N.A 1= Próximo capítulo. Por enquanto não há nada de muito diferente da primeira versão... espero que estejam gostando do novo 'visual' da EdD
N.A 2= Antes que algum 'novato' me pergunte... rs... Kione não tem NADA a ver com Mione. Kione é mesmo um nome egípcio.
ESPADA DOS DEUSES
EPISODIO III: SAARA
--Capítulo 31—
Morada do Sol
Já era noite quando arrumavam as bagagens nos camelos para partir. Lupin aconselhou os garotos a arrumarem tudo sozinhos e acompanharem os outros de perto pra não perderem nada.
- Ai, ai. – suspirou Rony, colocando uma mochila feita de remendos grossos nas costas. – Lá vamos nós. Não seria mais fácil irmos de Pó de Flú do que de... camelo?
- Legal seriam lareiras no Egito, Rony, irmãozinho. – murmurou Gina. – Como você raciocina bem...!
Draco, no canto da sala, soltou um risinho debochado. Rony o olhou bravo, mas Sirius os chamou da porta:
- 'Bora, minha gente.
Os garotos se apressaram, saindo juntos de perto de Moredin, com Kione em seu encalço. Como era de se esperar, ela parou na porta, olhando para o chão. Draco sequer a olhou, Gina sorriu para a garota, e Rony passou o olhar por ela e virou os olhos, suspirando mais uma vez, impaciente.
- Quase um dia de viagem. – anunciou Moredin, subindo em um dos camelos. – Chegaremos no começo da tarde de amanhã. Melhor dormirmos um pouco no caminho.
Sirius ajudou Gina a subir em um dos camelos e foi para outro. Todos subiram, num total de dez camelos. Um pra cada, mais três de bagagens. Os bruxos olharam Moredin para ver se ele deixaria Kione ir a pé porque seu camelo estava carregado demais. Deixaria.
- Ei, Kione. – chamou Sirius. – Quer vir comigo?
Kione parou sem saber o que fazer. Moredin a olhou durante algum tempo, e depois olhou para Sirius:
- Ela deve guiar do chão o camelo da jovem que vem com vocês, para que não tenha nenhum problema durante a...
- Não precisa. – disparou Gina, olhando Rony e Sirius. – Meu irmão mora no Egito, e quando viemos aqui andamos muito bem de camelo, não preciso de guia, obrigado.
Moredin pareceu levar um tapa na cara. Rony sorriu e olhou Kione, que mantinha a cabeça baixa esperando alguma decisão. O comerciante viu que não tinha saída, sua garupa estava lotada.
- Tudo bem, vá com ele.
Sirius esticou a mão e Kione pulou para sua garupa, agarrando-se à sua cintura. E saíram em seguida, rumo ao deserto.
Os camelos iam vagarosamente pelo deserto, e horas depois resolveram acampar em uma pequena planície de terra batida e cheia de pedras, provavelmente um oásis seco. Ao chegarem ao lugar, cruzaram com dois viajantes que vinham da cidade bruxa Morada do Sol. Trocaram algumas palavras com Moredin e partiram. Depois de armado o acampamento, começaram a preparar alguma coisa para comer. Moredin observou demoradamente os seus 'clientes', passando a mão nos bigodes.
- E quando começará a nos dizer o que sabe? – disse uma voz bastante suave ao lado de Moredin, que se assustou. Era Snape.
- D... Dizer?... Perdão?
- Os detalhes sobre o lugar onde pode estar o Templo. – disse Snape, seco.
- Quando chegarmos lá, quando chegarmos lá... Temos tudo já pronto.
- Que bom. Isso é muito bom, senhor Ali. Para os dois lados.
Snape seguiu até os outros, enquanto Moredin estreitava o olhar e entrava na sua tenda.
- O que faz aí, Kione?
- Eu... só estou... me arrumando. – falou, olhando Moredin. Ela estava ajoelhada em algumas almofadas, se olhando no espelho, fazendo um traça em seu longo cabelo.
- Pois pare de se arrumar. Não quero os estrangeiros olhando você.
- Não me arrumo para os estrangeiros. Arrumo-me apenas para meu senhor. – disse, apática, voltando a fazer a trança. Ela parou ao sentir Moredin agachar-se ao seu lado e sussurrar entre os dentes:
- Vá arrumar o jantar dos estrangeiros. E logo.
