N.A 1 Bem vindos ao Terceiro Episódio (ou terceira fase, escolhe aí) da fanfic Espada dos Deuses! A partir de agora a coisa muda de rumo completamente. Nesta fase você viaja com Rony, Gina, Draco, Sirius, Lupin e Snape pros confins do deserto do Saara, abrindo portas de vez para a corrida pelos Templos Sagrados, pelas Espada Mágicas e pela Espada dos Deuses, armas mágicas que não podem cair em mãos erradas. Harry, Hermione e Leah (Personagem Original) foram para o Brasil, e não dão as caras nesse Episódio, bem como os personagens dessa fase não dão as caras no Episódio IV, Brasil. Ele é bem independente dos outros, então, se você estiver interessado em começar daqui, ou ler só essa parte, sem muitos problemas.

N.A 2 Sobre a fase, também: nova versão mesmo! Tem muita coisa nova – capítulos inteiros, imagine! Essa fase merecia tratamento especial, é minha preferida. Quem reclamava de falta de romance, tem sua sede matada aqui. E, para quem sentia saudades de Kione, Giafar, Nura, Zen e até do Moredin, divirtam-se! Eu prometo que ninguém vai passar 'sede' de nada enquanto estiver andando com o pessoal pelas escaldantes areias do Saara... ;-)

N.A 3 Pra quem é novo, espero que goste! Essa fase é a preferida de 90 dos leitores! Ganhei de presente muitos "leitores especiais", que são os R/Hr. Digo isso porque, pra uma fanfic H², eu me sinto lisonjeada de receber os e-mails deles, torcendo pelos personagens, elogiando a fic, mesmo não sendo do shipper que os agrada. Valeu o apoio, galera! Eu tenho que gostar dos R/Hr mesmo! Eles adoram a Saara e não torram meu saco pra chegar logo o Episódio H²! rs

N.A 4 Vamos em frente que atrás vem gente:P

ESPADA DOS DEUSES
EPISÓDIO III: SAARA

-Capítulo 30-

Nas Areias do Deserto

Um oceano azul-acinzentado, com altas montanhas. Um oceano feito de areia fina. É, um deserto. As estrelas pintam o céu negro. Nada se escuta, apenas o barulho do vento que sopra e muda as montanhas de lugar. Num vale, próximo a um pequeno oásis, onde se vêem apenas três coqueiros e algumas moitas de papiro, um pequeno grupo de contrabandistas dormem. Um deles está na frente da fogueira, de vigia. Os cavalos e camelos estão amarrados e, nas bagagens, muito contrabando saqueado de ruínas. Tesouros perdidos. Tesouros raros.

Do alto de uma dessas montanhas de areia surge uma figura. Um cavaleiro de negro, que esconde seu rosto. Ele pára no alto da montanha e observa o acampamento com os estreitos olhos vermelho-fogo. O vigia nota a presença do cavaleiro silencioso, no alto da duna, e imediatamente se põe de pé, gritando pelos companheiros e pegando sua cimitarra.

O cavaleiro desce a duna a galope.

- Templário Giafar! Templário Giafar! – grita o vigia. O negro cavaleiro tira da cintura sua grande cimitarra dourada, adentra o acampamento a galope e corta o homem na cintura.

Na próxima tenda um outro homem assustado sai. Olha para o lado e a única coisa que vê é o vulto negro passar por seu lado, antes de ter sua cabeça arrancada. O cavaleiro chega ao fim do acampamento e volta a cavalo, e dessa vez outros cinco homens já saíram das tendas com espadas nas mãos. Ele continua dando voltas no acampamento correndo, fazendo sua dourada espada tilintar de encontro às dos outros homens. Um deles o puxa pela capa e o faz cair do cavalo.

Mas antes de se pôr de pé ele já voltava a se defender das espadas e matou mais um. Dois vieram atac�-lo pelas costas, ele virou-se num rápido movimento e abriu a palma da mão na direção deles. Um deslocamento de ar jogou os dois homens a uns bons 10 metros do lugar. Ao se por de pé, a espada do último homem o retalhou de cima embaixo. Mas ele teve um a surpresa: no chão caiu apenas uma capa vazia. Olhou para trás. O cavaleiro estava nas suas costas, com a mão esquerda em seu ombro. Ele disse alguma coisa em uma língua árabe, e bateu a palma da mão direta na barriga do homem, e ele imediatamente foi lançado longe, dessa vez com o corpo em chamas. Ao chegar no chão via-se apenas as cinzas do corpo.

