N.A 1 Bem vindos de volta à Theron, a Cidade dos Deuses!
N.A 2 respondendo algumas dúvidas do pessoal, que deixam comments pra fic... Eu nunca imaginei que daria "esse fim" pra Kione. Você saberão qual é. Eu achei que seria meio... sei lá, estranho, mas, no fim, adorei o resultado. Não sei quanto a vocês, mas eu acho que a Saara é a melhor fase que eu já escrevi. Não 'melhor de boa', mas, entendam, eu não gosto de quase nenhum personagem da fase, e, de repente, tive de fazer uma história inteira com eles. No fim, cada personagem 'ganhou meu respeito'. Eu arrisco dizer que gosto do "meu" Rony, mas, veja bem, eu continuo abominado ele nos livros, hehehe.... Outra coisa, a Kione bate de frente com a Leah, outra Personagem Original da fic. Eu não sei dizer de qual delas gosto mais. Talvez eu só consiga responder isso no fim da série. E, claro, sobre os Templários. Tem gente que insiste em achar que o Giafar é o "Goku", de DragonBallZ, mas deixemos CLARO que eu DETESTO Dragon Ball. O "Giafar", como não é difícil de adivinhar, foi 'inspirado' naquele cavaleiro de negro dos filmes A Múmia. Assim como os outros Templários, foi de lá que tirei a idéia, desse filme, que também foi 'referência' pra eu montar o visual da Saara, assim como os filmes do Indiana Jones e alguns desenhos, como Alladin e El Hazard. Sem mais explicações, vamos em frente.
ESPADA DOS DEUSES
EPISÓDIO III: SAARA
--Capítulo 40—
Theron
Kione estava deitada em uma grande cama coberta com lençóis de seda branca e edredons de algodão. Ela se mexeu na cama, dando um gemido daqueles preguiçosos de quando não se quer acordar. Virou para o lado, abraçando um dos travesseiros de plumas e afundando o nariz nele. Estava tendo sonhos tão emocionantes que não queria acordar.
Peraí. Acordar? Um instante depois desconfiou que tinha alguma coisa errada. Ergueu-se e olhou ao redor: estava em um quarto gigantesco, maior que um andar da mansão de Moredin, e muito alto. O teto estava a pelo menos 10 metros de altura. A sua cama era enorme, cheia de travesseiros e almofadas tão brancas que, se a luz batesse diretamente, atrapalharia a vista. Colunas grossas iam até o teto, e o quarto todo era feito em marfim e mármore branco e salmão. Ao seu lado direito havia uma grande abertura, a saída para uma varanda também muito ampla, escondida apenas por cortinas finas que balançavam com a brisa que vinha de fora.
Ela respirou fundo e voltou o olhar para si mesma. Usava uma longa túnica também branca, seus cabelos estavam soltos e não tinha mais nenhum sinal de machucado. Era como se tivesse tomado um bom banho na noite anterior, deixado seu cabelo solto e dormido. Olhou a varanda e levantou-se com cuidado, indo até ela, como se tivesse medo de não estar sozinha.
Chegou na varanda, em formato de meio círculo. O parapeito era de pequenas colunas douradas, com alguns grandes vasos de plantas. Ela não enxergava nada além do céu azul e das espessas nuvens brancas. Uma brisa muito fresca varria o lugar, e a temperatura nada lembrava o calor do deserto. Aproximou-se da beirada da sacada.
Estava em um palácio que nem seus sonhos podiam montar. Gigantesco, e aos pés dele uma cidade como Morada do Sol, mas com casinhas brancas. Ao redor da cidade uma muralha, e no horizonte as dunas do deserto, a perder de vista. A cidade tinha muito verde, muitas árvores, jardins verdes e floridos, e circulando as muralhas mais um gramado de flores, até onde terminava a barreira encantada que protegia a cidade. Era como se toda a vida do deserto se juntasse num só ponto, encravado numa cratera, num vale entre as montanhas de areia. Kione olhou para baixo, e estava na torre central, no último andar do palácio. O castelo era tão grande que, de qualquer lugar da cidade, a primeira e monumental estrutura vista era a dele. Mas afinal, onde estava? Que diabos estava acontecendo?
Sentiu alguém se aproximar e virou-se assustada. Era outro Templário, com um semblante muito sereno, cabelos e olhos cinza, quase brancos, usando uma túnica bege. Era Mashii, se sua memória não falhasse. Ele sorriu e disse docemente:
- Que bom que acordou bem. Fico feliz em vê-la de volta à Theron... minha rainha...
A estátua olhava Draco, que estava de pé, segurando a espada, ofegante, com a cabeça sangrando e o cabelo que estava quase sempre impecável todo atrapalhado.
- DRACO! – gritou Gina, assim que a estátua se virou e voltou a se aproximar dele. – Ah, meu...
Pela segunda vez o gigante –BLAF- meteu a mão em Draco, enterrando-o no chão de novo. Continuou com a mão sobre ele, fazendo pressão. Dessa vez ela tinha batido pra valer. Gina veio correndo atacar, mas a estátua de pedra apenas virou um dos braços e deu um peteleco no meio da testa dela, como se fosse um inseto que a gente tira de cima da mesa só para vê-lo voar longe por diversão. A pancada fez Gina escorrer pela arena de costas, e varar a beirada do lugar. No último instante ela agarrou-se com a mão direita na borda, para não cair. Sentiu a vista se encher de estrelas e uma dor de cabeça terrível invadir seu crânio, como se o mísero peteleco da estátua tivesse esmigalhado o osso da testa. Fechou os olhos com força, e o sangue do machucado aberto escorreu pelo rosto, fazendo a cabeça girar mais ainda.
