N.A 1 Bom, acho que já disse isso uma vez, mas, enfim, sim, a idéia dos templários vieram dos cavaleiros de negro dos filmes A Múmia. O cavaleiro principal, então, foi da cara dele que eu fiz o Giafar, apesar do Giafar ser mais 'grandão'. Outra coisa a título de curiosidade: cada templário tem o nome tirado de um ideograma japonês, e cada um deles com um significado que condiz com sua 'personalidade', ou 'visual'.
ESPADA DOS DEUSES
EPISÓDIO III: SAARA
—Capítulo 43—
As Mil e Uma Noites – parte 1
As velas acesas e fracas deixavam a tenda à meia luz, com tons de bronze e cobre. Um cheiro doce, suave e hipnotizante pairava no ar, junto da música árabe. E a principal atração, claro: a odalisca, dançando no ritmo da música, de um jeito envolvente e sedutor. Sem esquecer também dos 7 véus, que, a cada vez que saíam do corpo de Kione para brincar em suas mãos, faziam Rony questionar se já tinha morrido sem perceber e estava no céu, agora, no paraíso. Ele respirava fundo e não sabia se olhava as moedinhas presas à roupa de Kione, os véus que dançavam ou os olhos negros dela, já que se empenhava em parecer menos idiota do que estava parecendo e tentava averiguar qual o risco de babar.
Se Kione estivesse dançando para os convidados de Moredin, ela estaria enrascada. Já havia errado quase metade dos passos, de tão entretida que estava em rir da cara de pamonha do rapaz. Não sabia porquê, mas estava muito mais feliz ali, dançando só pra ele e errando tanto, do que quando dançava impecável para 15 convidados de Moredin. E fazia questão de, a cada véu que tirava, chegar cada vez mais perto de Rony, só pra ter certeza de que ele continuava mais hipnotizado que uma mariposa que vê uma lâmpada de noite.
A cada véu que ela tirava, Rony sentia uma sensação estranha formigar o corpo todo, e que uma hora tudo aquilo ia explodir, ele ia perder o controle e não sabia o que seria capaz de fazer. Ele e Kione ficaram se olhando um longo tempo enquanto ela decidia se tirava o último véu ou não. Ele tremia só de pensar nessa possibilidade, enquanto ela parecia disposta a tirar só pra ver a cara dele. E o fez.
Mas o rapaz não fez nada além de dar um longo e profundo suspiro, para em seguida se ajeitar no lugar. Estava tão anestesiado que nada mais fazia diferença. Ele iria para onde a vida o levasse... morreria no dia seguinte feliz, muito feliz.
O último véu de Kione passou de leve no seu nariz, e Rony fechou os olhos, respirando seu doce perfume de mel. Quando abriu os olhos ela já estava agachada na sua frente. Rony deu um sorriso tonto:
- ...Oi...
Ela passou o véu na nuca dele, puxando-o para mais perto, sorrindo.
- Eu já disse que você é demais?
Kione deu um passo à frente, pousando delicadamente em seu colo, e com a ponta do nariz quase encostada na dele.
- Você é demais... – continuou.
Ele olhava o rosto de Kione completamente sob controle, e ela não dizia nada. Aqueles olhos pintados pareciam atingir o fundo das suas emoções:
- Eu... já disse isso, né?
A música parou, e Kione puxou as pontas do véu, trazendo junto o rosto de Rony. O toque de sua boca terminou com a tranqüilidade que até então tinha anestesiado o corpo dele, e ele sentiu um arrepio tão grande que o fez suspirar. Ela estava usando algum tipo de batom que deixava seus lábios molhados e com sabor de cravo. Um beijo que ele nunca tinha dado, que ela nunca tinha ousado, mas que era necessário. Rony passou seus braços pela cintura dela, puxando-a para junto do seu corpo. Ela deixou o véu cair de sua mão, para abraçar seu pescoço e tombar o rosto, rendendo-se ao beijo. Suas línguas se encontravam de uma forma muito doce e apaixonada, e não demorou para Rony deslizar suas mãos pelas costas de Kione, para depois passar por sua cintura e quadris. Ela recolheu as mãos do pescoço dele e, sem deixar de beijílo, correu os dedos pelos seus ombros, tirando seu colete.