O silêncio voltou à noite do deserto. O cavaleiro respirou fundo, olhou dos lados, e fechou os olhos, passando a mão na cintura. Olhou a palma da mão, manchada de sangue. Em algum momento um dos bandidos lhe havia cortado profundamente o abdômen, apesar da rapidez com que os executou. Contraiu o rosto, incomodado com o ferimento, mas não deu importância à gravidade dele. Entrou em uma das tendas e pouco tempo depois saiu tranqüilamente dela com um amuleto nas mãos. Era um amuleto de ouro com um cordão. A medalha era feita de esmeralda, e parecia o desenho de um escaravelho. Subiu em seu cavalo e voltou a desaparecer no deserto.

Estamos no Egito. Um país que parece ter se perdido no tempo. Um cenário de filme de aventura, de um desenho, de uma novela. As casas são de barro, com um reboco amarelo, altas, umas em cima das outras, muito juntas, com ruelas e corredores estreitos. Uma espécie de grande cortiço. Poucas janelas têm um pano servindo de toldo, outras têm uma cortina. Ao redor da cidade, o deserto do Saara. A minoria aqui é a água do rio que passa ao lado da cidade. Fora ele, nada. Areia. Só areia a se perder de vista. O acesso mais seguro é pelo rio, e são poucos os viajantes que chegam de camelo. Está de noite. A lua cheia parece ser bem maior aqui que em outros lugares do mundo. A areia está azul pela luz e uma brisa varre a cidade, que dorme.

Da pequena varanda de uma das casas uma jovem muito bonita olha o horizonte, perdida em pensamentos. Com os cabelos longos, quase até a cintura, ondulados e muito negros, da mesma cor dos olhos, e uma pele lisa e bem morena de sol. Tinha um conjunto de cinco pedrinhas na testa entre as sobrancelhas, no lugar do jagan, o terceiro olho. Uma pedra em forma de gota vermelha no centro, e duas de cada lado menores ainda, verdes e azuis. O maior contraste era sua boca, com lábios grandes que davam a impressão de que ela estava sempre usando um batom muito vermelho, o que era impossível, já que ela era proibida de usar qualquer tipo de maquiagem. Estava sentada num degrau do parapeito da janela, e tinha o rosto apoiado na mão, com uma expressão um tanto desanimada. Na parte debaixo da casa um homem corpulento, com a cara arredondada, duas grandes cicatrizes no queixo que subiam até perto da orelha contornando o seu perfil, bigode peludo que descia ao queixo e traços que o faziam parecer um homem das cavernas entrava na companhia de outro homem que carregava uma grande sacola. O primeiro entrou e retirou o pano que usava na cabeça, jogando-o na mesa. O segundo deixou as coisas num sofá montado a partir da massa da parede e coberto de almofadas costuradas com retalhos de tecido colorido, falou alguma coisa pro primeiro e se retirou. Alguns instantes depois e o homem gritou com voz rouca:

- Kione!

A jovem da varanda pareceu não se importar, continuou olhando o horizonte. Um escorpião apareceu na beirada da varanda, subindo pela parede e indo na direção do braço da jovem, que apenas desviou o olhar para seguir o animal, aparentemente arranjando o que fazer. Ele veio andando com as presas erguidas, passando bem ao lado de seu braço. Ao passar debaixo do rosto da jovem ela o agarrou sem o mínimo medo, e o deixou de barriga para cima, batendo as pinças e balançando as pernas cascudas, cheio de agonia.

- Kioneeee! Kioneeeeeeeeeeeee!

Pela primeira vez ela pareceu escutar. Ou resolveu atender. Tirou o rosto da mão, mas ainda ficou segurando o pobre escorpião com a outra, e esticou o olhar para dentro da casa.

