N.A 1 Bom, nada de muito diferente nesse capítulo. É basicamente onde começa a ação pra valer no Templo Sagrado Perdido. Em tempo, quem ficava reclamando que só a Hermione e o Harry eram os 'poderosos' da história, daqui pra frente é hora de mostrar do que Gina, Draco e Rony são capazes...
ESPADA DOS
DEUSES
EPISÓDIO III: SAARA
--Capítulo
37—
Templo do Fogo
Já era tarde da noite. Rony continuava sentado na varanda do quarto, olhando o horizonte, sentindo uma angústia muito fina dentro de seu peito. Tentava ver alguma coisa no horizonte, como se a irmã voltasse dali a qualquer instante. Suspirou profundamente e apoiou o queixo na mureta, enquanto alguém se aproximava por dentre as cortinas.
- ...Licença? – Rony ouviu a voz doce de Kione, de dentro do quarto, com a cabeça tombada entre as cortinas, querendo saber se atrapalhava alguma coisa.
- Ah, Kione... por favor, venha. – chamou, erguendo-se. Kione apontou uma bandeja com um copo que ela tinha colocado na beira da cama dele. Ela usava uma espécie de roupão com uma capa, bege bem claro, e estava sem o véu. Talvez aproveitando a oportunidade ela usava um pequeno cordão de ouro na cabeça.
- Trouxe chá. Rony, você precisa descansar... para poder buscar sua irmã amanhã em segurança...
Ele deu mais um longo suspiro enquanto puxava a menina num abraço cansado.
- Eu só estou... preocupado. Se alguma coisa acontecer com ela de ruim enquanto aquele Malfoy imprestável estiver...
- Shh... – murmurou, tirando a cabeça do peito de Rony. – não vai acontecer nada de mal a sua irmã. Logo que amanhecer vocês irão busca-la... por favor... não fique assim...
Ele olhou Kione alguns instantes. Seu coração deu uma aliviada ao ver o olhar quase piedoso dela, como se implorasse para que Rony não sofresse. Resolveu entrar. Pegou o copo de chá e o examinou.
- Tudo bem... esse chá é pra quê? Quer me dopar pra eu dormir, é? – riu. Kione deu um sorriso acanhado e fez que sim. Rony arregalou os olhos antes de pôr o chá na boca. - QUÊ?
- Não tenha medo, só vai fazer você relaxar. Você não vai desmaiar com ele... foi Nura quem fez.
- Hum... então beba também. – e esticou o copo. Kione pareceu chocada. – Nada pessoal, mas aquela bruxa me dá calafrios. Ela é muito estranha.
Ela suspirou e tomou um gole do chá sem problemas. Rony ainda olhou desconfiado, mas tomou.
- Tem gosto de água suja. – falou olhando o fundo do copo, e devolvendo ele vazio para a mesinha.
- Você não presta, estrangeiro. – riu Kione, balançando a cabeça.
Rony lhe deu um beijo na bochecha, sentou na beira da cama e puxou as mãos dela, que sentou no seu colo e lhe abraçou, ficando com a cabeça encostada na de Rony e delicadamente fazendo carinho no rosto do garoto. Ele pensou alguns instantes e ergueu o olhar para Kione.
- Quando... o Moredin volta?
- Amanhã, eu acho. – suspirou. - Ele anda ocupado demais com seus negócios. Mandou que eu ficasse com vocês. Não parece feliz.
- 'Não parece feliz'? Que quer dizer?
- Bom, ele queria muito ir para o templo... Lá podem haver riquezas inestimáveis, coisas mágicas, antigas... que valem muito... As Espadas...
- Moredin quer as espadas? – perguntou Rony, olhando Kione nos olhos. Ela vacilou.
- Quero dizer... Ele acha que as espadas podem estar lá... mas acredito que elas só tenham fama. Digo... o que vocês podem querer com espadas velhas e enferrujadas?
- Elas são mágicas, Kione. – explicou Rony. – E se nós não as encontrarmos estaremos encrencados.
- Algum Bruxo das Trevas as procura, não é?
- É... E se esse cara pôr as mãos nelas, estamos encrencados mesmo. Iria sobrar pra vocês. Temos de recuperar a Espada dos Deuses logo... – e completou, suspirando desiludido. - Nem que isso custe as nossas miseráveis vidas...
Ao escutar isso Kione apertou a camisa de Rony com um pouco mais de força e prendeu a respiração. Ele riu e ergueu o rosto dela com a mão direita.
- Que foi? Eu estava fazendo só uma piadinha, não leve a sério... – e lhe deu um beijo. Kione agarrou-se no seu pescoço e pareceu preocupada.
- Não quero que nada de mal lhe aconteça... habib. – sussurrou. Rony fez um 'Hum?'
- Do que você me chamou?
- Ah... habib. – disse, tímida. – É... só uma espécie de... nome carinhoso... usado pelos pais, filhos, casados... Nura me chama de habiba de vez em quando. Quer dizer alguma coisa de boa, como querido, amor... Me desculpe, eu só...
- Desculpe? – protestou Rony. – Desculpar por quê? Eu adorei! Posso te chamar assim também?
Ele abraçou Kione e lhe deu um beijo barulhento debaixo da orelha. Ela riu:
- Ahm... desde que não seja na frente de ninguém... eu adoraria.
Os dois se olharam.
- Arib. – disse Rony, com um largo sorriso e cara de bobo.
