N.A 1= Próximo capítulo. Por enquanto não há nada de muito diferente da primeira versão... espero que estejam gostando do novo 'visual' da EdD
N.A 2= Antes que algum 'novato' me pergunte... rs... Kione não tem NADA a ver com Mione. Kione é mesmo um nome egípcio. Mas significa FILHA do Nilo, não rainha. Deixei o 'erro' propositalmente...
ESPADA DOS DEUSES
EPISODIO III: SAARA
--Capitulo 32—
Rainha do Nilo
A cidade Morada do Sol não era muito diferente das cidadezinhas que se vêem nos desertos. Era cercada por uma muralha de pedra, e da muralha saía uma redoma azul de luz brilhante, provavelmente pra proteger a cidade dos trouxas. Mas ao entrarem pelo portal da Morada, Sirius, Rony, Lupin, Snape, Draco e Gina ficaram encantados. As ruas eram calçadas com pedras cor de areia, e no centro da cidade havia uma grande fonte, de onde vinha a água abundante, e ficaram sabendo que era dali que as casas eram abastecidas – todas com água fresca e corrente.
Entre os vãos do calçamento a grama crescia sem problemas, e algumas trepadeiras subiam pelas paredes das casas. O povo parecia estar sempre feliz, andavam despreocupados pelas ruas, conheciam todo mundo, andavam de camelo, a pé, de carroça ou de tapete voador. Os tapetes, aliás, fizeram a festa de Rony, Gina e Draco, que acharam ótimo aquele monte de tapete zunindo pelo céu. Havia até táxi e um tipo de ônibus circular, mas de tapete voador.
Na praça central, onde havia a fonte, as barracas dos comerciantes se aglomeravam nas bordas da rua circular, e iam se infiltrando nas vielas como na outra cidade, enquanto estes pequenos corredores ferviam o comércio, alheio à tranqüilidade da cidade. Morada do Sol era mesmo um lugar mágico.
- Meu Deus... – murmurou Rony – Essa cidade é tudo!
- É mesmo uma belíssima cidade. – comentou Lupin. – Gosta daqui, Kione?
Kione fez que sim com a cabeça. Ao entrar na cidade teve de mudar de atitude: andava puxando o camelo com o véu cobrindo todo o rosto, mas agora andava com a cabeça um pouco mais baixa, e tinha parado de conversar com os novos amigos.
Andando por mais um breve tempo, eles foram se aproximando de uma casa realmente grande. Enorme, com quatro andares mais um terraço, plantas e flores que caíam das janelas, e tão imponente quanto uma mansão de uma tradicional família bruxa. Entraram no jardim e pararam em frente à escadaria.
- Chegamos. – anunciou Kione.
- QUÊ? – exclamou Rony.
- É uma... bela casa... – disse Sirius, olhando para cima.
Naquele momento, uma trombeta tocou alto, como um berrante. Sabe-se lá de onde veio o som. Mas dali a um tempinho curto Moredin apareceu, muito animado, sorrindo e mostrando seus dentes de ouro, usando roupas brancas e longas, muito diferentes dos trapos que usava.
- Ooooh... Alá é bom, chegaram cedo, chegaram bem! Kione os guiou direito? Não fez nada que...
- Você tem uma excelente criada, senhor Ali. – disse Sirius em voz alta. – Sua presença nos faz sentir como reis do mundo árabe.
-Ah, bom, bom. Pode entrar, Kione. Os outros irão arrumar os camelos. – em seguida ele gritou alguma coisa em árabe e três homens fortes e morenos, sem camisa e de turbante, apareceram para cuidar das bagagens e dos camelos. Kione entrou pouco à frente de Moredin e dos outros.
– Suas amigas não pararam de perguntar por você. Vamos entrando, vamos entrando.
Ao entrarem na casa de Moredin, viram que havia um grande salão no centro, cercado de colunas. O salão estava decorado com muitos sofás, almofadas, véus, cortinas, objetos de ouro e muitas frutas. Nas almofadas, algumas garotas cobertas de véu, como Kione, cantavam e pareciam se divertir muito com instrumentos musicais, que tocavam uma música árabe sozinhos. Ao verem Kione, deram gritinhos de exclamação e correram para encontrá-la. Kione também foi até elas e começaram a conversar animadamente, mas em tom baixo. Algumas delas agarravam os ombros de Kione e davam pulinhos histéricos ao reverem a amiga. Olharam os novos visitantes, curiosas, e voltaram a falar sem parar, em árabe.
- Tô entendendo tudo. – comentou Rony. – Se ela xingar minha mãe eu não fico sabendo.
Moredin chamou duas mulheres mais velhas, que se aproximaram.