Kione se levantou no mesmo pé, pegou seu lenço e saiu. Já lá fora Gina e os outros tentavam puxar conversa com ela.
- Você sempre faz tudo para o Moredin? – perguntou Gina, meio receosa. Kione demorou um pouco pra responder, e se limitou a afirmar com a cabeça.
- ...Não enche o saco? – perguntou Rony, sentado numa mochila. Gina lhe lançou um olhar furioso. Ele tentou corrigir de má vontade. – Quer dizer, deve ser muito trabalho só pra você.
Kione fez que não com a cabeça.
- A gente não morde, ô criatura. – resmungou Draco, largado num canto próximo à fogueira central. – Ou você não aprendeu a falar?
Kione se surpreendeu ao ouvir todas as vozes dos estrangeiros ao mesmo tempo, falando a mesma coisa:
- Cale a boca, Malfoy!
- Seu babaca! – completou Rony, mal humorado, que se levantava e ia até o caldeirão da sopa que ela preparava. Nessa hora Lupin chamou por Kione, ela prontamente o atendeu:
- Você poderia conferir pra mim esses pergaminhos? – pediu, sorrindo, lhe dando alguns rolos. Kione gentilmente se agachou à sua frente. – Nós já os traduzimos, montamos, mas tenho medo de ter algum erro...
Moredin saía da sua tenda na direção do caldeirão, enquanto Kione olhava um por um, prestando atenção nos detalhes:
- Preciso de um tempo. Pequeno, mas preciso. – disse, olhando os pergaminhos. – Mas é claro que eu...
Lupin sorriu para Kione, e escutaram um barulho muito grande. Moredin acabava de virar o caldeirão no meio do deserto, furioso.
- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ SERVINDO PARA MEUS CONVIDADOS? NEM MESMO UM PORCO COME ISSO!
Kione ficou espantada com a atitude, assim como os outros, sem entender. Sempre fez uma comida deliciosa – diziam os convidados do seu senhor e até o próprio. Porque estava fazendo aquilo? Ela se levantou depressa, com Lupin junto.
- Mas eu... – as palavras morreram ao ver a expressão de Moredin. Era o fato de estar dando atenção aos estrangeiros. Ele apenas deu as costas. Quando chegou dentro da tenda, gritou:
- Kioneeeeeeeeeeeeeeeeee!
- Que imbecil. – disse Draco, olhando os outros. – Porque ele foi gritar por ela só depois que estava dentro da tenda?
- Kioneeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!
Ela soltou um longo suspiro e foi até a tenda. Ao entrar viu seu senhor de costas, tremendo de raiva. Ele juntou todas as forças para lhe dar um tapa, mas não deu. Limitou-se a lhe apontar o dedo.
- Quero ser cordial com meus clientes. Mas você está desobedecendo minhas ordens de não se aproximar deles.
- Só estou... tentando agradar. – Kione disse isso e olhou fundo nos olhos do patrão. – Não seria bom verem que possui uma fiel escrava que não trata bem seus tão honrados convidados. Manter uma boa relação com eles apenas ajudaria o senhor.
Moredin desfez a cara de raiva. Ela tinha razão. Ele não gostou disso, mas ela tinha razão. Suspirou fundo:
- Tenho que partir agora para a Morada. – falou, juntando algumas coisas. – Vou deixá-los sobre sua guarda. Se acha mesmo que conquistará a confiança deles para mim, faça-o. Irei à frente para preparar a casa. Acha que poderá levá-los até a cidade?
Kione assentiu com a cabeça, tentando não parecer muito animada. Moredin saiu, trocou duas palavras com Sirius e montou seu camelo, sumindo do lugar. Assim que Moredin sumiu de vista na escuridão, Sirius virou-se para Kione, que estava parada na frente do caldeirão virado. Todos ficaram em silêncio. Ela olhava aquilo procurando um motivo que realmente a convencesse de que era necessário. Sentiu os olhos se encherem de água, e fez força para não chorar. Estava quase sendo vencida quando escutou o barulho de alguém chupando ruidosamente um líquido. Ela e os outros bruxos olharam para ver o que era. Era Rony, sentado na mochila, de olhos fechados, bebendo a sopa que havia pegado a poucos instantes antes de Moredin virar o caldeirão. Sirius e os outros ergueram as sobrancelhas enquanto o garoto tomava a sopa. Ele tirou a pequena vasilha da boca abrindo os olhos muito devagar, passando a língua para limpar os lábios. Em seguida olhou o céu, como se estivesse sozinho no lugar.