- É habib. - corrigiu Kione, agarrando-o pelo rosto e encostando o seu nariz no dele.
- Ranib. – continuou. Kione lhe deu um beijo estalado.
- Habib!
- Amib.
- Habib! – a cada erro Kione lhe dava mais um beijo, então ele errava de propósito, lógico.
- Rachib.
- HABIB! HA-BI-B!
- Óokibe.
Ela tentava rir baixo, mas estava difícil.
- Por Alá... é Ra-Bi-Bi! É tão difícil assim?
Rony a segurou pela cintura, fazendo ela se aproximar mais ainda.
- Se você continuar me dando selinhos a cada erro, eu não vou acertar nunca mesmo. – e completou, baixinho. – Habiba.
Antes que ele terminasse de falar Kione lhe abraçou pelo pescoço, e inclinou seu rosto, lhe dando um longo e apaixonado beijo. Sem ninguém para atrapalhar, com toda a cidade em sono profundo, não tinha porque se preocuparem, e os dois esqueceram do tempo. As mãos de Rony escorreram pela capa bege de Kione, e pela primeira vez ele pôde sentir o toque da pele da sua cintura, que para ele era tão quente quanto o sol escaldante. O perfume doce dela o fazia perder cada vez mais o controle das suas ações, fazia sua mente se embaralhar. Ele se sentia enfeitiçado, queria beijá-la cada vez mais, tocá-la cada vez mais, sem se importar se aquilo era certo ou não. Ele estava completamente apaixonado por Kione e tê-la em seus braços lhe deixando sem fôlego era a melhor coisa que podia existir.
Foi quando sentiu um monte de perninhas afiadas e rígidas subirem pelo seu peito do pé. Rony deu um salto e quase jogou Kione no chão, dando um grito abafado e caiu de costas na cama.
- O... Que foi? – perguntou Kione, se erguendo e pondo a mão na boca pra ver se tinha se machucado na pancada.
- Um... per... – disse Rony, ofegante. – perninhas... subindo...
Kione não entendeu. Mas ele estava apavorado. Foi quando ela saiu de cima dele e resolveu olhar próximo da cama. Rony fez o mesmo.
- Um escorpião. – disse Kione, naturalmente.
- Ai! – gemeu Rony, olhando o bichinho. – E se eu pisasse nele? Ele ia me picar! Eu ia morrer!
De fato, os dois na cama olhavam um escorpião cascudo e preto no chão do quarto. Kione parecia despreocupada. Rony estava angustiado. Um escorpião. Parente próximo de aranhas.
- E agora? – perguntou Rony. Kione estava sossegada.
- Eu levo ele pra fora. – disse, sorrindo. Foi esticar a mão, mas Rony lhe impediu. – Que foi?
- Tá doida? Ele vai te picar! Esse veneno é perigoso!
- Ele não vai me picar. – disse com convicção. O escorpião bateu as pinças excitado. Kione o agarrou pelo rabo e se levantou da cama, com ele na mão. Rony se arrastou para o lado oposto da cama, chocado.
- SUA LOUCA! C... Como você faz isso?!
- Escorpiões nunca me picaram. – disse como se fosse natural. – Eu faço o que quero com eles... Não tenho medo.
De fato, o bichinho agora andava apressado pelo braço dela, e quando chegava na nuca Kione se encolhia, o pegava e punha novamente na mão, como se ele fosse um ratinho inofensivo.
- Credo! – protestou Rony. – Tire esse bicho daqui...
Kione sorriu, foi até a varanda, pediu desculpas pro escorpião e o jogou da varanda. Em seguida voltou calmamente pro quarto, voltando a se sentar.
- Pronto, poderoso guerreiro do fogo. – zombou. – O perigoso monstro está longe daqui.
- Você o jogou? – perguntou, se aproximando. – Isso foi... cruel.
- Ah, daqui a pouco ele sobe de novo.
- Sobe?
- É. Eles sempre sobem de novo. Tanto aqui quanto na outra casa, os escorpiões que eu jogo da varanda sempre voltam. Deve ser uma boa sensação ser jogado do alto. Senão não voltariam.
- Hum... até que tem fundamento. – disse Rony, olhando a varanda. Em seguida ele se sentou ao lado de Kione, e entrelaçou seus dedos nos dela. – Mas você está de parabéns, é uma heroína super poderosa, enfrentar bravamente escorpiões...
Ela abafou uma risada, e virou-se, lhe dando um beijo na testa:
- Bem... é melhor eu ir. Você já está com cara de sono.
Rony estava mesmo com as pálpebras começando a pesar vagarosamente. Mas ele agarrou seu braço e sugeriu:
- Você podia ficar aqui essa noite, não?
Ele disse isso tão inocentemente que nem entendeu o que aquilo poderia significar. Só desconfiou ao ver a cara que ela fez:
- Ah, não! Não! – disse rapidamente, desfazendo a confusão e ficando vermelho. – Eu não quis dizer isso. É... seria você dormir comigo, mas... só... pra ficar perto de mim... Eu não...
Mesmo desfazendo a ambigüidade, Kione continuou meio confusa. Olhou o chão, mordendo os lábios.
- Eu não sei, Rony... se eu deveria...
- Mas... eu só queria você por perto. – choramingou, olhando Kione com cara de cachorro sem dono. – Não deve ser tão "pecado" assim... Talvez seus costumes sejam mesmo mais rígidos, mas... qual o problema? Eles não podem condenar a gente só por...
