N.A 1 Hum... voltamos à "antiga" Saara... Ei, algum de vocês têm idéia do que é Ter que revisar/escrever pelo menos 12 capítulos com média de 12 páginas cada um em menos de 4 dias num computador com um monitor que era de um 486, que eventualmente muda de cor, que suporta NO MÁXIMO resolução de 640x480, num Microsoft Word 97 (!) e um teclado amarelo que não tem nem cedilha?? Preciso aprender a dividir o tempo e colaborar com a minha pobre beta. Não deve ser legal corrigir um texto escrito por alguém pouco sóbrio às duas da manhã! "Não fui feliz, pretendo melhorar", como diria meu professor... Que vale que aqui funciona winamp e eu posso escutar as músicas árabes da trilha sonora enquanto escrevo.

ESPADA DOS DEUSES
EPISÓDIO III: SAARA



--Capítulo 34—

Lenda Perdida

El Arbi – Khaled

Rony acordou e não achou Gina no quarto. Desceu atrás da irmã, passando depressa por entre o bando de menininhas que usavam o véu na cabeça, mas não no rosto. Falavam baixo e rápido, e quando ele apareceu elas pararam e o olharam. Ele ergueu as sobrancelhas e elas deram risinhos, voltando a conversar. Rony balançou a cabeça e foi até o jardim detrás da casa.

Lá estava Gina junto de Lupin, treinando. O terreno do jardim, como era de se esperar, era grande, com canteiros de flores, árvores de porte médio e um pequeno córrego com o lago que contornava o jardim correndo numa calha de mármore branco. Gina treinava o gatotsu, que era nada mais que usar a espada como uma lança, perfurando um suposto oponente. Ele pararam ao ver Rony.

- E aí? – perguntou Gina – Teve bons sonhos...?

- Hum. Seria legal se eu sonhasse que estava realmente cozinhando o Malfoy, mas... não foi dessa vez. – resmungou, bocejando. – Acordaram cedo pra treinar nesse sol. Vocês estão animados.

- Não devemos deixar de lado o treino para Auror Supremo e Cavaleiro do Apocalipse. Ainda mais nesse clima do deserto. Treinar aqui nessas condições difíceis nos deixa mais fortes pra um lugar favorável. Hogwarts, por exemplo. – sorriu Lupin.

Rony mais uma vez ergueu as sobrancelhas. Hogwarts?

- Não seja pessimista. – riu Gina. – Oh, olá, Kione!

Kione vinha da cozinha, e parou ao lado de Rony, com só os olhos de fora, como sempre estava. Rony fingiu não vê-la. Ou achar natural estar do lado dela.

- Olá, respondeu a escrava educadamente.

- Hum... bom. Bom dia. – disse Rony, ainda olhando Gina. Kione tombou a cabeça pra ficar olhando ele sem entender. Ou fingir que não entendia. – Que... foi?

- Bom dia. – disse, firme. – Não sabia que o senhor fazia questão de me cumprimentar.

- Pare de me chamar de senhor e... porque eu não faria questão?

- Não cumprimentou quando passou por mim e minhas amigas.

- Como? – Rony não tinha percebido. Ela estava sem o véu, no meio da amigas, e ele não a tinha reconhecido. – Você... Porque... Porque colocou o véu?

Kione continuou o olhando.

- Porque eu tenho que usar o véu. – respondeu, óbvia.

- Mas... porque você não tira do rosto, se pode? Eu quero saber como você é!

Rony continuou levemente indignado com a oportunidade perdida, mas sem nada a dizer. Lupin virou de lado para soltar um risinho. Gina não foi tão discreta, e caiu na risada. Kione pareceu desconcertada.

- Ninguém pode ver meu rosto. Só o meu senhor.

- Só o seu senhor. Mas ele é feio!

- Meu senhor não é feio!... - exclamou Kione, para em seguida torcer o nariz. - E isso nada tem a ver com o véu...!

- Ah, vai me dizer que você acha ele uma gracinha. Custa admitir? Ninguém está aqui perto mesmo!

A garota colocou as mãos na cintura, brava:

- Pois o senhor estrangeiro fique sabendo que meu senhor é...

- Um camelo velho, fedido, com sarna e acabado. – quem disse isso foi Snape, chegando no meio da conversa. Continuou natural, apontando o lado da casa. – Não me sujeitarei a viajar em cima daquele animal. Ele morre no meio do caminho.