- Mas essa sopa está tão deliciosa... Acho que o paladar do senhor Ali está com defeito.
Sirius abriu um largo sorriso. Gina ficou espantada. Rony olhou os amigos, satisfeito:
- É verdade. Querem experimentar? – continuou, esticando o potinho. Debaixo do seu véu, Kione sorriu encabulada.
- Eu... faço outra. – disse, apressando-se. Snape a parou a três passos de onde estava. Ela ergueu os olhos.
- Não se dê ao trabalho, menina. – falou, seco. – Nós temos comida nas mochilas. Amanhã estaremos na Morada, não se incomode conosco e vá descansar.
Kione mais uma vez se surpreendeu. Mas não mais do que os outros. Rony murmurou para Gina:
- O sol derreteu os miolos ele.
- Ele escutou um sopro divino. – disse Gina. – Ele deve ser o novo profeta... só pode.
- Toque de recolher! – disse Sirius, em voz alta. – Todo mundo pra tenda descansar!
Cada um pegou seu rumo. No caminho, Lupin voltou a chegar ao lado de Kione com os pergaminhos.
- Você... ainda poderia, por favor?
- Ah, claro. – respondeu, pegando os papéis.
- Se estiver com sono não precisa se incomodar.
- Ahm... não... tem problema. – resmungou, sem saber direito o que dizer nessas horas.
Na tenda "Weasley", Gina e Rony estavam deitados:
- Acho que vou chegar na tenda da Kione... – disse Gina. – Será que tem problema?
- Hum. Se você entra, ela tem que sair. – resmungou Rony de olhos fechados. - Pra que perder tempo?
- Rony... – ralhou Gina. – Eu quero tentar ser amiga dela, algum problema? Não quero ficar no meio desse monte de ceroulas fedidas me sentindo por fora de tudo. Imbecil.
- Vai fundo.
Gina foi até a tenda de Moredin, agora ocupada só pela escrava.
- Kione...?
- Pois não?
- É a Gina, eu...
- Pode entrar.
Gina entrou. A tenda de Moredin era como a que eles usavam, de fora parecia caber apenas duas pessoas, dentro, umas cinco ou seis. Ela estava sem o véu, novamente arrumando os cabelos. Gina ficou um tempo parada, encantada com ela. Kione a olhou também demoradamente, sem entender o que ela queria.
- Sente-se. – disse.
- Desculpe, - falou Gina, sentando-se próxima a ela – é que... é estranho ver você sem o véu...
- Mas você já me viu sem ele...
- Não, você estava com o véu ainda. É... diferente ver você assim, 'nua' dos ombros pra cima. – sorriu Gina.
- Me...desculpe... – murmurou Kione, achando que estava fazendo alguma coisa errada.
- Desculpar por quê? Você não fez nada. Só estou dizendo que você é bonita.
- Ah...
- Você não pode mostrar o rosto para as pessoas?
- Não, não. Só para meu senhor.
- É... diferente. – Gina se ajeitou para escutar melhor, Kione também se ajeitou, começando a se sentir mais à vontade.
- Para nós se cobrir é como se reservar dos olhares de outras pessoas. Assim não somos objetos de ambição ou desejo pra ninguém além de nosso marido. E também é uma forma de nos sentirmos seguras...
- Hum... legal... bem, deve ser divertido também atiçar a curiosidade dos homens, não?
- Como? – Kione se sentiu um pouco constrangida com a pergunta. Gina riu.
- Quero dizer... ter todo esse ar de mistério... deve ser legal, os homens ficam muito curiosos de saber o que há "debaixo do véu".
- Hum... é... verdade.
- Se você quiser, pode esquecer esses costumes quando estiver com a gente... digo... se você estiver, de repente, querendo não usar o véu, ou qualquer outra coisa, pode dizer, nós não nos importamos, desde que não cause problemas pra você.
- Ah, não se...
- Ginaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!
Gina e Kione se olharam. Era Rony, obviamente, imitando Moredin. Gina vez uma expressão de quem seria capaz de socar o primeiro que lhe aparecesse na frente, dando preferência, é claro, pra Rony.
- Bem... até daqui a pouco, Kione. – despediu-se Gina.
- Boa noite. – falou Kione, esperando ela sair.