- Sim, Rony, claro, mas...
- A sua cultura não seria capaz... de proibir de amar.
Kione sentiu o estômago gelar ao escutar Rony dizer essas palavras em um tom tão baixo quanto um sussurro. É claro que ela gostaria de poder ficar do lado dele, dormir com ele, fugir com ele, morrer por ele. Mas por outro lado, ela ainda tinha o peso de uma vida escrava inteira antes dele aparecer, e de costumes bem diferentes dos dele, e isso também contava. Parou uns instantes pra pensar, enquanto Rony tentava parecer não se importar com a resposta. Kione pensava consigo mesma... Seria um erro ficar com ele, claro. Ser escrava e manter uma relação tão próxima de outro homem era realmente perigoso. Mais do que isso, ela estava quebrando todas as regras e ficando com ele, ela estava amando aquele homem, e nem a morte seria suficiente pra castigar tamanha falha.
Moredin cuidou dela, deu educação, saúde, enchia-a de roupas e jóias, mas não era exatamente um bom patrão. Ela sabia que se tivesse casado com Moredin como mandam os costumes ela provavelmente seria uma mulher muito feliz, ou pelo menos teria motivos para não acreditar nas visões de Nura sobre um homem que a faria realmente feliz e ignoraria Rony por completo. Só que seu coração falou mais alto, ele precisava falar mais alto. Ela se arriscaria para ficar com Rony sim, e não se importaria de morrer por causa disso. Como ele disse, os deuses não poderiam condenar o amor.
- Não, habib, eu não sou proibida de amar. – sussurrou, erguendo os olhos.
- E então? – perguntou, esperançoso. E desviou os olhos de Kione, antes de continuar. – É que eu sempre... sempre tentei imaginar como seria... dormir do lado da pessoa que a gente gosta... Deve... ser bom...
- Tudo bem... eu vou ficar. – o olhar de Rony brilhou ao escutar ela dizer isso. – Mas só hoje...
- Nem se fosse só por quinze minutos... – justificou. – Você pode até ir embora depois que eu dormir...
Todas as vezes em que Kione dividiu uma cama com um homem foi com seu senhor. E sem dúvida foram as piores noites de sua vida. Mas dessa vez estava diferente. Muito diferente. Moredin dormia de costas para ela, roncava alto, tê-la ao seu lado ou não era a mesma coisa. Ele só a mandava dormir com ele quando estava de 'bom humor'. Quando estava cansado ele a mandava de volta pro quarto. Ela dormia encolhida, fazendo força pra não chorar ou acordar Moredin. Mas agora Kione estava deitada quase no meio da cama, debaixo dos lençóis e sobre os travesseiros de penas. E, deitado sobre seu peito, abraçado e dormindo como um anjo, estava Rony. Em menos de cinco minutos ele adormeceu, como um encanto. Dormia tranqüilo, sua respiração era quase imperceptível. Kione, com o queixo na cabeça de Rony, o acariciava na nuca, passando os dedos pelos seus cabelos lisos e vermelhos. Ela não tinha dormido ainda, olhava o teto, com os olhos pesados de sono. Tinha pensado tantas coisas... e chegou à conclusão de que era aquilo que ela queria, que ela sempre esperava. Alguém que a amasse, respeitasse, lhe quisesse apesar de tudo que ela já tinha sido. Ela ia ficar com Rony e não se importaria se, assim que ele fosse embora, ela fosse morta em praça pública, sendo humilhada na frente de todos pelos pecados que teve a audácia de cometer.
Kione adormeceu na mesma posição. Dormiu e acordou em uma caravana chacoalhando bastante, entre panos pesados. Ela ainda era apenas uma garotinha de, no máximo, 7 anos. Ela tinha quatro irmãos. Uma irmã mais velha, de seus 16 anos, ia na caravana de trás com o noivo; um irmão de 20, que guiava a caravana com o pai, e um outro irmão de uns 12 anos, que dormia do outro lado da carroceria. A mãe dava de mamar a outro bebezinho, e abriu um sorriso ao vê-la acordar sonolenta. Era uma mulher muito judiada do sol. Não era velha, mas já tinha muitas rugas pelo rosto. O pai, um homem forte, de barba grande e cabelos grisalhos. As bagagens chacoalhavam e os talheres tilintavam com o movimento. Além deles haviam pelo menos mais seis carroças andando na caravana. Todos conhecidos. A fileira de carroças e camelos andava lentamente pelo deserto, e cortava um vale rochoso e plano.
- Mamãe, falta muito? – murmurou a pequena em árabe, coçando os olhos. A mãe sorriu e fez que não com a cabeça.
- Estará dormindo na cama nova com seu irmão esta noite.
Kione olhou o irmão que dormia do outro lado. O irmão mais velho entrou sorridente. Ele era alto, magro, tinha cabelos compridos presos num rabo de cavalo e deixava um bigodinho um tanto quanto ridículo.
- Papai disse que o reino dos céus nos espera na próxima morada. – disse animado enquanto caçava um pão numa das bolsas. – Ele está otimista com os negócios.
- Alá ajude que fiquemos de vez nessa cidade. – comentou a mãe, agora pondo o bebê para arrotar nas suas costas. – Temos dinheiro o suficiente pra ficarmos em qualquer cidade...