Todos os quatro ficaram olhando Snape, sem dizer nada. Ele pareceu não entender e perguntou, azedo:

- O que houve?...

Começaram a rir. Snape ficou levemente irritado. Foi quando Sirius veio do lugar onde Snape estava apontando.

- Ok, ok, senhor Severo Snape. – disse, impaciente. – Não iremos de camelo. Iremos de tapete voador. Mesmo porque eu morro de vontade de andar em um.

- Ótimo! – disse, ríspido. Em seguida virou-se para Rony. – E quanto a você, moleque? Sua irmã anda treinando, Malfoy também treina comigo. Porque você não toma vergonha na cara e pára de ficar só comendo e dormindo?

Rony foi abrir a boca, mas Sirius interrompeu.

- Rony está bem nos treinamentos, Severo. Ele só não treina suas técnicas aqui porque senão... põe fogo na casa. Você viu o que aconteceu ontem...

Gina olhou Rony com a mesma cara que Hermione faz quando ele apronta alguma.

- Eu não acredito que você insiste em... Rony! Custa você treinar devagar como eu, retardado?! Você ainda morre carbonizado. Imbecil. Eu vou rir da sua cara se isso acontecer!

- Não... não seja pessimista. É só eu aperfeiçoar e eu...

- Ah, tá. Acredito.

- Ronald Weasley é um homem de uma técnica só. – sorriu Sirius. – Quando ele aprender a controlá-la você vai ver. Mas mudando de assunto: Remo, onde estão os pergaminhos e aquelas outras tranqueiras que iremos usar?

- Ah, estão comigo. – disse Kione. – Desculpem, mas... eu estava tentando traduzir....

- Maravilha! Teremos sua acessoria na busca. Tudo bem?

Kione fez que sim coma cabeça, mas em seguida pareceu murchar.

- Ah... creio.. que meu senhor não permita...

- Ora, Kione! – disse Moredin, chegando ao seu lado, mostrando os dentes de ouro. – Não deixe os estrangeiros pensarem que sou um homem mau...

Rony e Gina o olharam com um olhar que estampava o que pensavam dele.

- Terei de resolver muito problemas hoje por aqui por minha ausência de ontem. – sorriu. – Mas me sinto na obrigação de enviar minha mais valiosa criada para auxiliá-los.

Kione olhou os bruxos, que também se olharam achando que ele estava ficando meio maluco. Moredin chamou Kione para conversar na cozinha, enquanto os outros iam para o outro lado da casa com os outros criados, arrumar as coisas para partirem.

- Kione, você irá com eles. – disse Moredin.

- Pensei que o senhor... – começou.

- Você não pensa.

- Ah, está bem. Sim, senhor, então.

- Você vai com eles até essas ruínas.

- Sim, senhor.

- Você vai, antes de tudo, vigiá-los. Ver o que eles descobrem.

- Sim, senhor.

- E vai me contar absolutamente tudo do que eles descobrirem.

Kione olhou o seu senhor e, sem hesitar, respondeu:

- Sim, meu senhor.

Os tapetes voadores cruzavam o céu do deserto na mesma velocidade de uma Firebolt IV. Estavam adorando o passeio. Sirius estava de braços e pernas cruzadas, sentindo o vento no rosto.

- Sirius! Sua posição está cômica.– riu Lupin. – Se sentindo o Sheik Árabe, não?

Todos voavam encantados com os tapetes. Menos Snape, claro.

Draco ajoelhou-se no tapete e se aproximou da cabeça de Rony.

- Ei, Weasley! – disse, sorrindo malicioso. – Aposto como pilota tão bem esse tapete quanto pilota aquela porcaria que você chama de vassoura!

Rony ficou muito bravo e agachou-se no tapete, agarrando-o na frente e disparou atrás de Malfoy. Sirius desfez a cara de 'sultão pensador' e ralhou:

- Ei, vocês, parem com isso! Ainda não estão acostumados com esse troço!

Os dois não escutaram. Continuaram o 'pega' no meio do deserto. Kione balançou a cabeça, impaciente. Gina entrou no meio.

- Parem vocês dois! – gritou.

Eles nem notaram. Foram chegando perto das ruínas, mas nada de diminuir a velocidade. Faziam curvas no vento como raios, emparelhados, trocando olhares de tempos em tempos para saber se um dos dois estava com medo ou perdendo a concentração. Já avistavam as ruínas do lugar, e dispararam em linha reta, como foguetes. Mas, ao chegarem a poucos metros de entrar nas ruínas...