Gina abriu a tenda e olhou Rony com um olhar quase assassino. Ele, por sua vez, estava muito tranqüilo, só de calça, esparramado nas almofadas e nos lençóis da "Tenda Weasley".
- Eu não conversei com ela nem quinze minutos! – resmungou a menina. – Seu... imbecil! Porque foi me encher o saco?
- Você vai conversar o quê com ela? Qual a melhor forma de deixar alguém passar na sua frente, se é pela esquerda ou pela direita?
- Você quarda rancor das coisas como uma criancinha feliz. – zombou Gina. – Está tão doce quanto o Draco. Só falta fundar um fã-clube.
Rony não gostou do comentário, e fechou a cara.
- Eu estou brincando.
- Não é o tipo de brincadeira que se aceite de braços abertos, "irmãozinho".
- Desculpe, desculpe. É que ela é tão... sei lá, anti-social.
- A culpa não é dela. – disse, sentando-se. Rony se ergueu das almofadas, apoiado pelos braços. – Deve ser horrível ser uma escrava. Ainda mais de alguém como Moredin, um contrabandista, isso sem contar que ele é grande, feio, peludo e fedido. – o irmão não agüentou e riu da irmã, que enumerava as "qualidades" do homem nos dedos - E ainda ter de usar aquele véu o tempo todo... Só poder tirar quando está longe dos outros...
- Ela estava sem aquele pano da cabeça? – perguntou, erguendo a sobrancelha. Gina olhou o irmão.
- Claro, por quê?
- E como ela é?
- Por que quer saber?
- Porque eu quero saber... qual o mal de querer saber como é a cara dela? Eu só vejo aqueles olhos.
- Hum. – resmungou.
- Então, como ela é? – insistiu Rony. Gina o olhou sorrindo.
- Não vou contar. É importante pra ela que ninguém sabia como ela é.
- Besteira! Por quê?
- Faz parte da cultura.
- Cultura! Fala aí, como ela é?
- Não vou falar.
- Aposto como ela é feia. - Gina sorriu ao ver que Rony tinha ficado mal humorado. – Deve ser horrorosa, porque aquele Moredin é o rascunho do mapa do inferno. Ela então, deve ser uma baranga. Claro, porque...
- Ela é linda. – disse Gina, baixinho. Rony virou os olhos pra ela na hora.
- Como?
- Eu disse que ela é bonita. É uma beleza diferente da nossa.
- Então por que ela não anda com o rosto descoberto? Tem tanta menina que a gente vê que não usa.
- É outra coisa, Rony. Ela tem de usar. Bem, vamos dormir.
Gina virou-se de lado e fechou os olhos. Rony continuou olhando a chama do lampião mágico.
- Será que se eu pedir ela me mostra?
- RÁ-RÁ! – riu Gina. – Nunquinha.
- Então eu peço pro Moredin mandar ela mostrar. Ela tem de obedecer ele, não tem?
- Diga isso ao Moredin e ele arranca seu couro pra fazer tapetinhos.
- Qual o problema da gente ver o rosto da menina? Não vai arrancar pedaço.
- Acredite, Rony... Ele tem motivos fortes o bastante para não deixar que homem nenhum a veja descoberta.
- É...?
Gina dormiu logo, mas Rony ainda ficou um bom tempo olhando o teto de pano da tenda, pensando.
Sirius saiu de sua tenda quando uma linha lilás se pôs entre as dunas e o azul escuro da noite. Espreguiçou-se na frente da tenda, descabelado, e bocejou. No meio do bocejo abriu os olhos e viu a caravana prontinha. Era Kione, terminando de arrumar um dos camelos.
- D...dia! – terminou de bocejar, chegando perto de Kione, coçando as costas. – Você acorda cedo... arrumou tudo sozinha? Que trabalho...
- É Bom que a gente saia antes do sol. – disse, terminando de amarrar umas cestas na lateral do bicho – Ou seremos castigados pelo poder do Deus do Sol.
- Entendo... ah, com licença, sim? – em seguida ele puxou a varinha, murmurou uma palavra que fez a ponta da varinha brilhar lilás. E gritou, sua voz saindo como um rugido cortando o deserto:
- HORA DE ACORDAR, MACACADA!!!!!!!!!!!!!!!
Depois do berro o silêncio. Um vaso saiu de uma tenda zunindo no ar e Sirius desviou por pouco dele. Da tenda saiu Lupin, de olhos inchados.
- Seu viado! Isso é jeito de acordar os outros, seu monte de estrume?