- Mas se ele acha melhor...
O olhos de Kione começavam a pesar de novo com a conversa, e ela cochilou sentada. Sentiu um empurrão na testa. Deu um longo gritinho de manhã e pôs a coberta na cabeça para se proteger das brincadeiras do irmão.
- Páááááára! – resmungou.
O irmão sorriu. A mãe balançou a cabeça.
- Seu irmão só está brincand...
Um solavanco fez as bagagens caírem de seus lugares.
- O que foi isso? – exclamou o irmão, tentando sair da caravana. O pai entrou apressado. Uma forte ventania começou.
- Estamos sob ataque! – exclamou, correndo para a espada que estava pendurada na parede. – Vamos, para fora!
A mãe segurou o bebê e ordenou que Kione ficasse com o irmão que acordou com a bagunça.
- Posso ajudar, mamãe! – protestou o irmão. – Sou homem, posso ajudar a...
- Fique e cuide de sua irmã, habib!
A mãe de Kione sumiu de vista. O irmão pôs a cabeça pra fora, assim como Kione. As caravanas não estavam mais em fila. Camelos se descontrolavam e sumiam das proximidades, um vento de areia deixava a vista um pouco opaca. E vários bandidos corriam em cavalos em volta das caravanas. Foi quando o massacre começou.
A caravana da irmã de Kione foi a terceira a ser derrubada. O cavalo teve as pernas decepadas pela espada de um dos bandidos, que deu meia volta e desceu do cavalo, matando os que tentavam sair do emaranhado de madeira e pano da caravana que capotou junto do cavalo. A irmã de Kione, inclusive. No instante seguinte a mãe de Kione, que estava na frente da sua caravana, foi arrancada com violência de onde estava por um dos bandidos. O bebê escapou de seus braços e caiu no chão, e os demais bandidos pisotearam o bebê com seus cavalos sem se importar com o grito de desespero da mãe, que foi friamente executada em seguida.
- MÃE! – berrou o irmão de Kione, saltando para fora da caravana. Kione tentou puxa-lo para dentro, mas não conseguiu.
- Izack, não!...
Uma pancada forte virou a caravana deles. Kione continuou debaixo das madeiras quebradas e dos panos, enquanto seu irmão menor se levantava machucado entre a poeira. Na hora que ela desviou o olhar do irmão, viu seu pai e seu irmão lutando bravamente contra os bandidos. Mas também foram mortos em pouco tempo. Ela continuava debaixo dos escombros, machucada, chocada com tudo aquilo. Os bandidos destruíram tudo ao seu redor. Ela tentou gritar pelo irmão, que chorando de raiva avançou sobre um dos bandidos que acabava de matar seu pai. O bandido olhou o garoto sem emoção, arrancou a espada da cabeça do pai de Kione e deu dois passos, indo de encontro ao pequeno. Segurou a espada com as duas mãos e golpeou o rosto do menino de fora a fora, fazendo o sangue espirrar e ele cair mole no chão do deserto.
A garota continuou no lugar sem se mover. Os bandidos foram embora, sem roubar nada, deixando os corpos mutilados e a poeira abaixando. A noite caiu, a brisa do deserto varreu o lugar, intocável. Kione adormeceu, com fome, frio e desespero. Acordou com barulhos próximos. Acordou assustada e olhou para cima. Alguns homens, viajantes, chegavam ao lugar e gritavam entre si dizendo que havia um sobrevivente. Mas o medo de serem bandidos que voltaram para executá-la explodiu dentro de seu peito.
Kione sentiu uma descarga de adrenalina e prendeu a respiração. Ao abrir os olhos, suando frio, estava de volta ao quarto da mansão de Moredin. Respirou fundo e passou a mão na testa. Rony continuava dormindo profundamente. Há muito tempo não tinha esse sonho. Na verdade, era a primeira vez que via a cena tão claramente. Só escutava os gritos, sentia a poeira, o vento, a movimentação, as imagens chocantes. Mas dessa vez reviveu tudo. Cada momento. Tombou a cabeça para o lado e olhou a varanda, as cortinas balançando vagarosamente, enquanto os primeiros raios da aurora tingiam o horizonte. Focalizou um pontinho no meio do chão, que andava em zigue-zague muito excitadamente, trombando nos vasos de flores e nas cestas. Era o pequeno escorpião preto.
Sirius e Lupin se arrumavam apressados para partir no começo da manhã. Rony desceu do quarto sem saber se levava a espada ou a varinha na faixa da cintura. Kione ajudava os bruxos a se arrumarem, junto com Nura.
- Não sairei daquele lugar sem ter a Gina junto de mim. – disse Rony convicto, sem tirar os olhos do nó que dava na bainha da espada.
- Nenhum de nós voltará sem eles, Rony. – confirmou Sirius, olhando Lupin.
- Pode ter certeza. – disse Lupin. Olharam Snape, que não disse nada. Soltou apenas um resmungo.
- Faremos o possível. – e colocou uma mochila nas costas.
Sirius estreitou o olhar para Snape, mas Lupin pôs a mão em seu ombro, num claro gesto de quem tenta acalmar o amigo.
- Vamos deixar isso pra depois, Sirius. Rony? Vamos?
- Claro. – afirmou.