- Por favor, venham, venham conhecer seus aposentos. – os visitantes subiram até os outros andares. O segundo andar inteiro era ocupado só pelos aposentos de Moredin e pelos de Kione. Ficaram no terceiro andar, cada um em um espaçoso quarto, com uma varanda. Num canto da parede de cada quarto havia uma pia grande de mármore, por onde vinha a água corrente, que caía sem parar de uma delicada imagem de uma mulher que sempre sorria para os visitantes, segurando um vaso. – Fiquem à vontade, a casa de Moredin é a casa dos amigos de Moredin.
Moredin saiu de perto deles, enquanto Draco cruzava os braços.
- Engraçado como ele vive enfatizando "os amigos de Moredin".
- Estou de olho nesse chacal. – murmurou Snape.
- Ah, gente, - disse Sirius. - o homem está tentando ser legal. Pagando bem, que mal tem?
- Quero ir no terraço, vamos? – chamou Gina, olhando Rony. Os dois subiram, com Sirius e Lupin atrás. Snape e Draco, como sempre, ficaram arrumando as coisas.
O terraço era grande e plano, protegido por uma mureta de um pouco mais de um metro de altura e uma cerquinha de madeira. Tinha um grande bloco que provavelmente era a caixa d'água, e várias cestas de capim trançado estavam amontoadas pelos cantos. E tinha uma espetacular vista da cidade e do deserto. Era a maior casa da cidade.
- Uaaaau... – admirou-se Rony.
Sirius e Lupin imediatamente pegaram uns pergaminhos do bolso e uns dois pedaços de objetos antigos que haviam achado em Azkaban e puseram-se a olhá-los.
- Bom... – começou Lupin. - Pra que lado será que são as ruínas?
- Por esse mapa – disse Sirius. – fica daquele lado lá.
- Hum... parece ter uma mancha escura no horizonte... Se não for uma ilusão, talvez as ruínas sejam lá.
- Não vai ser tão difícil. – animou-se Sirius. Lupin enrolou o pergaminho, suspirando.
- Está fácil demais...
Pouco tempo depois eles desceram e encontraram Moredin ainda animado.
- Teremos uma grande festa hoje aqui.
- Festa? – perguntou Sirius.
- Pra comemorar a visita de vocês. Adoro dar festas. Conhecerão nosso povo, nossos costumes, nossas comidas. Mas preciso que saiam para podermos arrumar tudo.
- "timo. – disse Lupin. – Podemos conhecer os mascates daqui, seria ótimo, não?
-Ah, claro, claro, os mascates! Boa idéia, boa idéia. Mandarei um guia para vocês conhecerem...
- Não pode ser a Kione? – perguntou Gina, se fazendo de desinteressada. – Nós já a conhecemos, e ela nos fez companhia tão bem.
Moredin olhou Draco e Rony, depois olhou Gina, bravo.
- Kione tem afazeres. Muito ocupada, ela.
- Mas... – Gina tentava achar um argumento.
- Bom, nos sentimos à vontade com sua menina, senhor Ali. – disse Sirius, sorrindo sereno como Dumbledore. – Ela é uma boa menina, nos trata bem e é muito inteligente.
- Bom...
- Você subestima muito seus criados, – continuou, erguendo a voz. – Kione pode ser muito mais do que o senhor supõe que ela seja.
- Preciso dela para a noite de hoje. – disse Moredin. Mas depois de um tempo ele ergueu as sobrancelhas, com um sorrisinho satisfeito – Pensando bem... Se trouxerem-na antes do anoitecer, ela poderá ir com vocês.
- "timo. Não voltaremos tarde mesmo, porque a viagem nos cansou.
- Certo... Kioneeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! Kioneeeeeeeeeeeeeeeeee!
Kione apareceu ligeira, provavelmente vinda da cozinha, onde continuava com as amigas, pois parecia bastante afobada.
- Sim, meu senhor?
- Leve-os para conhecer a cidade e o comércio.
- Mas, senhor, eu não...
- Vá. – disse, ríspido. – Eles fazem questão de sua presença.
- ...
- Mas cuidado com a hora.
- Sim, meu senhor.
Moredin saiu do salão e os bruxos foram para fora. Na porta, mais uma vez, Rony parou para deixar Kione passar. Ela, logicamente, não avançou. Continuou com a cabeça baixa, mas os olhos erguidos pra Rony, que, mais uma vez, tantava furar os costumes ensinados à escrava.
- Passe. – disse. Kione não respondeu, mas respirou fundo, sem paciência.
- Passe o senhor.
- Pare com essa droga de "senhor", e passe logo. – resmungou, colocando as mãos na cintura.
- Não vou passar.
- Passe!
- Não posso passar à sua frente!
- Mas porque não?
- Porque não posso.
- Porque não posso... passe logo, estou mandando.
