PT 6 - A VERDADE
Suas palavras ecoaram por toda minha mente por semanas depois daquela
noite. Sua música foi acesa dentro de mim e eu não conseguia tirá-la da
minha cabeça, não importava o quão duro eu tentasse. Eu não quero que soe
como se eu quisesse esquecer, porque eu não esqueci, eu não esqueço, mas eu
até escrevi ela então eu não esqueceria. Mas a música continuou a me
assustar por tanto tempo que eu perdi a conta dos dias. E mais o fato de
que não conseguia parar de pensar em Tai não ajudou muito também, eu acho.
Eu não lembro muito do que aconteceu aquela noite. Eu queria lembrar. Eu me
recordo de correr para os banheiros e me trancar na cabine. Eu apenas
sentei lá no banheiro olhando para a parede na minha frente. O que mais
podia fazer? Eu sabia que não seria capaz de fazer ele ficar e não tinha
percebido que estava apaixonada por ele, então o que de bom eu teria sido
capaz de fazer? Eu encontrei paz em uma das cabines do banheiro naquela
noite. As vozes de todas as garotas felizes reaplicando suas maquiagens que
elas tinham acabado de reaplicar 30 minutos atrás me fez sentir tranqüila.
Era como se sua paz e sentimento não-complicados estivessem flutuando acima
e abaixo da porta para chegarem em mim. Todos seus sentimentos podiam
perceber os meus, porque eles eram opostos, e eles foram atraídos um ao
outro por aquela razão, absorvido um pelo outro. Não tenho certeza se isso
faz sentido para alguém além de mim, mas foi assim que pareceu de verdade.
Todos os escritos que estavam na parede olharam para mim, imaginando e
maravilhados enquanto eu fitava de volta para eles. Eu li quase todos os
dizeres e canções que estavam escritos pela parede, mas eu só consigo
lembrar de um deles: ´Por favor, fale lentamente. Meu coração está
aprendendo. Ensine-me a dor no coração, pare com essa ferida agora´. Eu
olhei para aquela linha de uma música que eu nunca tinha ouvido por o que
pareciam ser horas quando eu ouvi uma batida na porta da cabine.
"Sora...?".
Mimi. É claro que eu não esperava ser capaz de fugir e evitar tudo. O som
de sua voz me fez pensar em todas as coisas que ainda estavam na minha
vida. As coisas que não importavam quanta dor eu senti. Pessoas como Matt e
os outros, minha mãe, a escola, a floricultura, Piyomon... Como eu queria
que tudo fosse embora. Eu queria ser deixada sozinha. Mas não podia ignorar
Mimi. Um sorriso veio no meu rosto enquanto pensava:
´Quem pode?'.
"Sim?".
"Quer conversar?".
Eu abri a porta para ela. A cabine não era tão terrivelmente pequena, então
ela se adaptou bem o bastante, ainda que eu tivesse certeza que ela teria
adorado ter mais espaço. Quando Mimi andou, eu vi um olhar de dúvida e
incerteza cruzar seu rosto antes de ela lenta e hesitantemente ajoelhar no
chão.
"Não muito", eu disse, "Mas eu acho que eu devo esquecer isso o mais cedo
possível, certo?".
Mimi encolheu seus ombros e olhou para mim cuidadosamente. Eu não acho que
ela esperava mesmo que eu dissesse algo, mas ela sabia que uma amizade de
Digiescolhidos nem sempre precisa de palavras. Uma vez na sua vida, Mimi
não estava falando sem parar, ela não começou a conversa como ela
normalmente faria. Ela sabia que eu tinha que ser a primeira a falar. Eu
acho que Mimi cresceu de verdade aquela noite.
Eu senti as lágrimas começarem a escorrer pelos meus olhos
incontrolavelmente. Eu as segurei e agora meus sentimentos estavam
explodindo por dentro e eu não conseguia pará-las. Eu as deixei cair.