Assim que colocaram as mochilas nas costas, no centro do salão principal, Rony levantou a cabeça e viu Kione, próxima da porta, com um leve ar de preocupação. Ele esticou a mão para ela:
- Venha aqui. Não há com o que se preocupar. Eu vou ficar bem.
Kione foi até ele e o abraçou com força. Lupin, Snape e Sirius se olharam, estranhando.
- Prometa que vai voltar. – murmurou Kione, quando Rony lhe beijou a testa.
- Voltarei, claro. Até o fim da tarde. Se você estiver me esperando.
Ela deu um sorriso num olhar aguado, e sussurrou um 'Claro, habib', antes de lhe dar um beijo de despedida sem se importar com a presença dos bruxos ou de Nura. Os amigos de Rony definitivamente não sabiam o que pensar sobre aquilo, enquanto Nura apenas deu um murmurinho de emoção e pôs as mãos sobre sua boca escondida pelo véu negro.
- Então... – disse Sirius brandamente, enquanto Rony passava por ele antes de sair da casa. O garoto apenas deu um sorriso meio tímido. – Bom. Lupin? Prontos? Ótimo. Vamos indo.
Os bruxos subiram nos tapetes voadores e desapareceram rapidamente da vista. Kione ainda os olhou durante um longo tempo, com uma estranha sensação no peito. Em seguida deu as costas e entrou na mansão.
Os bruxos chegaram apressados nas ruínas. Desceram dos tapetes e correram para a entrada do templo. Mas quando faltavam pouco mais de dez metros para chegarem ao alçapão da escadaria, a areia na frente deles se ergueu numa parede, fazendo-os frearem e protegerem o rosto, caindo de joelhos.
- Mas o que significa isso?... – xingou Lupin, erguendo-se, balançando a cabeça enquanto tentava tirar a areia dos olhos.
- Maldição. – resmungou Rony, sacudindo o corpo.
Os três se ergueram, e ao olharem ao redor, viram que não estavam sozinhos.
- Penetras para a festinha. – murmurou Snape.
Treze homens de negro estavam de pé nas muretas e colunas caídas das ruínas, cercando-os. Uma roupa longa e negra, com um símbolo amarelo no centro do peito, cada um diferente do outro, e todos com o rosto coberto. Ou com túnicas, ou com turbantes e panos no rosto. E quase todos tinham cimitarras douradas na cintura. Eles reconheceram o homem que estava no pedestal mais alto, aparentando ser o líder deles. Era o mesmo cavaleiro negro que os atacaram na viagem, o famoso Templário Giafar.
- Vocês... de novo? – gemeu Rony, encontrando o olhar dos cavaleiros que já havia visto.
- Muito bem, estamos sem tempo, cara. – resmungou Lupin. – Deixe a gente ir, outra hora você tem uma revanche, tá?
Ninguém pareceu se mover do lugar.
- Não irão a lugar algum. – disse o homem de olhos vermelhos, sério. – Estas ruínas serão seu túmulo.
- Ah, tá. – resmungou Rony. – Você não vai me impedir de entrar no templo e tirar minha irmã de lá!
- Não irão violar o Templo Sagrado, nem atrapalhar nossos planos.
- Planos? – perguntou Lupin. – Vocês também estão atrás das Espadas Mágicas?
O cavaleiro moveu as sobrancelhas. Mas não falou nada.
- Vocês são aliados de Voldemort, não são? – rosnou Sirius. – Não vamos deixar que vocês, escravos babacas do lado das Trevas, ponham as mãos nas espadas.
Sem perder tempo, Sirius ergueu a voz para Lupin, Snape e Rony:
- Vocês vão para o Templo! Eu fico aqui e luto com eles!
- Tá louco? – resmungou Rony. – Se estando em quatro são três contra um, se você ficar sozinho está ferrado.
- Não temos tempo a perder! – disse Sirius. – As espadas não podem cair em mãos erradas, e além disso vocês tem de tirar Gina e Draco de lá!
- Onde está meu licantropo, Snape? – perguntou Lupin. Snape não respondeu de imediato. Só respondeu depois que tirou a espada da bainha e se posicionou, num sorriso sádico:
- Esqueci de trazer na mochila.
- QUÊ? – exclamou Sirius. – Você...
- Tudo bem, eu fico. – riu Snape, nervoso. – Sete contra um parece divertido, não?
Lupin, Rony e Sirius se olharam. Snape se oferecendo par ficar ao lado de Sirius? Entranho por demais.
- O que importa é impedirmos que as espadas cheguem em mãos erradas. – murmurou Snape. – Não temos tempo a perder. Quem ficar em nosso caminho deve morrer.
Depois de alguns instantes, Lupin e Rony fizeram um sinal de concordância com a cabeça, e puseram-se a correr para o alçapão. Ninguém os impediu. Assim que sumiram o cavaleiro principal deu um abafado risinho.
- Parece divertido.
Um homem grande ao lado dele disse alguma coisa, mas o homem de olhos vermelhos pareceu dizer para ele se acalmar. Voltou a olhar Sirius e Snape, já prontos pra luta e de espadas em punho.
- Eu irei enfrentá-los. Sozinho.
Sirius e Snape se olharam. Ele? SOZINHO? Era piada. Só podia.
O homem, então, tirou o pano do rosto. Seus cabelos negros como a roupa lhe caíam até próximo dos ombros, arrepiados. Usava três brincos de ouro, e tinha uma grande cicatriz no rosto, com cavanhaque, e não aparentava mais de trinta anos. Retirou também a roupa de cima, ficando de peito nu. Ele era muito forte, e cheio de cicatrizes pelo corpo todo. Sorriu, enquanto desembainhava a cimitarra de ouro.