- Kioneeeeeeeeeeeeeee! – o grito do homem ficava cada vez mais grosso e bravo.

A jovem deu um longo e desanimado suspiro. Olhou o escorpião na sua mão. Com a outra mão o pegou pelo ferrão da cauda. Balançou o bichinho algumas vezes e o atirou em queda livre pra fora da varanda. E apressou-se para dentro da casa colocando um lenço sobre a cabeça.

- Kio- – o homem não terminou, já que a jovem desceu a escada estreita e curva apressada. Ele a olhou com muito mau humor.

- Eu... – começou a dizer, com uma voz doce que parecia estar sempre com medo de sair. – estava dormindo... me perdoe... meu... senhor.

- Hum. – grunhiu o homem – Amanhã chegarão nossos novos... clientes. De fora.

- Estrangeiros? – perguntou, com um pingo de ansiedade na voz e quase um sorriso. Mas parou imediatamente ao ver a cara emburrada do seu senhor.

- Sabe qual é teu lugar, não sabe? Nada de conversa. Nada de olhares, nenhuma palavra. Jamais tire a burca, a não ser que queria levar o pior castigo que os deuses puderem lhe reservar.

- S-sim senhor. – concordou. Sabia que era sempre assim. Não adiantava tentar mudar. – O senhor sabe o que é melhor para mim.

O homem se espreguiçou tirando as roupas grossas que o protegiam do clima do deserto, mostrando que usava uma blusa de tecido duro e bege. A jovem olhou o chão, desanimada, e encostou-se na parede, coçando a nuca. Ergueu os olhos e viu seu senhor dando um malicioso e nojento sorriso, que mostrava seus três dentes de ouro debaixo do bigode negro. Ele se aproximou dela e pôs uma mão em seu pescoço e outra em sua cintura, lhe puxando e beijando o outro lado do pescoço. Ela se encolheu contra a parede sentindo um arrepio de asco muito grande. O homem percebeu e a olhou demoradamente.

- Algum problema? – resmungou, apertando-a mais forte contra a parede.

- Não... não senhor. – respondeu, com a voz quase desaparecendo.

Ele, sem receio nenhum, continuou a beij�-la densamente, a apert�-la contra a parede cada vez mais com violência, não se importando com o que ela poderia estar sentindo. Sem poder fazer nada a jovem apenas suportou a dor mais uma vez, como sempre fazia, e esperou que ele terminasse. Os músculos do patrão amoleceram assim que ele soltou um grosso e longo gemido, e ele finalmente parou de prens�-la contra a parede. Olhou os negros olhos da jovem com um olhar muito fechado e lhe deu um longo beijo mordendo com força seu lábio inferior. Assim que ele a soltou novamente, a garota sentiu o gosto do sangue lhe encher a boca. Em seguida o homem sussurrou rouco em seu ouvido:

- Você é minha, Kione. Eu tenho você, eu dou tudo que você quer. E você vai fazer sempre o que eu quiser, porque ninguém terá dinheiro suficiente pra comprar você de mim... Lembre-se sempre disso.

Ele se afastou e ela levou a mão à boca, segurando o choro, mas deixando escapar um choramingo. O homem mais uma vez fechou a cara.

- O que foi?

- Nada, meu senhor. – murmurou baixinho, encolhida na parede.

- Não gosta quando eu faça isso? Tem nojo de seu dono?

- Não, meu senhor. – disse imediatamente, assustada, erguendo o olhar e dando um jeito de sumir com as lágrimas e limpar o filete de sangue do lábio inferior. – o senhor... é... muito... bom pra mim...

Antes que retomasse fôlego, o homem novamente lhe puxou pelo ombro, mas dessa vez lhe virando um violento tapa que acertou seu rosto em cheio, jogando Kione de costas na parede e espirrando o sangue do machucado na tinta amarela. Ela deslizou para o chão, zonza, enquanto o patrão colocava a blusa para dentro da calça, subindo para o andar de cima da casa, sem sequer olh�-la.