"Porquê...?", eu disse entre suspiros de ar, "Porque... ele partiu?".
Mimi apenas olhou para mim. Ela não deveria dizer nada ainda. Ela sabia bem
sua parte, e eu ainda estava confusa com o que precisava ser feito.
"Eu não entendo nada disso, Mimi! Semanas atrás eu estava perfeitamente
bem. O que aconteceu comigo! Passou-se um ano desde que eu... que eu
comecei a sair com Matt...".
Mimi olhou para mim como se eu fosse dourada. Matt? O que Matt tinha a ver
com isso? Aquilo saiu da minha boca por acidente. Mas de acordo com o jeito
que Mimi reagiu, eu estava no caminho certo.
"Eu não entendo...".
"Acho que entende".
Ela pegou minha mão com as dela e então me deu um abraço. Lágrimas
começaram a cair dos olhos dela também, parecendo uma cena real de um
filme. A audiência olhava a esse personagem chorando e não havia dúvidas na
mente deles sobre o que fez ela chorar. É tão emocionante que você sente
que as razões pelas quais você chora são insignificantes e bobas. Eu não
esperaria nada menos de Mimi. Minha mente se abriu e milhões de pensamentos
e memórias correram por ela.
Meus cinco anos tinham ficado no fundo do escorregador quando uma bola
rolou entre meus pés. Ele chutou...
... Estávamos parados perto de nossas mães imaginando porque conseguiam
falar sobre aplicações de cozinha por horas...
... Eu tinha ido mal no meu primeiro teste de multiplicação. Olhando para
as cadeiras atrás de mim eu vi que ele tinha ido mal também...
... Rindo de todas suas piadas malucas e histórias no ônibus do
acampamento...
... Eu estava caindo, mas ele pegou minha mão...
... Ele estava cuidando de sua irmã doente. Eu o admirava...
... Primeiro dia de colegial e ele ainda estava do meu lado...
... Natal. Biscoitos. Eu o deixei sozinho, mas ele ainda esperou...
... Seus olhos olhando para mim, e os meus olhando de volta. Sua dor. Era
tudo minha culpa...
"Eu era tão egoísta!".
Eu não tentei parar as lágrimas. Elas não parariam e eu chorei mais do que
eu já chorei. Mimi rapidamente envolveu seus braços ao meu redor e eu pude
sentir ela chorando também. Tudo que pude ver foi o palco escuro onde ele
estava parado. Eu chorei por ele.
"Me desculpe, Tai! Por favor, não me deixe! Eu faço qualquer coisa... por
favor...".
Eu segurei as últimas lágrimas e chorei no ombro de Mimi.
"Por favor,... Você não".
Eu alcancei sua mão, para tocá-la pela última vez, mas eu perdi.
"Você não...".
******
Eu descobri mais tarde que os outros foram procurar por ele e deixaram Mimi
para trás para tentar conversar comigo e me acalmar. Eu fui até o
playground onde eu encontrei Tai pela primeira vez, e sentei no fundo do
escorregador assim como eu fiz aquele dia. Eu olhei para tudo ao meu redor,
mas não vi nada. A escuridão da noite me deu as boas vindas. Tudo estava
calmo e quieto, assim como eu queria que estivesse. Eu fugi do clube para
vir aqui. Todos estavam esperando por nós quando saímos do banheiro. Um
olhar de defesa e tristeza se espalhou por todos eles. E eu não conseguia
encarar eles. Especialmente Matt. O olhar em seu rosto me matou. Estava
cheio de confusão e dor. Eu fui cercada por todos aqueles sentimentos, e eu
não queria ter que sentir mais. Eu só precisava pensar. Eu não tive muito
tempo para fazer isso enfim, porque Matt me encontrou momentos depois.
Ele parecia diferente enquanto sentava num balanço perto de mim. Ele olhou
para a lua e eu vi que ele estava machuca realmente. Mas eu vi mais uma
coisa também. Compreensão.