- Estão prontos?
- Que piada. – riu Sirius. – Vai nos enfrentar assim?
- Vejo que sua auto-confiança não tem tanto fundamento... rapaz. – zombou Snape. - Vejo que alguém já fez um belo estrago em você. Não? Devemos avisar que nós não somos tão bonzinhos. Não iremos lhe deixar só à beira da morte.
O templário deu um largo sorriso e uma risadinha.
- Algumas dessas cicatrizes foram feitas por mim mesmo. Mas as outras eu ganhei como uma recompensa... digamos que tenham sido presentes dos deuses, quando foram impiedosamente derrotados por mim.
Sirius estava se cansando da ladainha.
- Não se preocupe. – resmungou Sirius. – Nós faremos o serviço direito em você...
- Giafar. – completou. – Meu nome é Giafar.
- Hum. Obrigado. – sorriu Snape. – Seria chato enterrar alguém sem saber que nome escrever na lápide.
Giafar deu mais um sorriso. "O tempo ruge", falou, saltando da pedra, girando no ar e pousando delicadamente na areia, na frente de Sirius e Snape, que atacaram assim que ele pôs os pés no chão.
Malfoy estava suando, suas roupas estavam grudadas na pele, molhadas. Aquele lugar era um grande forno. Ele estava encostado numa das paredes do templo, abraçado à sua espada e aparentemente, dormindo. Na sala onde estava um gemido de esforço quebrava o silêncio, com uma mistura de barulho de metal e batidas constantes. O gemido era de Gina, que se esforçava a noite toda para abrir alguma brecha na parede e escapar.
- Tsc. – resmungava a garota, tão suada quanto Malfoy. – Estou com sede. Com calor. Quero sair dessa droga de câmara. Ir pra casa. Tomar banho.
- Pare de resmungar, Weasley. – murmurou Draco, descendo o olhar para Gina, de pé entre duas fendas que pareciam um portão lacrado. Ela tentava há horas a fio mover a passagem com sua espada. – Ô! Dá pra sossegar?
- Porque você não me ajuda, seu inútil? – xingou Gina, impaciente. – Você está aí dormindo desde que levantamos e ficamos presos! Pense em alguma coisa, seu loiro asqueroso.
- Hum. Vou fazer um livro com os adoráveis nomes que você arranjou para mim só nesse meio tempo. Sua criatividade é louvável. Devia usá-la pra algo de interessante, por exemplo, em inventar uma forma de nos tirar daqui.
- Seu... loiro... boiolinha... o que você acha que eu estou fazendo? O QUE VOCÊ ACHA QUE EU ESTOU FAZENDO, SEU IDIOTA?!
O grito de Gina sacudiu os paredões e fez um bando de morcegos se espantarem com o eco de sua voz. O salão onde estavam era alto, mas sem saída. As paredes grossas e com desenhos os cercavam. O buraco por onde haviam caído era alto demais, e estava fechado.
- Você é muito nervosinha, Weasley. – zombou Malfoy. – Eu posso sair daqui a hora que eu quiser.
- Ah, é, gostosão? Então porque não sai?
Draco deu de ombros.
- Não posso revelar meu segredo.
- Segredo? – Gina pareceu se acalmar pra raciocinar. – Que quer dizer? Acha que tem algum segredinho para que possa te tirar daqui?
Malfoy sorriu.
- Você está blefando. – concluiu Gina, voltando a enfiar a espada na fenda de pedra. Ela agarrou a espada com as duas mãos e a forçou para o lado. Para dar mais impulso pôs o pé na parede. – Ghhh... Vaaaaaaaamos!
Ela parou para tomar fôlego umas duas vezes.
- Vaaaaaaaaaaaamos! Ghhhhhhhhhhh! Drooooga!
- Vai soltar nas calças, heim, Weasley?
A risadinha sonsa de Malfoy depois do comentário a fez fazer mais força. Não deveria ter feito isso. A espada se partiu em duas. Ela caiu de costas com violência no chão, e o cabo da espada caiu longe, enquanto a lâmina ficou na fenda.
- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA – Malfoy se contorcia de dar risada.
Gina respirou ofegante, se ergueu dolorida com as raladas que deu na pedra do chão e olhou Draco com um ódio imenso. Foi quando o templo sacudiu e a terra do teto caiu sobre eles. Draco parou de rir e se pôs de pé.
- QUE FOI ISSO?!
- Abriram o Templo. – raciocinou Gina. – Devem ser Sirius e os outros...
- Hum...
Draco pôs as mãos na cintura e chegou perto de Gina, e ficou olhando para o alto, como ela.
- Alôôô!!! – gritou. – Seus imbecis, estamos aqui!
- Rony! Sirius! – berrou Gina. Mas nada. Ela suspirou. – Será que vamos morrer aqui?
- Nem vem.
Mais uma sacolejada. Malfoy quase se agarrou a Gina.
- E agora?
- E eu que sei?
O chão começou a tremer. A poeira levantou.
- Isso é mau... – gemeu Draco.
Com um barulho alto o chão debaixo dos pés dos dois desabou, como se dissolvesse em areia. Eles mais uma vez despencaram.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!!!