Eles estavam derrotados, completamente. Enfrentar aquela gigante estátua era demais para dois bruxos que sequer se formaram. Apenas os verdadeiros "bruxos espadachins" seriam capazes de enfrentar tamanha encrenca, usar as Espadas Mágicas, e com certeza não seriam Gina e Draco. Toda a magia que envolvia essa classe de bruxo fazia com que eles se tornassem praticamente uma lenda, não era apenas ser "um bruxo que aprendeu a cortar meia dúzia de coisas com uma espada". Ser um bruxo espadachim, escolhido para usar uma Espada Mágica, ser conhecido como herói, era saber enfrentar qualquer perigo em nome de seus objetivos. Era conseguir, no pior momento, retirar forças do fundo da alma para conseguir seguir em frente. Era estar caído, derrotado, e encontrar um motivo, uma luz para continuar lutando. Era agarrar-se à uma remota esperança e nela se reerguer para ultrapassar os obstáculos, por maior que fossem. Mas Gina e Draco não seriam assim. Eles não seriam capazes de descobrir uma força tão grande no fundo de suas almas, implorando por um milagre, e com ela torná-lo real. Porque só assim eles seriam 'escolhidos'. É, eles estavam mesmo derrotados. Chegaram no fim da linha, e agora nada mais existia na frente deles senão a morte. Mas... se eles não são os "escolhidos" para serem a nova geração de bruxos espadachins, porque as espadas mágicas aceitaram serem usadas?...
O silêncio tomava conta da arena. O gigante ainda estava agachado, com a mão sobre Draco. Até que Gina apertou os dedos na borda, sentindo o peso lhe puxar para o fundo do fosso de lava:
- Eu... não vou.... morrer... aqui. – gemeu entre os dentes, ofegante, agarrando-se cada vez com mais força, apertando a espada do fogo na mão esquerda. – Meu... Meu irmão está preocupado comigo... Meus pais estão me esperando... Os... Os professores... confiaram em mim... – seus dedos começavam a escorregar do lugar, ela rangeu os dentes e tentou arranjar mais forças pra não cair. - ...Eu... não posso morrer agora... Eu tenho de voltar... Eu prometi que ia voltar... Até mesmo o Not... está se esforçando pra não irritar a Sibila porque eu pedi... enquanto estivesse... longe dele... Eu não vou... morrer aqui...
A estátua sentiu uma energia aumentar debaixo de sua mão, estremecendo e a erguendo. Era Draco, que se levantava. Ele fazia uma enorme força e levantou a mão do gigante nas costas, e, mesmo completamente arrebentado, emanava uma energia muito maior que a de antes. Ele pôs as mãos na palma da mão de pedra da estátua e a ergueu, com os dentes cerrados e uma energia que percorria o chão do lugar como finos círculos de fumaça e cristais de gelo.
- Se eu... morrer agora.... eu vou ser um fraco. – rosnou entre os dentes, com o corpo tremendo por causa da força que fazia num corpo tão ferido. – Eu não vou morrer... enquanto aquele maldito Harry Potter respirar... Morrer antes de alguém como ele... é ser... mais fraco que um Potter... É... sujar o nome da minha família... É admitir ser mais fraco, e eu jamais... aceitarei ser mais fraco que um bonzinho e perfeitinho grifinório!...
Malfoy gritou isso e empurrou as mãos da estátua para longe, fazendo-a recuar dois passos. Ele agarrou-se à espada mais uma vez, respirando com muita dificuldade, uma boa parte das costelas quebradas, sem contar os cortes abertos pela pancada contra as pedras. Suas pernas tremiam só de ficar de pé, e o sangue pingava no chão como uma torneira mal fechada. Mas ele estava decidido: não ia desistir.
- Eu não vou... perder pra você... seu... monte de pedra nojento.
O gigante deu um rosnado e passou para as mãos de baixo as espadas que segurava, com a mão direita agarrou Draco pela cabeça e o ergueu sem maiores problemas, deixando-o na altura dos olhos. Malfoy não fez nada, e a estátua abriu os braços debaixo, mirando as espadas para parti-lo ao meio. O monstro deu um grunhido alto e atacou. Draco teve a vista clareada por uma luz forte e tão quente que seria capaz de assa-lo, só que o calor passou por ele como uma rajada de vento veloz, e ele despencou pro chão. Apoiou-se com os ombros, sacudiu a cabeça e olhou para trás. Era Gina, de pé na borda da arena, com a espada do fogo nas mãos. O gigante caiu perto da outra borda, sacudindo o lugar, com o peito parecendo um queijo suíço. O único lugar que não abriu um buraco foi o meio do peito do gigante, que revelou ter uma pedra vermelha brilhante muito grande, um rubi. Provavelmente a pedra que dava 'vida' á estátua, o coração do monstro.
Draco se ergueu com dificuldade, enquanto Gina chegou ao seu lado.
- Aquela pedra. - disse, sem tirar os olhos da estátua que se levantava. – É ela que a gente tem que destruir pra se livrar dele.