"Matt, eu...".
"Eu sei, Sora. Tudo bem".
"O quê?".
Ele olhou direto para mim com um triste sorriso no seu rosto.
"Tudo bem. Não precisa se desculpar, Sora. Eu... eu entendo. Tai foi muito
importante para você, não foi?".
"É, ele foi. Eu não sei o que faria sem ele".
Houve um silêncio entre nós. Mas não era embaraçoso, era calmo, deixou tudo
em silêncio. Depois de um tempo, ele sorriu para mim e começou a falar.
"Eu soube por muito tempo".
"Soube o quê?". Eu não tinha a menor idéia do que ele estava falando.
"Você sabe, Sora. Que está apaixonada pelo Tai".
Minha boca se abriu em descrença. Estou apaixonada por ele?! Como Matt
poderia saber de algo que eu não era ciente?
"Digo, eu via o jeito que olhava para ele, e você estava tão preocupada com
ele ultimamente. Ele significa algo para você que eu nunca poderei ser
comparado. Todos sabemos, Sora. E ele te ama também. Você sabia disso?".
Eu estava chorando de novo. Não podia acreditar. As palavras de Matt me
despertaram. 'Ele significa algo para você'. Tai significa algo para mim.
Significa. Ele significa muito mais, também.
"Sim, sabia... bem, eu descobri hoje. Não sei como eu descobri. Eu só...
sabia, Matt? O que vou fazer? Tai partiu, você não conseguiu encontrá-lo.
Você olhou na casa dele? Ele foi para casa?".
"Não, Kari ligou para sua mãe. Ele não estava lá, e a Sra. Kamiya não tem
idéia do que está acontecendo. Ela disse que ligaria no celular da Kari se
ele aparecesse. Mas não ouvimos nada ainda".
"Oh. Preciso ir".
Eu comecei a correr para fora do parque quando ouvi Matt me chamando.
"Aonde você vai, Sora?".
Eu parei desanimada no caminho. Eu não tinha pensado nisso. Não
especificamente.
"Procurar pelo Tai!".
"Oh! Ei, Sora?".
"Sim?".
"Boa sorte!".
Eu olhei para Matt. Parado lá, no meio da calçada. Ele acabou de me fazer
perceber que eu sempre estive apaixonada pelo meu melhor amigo ainda que eu
tivesse saído com ele por mais de um ano. Matt definitivamente não era
egoísta como eu tinha sido. E ainda, lá estava ele, me desejando sorte. Eu
corri todo o caminho de volta para ele e lhe dei um abraço.
"Vou encontrá-lo, Matt, eu juro. Não vou parar de procurar por ele até eu
ter". Eu disse, segurando nele firme.
"Eu sei que vai".
Eu andei de volta e olhei nos seus olhos azuis. Eu nunca pensei que Matt
seria aquele que me ajudou como ele fez. Mas então de novo, Matt sempre me
surpreendeu.
"Obrigada Matt".
"Pelo quê?".
"Por... entender. Por tudo que você já fez por mim".
"Ei, amigos são para quê?".
Não pude controlar meu sorriso.
"Você acha que os outros vão entender?".
"Eu não sei. Eu não acho que eles entenderam Tai muito".
Eu suspirei. Eu sabia que ele estava certo. Exceto por Kari, Matt, Mimi e
eu, eu não acho que eles realmente entenderam o que acabou de acontecer.
Mas eu coloquei um sorriso no meu rosto, enfim. Era assim que as coisas
estavam.
"Ei, Tai fez um ótimo show hoje, não fez?".
"Sim, eu acho...". Matt fez uma cara meio ciumenta, mas rapidamente sorriu
tristemente para mim.
"Vou sentir sua falta, Sora".
"Eu também vou".
E com isso, eu me virei e corri, nunca olhando para trás. Eu procuraria no
Japão inteiro se tivesse. Agora que sei que amo Tai, tenho certeza que vou
procurar pelos confins da Terra.