Kione parou e olhou Rony, muito brava.
- Não devo obediência a você, pintadinho.
- Pi... Pintadinho? – Draco abafou uma risadinha, Rony continuou sarcástico e bravo – Escute aqui, quem é você pra me chamar de pintadinho? Você deve ser realmente muito bonita, tendo que ficar enfiada embaixo dessa coisa aí...
Kione murmurou alguma coisa em árabe, provavelmente protestando contra o atrevimento do estrangeiro.
- E pare de ficar falando em árabe! Me irrita!
- Se irrito você por que pede que eu o acompanhe?
- Se dependesse de mim você não saía debaixo do sovaco fedido daquele árabe. O pessoal tenta ser legal, mas você é idiota demais a ponto de não aceitar nossas...
- Não fale do meu senhor assim! – berrou Kione. Sirius e Lupin se olharam e vieram até eles. – Você não tem o direito de ofender o meu senhor na minha frente e...
- Que não tenho o quê! Nós estamos pagando-o pra nos auxiliar! Ele tem de fazer nossas vontades, não é assim a cordialidade árabe? E isso inclui você, já que é a fiel serva cachorrinho dele, que sempre acha que ele tem razão em t...
PLAF!
Kione virou um tapa no meio do rosto de Rony. Ele pôs a mão na bochecha assustado. Mas mais assustado que ele, só a própria Kione, que prendeu a respiração e se encolheu como se tivesse levado um balde de água gelado. Sirius e Lupin apertaram o passo, mas não chegaram a tempo.
- M... Me... – gaguejou Kione. - Me perdoe, eu...
Naquela hora a mão forte de Moredin virou-a violentamente. Ela olhou o rosto do senhor, completamente tomada pelo pânico. Ele não a olhava com raiva. Mas estava branco. E seus bigodes, de tempos em tempos, pareciam tremer. Sirius e Lupin foram abrir a boca, mas antes disso ouviram a voz de Moredin, rouca, e estranhamente serena.
- Vou enviar outro guia para vocês. Ela fica.
Kione ficou tão amarela quanto os cabelos de Malfoy, e isso realmente era difícil, porque ela era muito morena. Ela, quase sem voz, os olhos vidrados no homem, murmurou quase pedindo piedade:
- Meu senhor, eu...
- Você vem comigo.
Moredin fez um gesto para um dos empregados, que saiu do salão atrás do tal guia, enquanto Moredin, agarrando o braço de Kione com força suficiente para arrancá-lo, carregou-a para as escadas.
O salão ficou num silêncio sepulcral.
- O... que... ele vai... – murmurou Gina. Rony fez um barulho e foi atrás de Moredin. Snape agarrou-o pelo braço, do mesmo jeito que Moredin fez com Kione.
- Não se atreva a dar um passo. – disse, entre dentes. Rony tirou o braço com violência.
- Não venham mandar em mim! Eu vou falar com ele!
- Você não vai fazer porcaria nenhuma. – ralhou Sirius, dando as costas, nem um pouco contente. Rony olhou Sirius assustado. – Vamos logo ver a cidade.
- Mas... eu não posso! É minha culpa se ela vai ser castigada, não vou deixar!
- Você não deve interferir, é um assunto deles, Rony.
- Então o que eu faço? – falou, parecendo um galo de briga.
- Tente não ser tão infantil da próxima vez. – concluiu Sirius, saindo novamente com Lupin. – A não ser que não se importe de alguém inocente levar a culpa das suas babaquices.
Gina olhou Rony com a mesma cara de Snape e Sirius. Draco deu um sorrisinho debochado, enquanto Rony se dava por vencido e saía da casa.
Moredin abriu a porta do seu quarto sem usar a maçaneta. No lugar do trinco, usou Kione pra abrir o caminho numa pancada. Kione se desequilibrou e tentou ficar de pé.
- Por favor... eu ...
- CALE A BOCA! – berrou Moredin, virando um tapa, que a fez cair de cara no chão. Ao fechar a porta, uma luz percorreu as gretas da porta, as bordas das janelas, um feitiço, vedando o som. Passou a mão num longo e grosso chicote de couro cru, que estava na cadeira.
Kione se apoiou com as mãos para se levantar, mas assim que ergueu os joelhos, escutou o assobio do chicote rasgando o ar e dando uma forte lambida nas suas costas, de fora a fora. Ela contorceu-se de dor e caiu de joelhos novamente, com a dor queimando-lhe e espalhando-se rapidamente pelo corpo.
- Não queria... fazer mal... – choramingou. Levou mais uma chicotada.
- NÃO ME DIRIJA A PALAVRA!!
- Por f...