Alguns instantes depois e Kione afastou o rosto, mordendo os lábios de Rony com delicadeza. Eles abriram os olhos vagarosamente, trocando um longo olhar. Ela pôs a mão sobre a dele, pousada em seu ombro, e só aí ele notou que, em algum momento, acabara tirando a parte de cima da roupa dela. Ele prendeu a respiração ao sentir que ela fazia sua mão descer do seu ombro, acariciando sua pele, passando pelo colo e continuando a descer suavemente. A cada centímetro Rony via seu corpo ferver cada vez mais, e achou que se ela descesse a mão mais um pouco ele perderia os sentidos. Fixou os olhos no rosto de Kione, seus olhos pintados, os lábios molhados. Ela também o olhava, com um olhar quase desafiador. Ele sentiu um forte arrepio ao ter a pele macia e quente de Kione na palma de sua mão; soltou um longo suspiro e fechou os olhos. Ela mais uma vez lhe beijou, e foi aí que ele decidiu não segurar mais as emoções: abraçou-se mais uma vez à cintura de Kione e, sem interromper o beijo, deu dois passos e acabou caindo de costas com ela no meio das almofadas. Os dois definitivamente não podiam mais se segurar, e perderam completamente o controle.
Rony não entendeu exatamente a ordem do que se seguiu - Kione provavelmente também não – mas o fato é que eles perderam o pouco da razão que lhes restava, e momento depois ele estava deitado entre as almofadas e cobertas, sentindo aquele envolvente perfume, começando a suar naquela tenda quente e abafada, e fazendo amor com ela de uma forma que jamais pôde sonhar. Sua pele junto da dela, seus beijos, seu toque tão suave e ao mesmo tempo tão intenso. Sua mente ficava cada vez mais envolvida naquele turbilhão de emoções, enquanto sentia os dedos e as unhas de Kione rasparem em suas costas, e suas pernas entrelaçarem com as suas, como se quisesse permanecer junto à ele por toda a vida.
Ele, com a franja começando a grudar no suor de seu rosto e respirando levemente ofegante beijou levemente Kione dos ombros até a ponta de seu queixo, para depois olhíla com um olhar quase piedoso:
- Me diga... – sussurrou. – se eu estou ficando louco... ou só estou sonhado.
A resposta foi um sorriso tão mole quanto o dele:
- Não me pergunte... habib... – disse, olhando fundo nos seus olhos, passando os dedos pelo cabelo dele. - Eu estou com os mesmos... pensamentos que você...
Rony ainda deu um longo suspiro, antes de voltar a inclinar o corpo junto ao dela, lhe dando mais um longo beijo. A noite deles estava só começando...
Mashii esticou o pergaminho pra Sirius, que olhou os amigos antes de pegílo. Abriu e começou a ler. Lupin e Gina se olharam.
- E aí? – perguntou Lupin. – Novidades?
Sirius não disse nada, terminou de ler muito preocupado. Enrolou o pergaminho apressado e olhou os bruxos.
- Que foi? – perguntou Lupin.
Sirius respirou fundo:
- É... do Brasil.
Os bruxos se olharam. Ele continuou:
- Bem... é a Leah. Está... com problemas.
- Problemas? A Leah? Que tipo de problemas?
- Eu preciso ir pra lá. – disparou Sirius. – Ela está com problemas... grandes. Preciso ajudíla...
Silêncio. Ele parecia mesmo preocupado.
- Preciso mesmo ir... ela precisa de mim. Mashii, onde está Giafar?