Suas palavras ecoaram por toda minha mente por semanas depois daquela
noite. Sua música foi acesa dentro de mim e eu não conseguia tirá-la da
minha cabeça, não importava o quão duro eu tentasse. Eu não quero que soe
como se eu quisesse esquecer, porque eu não esqueci, eu não esqueço, mas eu
até escrevi ela então eu não esqueceria. Mas a música continuou a me
assustar por tanto tempo que eu perdi a conta dos dias. E mais o fato de
que não conseguia parar de pensar em Tai não ajudou muito também, eu acho.
Eu não lembro muito do que aconteceu aquela noite. Eu queria lembrar. Eu me
recordo de correr para os banheiros e me trancar na cabine. Eu apenas
sentei lá no banheiro olhando para a parede na minha frente. O que mais
podia fazer? Eu sabia que não seria capaz de fazer ele ficar e não tinha
percebido que estava apaixonada por ele, então o que de bom eu teria sido
capaz de fazer? Eu encontrei paz em uma das cabines do banheiro naquela
noite. As vozes de todas as garotas felizes reaplicando suas maquiagens que
elas tinham acabado de reaplicar 30 minutos atrás me fez sentir tranqüila.
Era como se sua paz e sentimento não-complicados estivessem flutuando acima
e abaixo da porta para chegarem em mim. Todos seus sentimentos podiam
perceber os meus, porque eles eram opostos, e eles foram atraídos um ao
outro por aquela razão, absorvido um pelo outro. Não tenho certeza se isso
faz sentido para alguém além de mim, mas foi assim que pareceu de verdade.
Todos os escritos que estavam na parede olharam para mim, imaginando e
maravilhados enquanto eu fitava de volta para eles. Eu li quase todos os
dizeres e canções que estavam escritos pela parede, mas eu só consigo
lembrar de um deles: ´Por favor, fale lentamente. Meu coração está
aprendendo. Ensine-me a dor no coração, pare com essa ferida agora´. Eu
olhei para aquela linha de uma música que eu nunca tinha ouvido por o que
pareciam ser horas quando eu ouvi uma batida na porta da cabine.
"Sora...?".
Mimi. É claro que eu não esperava ser capaz de fugir e evitar tudo. O som
de sua voz me fez pensar em todas as coisas que ainda estavam na minha
vida. As coisas que não importavam quanta dor eu senti. Pessoas como Matt e
os outros, minha mãe, a escola, a floricultura, Piyomon... Como eu queria
que tudo fosse embora. Eu queria ser deixada sozinha. Mas não podia ignorar
Mimi. Um sorriso veio no meu rosto enquanto pensava:
´Quem pode?'.
"Sim?".
"Quer conversar?".
Eu abri a porta para ela. A cabine não era tão terrivelmente pequena, então
ela se adaptou bem o bastante, ainda que eu tivesse certeza que ela teria
adorado ter mais espaço. Quando Mimi andou, eu vi um olhar de dúvida e
incerteza cruzar seu rosto antes de ela lenta e hesitantemente ajoelhar no
chão.
"Não muito", eu disse, "Mas eu acho que eu devo esquecer isso o mais cedo
possível, certo?".
Mimi encolheu seus ombros e olhou para mim cuidadosamente. Eu não acho que
ela esperava mesmo que eu dissesse algo, mas ela sabia que uma amizade de
Digiescolhidos nem sempre precisa de palavras. Uma vez na sua vida, Mimi
não estava falando sem parar, ela não começou a conversa como ela
normalmente faria. Ela sabia que eu tinha que ser a primeira a falar. Eu
acho que Mimi cresceu de verdade aquela noite.
Eu senti as lágrimas começarem a escorrer pelos meus olhos
incontrolavelmente. Eu as segurei e agora meus sentimentos estavam
explodindo por dentro e eu não conseguia pará-las. Eu as deixei cair.