As chibatadas não pararam. Moredin descarregava toda a raiva no chicote. Kione não podia fazer nada, continuava no chão, encolhida, tentando proteger o rosto com o véu, as lágrimas molhando a roupa, e os dentes tão cerrados para não berrar de dor que já lhe doía o maxilar. As chibatadas eram uma dor quase comparada à Maldição Cruciatus, porque Moredin provavelmente mandou alguém enfeitiçá-la. Era uma dor sem tamanho, que confundia a mente.
- NUNCA FUI TÃO HUMILHADO NA VIDA!! O QUE VOCÊ ACHA QUE SIGNIFICA PRA MIM ESSE ATREVIMENTO!? VOCÊ TEVE CORAGEM DE TOCAR EM UM CLIENTE MEU! VOCÊ NÃO TEM DIREITO DE SEQUER OLHAR NOS OLHOS DE ALGUÉM COMO N"S! VOCÊ NÃO PASSA DE UMA ESCRAVA! COLOQUE-SE NO SEU LUGAR, ANTES QUE EU PARE DE SER BONZINHO E CASTIGUE VOCÊ COM A MORTE, E MANDAR QUE OS DEUSES A FAÇAM QUEIMAR NO FOGO DO INFERNO PRA SEMPRE!!!!!
Kione estava tão louca de dor que não pôde contar quantas chibatadas levou. A única coisa que tinha consciência, quando elas pararam, era que sua roupa havia se rasgado e suas costas sangravam com os golpes. E ardia, doía, queimava... Tudo junto. Ela respirava ofegante, engasgando-se nas lágrimas, sem ter coragem de se mover do chão por causa da dor. Moredin respirava também fortemente, enquanto guardava o chicote. Kione conseguiu forças para falar.
- Me... perdoe... eu... só... tentei defender sua pessoa, meu senhor... Não quero ninguém... menosprezando meu senhor...
Moredin olhou Kione no chão.
- Você? Defender a mim?
- O senhor é meu senhor, e é muito bom... e cuida de mim... não posso permitir que...
- CALE A BOCA. – Moredin passou a mão na testa e abriu a porta, gritando por alguém. – Não se incomode em me defender. Faça sua parte. Eles não perdem por esperar, subestimando Moredin Ali.
Uma mulher também de burca, velha, soltou um agudo "Oh!" ao ver Kione no chão, e se apressou, ajoelhando-se ao seu lado.
- Nura irá curar suas feridas, porque a quero pronta para hoje à noite, na festa de boas vindas. – disse Moredin.
Kione se ergueu e olhou Nura, a mulher, que a olhava, piedosa.
- Mas... eu pensei que o mestre...
- Quero mostrar aos nossos caros visitantes o que Moredin tem para mostrar da sua coleção de jóias raras.
- Não irei... servir?...
Moredin a olhou, sorrindo vitorioso.
- Não. Farás jus ao nome que tem. Irá aumentar meu orgulho de comerciante. Esteja pronta para a noite. – e saiu do quarto.
Nura, que era bruxa, cuidou das feridas de Kione e as cicatrizou em pouco tempo. Ela era praticamente a 'mãe adotiva' de Kione. Desde que a garota chegou como escrava, era Nura quem cuidava dela, e lhe ensinava tudo, até sobre as coisas que Moredin não achava necessário a uma escrava.
- Olhe só seu lindo rosto... – disse docemente, segurando o rosto de Kione com as mãos. – Todo molhado e inchado. Assim, que homem se encantará com a beleza de Kione?
- Não quero que nenhum homem se encante com minha beleza. – falou, soluçando, com uma voz que saia pelo nariz de tanto chorar.
- Não diga isso...
- Sou e sempre serei escrava, escrava de Moredin. É a ele quem devo lealdade. É a ele quem devo minha vida.
- Sabe que não me engana, Kione. Moredin pode ser um homem afortunado, mas não é a ele que você pertence de verdade. Eu sempre lhe disse isso. E hoje à noite você poderá provar aos ilustres visitantes de Moredin, aos estrangeiros, que é muito mais do que uma escrava, como todos nós de Morada do Sol sabemos e nos encantamos com você. Não esqueça, meu anjo. Você é muito mais do que uma simples escrava. Vamos, tome um banho.
O passeio na cidade foi "sacal". Moredin mandou um magrelo conhecido dele para mostrar o comércio, e não conheceram nada além da praça principal, porque a figura achou muito interessante contar aos clientes como Moredin era cruel e impiedoso com seus inimigos, contrabandistas e bandidos que volta e meia tentava tirá-lo da temida posição de comerciante poderoso. Rony parecia muito ansioso e mal-humorado, enquanto Gina sequer olhava-o no rosto.