Algum tempo depois e a bela jovem estava novamente na varanda de seu quarto, no parapeito, mas dessa vez com o rosto inteiro escondido nos braços, chorando baixinho com medo de que pudesse acordar seu dono. Levantou o rosto molhado ao se incomodar com um vento gelado que soprou forte vindo do deserto, poucas casas à frente. Passou a barra da grossa roupa marrom nos olhos, e depois esfregou no rosto todo, tentando tirar a nojenta sensação daquela barba que lhe arranhava a pele.

- Que Alá me olhe de onde estiver... – disse baixinho, soluçando – E que os espíritos do deserto... me guardem de todo o mal... que venha a me acontecer.

Enquanto isso o valente escorpião voltava a escalar a varandinha. Kione fungou e olhou o bichinho preto, que parou exatamente a sua frente e parecia estar olhando-a. Fez um barulhinho muito esquisito ao bater as pinças excitadamente, sem parecer estar disposto a atac�-la, mesmo correndo o risco de ser jogado lá pra baixo de novo.

Kione não ignorou o bichinho, dessa vez pôs a palma da mão bem na sua frente e com um leve cutucão o colocou na palma. O escorpião continuava a bater as pinças, enquanto ela coçava sua carapaça com os dedos da outra mão. Deu um longo suspiro e ergueu o olhar para o horizonte. Parou num ponto. Alguma coisa estava parada muito longe, no alto de uma duna. Um pontinho negro no meio da areia iluminada pela lua. Estreitou os olhos para tentar ver, mas não conseguiu distinguir o que era. Do alto da montanha de areia o cavaleiro negro a olhava demoradamente com os olhos vermelhos, enquanto guardava no peito o amuleto do escaravelho nas roupas. Olhou para a escuridão do deserto às suas costas e imediatamente surgiram mais doze cavaleiros de negro atrás dele, a observar a cidadezinha.

- O vento está mudando, Zen... – sussurrou para um dos cavaleiros, que estava de olhos fechados. O segundo cavaleiro sorriu debaixo do pano da máscara e disse em voz suave:

- Está chegando a hora, Giafar, meu irmão... Theron está de volta.

Eles murmuraram mais alguma coisa entre si numa língua árabe diferente e deram as costas, voltando a desaparecer nas areias do deserto.

Seis pessoas andavam entre as ruas da cidade durante a manhã. O comércio agitado, camelos, mascates. A cidade parecia um formigueiro, provavelmente pela falta de ruas secundárias grandes. As ruas principais largas eram quase ignoradas pelos comerciantes, que pareciam se divertir muito mais dando um jeito de pôr as bancas de venda nos apertados corredores entre as ruas e as casas. As seis pessoas andavam acompanhadas de dois outros homens que carregavam as malas, nas mãos e em dois camelos. Dentre as pessoas, havia um homem de cabelos longos e cavanhaque, um de cabelo claro e rabo de cavalo, outro que parecia estar sempre de mau humor e o cabelo ensebado, um jovem loiro com o cabelo puxado para trás e um também jovem casal de ruivos sardentos.

- E eu que achava o Beco Diagonal uma bagunça nas vésperas do ano letivo...

- Quando fomos visitar o Gui não vimos nada disso.

- Essa cidade é bem mais longe de onde vocês foram, Gina – disse o homem de cavanhaque, sorrindo. – Divertido vai ser pechinchar com eles.

- É? – disse o ruivo muito animado. Ele quis parar numa banca de tapetes onde um homem gritava muito para ser ouvido na multidão, mas Gina não deixou.

- Rony, sem essa.

- Esse lugar é estupidamente quente e essas roupas... são nojentas. – resmungou o loiro. – Vamos chegar logo?

- Já j�, Draco. – resmungou o homem de cavanhaque.

- Afinal, Sirius – começou Rony. – Gui nos deu as coordenadas, pra onde estamos indo agora?

- Precisamos de um guia, Rony. – sorriu. – Já vamos chegar. O cara é um chacal do deserto. Não deve valer meio nuque.

- Mas sabe de tudo – falou o de cabelo castanho claro. – Moredin Ali é um dos mais conceituados e ricos... ahm... mercadores desse buraco do deserto.

- Mercadores, Lupin? – sorriu Sirius. – Dizem que ele é o maior contrabandista desse lado, ele é o demônio.