Kione sorriu, enquanto Lupin se aproximava, bocejando e apertando os olhos. Ele viu a garota com o rosto descoberto, o véu apenas nos cabelos.
- Oh, olá, Kione. Você está bonita hoje. Acordou cedo, heim? - comentou naturalmente. Ela não agradeceu, apenas sorriu meio desconfortável e terminou de dar um nó no camelo. Pouco depois os outros saíram das tendas.
O céu já estava rosa e laranja quando eles saíram. Cortavam vagarosamente as colinas de areia, debaixo do sol que castigava. Nem sinal de povoado.
- Tem certeza que você está nos levando para o lugar certo, menina? – resmungou Draco, olhando Kione, que estava na frente do cortejo, a pé, puxando os camelos exclusivos de bagagem.
- Claro que tem, Malfoy. - disse Sirius.
- Quando o sol estiver lá, – disse Kione, apontando o lado esquerdo do céu – chegaremos.
O sol estava no meio do lado direito. Ia demorar. Draco gemeu.
- Ah... poderia ser mais específica?
- Hum... – pensou. – Está vendo aquelas montanhas pontudas ao longe? – era difícil de enxergar. Como é que ela via? – lá é uma porção de montanhas mais duras de areia e rochas. É mais próximo da Morada, é só cruzar que chegaremos à cidade.
Horas depois eles entraram no vale, cercado de paredes de rocha e areia. Parecia uma pedreira, um antigo leito de rio que o sol secou. Rony balançava no camelo com cara de dor e gemia:
- Ai... esse camelo está me matando! – os outros começaram a rir. – Sério! Tenho ovos fritos! Ovos mexidos! Assados! Como é que esse povo do deserto suporta andar nesse bicho?
- Porque você acha que eu estou indo a pé? – comentou Kione. Depois de um breve silêncio, os bruxos voltaram a cair na gargalhada.
- Isso, avacalha! Por que não avisou antes?
- Porque o senhor não me perguntou.
- Senhor? – Rony torceu o nariz. Sirius olhou para ele.
- Senhor? Devia se sentir importante, Rony.
- Ah, com certeza. Sendo chamado de senhor por uma menina que não deve ter dois anos a mais que eu!
- Pois é, Kione. – disse Gina, olhando para ela. – Você não precisa dessa formalidade com a gente. Aliás, ainda nem fomos apresentados direito. Pode me chamar de Gina.
- Gina. – repetiu Kione.
- Eu sou Sirius Black, só Sirius.– disse Sirius.
- Sirius.
- Remo Lupin. Remo, Lupin, tanto faz.
- Lupin.
- Severo Snape. – Snape não deu um nome abreviado.
- Aquele é o Draco Malfoy. – disse Rony, ao ver que Draco não falaria. – Mas você pode chamar ele de doninha saltitante e feliz.
- Vou mostrar quem é a doninha, Weas... – começou Draco, sendo interrompido por Snape. Sirius olhou Rony o reprovando, balançando a cabeça, mas não deixando de rir.
- Ah, e eu sou Rony Weasley. Só Rony.
- Rony. - repetiu Kione.
Depois de andarem mais um tempo no vale começaram a subir uma grande montanha cheia de pedras. Uma serra, e a contornavam por uma estrada.
- Do outro lado veremos Morada do Sol.
- Ah, que ótimo! – comemorou Lupin. – Mas é um fabuloso paredão de pedra e areia, não? Provavelmente uma proteção para a cidade mágica.
Estavam no meio da colina, subindo tranqüilamente, quando começou uma forte ventania.
- Eita! – exclamou Sirius, cobrindo o rosto.
- Estamos chegando no alto da montanha, é plano lá. – disse Kione em voz alta.
Eles perceberam que haviam chegado a um lugar plano, mas ainda muito árido. E em pouco tempo estavam envoltos numa nuvem de areia.
- Desçam dos camelos! – gritou Kione, segurando o véu no rosto por causa da areia. – Desçam logo!
Sirius e os outros obedeceram, e assim que desceram os camelos deitaram para se proteger da ventania.
- É uma tempestade de areia realmente forte! – comentou Lupin, agachando-se ao lado de Sirius. - Onde estão os garotos?
- Minha mochila! – berrou Rony.
O vulto da mochila de Rony desprendeu-se do camelo e desapareceu carregada pelo ar. Ele foi atrás.