Lupin parou em uma barraca com alguns objetos vindos de ruínas próximas à Morada do Sol, mas não encontrou nada de interessante. Rony estava próximo à fonte central, chutando umas pedras, enquanto o céu já estava rosa e laranja, escurecendo.
- Ai, ai... – suspirou Draco, sentando-se na beira da fonte. – Fico me divertindo em pensar o que aquele trouxa fez com a escrava por vê-la ter batido num idiota ruivo que se acha o máximo.
- Cale a boca, Malfoy. – rosnou Rony, bravo. – Mais uma palavra e eu parto sua cara em duas.
- Oh, bateu o arrependimento, Weasley? Só porque ele vai torturar a menininha que tampa o rosto? Quem ver você falando assim até pensa que você está... com peninha dela.
- Malfoy... – Rony fechou os punhos e o olhou. – Cuidado com o que sai dessa sua boca podre...
- Bem... Não seria de se admirar que você de repente gostasse daquela menina. Ela é como você, pobre e vive andando com trapos, sem contar que você mantém uma "amizadezinha" com o asqueroso Potter e com a nojenta sangue-ruim da Grang...
Sirius agarrou Rony com força antes que avançasse nele.
- Cale a boca, seu metido asqueroso! Eu vou ensinar você a lavar a boca antes de falar dos meus amigos!
- Rony! Acalme-se, passou! Malfoy! Mais uma gracinha e vou fazer você limpar bosta de camelo com as mãos o resto da viagem!
Draco soltou um risinho forçado e continuou na fonte, olhando o comércio. Rony deu as costas e foi pra longe dele, bufando.
Lupin se aproximou, desanimado.
- Ei, vamos embora? – chamou. – Já está anoitecendo.
- Ainda temos uma festa para ir. – disse Sirius, tentando se animar.
- Estou preocupada com a Kione... – murmurou Gina. Sirius a puxou num abraço, andando na direção de casa, com a ruivinha debaixo dos ombros.
- Não se preocupe, ela vai estar bem.
- O que... será que ele fez com ela?...
- Tsc... não vou mentir. Ela deve ter apanhado.
- A... apanhado? Dele?
- Com certeza, um castigo pelo atrevimento de ter agredido Rony, apesar do Rony ter dito pra ela coisas que não devia. Por ser escrava ela provavelmente levou algumas chibatadas.
- Chibatadas? Quer dizer... Apanhou de chicote? – gemeu Gina, sem querer acreditar.- Hum-rum.
- Isso... é horrível...
- É a condição dela. Não podemos fazer nada... E, vamos, gente! Olha a hora!
Chegaram na mansão de Moredin no início da noite, e o salão estava completamente deslumbrante, cheio de velas, decorado com véus e muito ouro. No centro, uma grande mesa cheia de frutas e travessas de ouro puro, e almofadas grandes e coloridas. Incensos deixavam o lugar completamente perfumado, e as mulheres não paravam de arrumar os detalhes, animadas. Os instrumentos árabes pareciam se afinar sozinhos, com bruxos olhando-os atentamente. Moredin apareceu com roupa de gala, uma túnica azul brilhante, e parecia ter saído do banho.
- Por favor, vão se banhar, se trocar, a festa e o banquete estarão prontos em pouco tempo! Apressem-se, muito convidados hoje virão para a noite!
Os bruxos subiram. Gina e Rony procuravam Kione em todos os cantos, mas nem sinal dela. No meio do caminho pro terceiro andar, Nura passou pelos bruxos, carregando roupas marrons, e eles reconheceram a burca de Kione, manchada de sangue e rasgada. Gina sentiu o estômago gelar e o coração de Rony se acelerou ao escutar ela falar em árabe com outra mulher, e pôde distinguir no meio o nome 'Kione'. Ele deu um salto e parou na frente da mulher.
- Você sabe onde a Kione está? – perguntou, tentando não parecer aflito. A mulher olhou-o, espantada. – Ela está bem? Aquele porco não judiou dela só por causa do que aconteceu, não foi?
A mulher continuava a olhá-lo sem parar. Até que Sirius o empurrou.
- Ela não sabe nossa língua, Rony, vamos nos apressar. Ah, desculpe, sim, minha senhora? Desculpe. Des-cul-pe. Entendeu? Não? Ah, ótimo.
- Mas...
- Nada de "mas". Subindo.
Os bruxos subiram, enquanto Nura continuou a olhá-los. Cada um foi tomar banho.
Rony estava em seu quarto, de calça, olhando as vestes que havia recebido para usar na noite, uma roupa bege, um manto árabe bordado. Ficou examinando-o, quando Gina entrou, já vestida, de trança e com uma roupa quase igual à dele.
- Ainda aí? Já estamos prontos.
- Hum... Só estou pensando. – disse, colocando o manto e o arrumando no corpo para não amarrotar – Estou... ahm... preocupado. Com... a menina lá.