- Alô? – disse Giafar, chegando na enfermaria.
- Preciso ir embora, e o quanto antes. Tem como?
- Aconteceu alguma coisa na terra de vocês?
- É... uma amiga... ela está com problemas.
- Ah, claro, claro... Quer ir assim, tão de repente?
Sirius fez que sim com a cabeça. Giafar ainda olhou Lupin para tentar uma segunda opinião, e constatou que era sério.
- Muito bem... Precisam levar o quê?
- Ahm... tenho tudo aqui... oh, não, minhas coisas... estão em Morada do Sol...
- Não, acabaram de chegar. – disse Atai, do lado de fora da varanda, sorrindo. – Foram levadas para seu quarto. Os Templários que foram pra Morada do Sol chegaram agora, com Ooki. Tiveram de vir mais cedo porque ele estava esgotado. Suas bagagens estão aqui.
- Bom... – falou Sirius, visivelmente preocupado. – Então... vou arrumar minhas coisas. Quero sair o quanto antes.
- Tudo bem. - concordou Giafar. – Eu lhe acompanho.
- Certo... – suspirou Sirius. Antes de sair Lupin deu dois tapinhas em suas costas.
- Cuide-se, Sirius...
- Pode deixar. A gente se vê de novo, em breve. Até.
- Tchau. – disse Gina. – Mande um abraço pra Harry e Mione.
- O mesmo. – falou Lupin.
Sirius e Giafar saíram. Gina olhou Lupin:
- Que será que houve?
- Não faço idéia- murmurou olhando as costas de Sirius. - mas boa coisa não é. Ele sequer terminou de aprender a técnica de vôo com o Giafar...
- Vôo...?
- Deixa pra l� Gina... é melhor a gente dormir... Outro dia eu explico melhor...
- Hum... Será que o Rony chega amanhã?
- Ah, com certeza. – disse Mashii.
- Voltaremos pra Hogwarts assim que vocês estiverem bem. – finalizou Lupin.
Rony deu um longo suspiro, deitado no colo de Kione, se sentindo sonolento, sem forças e com o corpo pesado. Ela passou os dedos na franja dele, grudada na testa, e colocou-a atrás da orelha.
- Se eu pudesse... – disse Rony, quase dormindo em seus braços. – ficar assim pra sempre...
- Lhe digo o mesmo, habib... – respondeu, ainda acariciando a franja de Rony.
- Prometa que jamais vai me deixar de novo...
Ela parou alguns instantes, para sussurrar:
- Prometo estar junto do seu coração... onde quer que você esteja.
Ele deu um preguiçoso 'hum' e adormeceu. Acordou com o dia já claro, e jogado no meio das almofadas e enroscado nos lençóis. Soltou um gemido mole e abriu os olhos, focalizando o lugar, tentando se espreguiçar:
- Ahm... Caaaaaaaara... fui atropelado... por um rinoceronte... Kione?... Cadê você...?
Esperou alguns instantes, e ela pôs a cara dentro da tenda, sorrindo.
- Bom dia... – falou, doce. – Dormiu bem?
- Hum...
- Zen já arrumou tudo. Podemos continuar a viagem.
- Ir para onde... Ah, Kione!
Kione saltou em cima de Rony, fazendo ele se contorcer e gemer:
- Aaahh... Não faça isso, eu estou quebrado...
- Vamos, habib. Já está tarde... Temos que...
Rony jogou uma almofada em Kione, para depois deitar de lado.
- Não, quero ficar, dormir mais um pouco...
- Você já dormiu muito!
- Escuta aqui! – disse Rony, se erguendo, com o cabelo todo atrapalhado. – Se você está acostumada com essas coisas eu não estou! Isso cansa... sabia? Nem lá no...
Kione riu da cara de Rony, empurrou-o de costas nas almofadas de novo e colocou os braços ao lado de sua cabeça.
- hum... Qui é? – resmungou Rony, olhando torto.