BAM BAM

Meteram a cara numa barreira mágica, invisível, caindo de costas no meio da areia escaldante. Pouco tempo depois os outros bruxos pararam e desceram dos tapetes. Rindo da cara dos dois que se erguiam zonzos, é claro.

- Barreira protetora. – disse Kione, aproximando-se. – Só entramos a pé.

De fato, ela entrou sem problemas. As ruínas nada mais eram do que um lugar plano, cheio de areia, e com as ruínas do que parecia ser um templo antigo, as colunas amareladas caídas, alguns pedaços do velho piso à mostra, pedaços de muros com desenhos e estátuas quebradas.

Lupin e Sirius se apressaram em examinar as ruínas cuidadosamente. Mas não parecia ser possível haver qualquer coisa ali.

- Dá pra ler alguma coisa disso, Kione? - perguntou Lupin, entrando num templo que ainda resistia, calçado, com colunas levantadas, mas sem o teto e as paredes.

- Não. – disse, balançando a cabeça. – Não passam de desenhos decorativos. Só isso.

Lupin deu um suspiro e continuou andando pelas ruínas, olhando um pergaminho. Cada um estava em um canto, vasculhando o lugar. Kione ergueu os olhos e viu Rony sentado no alto do que restou de uma estátua. Encostou-se atrás de uma coluna e ficou olhando o garoto durante um tempo.

Rony tirou o curativo que estava no corte do rosto desde que tinha sido atacado pelo cavaleiro de negro na tempestade de areia e passou a mão. Tinha ganhado uma grande cicatriz. Ia ter de esperar voltar a Hogwarts para que Madame Pomfrey pudesse sumir com ela. Soltou um longo suspiro e se assustou ao ver Kione ao seu lado, embaixo da estátua, o olhando.

- Que... Que foi? – perguntou. Kione parecia um pouco agoniada.

- Você... se feriu naquela vez.

- Hum. E daí?

- Por minha causa, você teve esse machucado fundo.

- Não foi sua culpa.

- Desculpe... – murmurou, com a voz contida.

- Escuta, porque você tem que pedir desculpas sempre, hein?

Rony saltou da estátua e parou na frente dela.

- Como?... – perguntou Kione, dando um passo pra trás.

- Você não precisa ser assim! Você é como qualquer um de nós! Não tem de ficar se achando inferior. Me dá raiva o jeito que o seu senhor te trata! Você não merece isso.

- Meu senhor sabe o que é melhor pra mim.

- Se soubesse, não faria um terço do que faz com você.

- Não quero brigar com você de novo por causa disso. – resmungou Kione, se sentindo extremamente incomodada com aquilo.

- Nem eu, mas... – de repente Rony ficou meio sem jeito. – Só acho que não é justo a vida que você leva... É revoltante ver que você leva uma vida tão difícil, mas mesmo assim é educada e doce com todo mundo.

Kione ergueu as sobrancelhas. Rony tomou fôlego e completou:

- Você é boa demais praquele Moredin. Eu não vou deixar que ele judie mais de você, não na minha frente.

Ela ficou sem reação, olhando Rony sem parar. A primeira coisa que lhe veio à mente foi a imagem de Siloé, na ocasião em que prometera lhe proteger do Templário, logo em seguida pensou porque alguém como ele, de uma cultura tão diferente, bem mais esclarecido ao seu ver e com uma vida muito melhor que a dela se importaria com seu bem estar, mas depois...

Kione respirou fundo, fechou os olhos e passou seus braços pela cintura de Rony, pousando a cabeça em seu peito e o abraçando com força. Não sabia ao certo porque tinha feito isso, mas ela precisava fazer, era quase instinto. Era muito parecido com a época de Siloé, mas ao mesmo tempo, tinha uma grande diferença, era uma ocasião diferente, ele não era subordinado de seu senhor e ela sabia que qualquer um dos bruxos estrangeiros tinha poder suficiente para escapar das garras de Moredin. O deserto estava escaldante, mas Rony estava definitivamente gelado como um cubo de gelo na Antártida. Levou um tempo para que parasse de estar em estado de choque e tivesse coragem suficiente para abraça-la também. E ele tinha plena certeza de que poderia ficar daquele jeito pro resto da vida, debaixo daquele sol, que ele sequer teria coragem de reclamar.