- Kione? – sorriu Gina. – Preocupado... com ela? Rony, Rony...
- Nada disso. – resmungou rápido. – Bem... eu não devia ter feito aquilo. Ela deve ter se complicado.
- Hum... sei. Mas você mereceu.
- Quero... pedir desculpas.
- "Boa sorte". Agora vamos.
Os irmãos desceram juntos para o salão, onde os bruxos tocavam os instrumentos animados e algumas das mulheres cantavam sem parar, de burca, mas todas pintadas e cheias de jóias. Moredin acompanhava o ritmo com palmas, parecendo um bobão, mas visivelmente orgulhoso daquela festa. Rony e Gina sentaram-se na ponta da mesa, e ao lado de Sirius e dos outros. O banquete estava farto e muito bonito de se ver. Pão sírio, frutas, tâmaras, amêndoas, chá, queijos, pasta de grão de bico.
- Parece bom, não? – sorriu Sirius, mais animado.
Nura entrou animada no quarto de Kione, rindo-se à toa, dessa vez carregando uma bandeja de jóias.
- Alegria, Kione, alegria. A festa está maravilhosa.
Kione estava sentada em uma penteadeira, arrumando-se. Virou-se normalmente para Nura, que parou no mesmo lugar, de olhos arregalados.
- Alá abençoado seja!... – murmurou, derretendo-se como uma mãe coruja. – Você está deslumbrante como os jardins do paraíso, minha jóia.
Ela respondeu com um sorriso tímido. Mas estava muito diferente. Depois do banho que tomou, ela havia soltado seus longos cabelos negros cacheados até a cintura. Estava terminando de se maquiar: uma pintura negra nos olhos e uma sombra branca, além de um batom brilhante. Usava uma larga corrente de ouro, e nas mãos, pulseiras que se juntavam aos anéis numa delicada rede dourada, e uma roupa que com certeza não lembrava em nada a burca, pois mais exibia do que escondia. Nura agachou-se, mostrando as jóias, e Kione escolheu dois pares de brincos, além de uma tiara e mais uma rede de ouro para usar como véu. A roupa de Kione poderia se parecer com um biquíni branco brilhante grande demais, de um tecido muito leve, bordado de ouro e tiras com moedinhas que lhe caíam pelo abdômen e pelos quadris. Também usava uma correntinha de ouro no tornozelo.
- Feliz?
Kione fez que sim com a cabeça. Não irradiava felicidade, mas parecia ansiosa.
- Você sempre encanta a todos quando dança...
- Moredin gosta que eu me exiba para os convidados. – sorriu, se achando valiosa. – Eles ficam encantados, e isso aumenta a glória do meu senhor.
- Mas você, acima de tudo... não dança por ele, dança?...
A jovem sentiu o rosto esquentar, mas não deixou de sorrir:
- É claro que eu danço para mim mesma...
- Lembra do que eu lhe disse?... – Kione olhou Nura curiosa. Ela parecia radiante - Lembra de meus sonhos?
- Ah, Nura, por favor.
- Não, Kione! Eu juro! Nos meus sonhos...
- O que tem eles?
- Lembra do cavaleiro de fogo?
- Ham... Que tem? – perguntou, sem dar muita atenção, já que Nura, além de bruxa, dizia ter sonhos que muitas vezes se concretizavam ou diziam algo de importante. Kione nunca deu muita atenção, ao contrário das amigas bruxas.
- Eu acho... que ele existe. Ele pode estar próximo... – murmurou Nura, com medo de ser ouvida.
- Nura, o único cavaleiro que vi ultimamente tentou decepar minha cabeça...
- Não é... Oh, por Alá, olha a hora, vamos!
O jantar correu animado. Por alguns breves momentos, Rony, Gina e os outros esqueceram de Kione, por causa da animação; esqueceram até da vida. A festa estava realmente muito boa. Comeram e beberam à vontade: kibe, esfiha, pão sírio, pasta de grão de bico, tabule, doces de amêndoa e mel... Até se empanturrarem. Rony achava que ia explodir, enquanto tomava mais chá. Sirius divertia-se com as gracinhas das mulheres que cantavam, e Lupin trocava idéias com bruxos que conheciam bastante das ruínas da região. Moredin bateu as mãos, animado.
- Muito bem, muito bem! Atenção, todos. Espero que tenham se deliciado com a culinária de nossa terra, amigos. – disse para os bruxos, mostrando seus dentes de ouro. – Podemos passar adiante? Precisamos fazer muito bem a digestão, e nada como um pouco de dança e música para isso, não?