- Hum... – resmungou, terminando de se pôr de pé. - Mas não estamos em condição de fazer isso... – e em seguida respirou fundo, passando a mão na testa com cuidado pra tirar o cabelo grudado no seu sangue e suor. – A propósito... foi um bom ataque... Weasley.
Gina deu um sorriso nervoso:
- Sorte nossa, foi a primeira vez que fiz aquilo. Não vou dar conta de fazer outro. Não nesse estado.
- Já o batizou? - perguntou Draco. – Podia ser... 'O ataque feroz do dragão de múltiplas cabeças'...
- Heh! – riu Gina. – Com um nome desse tamanho o adversário decepa a minha cabeça antes que eu termine de dizê-lo.
O gigante se levantou, zonzo, e não estava feliz. Gina deu um passo à frente de Draco.
- Vou correr até ele. Quando chegar bem perto do bicho, você vai me atingir com um expelliarmus tão potente quanto o que você usou pra quebrar o queixo dele.
- 'Pois não...?' – resmungou Draco, torcendo o nariz. – De onde você tirou essa idéia?
- O impulso vai fazer com que eu atinja a pedra do peito dele. É o único jeito. Entendeu, Malfoy?
- Você tá doida?
- Entendeu, Malfoy? – voltou a perguntar. Draco a olhou espantado. O gigante urrou e veio correndo na direção dos dois. – Perguntei se entendeu!!!!!!!!!!!!!!
- Ah, tá, tá, tá!
Gina correu na direção do monstro, pronta para um gatotsu, com a espada em chamas. Malfoy se preparou para atingir Gina.
- ATAQUE!
Gina saltou na direção da estátua. Draco largou a espada e apontou a varinha para as costas de Gina:
- Expelliarmus!
O ataque vermelho saiu como um raio, explodiu nas costas de Gina, que cerrou os dentes e enterrou a espada de fogo com força no rubi do gigante. Ela agarrou-se ao cabo da espada firmemente e pôs os pés na barriga do guardião de pedra:
- Fim da linha, tijolão! Incendio!
Kione ficou olhando Mashii durante um breve período. Escutara alguma coisa errada?
- P-Perdão...?
Mashii deu uma risada de leve e se aproximou de Kione, no parapeito da varanda.
- É tudo uma grande surpresa para... você. Não fique com medo, está novamente entre seus amigos.
Kione olhou dos lados, se sentindo muito confusa:
- O que... O que aconteceu? Eu estava no Templo... A mantícora... ela me... ela me atacou! Eu... Eu devia estar morta! – disse rápido, começando a se desesperar. – Não... não estou?
- "É morrendo que se nasce para a vida eterna".
- Mas... mas e os outros? Rony, Sirius, Lupin... Eles ficaram no templo! O que foi que... Eles têm de sair de lá!... Há... Há quanto tempo estou nessa cidade?
- Três dias. – disse Mashii.
Kione arregalou os olhos e sentiu seu corpo gelar. Três dias? Onde foram parar os outros? Ela foi correndo para dentro do quarto quando deu de cara com Giafar, que teve tempo de erguer os braços e agarrá-la antes que trombasse contra seu peito.
- Giafar! – exclamou – O que aconteceu? Onde estão os outros? Temos que...
- Shhh. – pediu Giafar, se divertindo. – Acalme-se, Kione. Não aconteceu nada. Passaram-se 3 dias aqui, lá no mundo deles ainda é o mesmo instante de antes.
- ?...
- Estamos em Theron, a Cidade dos Deuses. Aqui o tempo passa de forma muito diferente do outro mundo. Essa cidade é mágica e lendária. Não se preocupe, lá no Templo ainda é o instante em que desapareci com seu corpo.
- Theron... – sussurrou Kione, ainda olhando Giafar espantada. – A cidade... perdida no tempo...? Achei que...
- Não, minha rainha. – sorriu Mashii. – Não é lenda. Você está mesmo em Theron.
Kione deu um "Ah..." tentando raciocinar. Estava mesmo em Theron, uma cidade que pode surgir em qualquer parte da história e do tempo do mundo trouxa e bruxo. Ela existia de verdade, então. Mas...
- ...Porque ele fica me chamando de rainha...? – gemeu Kione entre os dentes, apontando Mashii, muito incomodada.
- É uma loooonga história. – suspirou Giafar, sorrindo. – Que começou há muuuuito tempo atrás também.
Giafar deu as costas e voltou para o quarto, junto de Kione e Mashii. Kione continuava encucada (dicionário mineiro: "com a pulga atrás da orelha" ).
- Tem certeza de que os outros estão bem?
- Tenho. – sorriu, sentando-se na cama. – Escute nossa história... Ela é um pouco grande demais, mas é preciso que você a escute logo. Depois iremos buscar seus amigos.
Kione achou melhor escutar o que tinha de escutar. Ao mesmo tempo em que se sentia estranha, pra ela parecia não ser tão diferente estar ali. Era como se ela já estivesse por ali, vivendo tudo aquilo... só que... de novo. Ficou na frente de Giafar, para escutar. O cavaleiro pigarreou e começou:
- Theron foi fundada na época do império Egípcio. Por duas pessoas ahn... especiais, não muito contentes com os outros deuses: Isis e Quefren.
Kione ergueu as sobrancelhas. Conhecia Isis e Quefren. Ela ergueu a mão, gaguejando:
- Pe... Peraí. Eu conheço Isis e Quéfren. Eram os nomes dos meus...