- Volte aqui! – gritou Sirius – Rony!
Kione correu na direção dele e também desapareceu.
- Fiquem aí! Cuidado para não de separarem! – berrou Kione, antes de sumir de vista na tempestade.
Rony encontrou a mochila enroscada numa pedra grande. A tempestade de areia terrivelmente forte. Sentiu alguém se aproximando.
- Você tem algum problema?! – era Kione, brava. – Não pode sumir numa tempestade dessa!
- Ora, então porque veio me alugar? – respondeu Rony, gritando pro causa da ventania. Engoliu um bocado de areia.
- Tenho que cuidar de vocês! É meu dever!
- Eu sei o que eu faço, só vim buscar minha mochila! Vamos voltar agora.
- Não podemos! – disse Kione. – É perigoso.
- É só gritar. Sirius! Você me escuta?
Um breve instante depois ele gritou de algum lado à nordeste.
- Estamos aqui! Vocês estão bem?
- Estamos! Nós já vamos indo!... O que?...
A ventania mudou bruscamente, virando um redemoinho. Rony sentiu uma presença forte, e barulho de cascos no chão de pedra. Olhou dos lados.
- Tem alguém aí, Sirius? – berrou.
Sirius não respondeu. Rony deduziu que fosse verdade: havia alguém além deles ali.
- Mas que... – Rony escutou os cascos de um cavalo vindo rápido em sua direção, aumentando o som.
- CUIDAD -
Kione não terminou. Um vulto negro em cima de um cavalo também negro rompeu a nuvem de areia a galope e com um golpe derrubou o casal no chão, de costas nas pedras. Ele novamente sumiu de vista, mas pelo barulho parou e estava voltando. Rony se pôs de pé, com a mão no braço, dolorido.
- Mas que diabos é...?
Dessa vez uma espada dourada veio reluzindo junto do cavaleiro. Rony agachou rapidamente e escutou ela passando a milímetros da sua cabeça. Kione estava completamente perdida.
- Vai com calma, criatura! – gritou Rony, sacando a varinha. O cavaleiro cavalgou em círculos e Rony tentou lhe acertar vários feitiços. Até que um maior rompeu o lado esquerdo da tempestade e explodiu de encontro com a espada do cavaleiro de negro. Rony olhou depressa. Era Sirius, com a varinha nas mãos.
- O que você quer de nós? – perguntou em tom de ordem. – Só estamos de passagem!
O cavaleiro o olhou demoradamente, com o cavalo mexendo sem parar, agitado. Ele tinha olhos vermelhos brilhantes e olhava os bruxos sem medo algum.
- Flippendo! – gritou Sirius, mas mais uma vez o cavaleiro foi rápido o suficiente para rebater com a espada, ao mesmo tempo em que avançava em Sirius.
- Expelliarmus! – disse o cavaleiro, esticando a palma da mão para Sirius ao passar ao seu lado. Sem tempo pra reagir, Sirius foi jogado de costas, perdendo a varinha na areia.
O cavaleiro voltou na direção de Rony, girando a espada. Rony o esperou se aproximar, e puxou a espada que tinha na cintura, presente dos pais a ele e Gina ao serem escolhidos para cavaleiros e aurores. Bateu-a com força contra a dourada do cavaleiro. Foi arrastado uns bons quatro metros, mas permaneceu de pé.
- Sabe brincar de espada? – perguntou Rony, bravo. – A gente também sabe!
O cavaleiro deu a volta e disparou com a mão uma bola de fogo contra Rony, que rebateu com a espada.
- Seu bobão, eu fui batedor campeão de quadribol, isso não funciona comi... Kione!
Kione virou-se rapidamente, e o cavaleiro havia jogado a bola de fogo em Rony, mas não esperou e correu em direção à garota, com a espada nas mãos.
- CUIDADO!
Rony saltou na frente do cavaleiro, quando ele dava um poderoso golpe na transversal, cortando a tempestade de areia. Rony caiu em cima de Kione, e eles rolaram até bater de costas numa pedra. O cavaleiro sumiu de vista de novo. Ela se sentou chacoalhando a cabeça pra tirar a areia do véu, e viu que estava respingada de sangue. Olhou para o lado e viu Rony se ponde de pé, muito bravo, com o rosto ensangüentado.
- Ah, seu filho da mãe... – gemeu, pondo a mão no lado direito do rosto, onde tinha levado um corte fundo e começava a sangrar sem parar até pingar em sua roupa.