Os amigos de Moredin pareceram se animar. As mulheres deram risinhos e falaram algumas palavras em árabe. Moredin fez um gesto e seus empregados fizeram outro com as varinhas. A mesa desapareceu, a luminosidade das velas do lugar baixou de intensidade, deixando o lugar à meia-luz. Algumas das mulheres saíram do caminho, ansiosas, e os homens que estavam na outra ponta da mesa se sentaram ao lado, nas almofadas. No lugar da mesa agora via-se um longo tapete persa macio e detalhado. Os instrumentos começaram a tocar uma musica árabe agitada. Gina apertou as mãos, ansiosa.
- É... dança do ventre! – exclamou. – Eu acho linda a dança do ventre!
Moredin deu um sorriso largo e orgulhoso, e olhou para a ponta vazia da mesa. Lá estavam três mulheres vestidas como odaliscas, deslumbrantes. A da direita estava de vermelho, a da esquerda de azul, andavam com véus e mostravam um largo sorriso no rosto descoberto. A do meio delas estava de branco, usava um véu de ouro tampando o mínimo do rosto, e estava serenamente de olhos fechados.
Os estrangeiros olharam admirados. As duas mulheres das laterais começaram a dançar ao ritmo da música, passando o véu pelos convidados, balançando-os no ar. Foi quando a de branco resolveu se mover. Delicadamente ergueu os braços até a altura dos ombros e começou a dançar de um modo muito suave e sensual. Entrou no centro do salão e, antes de entrar no ritmo da música, abriu os olhos vagarosamente. Foi quando os ingleses desconfiaram que era Kione.
Rony tentou beber a taça de chá pelo queixo, enquanto Malfoy tentou comer o kibe pelo nariz. Ninguém poderia imaginar que aquela era a judiada escrava Kione. Eles mais uma vez não viam seu rosto por completo, mas era justamente isso que parecia deixá-los sem controle.
- Nooossa... – sussurrou Sirius baixinho, ao lado de Lupin. – Como ela está...
- Maravilhosa... – completou Lupin, se endireitando na cadeira, sorrindo. – Agora eu sei porque Moredin tem tanto ciúmes duma mulher dessa...
Kione pareceu estar completamente feliz ao ver a cara de bobo dos convidados. Ela adorava isso. Era uma das únicas vezes em que ela se sentia feliz de verdade. Ali, naquela hora em que ela estava dançando, e todos olhavam-na encantados, esqueciam que ela era apenas um objeto, uma escrava. Ali ela era como uma rainha, ela era quase uma deusa.
Com o tempo, Rony esqueceu que haviam outras duas beldades dançando ao seu lado. Ele inexplicavelmente não tirava os olhos de Kione. O suave movimento dela, o balanço das correntes e das moedas de ouro, pareciam hipnotizá-lo completamente. E ela desconfiou. Em pouco tempo foi discretamente se aproximando, se aproximando, até que agachou-se na sua frente. Ele ficou olhando-a com cara de "Hã?", enquanto ela passou a mão na altura de seus olhos. Era difícil acreditar que aquela pobre e judiada escrava que tanto implicava com ele pudesse se mostrar daquela forma. Aliás, a dança do ventre tinha um incrível poder de fazer uma mulher aparentemente feia se tornar tão bela e imponente. Rony sentiu o nariz dela passar de leve no seu, e em seguida levantar-se de novo, deixando apenas o rastro do seu doce perfume. E foi quando ele escutou algumas risadinhas. Kione tinha lhe roubado a espada, e ele nem tinha percebido. Com o objeto nas mãos ela e suas companheiras fizeram mais uma série de danças e, quando a música acabou, encerrando a festa, Rony precisou de cinco minutos para voltar ao planeta Terra.
Moredin se despedia animadamente dos convidados, que pareciam capazes de bater a testa na parede na volta pra casa, de tão atordoados que saíram. Rony deu um longo suspiro e se pôs de pé, olhando os lados. Olhou a blusa suja.
- Ih, cara... derrubei.... – disse, inocente.
Gina e Sirius riram.
- Vai, babão! – dizia Gina. – Porque será que babou, hein, Sirius?
- Não faço a mínima idéia.
- O quê? – disse, ainda meio fora de órbita. Ele balançou a cabeça. – O que foi... aquilo?
- HÁ! – riu Sirius. – Gostou, né, safadinho? Concordo com você, elas estavam maravilhosas. – e olhou o teto. – Que Alá as conserve assim!
- Mas... era...
- Quem era?
- A de branco... era...
- A Kione. – disse Gina, sorridente. – Não te falei? Ela é linda, ah, como eu quero que ela me ensine a dançar, você viu, que suavidade, os movimentos assim... tão leves... e precisos...
- Ela dança bem. – concordou Sirius, olhando Gina tentando imitar.- Mas é melhor irmos pra cama. Já é tarde...