Draco caiu primeiro, numa montanha de areia. Ergueu a cabeça, de quatro, e se sacudiu, pra tirar a areia fina e amarela. Foi se apoiar para levantar quando Gina praticamente montou em suas costas, o enfiando de novo de cara na duna.
Ela sem se importar, se virou, saindo de cima dele, que dessa vez ficou realmente bravo e resmungando sem parar. A montanha de areia desapareceu, e eles caíram mais uns três metros, no chão duro.
- Quero falar com meu empresário. – gemeu Draco, que caíra de costas no chão. – Ele que me enfiou nessa roubada. Quero também meu advogado. E uma boa propina do papai.
- Ahm... – gemeu Gina, se levantando, com a mão nas costas. – Acho que isso é suficien... Pela careca de Lord Voldemort... O que é...?
Gina e Draco se ergueram olhando ao redor. Estavam num salão gigantesco, com um longo e largo corredor á frente. Iluminado por bolas de fogo que flutuavam no ar, com estátuas majestosas e desenhos, gravuras de todos os tipos. Os dois se encontravam no maior deposito de tesouros que podiam sonhar. Cascatas e cascatas de ouro. Jóias, armas, objetos, tudo em ouro e brilhantes pedras preciosas. O lugar era iluminado mais pelo brilho do ouro do que pelo fogo das tochas flutuantes.
Draco deu um longo assobio. Gina balançou a cabeça.
- Isso tem mais ouro que todos os bancos de Gringotes... juntos! – falou Malfoy, observando que as montanhas de moedas e objetos iam corredor afora. Até as estátuas eram enfeitadas com ouro.
Antes que ele desse um passo para tocar os tesouros, Gina apontou a varinha para ele.
- Nem pense nisso. Pode ser uma armadilha.
- Ah, e você acha que vai me impedir, Weasley? – riu Malfoy. Mas Gina não recuou.
- Quer mesmo saber?
Draco deu um longo suspiro.
- Se eu te tirar daqui você pára de me azucrinar?
- Se você morrer talvez eu o faça.
- Hum... Você não parecia tão difícil de aturar nos outros anos.
- Treinamento de Cavaleiro do Apocalipse. Eu sei quando confiar e quando ficar com um pé atrás.
- Oooh... Isso é bom, não é? Está aprendendo direitinho. Já pode se juntar à "Elite do Potter".
- Posso fazer uma pergunta? – indagou com um sorrisinho malicioso. - Porque você tem de cuspir toda vez que fala Potter?
Draco não respondeu, porque o tilintar de ossos recomeçou.
- Oh, não. Aqui não... – gemeu Gina.
Os mesmos esqueletos das câmaras superiores apareceram ao lado deles, saindo dos montes de moedas de outro. Usando armas e armaduras douradas e reluzentes.
- E agora? – murmurou Gina. – Estou sem minha espada... Incendio!
O jato de fogo atingiu o peito da armadura de um dos esqueletos e se desfez, sem sequer arranhá-lo.
- Epa...
- Hum... Isso não é um bom sinal. Aquele baixinho faraônico deve ter enfeitiçado esses caras muito bem...
- Isso não lhe parece óbvio, Malfoy?
Assim que disse isso, Gina avançou em um deles. Malfoy se assustou. Se ela estava só de varinha, e o feitiço não funcionava, o que diabos ela podia querer?
- Weasley, o que você tem na cabeç...
- Se eles nos cercarem vai ser pior!
Gina virou um soco no meio da cara de um dos esqueletos, que cambaleou, caiu no chão e se desmontou.
- Vamos correr para o fim desse lugar antes que eles nos cerquem! – berrou Gina, distribuindo pancada nos outros esqueletos, que tentavam, em vão, golpeá-la com as cimitarras.
Mas Draco ficou parado, olhando para ela. Os esqueletos, ao verem que o único que atacava era Gina, avançaram nela. Quando a garota estava percebendo que aquilo era uma furada, Draco resolveu agir, e retirou a espada da cintura.
- Tsc... Abaixe-se, Weasley.
- Como?
- AGORA! Gelliun!
Gina se abaixou. Draco deu alguns passos rápidos, como se tivesse decorado os movimentos certos a fazer. A espada deixou um rastro de estrelinhas brancas e brilhantes, que Gina descobriu serem cristais de gelo. No primeiro passo ele congelou dois esqueletos, num ataque na diagonal. Depois deu mais três passos, girando o corpo e acertando mais cinco, e, por último, atingiu mais dois. O ar gelado congelou os esqueletos, que caíram no chão, quebrando-se. Quando voltou a olhar Gina, ele parecia levemente exausto.
- Se você quer correr, corra agora, antes que eles se juntem de novo.
Gina olhou para baixo e as peças dos esqueletos tremiam, movendo-se para se unirem. Ela vez que sim com a cabeça e os dois dispararam numa corrida pelo corredor.
- Isso não é bom, isso não é bom. – resmungou Gina. Eles corriam muito mais rápido que o normal, mas mesmo assim despertavam mais esqueletos por onde passavam. Uma escadaria larga no fim do corredor os levava para um portão de pedra. Assim que puseram o pé no primeiro degrau ela se abriu. Sem pensar os dois o atravessaram.