- Senhor Ron... – Kione não terminou, pois Rony esbravejava.
- Venha pegar alguém do seu calibre, imbecil! Seu covarde! Pare de se esconder aí! Vamos! Venha me...
O cavaleiro voltava galopando, com a espada erguida, num golpe certeiro para decepar Rony. Kione não teve tempo de fechar os olhos. Do lado direito uma fera muito grande soltou um rugido que encheu o lugar e se atirou em cima do cavaleiro, fazendo ele cair longe e o cavalo parar sem ninguém em cima.
- Mas o que é isso? – perguntou Kione, indo se agarrar às costas de Rony. Ele, por sua vez, olhava sem entender, a varinha na mão e ofegante.
O cavaleiro se pôs de pé zonzo. A criatura fez o mesmo. Rony conheceu a fera, um homem-lobo de uns dois metros de altura e do tamanho de um touro.
- Lupin!
Sirius se aproximou de Rony e Kione. O cavaleiro olhava incrédulo. A fera era um lobisomem musculoso, alto, peludo, com dentes muito afiados e olhos brilhantes e amarelos. Rosnava pra ele como um cachorro pronto pro ataque, os pêlos das costas arrepiados. Ele avançou e o cavaleiro defendeu com a espada, mas o tranco o jogou novamente no chão. O lobisomem avançou mais uma vez, agora com as garras. Mas para a surpresa de todos o cavaleiro se pôs de pé e agarrou as mãos do homem-fera, com uma força descomunal: suportava a força de Lupin. Com dificuldade, mas suportava.
- Quem... é... esse... cara?! – exclamou Sirius, baixinho. – Eu, Snape e Leah juntos não conseguimos segurá-lo!
Lupin continuava a olhar os olhos do cavaleiro, os dentes cerrados e o rosto contorcido de raiva, igual ao adversário. Com uma vacilada e um rápido movimento, o cavaleiro deu uma cotovelada na barriga de Lupin e saiu da zona de ataque dele, pegando a espada no chão. Lupin sacudiu a cabeça e voltou a olhá-lo.
- Saia... – grunhiu Lupin - Saia de perto dos meus amigos. Agora! Ou eu vou ser obrigado a machucar você.
O cavaleiro de negro olhou ele demoradamente, pronto pro ataque ou defesa.
- Li... Licantropo. – falou baixinho. Lupin desfez a cara de raiva. Como ele conhecia? O desconhecido deu um longo assobio. O cavalo negro veio correndo, ele se agarrou à cela e desapareceu. Em pouco tempo a tempestade de areia desapareceu.
Lupin estava parado ainda na forma de lobo, curvado. Ao seu lado esquerdo, próximo a umas rochas, estavam Sirius, Rony e Kione. Atrás, mais longe, Snape, Draco e Gina, junto dos camelos. Todos olhavam assustados.
- O que... esse cara queira? – perguntou Sirius, balançando a areia da roupa e indo até sua varinha.
- Qual o propósito desse ataque? – também perguntou Snape, se pondo de pé. Os bruxos novamente se juntaram.
- Não pareciam interessados em nos saquear - disse Lupin, ainda do mesmo lugar, apenas virando-se.
Kione, Gina, Draco e Rony mantinham a cara grudada em Lupin.
- Você... – gaguejou Kione. Lupin a olhou um pouco desanimado, mas sorrindo, erguendo as algemas.
- Sim... sou um lobisomem. Estas algemas são... um Licantropo. Com elas eu posso...
- Eu sei. – disse, se aproximando, os olhos grudados em Lupin, encantada. – Posso?
- Ahm... claro... – concordou Lupin. Kione queria poder tocá-lo. Passou a mão nas algemas, nos seu braço, na suas orelhas, parecia realmente encantada. Ele pareceu desconcertado. – Desculpe se eu lhe deixo com medo, mas é que...
- Medo? – disse Kione, inconformada – É... É INCRIVEL!
Lupin abaixou as orelhas, encabulado. Ninguém que o tinha visto como lobisomem teria esse desprendimento. Muito menos agora que o licantropo o deixava mais feroz, monstruoso e forte.
- Você foi demais! – vibrou Rony. – Que incrível! Eu quero ser um lobisomem também, posso?
Lupin sorriu junto de Sirius. Só Draco parecia não gostar.
- Você nos salvou, Remo. – agradeceu Sirius – Muito obrigado.