- Calma. – sorriu Giafar. – Espere...
- Certo... continue... – suspirou, sem acreditar muito naquilo.
- Theron é uma cidade que pode aparecer e desaparecer no tempo e nas Eras. Os governantes de Theron devem zelar pela harmonia entre os dois lugares, o mundo da cidade de Theron e o mundo... 'real'. Um não pode interferir no outro. Nenhum bruxo ou trouxa pode saber que Theron existe. Os descendentes dos fundadores seriam herdeiros do trono de Theron. Enquanto viveram aqui, eles tiveram três descendentes. Depois de algum tempo, eles decidiram começar vários ciclos de vida no mundo mortal, como um intercâmbio. Eles viviam uma vida completa, depois voltavam para a cidade natal. Quando eles passaram o trono para Aïsha, uma série de desentendimentos começou a acontecer entre as pessoas que sabiam da existência de Theron. Ela acabou caindo nas graças de vários bandidos saqueadores, que começaram a tramar contra Theron. Então Aïsha lacrou a passagem entre os dois lugares, para sempre. Acontece que, da última vez em que voltaram para... para a 'terra', Ísis e Quéfren, junto dos filhos, foram assassinados.
Kione sentiu o estômago gelar e a respiração parar de repente.
- Quando Ísis e Quéfren têm filhos separados, eles são pessoas normais, quando têm juntos, eles têm obrigatoriamente 3, que são os 3 herdeiros de Theron. Dessa vez eles tiveram 5 filhos. Os dois primeiros, de Quéfren, os três últimos, dele e Ísis. Todos foram mortos num ataque á caravana que viajavam. Todos nós fomos mortos, menos Aïsha. Desde então eu, como líder dos Cavaleiros Sagrados, me encarreguei da responsabilidade de caçar Aïsha em qualquer parte do mundo, e trazê-la de volta para Theron. Eu tinha que trazer minha irmã para casa, não importasse o tempo que eu levaria para encontrá-la.
Giafar deu um longo e aliviado suspiro e olhou Kione. Ela o olhou fixamente, com os olhos cheios de água. Ele sorriu sem jeito ao vê-la começar a chorar.
- Você... – sussurrou Kione, olhando o rosto de Giafar fixamente. – Essa cicatriz que você tem no rosto... foi feita por uma espada. Você é... meu irmão... que foi morto durante o ataque À nossa caravana, que fugiu para ajudar meus pais... Você é Iz...
- Izack – completou Giafar, junto de Kione, balançando a cabeça, confirmando – Nossa família inteira foi morta naquele dia. Voltamos para Theron. Você deveria ter sido morta para voltar conosco, mas não foi. Eu voltei como Giafar, e decidi deixar a família real para me tornar Anii, o 'irmão mais velho', líder dos Cavaleiros Sagrados, líder dos 13 Templários. Como eu já disse, nossos pais, na última vida, tiveram três filhos juntos, nós, como era de se esperar do ciclo mágico. Eu, mais velho, você, e o irmão caçula.
- Mas e os...
- Nossos outros dois irmãos mais velhos eram só filhos de Quéfren, não são de Theron. Nosso irmãozinho caçula hoje voltou para seu 'posto', Ramsés, ele guarda o templo do Fogo, junto de suas brincadeiras e bichinhos de estimação.
- Ordinário. – riu Kione, passando a mão nos olhos. – Ele quase nos matou!
- Fazia parte, não fique assim... – riu Giafar, para esticar o corpo, baixando a voz. – Aliás... Nós somos da época que fundaram Theron. Sabe quando você nasceu?...
- Hum... – murmurou Kione, tentando lembrar. – Eu não tenho certeza, mas eu acho que foi em... outubro?
- 23 de outubro. De 3074 a.C.
- Ah... quê?! Você está brincando! Eu não sou tão...
- Velha?
- – sorriu.
- Ou isso. – riu Giafar. Ele olhou Kione, que respirou fundo e olhava ao seu redor, ainda sem saber se levava aquilo a sério ou não. O Templário relaxou o sorriso. – Você não acredita em mim, né?
- Não é isso. Mas... é que... parece que é tudo novo, e tão... de repente Estou confusa...
- Terá todo o tempo do mundo, Aïsha.
- Kione. – pediu Kione, como se doesse escutar o nome.
- Desculpe... Kione.
- Não é nada... Por enquanto... só "Kione", tá?
- Quanto todos chegarem e tudo tiver um fim, você terá tempo de se acostumar com tudo de novo, de se lembrar.
- Os bruxos... estão vindo pra cá? Eles podem vir para o palácio?
- Claro, estão chegando.
- Jura?
- Claro. – Giafar notou a felicidade repentina de Kione e emendou, antes de ir em direção à porta junto de Mashii. – Mas ninguém irá permitir que o cavaleiro do fogo se aproxime dos aposentos reais da vossa majestade de Theron!
- Ei! – protestou Kione, envergonhada. – Eu não... Por Alá... Como você pode ser tão...
- Estou brincando, "majestade". Ficamos aliviados em saber que, numa hora tão delicada, você tem amigos verdadeiros. Assim ficamos um pouco menos preocupados, pois sabemos que está em boas mãos. Mesmo porque aquele Moredin é horripilante. – e virou os olhos, baixando o tom de voz, e Mashii não segurou uma risadinha baixa.