"Porquê...?", eu disse entre suspiros de ar, "Porque... ele partiu?".
Mimi apenas olhou para mim. Ela não deveria dizer nada ainda. Ela sabia bem
sua parte, e eu ainda estava confusa com o que precisava ser feito.
"Eu não entendo nada disso, Mimi! Semanas atrás eu estava perfeitamente
bem. O que aconteceu comigo! Passou-se um ano desde que eu... que eu
comecei a sair com Matt...".
Mimi olhou para mim como se eu fosse dourada. Matt? O que Matt tinha a ver
com isso? Aquilo saiu da minha boca por acidente. Mas de acordo com o jeito
que Mimi reagiu, eu estava no caminho certo.
"Eu não entendo...".
"Acho que entende".
Ela pegou minha mão com as dela e então me deu um abraço. Lágrimas
começaram a cair dos olhos dela também, parecendo uma cena real de um
filme. A audiência olhava a esse personagem chorando e não havia dúvidas na
mente deles sobre o que fez ela chorar. É tão emocionante que você sente
que as razões pelas quais você chora são insignificantes e bobas. Eu não
esperaria nada menos de Mimi. Minha mente se abriu e milhões de pensamentos
e memórias correram por ela.
Meus cinco anos tinham ficado no fundo do escorregador quando uma bola
rolou entre meus pés. Ele chutou...
... Estávamos parados perto de nossas mães imaginando porque conseguiam
falar sobre aplicações de cozinha por horas...
... Eu tinha ido mal no meu primeiro teste de multiplicação. Olhando para
as cadeiras atrás de mim eu vi que ele tinha ido mal também...
... Rindo de todas suas piadas malucas e histórias no ônibus do
acampamento...
... Eu estava caindo, mas ele pegou minha mão...
... Ele estava cuidando de sua irmã doente. Eu o admirava...
... Primeiro dia de colegial e ele ainda estava do meu lado...
... Natal. Biscoitos. Eu o deixei sozinho, mas ele ainda esperou...
... Seus olhos olhando para mim, e os meus olhando de volta. Sua dor. Era
tudo minha culpa...
"Eu era tão egoísta!".
Eu não tentei parar as lágrimas. Elas não parariam e eu chorei mais do que
eu já chorei. Mimi rapidamente envolveu seus braços ao meu redor e eu pude
sentir ela chorando também. Tudo que pude ver foi o palco escuro onde ele
estava parado. Eu chorei por ele.
"Me desculpe, Tai! Por favor, não me deixe! Eu faço qualquer coisa... por
favor...".
Eu segurei as últimas lágrimas e chorei no ombro de Mimi.
"Por favor,... Você não".
Eu alcancei sua mão, para tocá-la pela última vez, mas eu perdi.
"Você não...".
******
Eu descobri mais tarde que os outros foram procurar por ele e deixaram Mimi
para trás para tentar conversar comigo e me acalmar. Eu fui até o
playground onde eu encontrei Tai pela primeira vez, e sentei no fundo do
escorregador assim como eu fiz aquele dia. Eu olhei para tudo ao meu redor,
mas não vi nada. A escuridão da noite me deu as boas vindas. Tudo estava
calmo e quieto, assim como eu queria que estivesse. Eu fugi do clube para
vir aqui. Todos estavam esperando por nós quando saímos do banheiro. Um
olhar de defesa e tristeza se espalhou por todos eles. E eu não conseguia
encarar eles. Especialmente Matt. O olhar em seu rosto me matou. Estava
cheio de confusão e dor. Eu fui cercada por todos aqueles sentimentos, e eu
não queria ter que sentir mais. Eu só precisava pensar. Eu não tive muito
tempo para fazer isso enfim, porque Matt me encontrou momentos depois.
Ele parecia diferente enquanto sentava num balanço perto de mim. Ele olhou
para a lua e eu vi que ele estava machuca realmente. Mas eu vi mais uma
coisa também. Compreensão.
"Matt, eu...".