- Não foi nada. Também não via a hora de usar esse artefato de novo. Adorei.
Lupin tirou a tranca das algemas e imediatamente ele diminuiu de tamanho e voltou ao normal, envolto por uma luz. Entregou as algemas para Snape.
- Você esteve... bem. – disse sem emoção, guardando as algemas.
Em seguida a atenção foi voltada para Rony e seu corte.
- Isso foi feio, Rony. – disse Sirius, pegando um pano e limpando. – Aaaai... está fundo...
- Aquele idiota... – resmungava Rony. O corte era mesmo fundo, em sua bochecha. – Se eu não sou rápido o suficiente ele parte a Kione em duas!
Snape chegava com um pano fofo e um vidro, com um líquido laranja com bolinhas azuis.
- Sente-se, isso vai limpar. –ordenou. Rony, muito contra a vontade, sentou. Snape molhou o pano e apertou no rosto de Rony, que deu um gemido muito grande. O sangue foi limpo e o machucado parou de sangrar. Depois Snape colou uma espécie de adesivo em cima. – Depois tratarei disso com mais paciência.
Snape deu as costas enquanto Gina se aproximou.
- Ele vai me transformar num porco. – disse Rony, com a mão no curativo.
- Não reclame. – disse Gina. – Se ele está resolvendo ser tolerável... não sou eu quem vou reclamar.
Enquanto isso Kione se agachava ao lado de Rony, agoniada.
- E aí? Você está bem? – perguntou Rony, sorrindo. Kione parecia estar tremendo e o olhando com os olhos brilhando. – Que foi?
- Nunca mais! – berrou Kione, se levantando, carregada de raiva. – Nunca mais faça isso!
- ...Quê?
- Nunca mais faça uma loucura dessas! – disse entre soluços. – Nunca mais se atreva a fazer isso!
- Mas... fazer o quê?
- Eu... Eu sou uma escrava! Uma escrava do homem que está trabalhando para vocês! Nada de mal pode acontecer a vocês! – ela berrava inconformada. – Eu fui ordenada a manter vocês da melhor maneira possível! Eu não posso permitir que nada de mal aconteça a vocês! Nenhum de vocês! Nem que custe minha própria vida!
- D... Dá um tempo! – disse Rony, se levantando. – Eu ia fazer o quê? Ia deixar ele te partir ao meio?!
- Eu não me importo em me machucar, eu não me importo em morrer! – continuou berrando, com as lágrimas escorrendo pelo rosto e sumindo no pano da burca. - Mas aconteça o que acontecer, nada de mal pode atingir vocês enquanto eu estiver por perto! Quando meu senhor souber disso... por Alá... Quando meu senhor souber disso...
Rony desconfiou que não seria bom o senhor saber daquilo, porque Kione pôs as mãos na cabeça, desesperada.
- Acalme-se, Kione! – pediu Rony, agarrando-a pelos ombros. – Ei, escute! Escute!
Kione se acalmou e olhou Rony, e depois olhou os outros.
- Já passou, foi um acidente, seu senhor não vai saber disso.
- Diremos que o burro do Rony se machucou caindo do camelo, brincando de faquir, sei lá. – sorriu Sirius. – Não se preocupe.
- Mas... – disse Kione, limpando as lágrimas. – Não posso... mentir para meu senhor... seria... um castigo... de morte para mim.
Sirius piscou um olho para ela, sorrindo:
- Não precisamos mentir ou enganar. É só não contarmos.
- Não... contar?
- Claro! Não iremos contar. Não vamos poder mentir se não contarmos. Concorda?
Um instante depois e Kione fez que sim com a cabeça.
- Você precisa aprender umas coisas legais com a gente. – sorriu Rony, juntando as coisas e passando ao lado de Kione, na direção do seu camelo. – Ainda demora muito?
- Depois desse desfiladeiro. – disse Kione, apontando o fim do lugar onde estavam. Gina e Rony se olharam e correram até a borda do lugar, seguidos dos outros.
Do alto desfiladeiro de terra vermelha via-se, ao longe, no centro do deserto, uma cidade de porte médio, muito parecida com aquela onde estavam, cercada por uma muralha, mas com a diferença de que dava a impressão de ser protegida por uma grande redoma de uma fina luz azulada. Antes que perguntassem o que era aquela linha, Kione esclareceu:
- É a barreira mágica que protege a Morada do Sol.