- Então porque vamos cair nessa? – resmungou Gina.

- Ele sabe o que queremos. – murmurou o último homem, de cabelo ensebado. – Pode nos levar até lá. E tem boas relações com o mundo bruxo.

- Ele não é bruxo, não, Severo? – comentou Lupin. – Por sermos bruxos... talvez seja melhor tomarmos mais cuidado...

Severo confirmou com a cabeça, sem olhar o companheiro.

Algum tempo depois e eles chegaram ao fim de uma viela tranqüila. De uma pequena porta saiu Moredin, para recebê-los.

- Alá trás os bons ventos e vocês em segurança. – sorriu, mostrando os dentes de ouro e falando com um forte sotaque árabe. – Bem a tempo de descansarem para a viagem...

- Outra? – resmungou Draco.

- Venham, entrem, a casa de Moredin é dos amigos de Moredin.

Os bruxos entraram. Moredin desviou os olhos para as espadas que Sirius, Lupin e Snape carregavam nas cinturas.

- Com medo de inimigos... Bom andar de espadas...

- Ah?... – disse Sirius, retirando a sua espada, assim como os demais. – Por gentileza... guarde-as. Creio que não iremos precisar delas, sim?

- Não tão cedo, esperamos. – murmurou Snape, de olhos estreitos. Moredin olhou como se nada tivesse acontecido.

- Sentem-se. Temos pão, queijos e chás – falou Moredin, mostrando a mesa central de madeira. A casa não era grande, mas não deixaram de notar a exuberante louça de ouro puro.

Os bruxos se sentaram.

- Viajem longa? – perguntou Moredin, na frente de Sirius.

- Ah, muito.

- Irmãos de Gui, não? – falou apontando os Weasley. – Bom homem. Bom homem.

- Dormiremos aqui hoje, Moredin? – perguntou Sirius, servindo-se de pão e queijo, muito à vontade.

- Não. Ficarão aqui hoje e descansarão até a noite. Peço desculpas, não é minha casa de verdade... é pequena, só para... momentos de transição de mercadorias. Sairemos para a Morada do Sol de madrugada, é o horário mais confortável de se viajar. Chegaremos amanhã no começo da tarde.

- Quanto antes, melhor. - disse Snape, de braços cruzados, sem tocar na comida.

- E estes adoráveis jovens? – Moredin disse isso olhando com uma cara muito desconfiada para Rony, Gina e Draco. – Essa viajem é muito arriscada para os pequenos.

- São nossos aprendizes – disse Sirius, firme. Moredin mudou a expressão na hora. – Somos os tutores deles, e eles irão nos ajudar bastante, acredite.

- São bem novos. Anos...?

- Dezessete - disse Draco, mau humorado, tomando o chá frio.

- Também - resmungou Rony, engolindo o pão.

- Dezesseis – disse Gina, pouco à vontade.

Moredin deu um longo "hum" coçando os bigodes. Lupin terminou de comer e foi se levantar pra pegar a jarra de chá quando Moredin berrou fazendo todos darem um salto da cadeira:

- Kioneeeeeeeeeeee!

Todos se olharam, assustados. Moredin disse para Lupin se sentar. Ele parecia muito emburrado de ter de chamar a jovem. Ela demorou. Mais um berro.

- Kioneeeeeeeeeeeee!

Passos apressados desciam da escada abaixo. O motivo do atraso foi sentido assim que Kione pôs os pés no andar térreo. Um doce perfume invadiu o lugar, fazendo todos olharem-na e deixarem-na muito constrangida. Moredin a fuzilou com o olhar. Ela ergueu as sobrancelhas, piedosa. Não disse nada, mas todos deduziram que ela estava vindo do banho.

De fato, o delicioso cheiro doce de óleo de canela, cravo e mel fez com que Draco e Rony esticassem o pescoço para olh�-la. Ela não mostrava nada além dos olhos, das pedrinhas na testa e em poucos fios negros de cabelo que lhe caiam no rosto por causa da pressa de se vestir. Moredin fez um impaciente movimento ordenando que ela os servisse.