Giafar deu as costas, e depois de um passo Kione o chamou mais uma vez:
- ...Giafar.
- Hum. – respondeu, virando-se.
- ...Ou Anii... ou Izack... – hesitou, com o olhar ainda baixo, como se falasse a um superior, com um sorriso tímido. - Meu irmão... – Giafar sentiu uma estranha sensação ao escutar isso dela. – ...Obrigada. - Kione ainda estava em dúvida sobre tudo aquilo, se era verdade ou só uma ilusão do capeta. Vai que ela tinha morrido e ido arder no mármore do inferno. - ...Obrigada por me... buscar e... me trazer de volta pra... bem, pra "casa".
Giafar deu um longo suspiro e abaixou a cabeça, pondo o dedo no queixo. Kione achou que fosse só mais uma estranha formalidade, mas não, ele ergueu os olhos e ela notou que, na verdade, ele estava se esforçando para não chorar. Com dificuldade ele disse, meio engasgado, mas sem tirar os olhos de Kione:
- Também... é muito bom.. ver você de volta, minha... irmã.
Kione deu um acanhado sorriso e sentiu um nó na garganta. Deu dois passos e passou os braços pela cintura de Giafar, e afundou a cabeça em seu peito, de um certo modo, aliviada.
- Izack... – sussurrou, sorrindo.
Giafar abraçou-se à Kione e começou a beijá-la docemente, sem parar e a chorar de mansinho, mal acreditando que depois de tanto tempo tinha sua irmã de volta.
A espada do fogo explodiu em chamas com o ataque de Gina. O rubi do centro do peito do gigante rachou, assim como todo o seu corpo. Em pouco tempo o guardião, contorcendo-se, explodiu e se despedaçou em milhares de pedacinhos de pedra e areia. Gina caiu de pé e cambaleou, zonza. A explosão ricocheteou na caverna, sacudiu o lugar e rachou as paredes.
O vulcão começou a entrar em erupção assim que o último pedaço da estátua caiu no chão. A arena também começou a rachar.
- O templo está se auto destruindo! – gritou Malfoy, no meio do terremoto.
- Que nem o de Azkaban! – disse Gina. – Não temos saída.
- Quê? – berrou Malfoy, correndo até Gina, se desequilibrando nos blocos quebrados da arena e desviando das pedras que caíam. A arena, quebrada, descia lentamente até a lava, que borbulhava cada vez mais. – Eu não vou morrer aqui!
- Lamento informar, Draco... – gemeu Gina, caindo de joelhos, sentindo uma dor aguda, com a mão em um dos machucados. – Não temos como sair...
Draco resmungou entre os dentes e correu até Gina, tropeçando nas rachaduras e degraus:
- Mas que bosta! – xingou, entregando sua espada para Gina. – Tó! Segura aí, firme!
Gina agarrou-se ás espadas sem entender muito bem. Malfoy a abraçou pela cintura, segurando firme.
- Malfoy... – murmurou Gina, prensada contra o peito do loiro. - Mada pessoal, mas... Não gostaria de morrer agarrada com você. O que é que –
- Vou tirar a gente daqui! Segure-se firme em mim!
- Mas...
O piso sob eles despedaçou-se e ruiu, caindo na lava do vulcão, a poucos metros. Malfoy se ergueu, segurando-a com mais força; e Gina, no desespero, também se agarrou o quanto pôde. Draco serrou os punhos e deu um grito, que Gina não entendeu muito bem o que significava. Até que o grito se transformou num urro, um rugido, e Malfoy se transformou. Seu corpo cresceu, se encheu de grossas escamas, e ele virou um grande dragão azul-metálico. Abriu e bateu as enormes asas com força. Levantando vôo antes que tocassem na lava, e subiu pela garganta do vulcão. Gina olhou para baixo – apavorada - e viu o vulcão entrando em erupção, a lava e as pedras subindo rapidamente, e eles chegando perto do teto do lugar:
- Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus!!!!
Draco bateu a cabeça no teto da caverna com força, dando espaço para saírem, já que a caverna se desmanchava. Ao atingirem o exterior, ao verem o céu azul e o deserto, ao sentirem o vento fresco e o brilho do sol, o vulcão explodiu, fazendo Draco e Gina serem lançados pela pressão para mais longe. O vulcão era um grande rasgo, uma fenda no deserto. Malfoy ainda conseguiu retomar o vôo, ainda que cada vez mais torto, e conseguiu descer numas ruínas próximas, parecidas com a da entrada do templo. Ao pôr as patas traseiras no chão, Draco soltou Gina, que ainda caiu agarrada nas espadas, e Malfoy voltou à forma humana.
Ele pôs as mãos na testa e se apoiou em uma coluna de pedra amarela caída no chão. Gina, sentada – e abraçada com as espadas – gritou, espantada:
- Um dragão! Você é um animago dragão!
- Hum – gemeu Draco, mal humorado. – Grande coisa. Vai me dizer que você também não é?
- Claro que não! – exclamou. Draco estranhou.
- Vocês ainda sequer são animagos?? Que tipo de treinamento aqueles bruxos dão pra vocês, Grifinórios?
- Ué... Quem mais poderia...
- Gina! Draco!
Os dois olharam. Era um dos Templários, um rapaz de pele clara, cabelos longos, ondulados, da cor dos cabelos de Lupin, e traços tão delicados que o faziam parecer uma garota, se aproximava, chamando-os, junto de outro Templário, este, com a pele também bem clara, olhos muito azuis e um pano cobrindo seu rosto e sua cabeça, como um ninja.