Era outro salão, como uma continuação do anterior, estatuas de dragão, colunas com hieróglifos, e muito ouro. O lugar parecia uma arena que virou depósito de ouro. No centro do lugar um pedestal. E duas espadas cravadas no altar. Uma vermelho fogo, outra um roxo que tinha algumas tonalidades azuis. Eles pararam e se olharam.
- São... as espadas. – concluiu Gina. – Nós as achamos!
- Mas são dois pares. – disse Malfoy, desconfiado e ofegante. – Melhor não pormos as mãos nelas.
- Hum? Você, Draco Malfoy, dizendo isso? – espantou-se. – Aquela técnica cheia de purpurina atrapalha sua cabeça, é?
- Não. – grunhiu Draco, passando a mão na testa. – Mas ela me deixa cansado. E de mais a mais você não pode fazer nada com essa mão.
Gina olhou seu punho direito. Tinha socado tanto os esqueletos que a mão sangrava, as pancadas fizeram sua pele se cortar em algum pedaço de osso, ou ponta afiada de armadura. Doía, não muito, mas atrapalharia. Sem poder fazer nada, abaixou a cabeça.
- Droga, mas... temos que sair desse lugar. Com essas espadas.
Malfoy deu um longo e desgostoso suspiro, e mexeu dentro dos panos de seu colete, tirando um pequeno frasquinho de couro remendado, menor que um vidrinho de perfume. Muito a contra-gosto, jogou para Gina, que o pegou.
- Professor Snape me deu isso, se precisasse. – resmungou. – Molhe um pano e enrole seus dedos nele, vai cicatrizar. Não posso sair daqui sozinho. Não daria conta. Nenhum de nós daria conta de sair sozinho dessa enrascada.
- Você está... me ajudando? – estranhou. Malfoy parecia muito ofendido de dizer aquilo.
- Mas não precisa contar pra ninguém, Wealsey.
- Rá! – riu. – Acabaria com sua reputação.
- É um caso de viver ou morrer. – rosnou entre os dentes.
- Tá, tá. Entendo.
Gina rasgou um pedaço de sua blusa, molhou a mão com a poção que era cor de rosa, leitosa, e enrolou o pano, enfaixando a mão. Deu certo. Parou de doer.
- Hum... valeu.
- Que foi isso? – perguntou Draco, se encolhendo.
- O quê?
- Escute!
Os dois olharam para o lado. Um grande vulto pintado saltou neles, rugindo. O casal conseguiu escapar. Ao olharem direito viram do que se tratava: um leopardo quase duas vezes maior que um normal, de dentes afiados e uma baba nojenta e amarelada que escorria e pingava no chão como se fosse corrosiva os olhava, pronto para atacar, arrepiado. Gina e Draco notaram que atrás das colunas que os cercavam saíram mais três bichos iguais. Sabiam o que era aquilo. E antes de tudo, sabiam que estavam encrencados. Aliás, que estavam perdidos, porque sabiam do que se tratava.
- Danou-se. – gemeu Gina. – São... Nundus.
- Maldição...
O Nundu rosnou mais uma vez, abaixando-se. Atacou Gina, que saltou a tempo de desviar, junto de Draco, do segundo ataque. Ela, que estava usando um pano na testa como tiara, o puxou para lhe tampar a boca e o nariz.
- Se a gente respirar o bafo dele ou entrar em contato com a baba... estamos mortos.
- O fato de estarmos aqui faz de nós mortos, Weasley. Nenhum Nundu é abatido por menos de cem bruxos do primeiro escalão.
- Então é uma boa hora para vermos se o que aprendemos funciona de alguma coisa...
- Você tem um estranho senso de humor. Expelliarmus! Incendio!
Draco atacou de todas as formas possíveis um Nundu que saltava sobre ele, o feitiço combinado com a espada jogou o bicho de costas na parede, mas ele se levantou rapidinho.
- Tem alguma idéia, Weasley? – perguntou Draco.
- Tenho. Se a gente vai morrer com esses gatos mesmo, não tem porque ter medo de desarmar outras armadilhas, não acha?
Malfoy chegou ao lado de Gina, desviando de outro Nundu. Eles se olharam durante um breve período, pois outros Nundus se preparavam para o ataque. Malfoy deu um sorriso meio torto.
- Bom, não temos nada a perder, não acha?
Gina olhou para frente, sorrindo nervosa e fez que sim com a cabeça.
- Nessa caso... JÁ! – exclamou.
Os dois largaram a espada e a varinha no chão, dando meia volta e correndo feito loucos. Os Nundus avançaram. Gina e Draco correram para o altar, sem saber o que fazer.
- Qual? – perguntou Draco.
- ...Eu fico com a do fogo!
- Gelo, então!
Passaram correndo pelo altar. Gina passou a mão na espada do Fogo, Draco, na do Gelo. Elas saíram tão facilmente quanto se estivessem enterradas na manteiga. Ao descerem do altar fizeram o mesmo movimento, girando o corpo, meio agachados, passando a espadas num poderoso ataque que deixou um rastro de fogo e gelo. No meio do caminho, dois Nundus foram partidos ao meio com extrema facilidade. Pararam na parede do lado oposto, em posição de ataque, com as duas espadas na mão. Os Nundus restantes pareceram hesitar. Os dois então sorriram e se olharam.
- Gostei disso. – sorriu Gina. – Gostei muito!
- E eu vou adorar fazer isso. – sorriu Draco, doidinho para repetir o ataque nos Nundus que estavam do lado oposto do salão.