- E essa é...? – tentou Sirius, sem saber se dizia filha ou esposa.

- Minha escrava.

Um silêncio baixou na mesa, enquanto Kione ignorava tudo e servia os convidados.

- Oh... – balbuciou Sirius – Sim... escrava. Bem... Jovem, ela, não?

- Hum... Quantos anos tem? – murmurou Moredin olhando Kione. Ela só retribuiu o olhar, sem dizer nada. Moredin pensou um pouco e voltou a olhar Sirius. – Talvez nem chegue aos vinte. Comigo está a quase dez anos. Era uma criança quando a comprei.

Gina e Rony ficaram olhando espantados Moredin dizer aquilo naturalmente. Uma... escrava? De verdade? Desde quando era criança? Rony sentiu de repente uma grande saudade de Hermione e seu F.A.L.E. O que ela não faria ao saber que alguém em algum lugar do mundo comprava escravos?

Kione veio servir Rony, que estava chocado. Tentou mudar de assunto:

- Ahm... E qual o seu nome? – perguntou para Kione, tombando a cabeça.

Ela não respondeu. Ergueu-se e ficou sem olhar Rony diretamente nos olhos, depois fez isso olhando Gina e então voltando a olhar Rony. Moredin esbravejou:

- O nosso convidado está perguntando qual o seu nome!

Kione estremeceu, e falou com a habitual voz doce e medrosa:

- Kione.

- Aaaaaahhh... É um nome bonito. – disse Rony, sem saber o que poderia dizer. Kione? Nunca tinha ouvido falar. Ia fazer o quê? Rir do nome estranho?

- Significa "Rainha do Nilo" – disse Moredin, orgulhoso, esticando-se na cadeira e coçando a barriga. – Eu sou o dono da Rainha do Nilo.

- Que bom pra você. – disse Snape, sarcástico.

- Quem bom que você tem... a Kione. – observou Sirius. – Gina ficará bem acompanhada. Estava com medo dela se sentir deslocada, sabe? Muitos homens...

Moredin não pareceu gostar da idéia. Olhou Kione, que só limitava-se a manter a cabeça baixa e correr os negros olhos pelos presente.

- Tem razão. – resmungou. – Ela cuidará de sua garota aprendiz. Pode ir comer, Kione.

Kione saiu para o lado de trás da casa, uma minúscula parte ao ar livre onde havia um tipo de tanque com água corrente para se lavar a roupa e um pequeno espaço de terra batida que dava de frente a um muro alto também amarelo. Sirius começou a falar:

- Ah, não, é só para ter uma amiga com quem convers... – mas parou ao ver Kione sumir de vista.

Gina não perdeu tempo e se levantou, meio acanhada.

- Posso... ir ficar com ela? – pediu. Moredin a olhou um longo tempo, depois olhou Sirius e Lupin e chegou à conclusão de que seria melhor mesmo deix�-la ir.

- À vontade. – falou.

Kione estava sentada no sol, três degraus a esquerda da porta, comendo. Ao sentir a presença de Gina a primeira reação foi cobrir o rosto.

- Ah, desculpe. – disse Gina, baixinho e meio acanhada. – Eu... não queria assustar... É que... Lá dentro só tem homens, então... Achei melhor vir aqui. Posso me sentar?

Kione pareceu chocada. Ninguém nunca tinha falado com ela assim. Balançou a cabeça e deixou o lenço no pescoço, ficando apenas com os cabelos cobertos:

- Claro, sente-se. Aceita?

- Não, comi demais, obrigada.

Gina ainda ficou sentada ao lado dela um bom tempo, com as mãos no rosto, olhando céu azul no sol forte.

- Como vocês agüentam esse sol? È forte demais. – comentou. Kione deu de ombros. Gina reparou mais nela. – Vocês são bem mais morenos que a gente. Seria ótimo não sermos brancos assim. – riu. – Mas de onde nós viemos é muito frio e nem tem tanto sol assim... Você sempre tem que usar... isso? – completou, apontando a roupa de Kione com o rosto.

Ela respondeu que sim com a cabeça. Mas para não parecer chata continuou:

- Isso é a burca, nós mulheres devemos reservar nós mesmas apenas para nossos homens.