- Não se preocupem. – disse o Templário de cabelos longos, sorrindo calmamente – Eu sou Yuke, esse é meu irmão, Kumo. Estamos aqui para ajudá-los. Vocês estão bem?
- E... Estamos... – disse Gina, ainda um pouco receosa, mas aceitando a ajuda dele para se levantar. – Draco me ajudou a sair do templo... ele foi completamente destruído...
- Vocês destruíram o Deus guardião do templo. – disse, sorrindo encantado. – Parabéns, vocês são muito fortes! As espadas estão a salvo com vocês, assim como Theron, que está segura agora que o templo foi destruído pelo vulcão...
- Ah... – suspirou Gina, querendo encurtar a repentina conversa. – E Rony? Onde está meu irmão?
- Ooki deve tê-lo tirado do templo, ele está bem. Vamos para Theron, seus amigos os esperam lá. Vão descansar, serão curados.
- Tudo bem... – concordou Gina, virando-se para Draco, que com cara de mal humor deu dois passos até eles. – Vamos indo, Draco. Aliás... devo confessar... Sua forma animaga é demais!
- Bah... – resmungou Draco, sentindo de repente a vista escurecer. – Eu também detesto admitir, mas... você foi brilhante... Virgínia.
Depois disso Draco desmaiou, caindo de cara na areia. Gina o olhou, enquanto Yuki se agachava rapidamente para tirar Malfoy do chão. Gina deu um sorriso cansado:
- Bom, pelo menos ele parou de me chamar de Weasley. Isso é um grande avanço... Ah, meu... – e desmaiou também, completamente exausta.
Sirius, Lupin e Snape chegaram em Theron passando por um grande portal numa colina gramada ao lado da cidade. Olharam para a frente e viam a grama terminar e começar o grande deserto, que se estendia nas gigantes dunas que iam até o horizonte. Olharam para seus pés e se encantaram com a grama rasa, verde e com muitas pequenas flores, delicadas e coloridas.
- Onde estamos? – perguntou Sirius. Lupin se virou e deu um longo 'oooh' de exclamação. Sirius e Snape também se viraram e fizeram o mesmo. Agora, na frente deles, no vale, estava Theron, com o gigantesco castelo branco e dourado ao fundo.
- Meu pai... – as palavras morreram na boca de Sirius. – Então... aqui é Theron...
- Theron – disse Lupin, extasiado. – A cidade perdida no tempo, a Cidade dos Deuses...
- Ah! Vocês chegaram.
Os bruxos se olharam e dois Templários se aproximavam. Um com um tapa olho, bigodes negros e turbante, outro com um lenço na cabeça, sobrancelhas raspadas e muito brincos de ouro pelo rosto – no nariz, nas orelhas, na sobrancelha.
- Bem vindos à Theron, eu sou Atai. – disse o jovem de brincos. – e este é Yoru.
- Estávamos esperando vocês, Sirius, Snape e Lupin, certo? – completou Yoru, olhando-os.
- Não necessariamente nessa mesma ordem... – disse Sirius. – Mas somos.
- Acompanhem-nos até o palácio, Giafar e Aïsha os estão esperando.
- E os outros?
- Rony, Gina, Draco – enumerou Lupin. – Onde estão?
- Outros Templários foram buscá-los, estarão aqui o quanto antes. – disse Atai, descendo a colina.
Os bruxos se entreolharam, mas seguiram os outros. Entraram em Theron e ficaram admirando a beleza da cidade. As caprichadas casas brancas, de até 3 andares, as plantas cheias de folhas verdes e flores delicadas que subiam pelas paredes, a grama entre as pedras do chão. Vários córregos rasos e transparentes passavam pela cidade, como uma teia, com várias pontezinhas de madeira, como essas de jardim japonês. E o povo andando tranqüilamente pela cidade, cumprimentando os que encontravam, inclusive os Templários, com um curvamento leve de cabeça, sorrindo, como uma reverência. Mulheres com trouxas de roupa na cabeça, homens passando de charrete, crianças correndo e brincando pela rua. As crianças, aliás, adoravam os Templários, ficavam acenando tchau sem parar.
- Aqui todo mundo conhece todo mundo? – perguntou Lupin.
- Ah, sim, certamente. – disse Atai.
- Mas eles parecem ser um pouco mais reservados quando passam por vocês.
- Bom, somos os 13 cavaleiros mais poderosos de Theron, guardas pessoais de Aïsha e protetores da cidade. É natural que sintam mais respeito por nós...
Lupin deu apenas um longo 'hum' e continuou a andar. Atravessaram o grande portão do castelo e entraram nos jardins cheios de fontes e espelhos d'água. Ficaram tão espantados quanto antes, até Sirius tomar coragem e perguntar:
- Am.. O que... aconteceu com Kione?... Digo... O que vocês fizeram com seu... corpo?
- Ah, não se preocupem com isso. Aïsha já os espera ansiosa no palácio.
Alguns passos depois e eles subiram as escadas de mármore do saguão do castelo. Sirius cochichou para Lupin:
– Não perguntei dela, eu perguntei da Kio...
Naquela hora, Giafar os esperava na entrada do lugar:
- É bom vê-los aqui, por favor, entrem.