- Ei, Remo! – chamou Sirius, num canto do templo, no meio da areia. Lupin se aproximou. – Dá só uma olhada.

Havia uma grande argola no meio da areia. Os dois tentaram limpar e viram que ela estava grudada em um outro pedaço de pedra.

- Parece... uma porta? – sugeriu Sirius.

- Isso é bom. – animou-se Lupin, agachando-se e agarrando a argola. – Vamos abrir.

Sirius agarrou-se à argola também, e os dois tentaram fazer força, mas nada. A luta dos dois chamou a atenção dos outros.

- Isso se chama perda de tempo. – resmungou Snape.

Os dois levantaram bravos.

- Tem alguma sugestão? – murmurou Sirius.

- Saiam da frente. – disse Snape. Ele ficou na frente do lugar e sacou a varinha. – Protejam-se.

Ninguém teve tempo. O máximo que fizeram foi se jogar no chão do lugar, enquanto uma forte explosão jogou areia pra todo lado. Mas foi uma surpresa ao se levantarem e verem que a porta estava intacta. A areia tinha saído de cima, agora via-se um grande alçapão, trancado. A argola parecia sair da boca de um dragão, talhado na pedra.

- Que bom! – disse Sirius. – Agora a gente não precisa espanar. Só abrir.

Snape foi responder alguma coisa, mas Rony, Kione e Gina se aproximaram.

- Uau... – espantou-se Rony. – Que legal! Será que é a entrada do Templo?

Kione olhou na cabeça do dragão e viu alguma coisa escrita.

- Tem algo escrito. – disse.

Lupin estranhou. Os riscos e símbolos que haviam não eram de nenhum alfabeto. Nem egípcio, nem árabe, nem de povos bruxos da região. Para ele nada mais eram que enfeites. Mas Kione pareceu se esforçar e leu. Depois ficou esperando, assim como os outros.

- Grande coisa. – resmungou Draco. – Não me admira que...

DON!

A porta sacudiu fazendo a poeira das juntas voar. Os bruxos deram um pulo. As ruínas ao redor da porta começaram a tremer e a se levantar. Sirius e os outros se afastaram, e em pouco tempo aquilo que estava rente ao chão tinha se erguido e mostrava o que parecia ser a entrada de um abrigo de furacões no meio do deserto. A porta do dragão se abriu lentamente, mostrando uma longa e larga escada de pedras amarelas até o fundo escuro do lugar. Um bafo quente saía do lugar.

- Então... – murmurou Sirius.

- Será... a entrada do templo? – perguntou Lupin.

- Só saberemos se entrarmos. – disse Snape, adiantando-se para a entrada com a varinha em punho. – Quem vem?

Sirius e Lupin se olharam. Sirius se adiantou, seguido por Rony, Gina, Kione e Malfoy. Por fim foi Lupin. Desciam sem parar, devagar, como se temessem que os desenhos em relevo das paredes os atacassem. A única luz que tinham vinha das varinhas. Estava tão quente que juravam que estavam descendo pro inferno, e lá embaixo poderiam encontrar com o ilustre capeta em pessoa.

- Não estou gostando disso. – gemeu Rony, olhando os lados. – Isso não nos passa confiança...

- É a intenção. – disse Gina. – Quer dizer, se aqui é o Templo, eles não iam querer que achassem uma delicia vir. Vocês lembram de Azkaban, que doce fim de semana que foi.

- Isso pode ser apenas um túmulo, Gina. – disse Lupin. – Uma ruína, uma tumba antiga perdida.

- Tu... Tumba? – gemeu Rony de novo. – Quer dizer... dessas que guardam defunto? Ai meu Deus... – Draco virou os olhos, balançando a cabeça e murmurando pra si mesmo "Não, imbecil, não é tumba que guarda defunto, é tumba que vende sorvete de pistache..."

No fim da escadaria havia um grande salão plano circular. Snape entrou nele cuidadosamente, seguido de Sirius, Rony, Gina, Kione, Draco e Lupin. Quando estavam saindo das escadas as tochas da sala acenderam de uma vez fazendo os jovens darem um pulo de susto.

- Eu, hein... – resmungou Lupin.

Em volta da sala, nas paredes, desenhos. Muitos desenhos. O teto não era alto, tinha dois metros no máximo. Os bruxos se separaram, examinando o lugar, ainda com as varinhas em punho. Da escada até a parede à frente parecia ter uma pista feita da continuação da escada, os degraus um na frente do outro colavam-se na parede. E, acima dela, um grande painel com escritas em relevo. Lupin e Sirius ficaram um bom tempo olhando-o.