Rony continuava meio em estado de choque, quando Moredin chegou satisfeitíssimo, esfregando as mãos.
- Gostaram da festa de Moredin? Adoro deixar meus convidados felizes.
- Banquete delicioso e dança maravilhosa, senhor Moredin. Muito obrigado – agradeceu Sirius.
- Suas empregadas são mulheres deslumbrantes. – disse Lupin. – E sua escrava com certeza vale metade da frota de camelos de todo o Egito.
Moredin deu um sorriso fechado e tremido, passando o olhar por eles e por Rony, em especial.
- Kione é meu maior tesouro e ninguém a tirará de mim. Ela me dá motivos grandes o suficiente para que eu destrua o mundo se quiserem tirá-la do meu lado.
Rony voltou à realidade com o comentário. Em seguida Moredin deu as costas, ainda sorrindo:
- Bem, nos vemos amanhã. Tenham uma boa noite.
- Xarope. – resmungou Lupin baixinho ao ver o comerciante sumir de vista.
- Porco gordo e fedorento. – murmurou Snape. Todos olharam espantados. Snape apenas concluiu, sorrindo maquiavélico, antes de subir. – Ele ainda vai engolir toda a arrogância que tem com todo esse seu império. E eu estarei lá para ver e rir da cara dele.
Em seguida todos subiram. Gina ainda passou no quarto de Rony, que estava largado na cama, pronto pra dormir. Gina penteava o cabelo antes de ir pra seu quarto. Viu Rony pensativo pelo reflexo do espelho.
- Ainda enfeitiçado, maninho? – riu.
- Hum.
- Eu disse que ela era bonita, não disse? E você nem a viu sem o véu.
- Hum.
- Aquela dança é muito envolvente, eu quero aprender...
- Hum.
- A Kione parece virar uma diva pros convidados quando ela dança, não?
- Hum.
- Ai, ai. Pena que ela já tem um dono, não é?
- ...Isso é apenas um detalhe.
Gina olhou Rony, com os olhos arregalados e um sorriso incrédulo.
- Rony! O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que ela ser uma escrava é apenas um mero e insignificante detalhe... – disse, olhando o teto e falando com voz mole.
- Rony... por acaso você...
- Não sei...
Gina se levantou e foi para o quarto dormir.
- Bem... tenha bons sonhos então... queridinho. – disse Gina, rindo, da porta. Rony continuou na mesma posição.
- Pode deixar...
Rony virou de lado, se enfiou nos lençóis e dormiu sem conseguir tirar da cabeça o balanço e o barulhinho das correntinhas presas ao corpo de Kione. Ele respirava fundo e a única coisa que sentia era aquele doce perfume. Dormiu como um bebê. E por muito pouco não acordou chupando o dedo.
Kione entrou no quarto de Moredin com uma expressão desanimada, ainda com a roupa da dança, mas um manto grosso sobre os ombros.
- O senhor me chamou?
Moredin tirava a roupa e punha o pijama sentado na beira da cama. Todos já dormiam.
- Viu a cara de bobo dos estrangeiros? Eles ficaram encantados com a grandiosidade da minha festa.
- Ah, é claro…
Moredin se ergueu e chegou até Kione, olhando-a com o olhar que ela mais detestava ver nele.
- Você mexeu com as estruturas dos estrangeiros, ao verem você dançar daquele jeito. Aquele ruivo, inclusive.
Kione ergueu as sobrancelhas. Moredin cerrou as suas.
- Mantenha distância dele. Caso não queira receber castigos mais duros dos Deuses.
- ...Sim, senhor. Tratarei ele cordialmente, como trato os demais convidados de meu senhor.
- Que bom. – depois ele a olhou, sorrindo, e lhe beijou o pescoço. – Gostaria que continuasse a dançar para mim. A dança dos sete véus.
Mas Kione deu um passo para o lado.
- Por... favor, meu senhor... estou exausta hoje. Deixe-me descansar.
Moredin olhou-a, levemente irritado. Mas ela continuava a olhá-lo com muita naturalidade.
- Só hoje, meu senhor...
- Hum... Está bem. Vá para o seu quarto.
- Agradeço, meu bondoso senhor.
Kione deu as costas. Mas Moredin a chamou novamente:
- Um beijo de boa noite.
Ela parou, virou-se e foi até Moredin. O olhou durante uns instantes, e quando o patrão fechou os olhos, ela lhe deu um beijo na bochecha, para em seguida sair dos seus aposentos sem olhar pra trás, mas com um sorrisinho no rosto.
- Boa noite. – disse docemente antes de sair.
Moredin passou os dedos nos longos bigodes e ficou olhando a porta, pensativo e levemente irritado. Foi se deitar, mas não teve sonhos tranqüilos.