Ao entrarem, depararam-se com um alto e imponente salão, cercado por corredores e colunas douradas, ligado a vários jardins e escadarias, que provavelmente levavam a todas as outras dependências do castelo. Giafar chamou em voz alta, sorrindo:
- Kione! Seus amigos bruxos! Eles chegaram!
Silêncio. Os bruxos se olharam:
- Ele disse... Kio-?
- Oh, vocês vieram! – exclamou Kione, vinda de uma das galerias, com a mesma túnica com a qual acordou, e sorrindo, correndo até eles, muito excitada – Ah, por Alá, vocês estão bem! Estão machucados, sujos, mas... não aconteceu nada? Como os deuses são... Fiquei tão agoniada...
Os três ignoravam os pulinhos ansiosos dela, olhavam-na chocados, e não era por menos. Sirius balançou a cabeça, incrédulo:
- Kione, você... você morreu!
- Devia estar morta! – gaguejou Lupin. – Não... Não devia?
Snape olhou os Templários inconformado:
- O que diabos significa isso?
Os Templários sorriram. Kione ainda os olhava muito feliz. Sirius a olhou:
- Menina... eu... eu te vi morta! Ninguém... ressuscita!
Giafar riu:
- Tem razão, Kione está morta.
- Mas ela não parece um fantasma. – exclamou Sirius, quase cuspindo. – Quer dizer... Ela parece... um pouco... encorpada demais para uma alma penada! Não te parece?
- Sim, digamos que o corpo dela morreu, mas não sua essência, sua alma. – sintetizou o cavaleiro.
- Venhamos e convenhamos, meu amigo, ainda tem carne demais pra uma essência só!
- O corpo de Kione morreu porque era mortal, como o de vocês! – explicou Giafar, querendo rir da situação. – Mas seu espírito é nativo de Theron. Aqui ela vive, aqui ela é Aïsha, nossa imortal, nossa rainha.
A resposta foi um 'Ah...' coletivo. Mais uns instantes e Sirius voltou a perguntar:
- ...Rainha?
Kione deu um tímido sorriso, olhando dos Templários para os bruxos, e de volta para Giafar:
- Pra mim também é novidade... não me perguntem... Eles dizem que sou rainha, mas...
- Você? Rainha de Theron? – sorriu Lupin. – Quer dizer, por isso é Aïsha? Aquela que lacrou o templo e tudo mais?
- Bom... Giafar diz que sim.
- E como vocês souberam? Estavam esse tempo todo atrás dela?
- Perdi minha família durante um ataque à caravana em que viajávamos. – disse Kione. – Curiosamente... eu devia ter morrido também. Tendo 'ficado' os Templários tiveram que me buscar. Entre eles Izack, meu irmão mais velho, que se tornou líder dos Cavaleiros Sagrados.
Os bruxos olharam Giafar, que deu um discreto tchauzinho. Sirius respirou fundo e sorriu pra Kione:
- Então... Onde é seu trono? – perguntou, com um óbvio tom de sarcasmo na voz.
- Nem sabemos se sou Aïsha mesmo. – murmurou Kione.
- Você tem que ir até a Caverna do Tempo. – disse Giafar. – Estávamos só esperando essa loucura acabar...
- Por Alá!... O que eu ainda tenho que fazer...?
- Não me pergunte. – riu Giafar. – Ninguém pode entrar lá, só Aïsha.
- Hum... E o que "Aïsha" deixou lá?
- Não sei. Só ela sabe.
- Não ajudou muito...
- Então... – murmurou Snape. – Quando tudo isso acaba? Nossos alunos ainda estão lá fora.
Giafar olhou Snape, levemente incomodado:
- Não desconfie de nós. Estamos do mesmo lado, os outros Templários trarão seus alunos, enquanto Kione vai à caverna. Se estão desconfiados, colocaremos fim nisso tudo antes do anoitecer em Theron.
- E quem irá garantir que enquanto nós conversamos já não se passaram vários meses no outro mundo?
Giafar olhou Snape com uma profunda decepção e, na mesma hora, Lupin interveio:
- Parem, parem! Parem com isso agora! Todos nós aqui sabemos que vocês estão conosco e que Theron é uma cidade parada no tempo. Nós sabemos, Snape, que o tempo daqui não é o mesmo de lá, certo, Giafar?
- Passaram-se alguns minutos no seu tempo. – disse Giafar. – Nada mais. Só podemos mudar o ritmo depois que Kione voltar da caverna.
- Ótimo. Satisfeito, Snape? Acho que o sol esquentou sua cabeça e fritou seu cérebro.
Snape cruzou os braços e ficou olhando Giafar. Kione mudou de assunto:
- Puxa, vocês estão terríveis. Poderiam ir para seus quartos, tomarem um banho nas termas, curarem suas feridas... receber roupas limpas... não, Giafar?
- Claro, serão levados para seus aposentos. Por favor, sintam-se em casa, os outros devem chegar em breve, descansem.
Dois homens vestidos como egípcios levaram as coisas dos bruxos para os quartos e os levaram às termas. Várias mulheres de burca branca trabalhavam no lugar, era uma casa de banho unicamente para as pessoas do castelo, cheia de banheiras e tanques de águas quentes e espumantes, como na antiga Roma. Sirius, deitado na borda de uma das piscinas, tinha as costas sendo massageadas por uma delas, que usava um líquido para ajudar a cicatrizar seus machucados.