- Não é de uma língua conhecida. – comentou Lupin, desanimado. – Não há registros dessa língua. Provavelmente já se perdeu...

- Isso é ruim... – lamentou Sirius.

Naquele momento Kione se aproximou e de repente travou ao ver o painel. Lupin desconfiou.

- Algum problema, Kione? Parece...

- Que língua é...

- Ah, essa língua já se perdeu... quer dizer... de todas que Gui nos avisou que poderíamos encontr...

- Não existe mais essa língua... ela é quase... uma lenda.

- Pois é, - suspirou Lupin. - é por isso que nem você entende o que tá escrit...

- Eu entendo. – afirmou, sem sair do lugar.

Lupin e Sirius lançaram um olhar para Snape, que se aproximou rapidamente. Lupin ficou atrás de Kione, com os outros professores.

- Você... entende? – perguntou Lupin.

- ...Perfeitamente – respondeu. – Posso até... ler em voz alta.

- Sabe o que está escrito? – perguntou Snape, incrédulo.

Kione fez que sim com a cabeça e começou a ler baixinho, na língua deles. Em seguida respirou fundo e começou a traduzir em voz alta:

Theron, Cidade dos Deuses

Palácio de Ísis, casa de Osíris, morada de Rá

O brilho das jóias, o doce das frutas, a água gelada

O escudo de areia

Treze guerreiros do deserto escaldante

Treze Templários que servem e guardam

Aquele que voltará pra ficar

Rei desertado retomará o trono antes do fim

E nos perderemos no tempo

E desapareceremos nas areias

E viveremos para sempre

Eles ficaram em silêncio. Kione-se virou para Lupin:

- É uma antiga lenda... sobre uma cidade que se perdia no tempo. Ela tinha tudo que o deserto poderia oferecer de riquezas. Mas nem todos tinham a sorte de encontrá-la. Era como se... ela estivesse sempre... mudando de lugar. – em seguida ela respirou fundo, um pouco nervosa - A própria Lenda de Theron, que meu senhor já lhes comentou.

- Será que o Templo Sagrado Perdido... – arriscou Sirius. – Não seria essa cidade, então? O que Moredin disse então estava certo, que o Templo Sagrado que procuramos é essa tal cidade...

Kione balançou a cabeça.

- Não, pelo que contam. O grupo de bandidos mais poderoso e cruel do deserto conseguiu entrar na cidade, e roubou as riquezas e a destruiu. Podemos estar no que restou dela. Meu senhor ainda acredita que Theron esteja intacta, mas já escutei muitas histórias sobre esse ataque...

Lupin deu um longo suspiro.

- Então... não há nada que se possa fazer?...

Kione deu de ombros e voltou a olhar o painel. Sirius perguntou sobre uma palavra escrita no fim do painel.

- O que é isso? Você já leu?

- Bom... – começou Kione – isso é um nome... provavelmente de quem escreveu.... significa... 'a vivente'... alguém que... 'vive para sempre'.

Sirius deu um suspiro desanimado, enquanto Kione lia o nome:

- ...Aïsha...

DON!

Rony deu um pulo e se agachou com as mãos na cabeça.

- AI!!!!!! ESSES DONS ME DEIXAM APAVORADO!

A câmara sacudiu. Sirius puxou Kione de frente do painel. O piso que ia da escada até a parede ruiu, formando-se outra escada, que começava no painel e descia mais ainda, para debaixo da escada que saía do lugar. Quando o barulho cessou novamente eles se olharam.

- E agora?... – murmurou Lupin.

- Vamos... descer? – resmungou Draco – De NOVO?

- Hum... não. – disse Snape. – Não estamos preparados.

Sirius não o olhou, mas parecia concordar.

Algum tempo depois e o lugar tremeu mais uma vez, dessa vez fechando a passagem.

- É... a senha. – disse Lupin. – O nome de quem escreveu essa... profecia. É a senha para o templo. Podemos entrar quando quisermos. Podemos ir. Amanhã voltaremos.

- Boa idéia. Isso não vai sumir, vai? – perguntou, olhando Kione, que balançou a cabeça negativamente.

- Sempre brincava aqui desde criança. – disse. – Não vai desaparecer. Se não sumiu até agora, não vai ser hoje que vai sumir. – concluiu sorriu e, olhando Sirius, imitando o que ele havia dito no outro dia.

