me
importar com ele quando eu não fazia por muito tempo, estava me assustando.
Naquele momento eu soube que tudo que queria fazer era falar com ele. Então
depois de meus pensamentos estarem prontos, eu chamei por ele.
"Tai! Espere!".
Ele parou de andar e virou ao redor para me encarar. Eu já estava correndo
para alcançá-lo. Ele sentou na borda da janela e abriu a janela para deixar
um pouco do ar quente da primavera circular pelo corredor. Ele deixou parte
da borda perto dele para eu sentar quando eu fiz isso para ele. Sem
hesitação, eu sentei na cadeira e olhei para ele. Eu lembrei tão vivamente
o jeito que seu rosto olhava de volta para mim. Um sorriso torto estava nos
lábios, mas seus olhos estavam tristes. Em outras palavras, ele estava
sorrindo tristemente para mim.
"Tudo bem?".
"Você pode guardar um segredo?".
"Sim". Eu disse enquanto um sorriso se fazia no meu rosto.
"Promete não contar? Nem pela alma?".
Eu acenei rapidamente, parecendo que éramos crianças de novo. Tai costumava
fazer eu prometer alguma coisa antes de ele me contar o que era, como
agora. Olhando para mim com sua sobrancelha levantada, eu tive que abafar
uma risada enquanto eu lembrava de uma vez em particular. Estávamos no
parque e ele tinha me feito prometer não contar a ninguém, e então ele me
fez jurar pela sepultura do meu peixe dourado. Tínhamos seis anos na época.
Eu prometi e jurei pela sepultura do meu peixe dourado. Tai se inclinou
cuidadosamente e, sem saber, pegou um pouco de areia da caixa de areia do
nosso lado, e jogou no meu cabelo. Eu o persegui pelo parque todo antes de
eu finalmente jogar um pouco de areia no cabelo dele. Eu lembro que demorou
muito para tirar a areia do meu cabelo e do dele também.
O rosto de Tai ficou muito sério, então eu tentei fazer o meu parecer tão
severo quanto o possível. Então ele levantou seu dedo mínimo para mim.
'Uau'. Eu pensei, fitando seu dedo. 'Essa deve ser uma situação muito
séria'.
"Promessa do dedo mínimo?" Ele perguntou. Eu liguei meu dedo com o dele.
"Promessa do dedo mínimo".
Tai balançou sua cabeça e o sorriso enfraqueceu. Por um momento lá, me
senti como se fôssemos crianças novamente, e ele estava indo pôr mais areia
no meu cabelo. Eu queria que fosse o caso. Mas mesmo por aquele minuto,
lembrando que a memória é uma coisa que muda, eu olhei para Tai. Não
importa o quanto eu desejasse por isso, nós não éramos mais crianças.
"Não?" Eu perguntei a maioria para mim mesma, ainda. "Porquê?" Tai olhava
para mim e depois olhava para fora da janela. O céu azul radiante é lindo
para nós, eu acredito nisso. Tai me lembrava de alguém que eu não conhecia,
e eu me lembrava de alguém quem ainda procura por algo, e não sabe nem onde
isso está. Ás vezes, as coisas que são muito bonitas, são as desconhecidas.
Ainda olhando para fora da janela, Tai começou a falar.
"As coisas não funcionam do jeito que quere, Sora. As coisas mudam, as
pessoas mudam e isso machuca. Machuca porque você sente que fez um milhão
de sacrifícios que você podia ter evitado, mas não evitou, então só uma
pessoa seria feliz. E depois não consegue nem reconhecer aquela pessoa
mais, e isso machuca mais, porque... porque então você sabe que perdeu ela
por bem. A única pessoa que você achava especial se foi. E isso... isso
machuca como o inferno".
Eu não entendi realmente o que ele quis dizer, mas eu sabia o que estava
dizendo. Tai estava com dor. Era tudo que eu precisava saber. Eu alcancei
sua mão e toquei com a minha.
Seu toque pareceu um hálito de vida para mim. Ele mudou aquele dia de
primavera, atrás da janela debaixo do céu azul. Eu pude sentir a dor de Tai
em mim, enquanto dávamos as mãos, e tudo que eu queria fazer era fixar
isso. Então, o sinal tocou.
Adolescentes correram para os corredores e bateram para nós do nosso
assento na janela. Vozes aumentaram e ecoaram na área fechada, mas
continuávamos de mãos dadas. O corredor ficou mais e mais cheio e Tai abriu
sua boca para dizer algo. Mas nada saiu. Ele então deixou minha mão e foi
embora, me deixando com meus pensamentos.
Eu acabei de dizer que seu toque me mudou, mas é verdade. Depois de ele
dizer o que quer que ele esteja tentando me dizer, eu percebi como eu
estava agindo. Eu odiei. Estava sendo egoísta quando eu não queria ser, e
estava machucando as pessoas pelo caminho. Tai estava machucado, e eu
lembro de pensar que eu podia, possivelmente, ser aquela que o machucou,
mas no momento, eu só repeli esse sentimento, achando que eu nunca faria
nada para machucá-lo. Tudo que eu queria fazer agora era ajudar ele. Foi
como eu soube que ele tinha me mudado. Eu me importei com ele de novo, eu
precisava me importar com ele.
Se eu não tivesse sido tão errada do jeito que estava sentindo, ele estaria
aqui ainda. Mesmo que ele praticamente me disse que me amava, e que eu
tenha machucado ele, eu ainda não sei o que eu estava procurando. Só que eu
estava procurando por algo. Mas isso nunca ajuda ninguém, ajuda?
Especialmente para mim.