- Mas que beleza... – dizia Sirius. – Isso sim é hospitalidade!
Num canto do lugar Snape não se divertia, ficava de cara amarrada e se recusou a receber os cuidados das curandeiras com os outros dois.
Assim que chegaram em Theron, Gina e Draco foram colocados desacordados em uma espécie de enfermaria na parte lateral térrea do palácio. Um salão com camas largas e fofas. Não haviam portas, eram colunas que abriam em arcos do lado direito, deixando a brisa circular no lugar, dando vista para as fontes e jardins. Vestidos com camisolas brancas e limpas os dois, cheios de curativos, dormiam profundamente, em camas uma do lado da outra. Um ou outro velho de turbante e bigode grisalho, ou mulheres de branco, andavam pela enfermaria.
Gina, com uma faixa na testa no lugar do "peteleco" do gigante, foi a primeira a acordar. Olhou para os lados:
- Ai... – gemeu, pondo a mão na testa. – Onde eu estou? – olhou ao seu lado, próximo à saída para os jardins e viu Draco, deitado, bem mais enfaixado que ela e desacordado. Na mesinha entre as camas haviam dois grandes potes de vidro com tampa de madeira, um com um líquido verde e outro com um laranja, e borbulhavam como refrigerante cheio de gás. Dos potes saíam dois finos caninhos, que iam um até as costas da mão de Draco outro até a altura do cotovelo, como um soro.
Gina ergueu sua mão esquerda e viu que também tinha um desses, olhou a mesinha e viu um conteúdo igual, mas azul. Provavelmente algum remédio, sedativo, algo assim.
Uma mulher de burca branca se aproximou com uma bacia cheia de vidrinhos e, ao vê-la, sorriu.
- Onde estou? – perguntou Gina, ainda mole.
A mulher apenas a olhou sem dizer nada. Claro, não entendia nada da língua de Gina. Até que os dois Templários que buscaram Gina e Draco chegaram.
- Ela não lhe entende. – sorriu Yuki. – Mas está cuidando de você.
Gina tentou se mover, mas estava cansada demais pra isso. Seu corpo pesava.
- Onde estou? O que aconteceu?
- Calma, calma... Você se lembra de nós, não? – Gina fez que sim com a cabeça. – Vocês estavam muito feridos, trouxemos vocês para cá, para que se curassem. Vai ficar tudo bem.
- Que lugar é esse?
- Theron, Cidade dos Deuses.
- E... os outros?
- Seus amigos estão bem, estão descansando.
- E meu irmão?
- Ahm...
Kumo fez alguns movimentos com as mãos, indicando o rosto e os cabelos. E também a bochecha, como um corte na face.
- Ah, sim, o cavaleiro do fogo! Ooki o trará para cá, ele também vai ficar bem. Tudo acabou.
A mulher esperou acabarem a conversa para tirar o soro de Gina, em seguida ir na mesa de Draco e despejar alguns pós brancos nos vidros, que ferveram e se dissolveram.
- Pronto – disse Yuki. – pode descansar. Seus amigos virão visitá-la em breve.
- Que bom – sussurrou Gina, fechando os olhos e se afundando no travesseiro de pena e no edredom de algodão.
Ooki andava a passos pesados pelas areias do deserto com Rony nos ombros, desacordado e completamente esgotado. O Templário também não parecia bem, talvez escapar do templo junto de Rony tão de repente o fez ficar sem forças. Os Cavaleiros Sagrados de Theron tinham um período de 'bateria' longe de Theron, a dele provavelmente já estava se esgotando.
Chegaram às ruínas do templo, quando Ooki não agüentou, caiu de joelhos e jogou Rony na areia. Ele estava ofegante, e suando muito.
- Puf... Desculpe... cav... cavaleiro do fogo... Puf... mas... eu... preciso... me... recompor... Puf... para irmos... para Theron...
Ooki respirou fundo e escutou passos. Vários homens os cercaram. Quando ergueu o olhar várias espadas e varinhas apontavam sua cabeça. Homens de turbante e roupas de couro recortadas.
- Os dois amigos estão indo pra Theron? – sorriu um deles. - Que bom, nós também. Que bom encontrar duas pessoas dispostas a colaborar... Não é, Templário Sagrado?
Ooki serrou as sobrancelhas. Não podia enfrentá-los, não no estado em que estava.
- Maldição... – murmurou. Um dos bandidos deu uma coronhada em sua nuca, e antes que tentasse reagir foi estuporado por outro homem.
- Tragam os dói.s – ordenou o homem.
Do lado de fora das ruínas, num camelo, um homem gordo e de véu no rosto, a mesma roupa de bandido, olhava os outros que se aproximavam. Os homens chegaram trazendo Ooki e Rony, e pararam na frente dele. O que falou com Ooki se pronunciou:
- Senhor Ali. O estrangeiro de cabelos de fogo e o Templário estavam nas ruínas... mas nem sinal dos outros. O que faremos, senhor Moredin?
Moredin olhou as ruínas. Tirou o pano da boca e disse:
- Vamos levá-los para minha mansão em Morada. Eles são meus... convidados. Tenho que ser hospitaleiro. O estrangeiro ainda é meu cliente...
- Mas... e os outros? Não irão procurá-lo? Templário Giafar... Kione...
Moredin pensou um instante. Depois abriu um sorriso, mostrando os dentes de ouro:
- Se os quiserem de volta, que venham buscar pessoalmente.