- Muito bem. – falou Sirius, aliviado. – Então vamos subir. Morada do Sol não é tão perto, vamos tentar chegar antes do fim da tarde.

Os bruxos saíram do templo, que se fechou assim que o ultimo saiu. Mas assim que se fechou a argola se fundiu ao dragão, e na testa dele apareceu uma marca, como uma pedra preciosa.

- Definitivamente... encontramos e abrimos o Templo Sagrado Perdido. – comentou Snape, olhando o portal do dragão. – Agora é só procurarmos as espadas com calma.

- Acho que essas pedra é a campainha. – disse Sirius, divertido. – Muito bem, pra casa.

Descoberta a 'senha' do Templo Sagrado, os bruxos voltaram para a cidade. Chegaram no cair da tarde, cheios de planos. Sirius, Lupin e Snape apressaram-se para o quarto, discutir a melhor forma de entrar no Templo no dia seguinte. Rony e Gina ficaram conversando animados junto de Kione, agora parte da 'turma'. Na hora do jantar Moredin chegou, com uma expressão levemente desconfiada, olhando todos em volta da mesa, com medo de que alguém o atacasse sabe-se lá porque.

- Kione. – chamou. Kione teve de olhar, já que estava entre Rony e Gina, na mesa do jantar, e não teve como atender só na segunda chamada. – Pra cima. Agora.

Um frio percorreu sua espinha, e ela sentiu o jantar lhe fazer muito mal. Olhou para o chão e pediu licença bem baixinho, evitando o olhar dos bruxos. Subiu, e pouco tempo depois foi Moredin. Assim que ele sumiu de vista, Rony virou-se para Gina:

- O que será que aquele búfalo sarnento quer com ela? Ele não vai judiar dela, vai?

- Bom... – pensou Gina, perdendo a fome. – Motivos ele não tem.

Draco soltou um barulhinho como uma risada e Rony o olhou imediatamente.

- Que foi, Malfoy? Algum problema?

- Você é muito ingênuo, Weasley. Dá pena.

Gina apertou o braço de Rony para que ele não criasse confusão mais uma vez. Snape terminava seu pão com tabule.

- Iremos levar a garota amanhã conosco. Será de grande utilidade caso precisemos decifrar mais alguma coisa do Templo.

Rony não acreditou que Snape estava dizendo aquilo para tentar baixar sua preocupação, mas o aceno que Sirius fez confirmou que era mesmo a intenção deles levar Kione.

- Bom, então... vamos dormir logo. – disse Lupin. – Ainda é cedo, mas precisamos descansar. Ninguém sabe o que encontraremos amanhã. Lembram do que teve no primeiro Templo, não?

Gina deu um gemido baixinho.

- Esse ainda é o segundo... – sorriu Sirius, achando divertido.

Kione entrou no quarto de Moredin desanimada e ficou próxima da janela, olhando a cidade. Seu senhor chegou pouco tempo depois, olhando-a desconfiado.

- Pois não, meu senhor? – disse docemente.

- Como foi? – perguntou, se aproximando e sentando na beira da cama. – O que descobriram?

Ela pensou um instante. Moredin fez um gesto para que ela retirasse o véu, e ela o fez. Ele queria ter certeza de que ela não hesitaria na resposta.

- Descobrimos uma entrada para uma câmara que aparentemente fazia parte das ruínas. – começou.

Moredin passou as mãos nos bigodes e fez um sinal para que ela se sentasse ao seu lado.

- E...?

Kione pensou um pouco.

- Mais nada. – falou, natural.

- Mas nada? – estranhou. – Porque estariam tão animados, então?

- Porque... com a descoberta de uma câmara, pode ser... que hajam outras. E, numa dessas...

Moredin ficou olhando Kione, depois olhou o chão, e voltou a olhá-la, com olhar ameaçador.

- Não está... mentindo para mim, está?

- Porque eu mentiria? – retrucou. – O senhor é meu senhor, é quem cuida de mim. Não teria porque lhe esconder nada.

- Hum. – resmungou. – Bom... você sabe o que aconteceria se você escondesse alguma coisa de mim, não sabe?

- Sei. – respondeu, prendendo a respiração.

- E você... sabe o que lhe aconteceria... se você... me traísse, não sabe?

Kione respirou fundo, sentindo a garganta se fechar.

- Sim, senhor. Eu sei.