- É... interessante. – Gina sentiu uma vontade muito grande de perguntar se Moredin, horrível daquele jeito, era o 'homem' dela, uma jovem tão bonita. Mas achou melhor não. – Bem... Vocês são... como nós?

- Como?

- Bruxos. Somos bruxos. Você e seu... patrão... são trouxas ou bruxos?

- Meu senhor diz que sou um aborto. Disse que minha família bruxa morreu durante um ataque à caravana onde estavam, há muito tempo. Disse que eu não tenho poderes mágicos.

- Como ele pode ter certeza? Você nunca foi educada pra isso?

- Meu mestre não mente. – disse rápido, como se tivesse medo de ouvirem. – Se ele diz que sou um aborto, então eu sou um aborto. Sabe mais do que eu.

Gina suspirou, voltando a olhar o céu azul. Rony apareceu na porta.

- Ei, Gina.

Kione deu um salto que quase caiu de cara no chão, pondo o pano no rosto. Quando se ergueu junto de Gina já o tinha tapado, e, pra sua sorte, pois Moredin estava logo atrás de Rony.

- Bem... – disse Rony, olhando o olhar de espanto de Kione. – Vim chamar você pra saber o que você precisa tirar da mala.

- Vá ajuda-l�, Kione. – disse Moredin.

Moredin entrou, com Gina em seguida. Quando Kione se aproximou Rony parou ao lado da porta para Kione passar. Ela parou na sua frente, do lado da porta também, olhando o chão. Quando já ia subir, Gina parou e olhou pra trás. Os dois continuavam parados. Rony não entendia. Porque ela não passava? Estava sendo educado. Gina desconfiou o porquê, e agarrou Rony pelo colarinho,trazendo-o pra dentro da casa. Em seguida, Kione entrou.

Na porta da casa Kione, de pé atrás de Rony e Gina, observava-os.

- Vou levar só meus objetos pessoais, Rony... E uma roupa leve pra dormir... Nós só vamos tomar um banho e dormir, não?

- Eu não vejo a hora de tomar um bom banho e dormir... – suspirou Rony, agachado ao lado da irmã. Ele ergueu os olhos e observou Kione olhar o movimento da rua. Os olhos dela eram a única coisa a vista, com exceção das mãos e das sandálias, e pareciam captar qualquer movimento que fosse ao seu redor. – Será que vai ser muito difícil a viajem?

- Não sei... Kione, você já foi para Morada do Sol? É um povoado bruxo, não?

Kione pareceu um pouco sem jeito de falar. Como se não soubesse falar.

- Bem... A viajem demora. Mas não muito. A casa de meu senhor lá é grande. E tem bruxos, e tem muitas ruínas antigas, dizem amaldiçoadas. E tem também tapetes voadores.

- UAU! – vibrou Rony – Tapetes voadores! Legal!

Gina sorriu e se levantou. Rony fez o mesmo.

- Pode me levar ao seu quarto, Kione? – pediu Gina, que ficaria com a garota. – Preciso mesmo de um banho...

Kione fez que sim com a cabeça baixa, olhando o chão. Os três foram na direção da escada. Gina começou a subir quando Rony parou de novo para Kione. Mas dessa vez Gina continuou.

- Oh, menina, sobe! – disse Rony, indicando a escada. Kione só olhava o chão. Ele pareceu se incomodar com isso – Mas que... Sobe logo, não tá vendo que eu tô deixando você passar?

Ele reparou que Kione começou a ficar brava com ele, mas limitando-se a olhar o chão. Rony pôs a mão na cintura, inconformado.

- Por que diabos você tem de ficar andando atrás da gente? Qual o problema de passar na frente? Passe!

Kione não arredou o pé. Rony perdeu a paciência. Gina desceu as escadas olhando Rony sério. O irmão então ergueu os braços, desistindo.

- Ah, quer saber? Então fica andando de escolta mesmo, sua tonta- e subiu. Kione atrás.

Ali naquela hora eles já descobriram que não ia ser fácil aturar um ao outro; não com costumes tão diferentes.