"Eu sei, Sora. Tudo bem".
"O quê?".
Ele olhou direto para mim com um triste sorriso no seu rosto.
"Tudo bem. Não precisa se desculpar, Sora. Eu... eu entendo. Tai foi muito
importante para você, não foi?".
"É, ele foi. Eu não sei o que faria sem ele".
Houve um silêncio entre nós. Mas não era embaraçoso, era calmo, deixou tudo
em silêncio. Depois de um tempo, ele sorriu para mim e começou a falar.
"Eu soube por muito tempo".
"Soube o quê?". Eu não tinha a menor idéia do que ele estava falando.
"Você sabe, Sora. Que está apaixonada pelo Tai".
Minha boca se abriu em descrença. Estou apaixonada por ele?! Como Matt
poderia saber de algo que eu não era ciente?
"Digo, eu via o jeito que olhava para ele, e você estava tão preocupada com
ele ultimamente. Ele significa algo para você que eu nunca poderei ser
comparado. Todos sabemos, Sora. E ele te ama também. Você sabia disso?".
Eu estava chorando de novo. Não podia acreditar. As palavras de Matt me
despertaram. 'Ele significa algo para você'. Tai significa algo para mim.
Significa. Ele significa muito mais, também.
"Sim, sabia... bem, eu descobri hoje. Não sei como eu descobri. Eu só...
sabia, Matt? O que vou fazer? Tai partiu, você não conseguiu encontrá-lo.
Você olhou na casa dele? Ele foi para casa?".
"Não, Kari ligou para sua mãe. Ele não estava lá, e a Sra. Kamiya não tem
idéia do que está acontecendo. Ela disse que ligaria no celular da Kari se
ele aparecesse. Mas não ouvimos nada ainda".
"Oh. Preciso ir".
Eu comecei a correr para fora do parque quando ouvi Matt me chamando.
"Aonde você vai, Sora?".
Eu parei desanimada no caminho. Eu não tinha pensado nisso. Não
especificamente.
"Procurar pelo Tai!".
"Oh! Ei, Sora?".
"Sim?".
"Boa sorte!".
Eu olhei para Matt. Parado lá, no meio da calçada. Ele acabou de me fazer
perceber que eu sempre estive apaixonada pelo meu melhor amigo ainda que eu
tivesse saído com ele por mais de um ano. Matt definitivamente não era
egoísta como eu tinha sido. E ainda, lá estava ele, me desejando sorte. Eu
corri todo o caminho de volta para ele e lhe dei um abraço.
"Vou encontrá-lo, Matt, eu juro. Não vou parar de procurar por ele até eu
ter". Eu disse, segurando nele firme.
"Eu sei que vai".
Eu andei de volta e olhei nos seus olhos azuis. Eu nunca pensei que Matt
seria aquele que me ajudou como ele fez. Mas então de novo, Matt sempre me
surpreendeu.
"Obrigada Matt".
"Pelo quê?".
"Por... entender. Por tudo que você já fez por mim".
"Ei, amigos são para quê?".
Não pude controlar meu sorriso.
"Você acha que os outros vão entender?".
"Eu não sei. Eu não acho que eles entenderam Tai muito".
Eu suspirei. Eu sabia que ele estava certo. Exceto por Kari, Matt, Mimi e
eu, eu não acho que eles realmente entenderam o que acabou de acontecer.
Mas eu coloquei um sorriso no meu rosto, enfim. Era assim que as coisas
estavam.
"Ei, Tai fez um ótimo show hoje, não fez?".
"Sim, eu acho...". Matt fez uma cara meio ciumenta, mas rapidamente sorriu
tristemente para mim.
"Vou sentir sua falta, Sora".
"Eu também vou".
E com isso, eu me virei e corri, nunca olhando para trás. Eu procuraria no
Japão inteiro se tivesse. Agora que sei que amo Tai, tenho certeza que vou
procurar pelos confins da Terra.