- Acha que vale a pena? – sorriu Moredin, mostrando os dentes de ouro. Kione engoliu em seco mas continuou olhando para frente.

Moredin lhe puxou o rosto e tentou lhe dar um beijo, mas ela desviou. Ele, claro, não gostou da atitude. Agarrou-a pela nuca com força e a puxou mais uma vez. Olhou no fundo dos olhos dela.

- Eu perguntei... se vale a pena.

- N... Não, senhor. – respondeu, tentando conter a emoção.

- Ótimo. – Moredin deu um risinho cínico e se ajeitou no canto da cama para poder beijá-la cada vez mais forte, e pouco tempo depois a olhou novamente. – Você vai continuar a fazer o que eu mando, não? Será sempre minha escrava fiel, não será?

- Sim, senhor. – respondeu, sem um pingo de receio na voz, mas evitando de olhar o patrão.

Sirius, Lupin e Snape, devidamente uniformizados, certificavam-se de que nada estava faltando. Gina e Draco também. Mas Rony estava procurando por Kione, e não a encontrava em nenhum lugar. Ela deveria acompanhá-los, porque tinha sumido? Encontrou-se com Nura, na cozinha.

- Ahm... – tentou conversar. – A senhora... viu a Kione por aí?

Nura o olhou sem dizer nada, claro, não entendia uma palavra em inglês.

- Kione – esforçou-se. – Ki-O-Ne.

Rony perdeu a paciência com o olhar de tonta da mulher e começou a ensaiar uma dança do ventre. Ela começou a rir.

- Kione – ria, apontando com a faca de cozinha o teto. Era claro que ela tinha entendido, mas estava enrolando Rony. Ele, completamente sem jeito por causa do mico, agradeceu e subiu. Nura continuou descascando as cebolas, rindo. Depois parou um breve momento e deu um sorriso. – Cavaleiro de Fogo...

Kione estava no terraço, sentada numa das cestas de palha, olhando o horizonte do deserto.

- Ei, estamos te esperando. – disse Rony, se aproximando. Kione se assustou. – Oh, desculpe... O... que foi?

- Nada. – respondeu, rápido. Mas era visível que ela estava há um bom tempo chorando. A voz falha e os olhos brilhantes, molhados e inchados. – Não foi nada...

- Foi ele de novo?... – murmurou Rony, entre os dentes.

- Não, não foi. – disse depressa, passando as mãos nos olhos com força. Mas ao tirá-las viu Rony mais perto.

Kione ficou o olhando espantada. Sentiu como se coração parasse de bater. Ele a olhava quase piedoso, como se fossa capaz de a qualquer momento se ajoelhar e implorar por alguma coisa. Alguns instantes de silêncio absoluto e ele voltou a falar:

- Não está... mentindo pra mim, está? – disse, estranhamente sério. Kione tentou dar um passo pra trás, mas os olhos de Rony lhe prenderam no lugar. A mesma frase que havia escutado de Moredin, vindo do estrangeiro. Mas a expressão completamente diferente. O tom de voz diferente. Era tão estranho, tão perturbador. Rony deu um sorriso meio sofrido, suspirando. – É claro que está.

Ela juntou as sobrancelhas. Porque ele estava fazendo aquilo? Rony continuou, um pouco decepcionado.

- Por que você mente pra mim?... Eu só quero... que você esteja bem. Só isso. Não quero que fique... triste.

Kione imediatamente pôs as mãos no rosto e começou a chorar. Não estava mais agüentando tudo aquilo, ela estava confusa, ela estava com medo. Rony levou um susto ao vê-la chorar, e a única coisa que lhe pareceu certo fazer foi abraça-la.

- Ei, ei... acalme-se... não... não fique assim... eu... eu... estou aqui, agora...

Sirius e Lupin já se preparavam para partir, ao lado do sorridente Moredin. Rony apareceu de dentro da casa, com passos decididos.

- Bem...

- Kione não vai. – completou Sirius, erguendo as sobrancelhas e suspirando. – Moredin já nos avisou. Bem... da próxima ela vai.

- Não é isso. - disse rápido e firme.

- Como?...

Sirius e os outros olharam Rony. Que, sério e firme, disse com todas as letras:

- Vão sem mim. Eu vou ficar.

O sorrisinho cínico dourado de Moredin murchou na mesma hora, enquanto Sirius, Snape, Lupin, Gina e Draco se olharam, num espantado silêncio.