- Vamos pra casa...
- T� tá...
Ele ainda a olhou, suspirando. Kione debruçou seu peso nele e encostou seus lábios no dele. Rony até tentou reclamar, mas ela aproveitou para lhe beijar mais profundamente, um beijo molhado, frio e com o mesmo sabor de cravo da outra noite.
- Você... – murmurou Rony, fugindo de seu beijo. – quer... ir embora?... Hum... Vamos, então.
Ela sorriu e se levantou:
- Ok, tá bom, você venceu, vamos embora, então. – saiu da tenda, deixando Rony no mesmo lugar, a cara amassada e o cabelo atrapalhado.
- Eeeeeeeeei! – protestou. – Também não precisava desistir assim tão rápido, né? Ei, Kione! Oooooh, habibaaaaa!
Rony, Kione, Tem, Kaminari e Zen chegaram no início da tarde, visitaram Gina e Draco, conversaram sobre tudo que aconteceu.
- É... – comentou Lupin. – Quem imaginava que Kione era tão importante?... Aïsha...
Rony, ao saber de tudo, ficou estático, apavorado:
- Quer dizer... rainha? Você é MESMO rainha... rainha de Theron? DISSO DAQUI? – Kione fez um acanhado sim com a cabeça, e Rony pôs as mãos na testa. – Meu Deus! O que foi que eu fiz?
- Rony... eu achei... que ficaria feliz... por mim...
- Mas estou! – disse, ainda apavorado. – Mas... Meu deus... Como eu pude...?
Giafar ria ao lado dos dois. Kione o cutucou, apontando o irmão:
- Olhe, meu irmão está rindo da sua cara...
Rony ficou mais apavorado ainda:
- É mesmo! Esqueci... Ele é seu irmão! – olhou o tamanho 'armário' do homem e voltou a pôr as mãos na cabeça. – Meu Deus, o que eu fiz?
- Ah, Rony! – resmungou Lupin. – Qual o problema? Sejam felizes! Você gosta dela, ela de você...
- Mas...
- Deixe disso. – riu Giafar.
- Ahm?
- Fico feliz em saber que cuida da minha irmã.
- Jura?
- Juro.
- Pronto, Rony... Está vendo? – falou Kione.
- Certo... tudo bem. – suspirou, levantando-se. – Bem, onde é meu quarto? Quero tomar um bom banho...
- O último... – disse Kione. – Lá no alto, peça pra algum Templário te levar...
- Tá... vou indo... Ai... comi como um porco nesse 'lanchinho'...
- Todos nós, Rony. – riu Lupin, olhando para as mesinhas de Gina e Draco. – Pena que ainda estão na base de sopinha e comidinhas mais leves, heim?
- Ah, não. – disse Gina. – É muito boa!...
- Quando saem da cama?
- Não sei ao certo... Amanhã, depois... Mas o Draco eu não sei, ele ainda está quebrado! HAHAHAHAHA!
- Não tem graça, Virgínia. – resmungou Draco, enfaixado tanto quanto uma múmia.
- Já dá pra te embalsamar!
- Cale a boca... Ai...
Já era noite em Theron, Giafar conversava com Lupin e Snape numa varanda. Lupin contou quase toda a historia deles, de Hogwarts, de Voldemort, de tudo. Giafar, por sua vez, contou de Theron, de seus segredos e mistérios, e sobre o curto período que tinham.
- A entrada de Theron foi destruída junto com o templo. – dizia. – Agora a cidade voltará a se fechar e será apenas uma cidade perdida no tempo, no deserto, nas histórias de seu povo.
- Quer dizer... – pensava Lupin. – Daqui a um tempo... Theron vai desaparecer... pra sempre?
- Teoricamente, sim. Voltaremos a ser apenas 'espíritos mágicos' da lenda.
- Todos da cidade?
- Todos.
- Até você... e Kione?
- Sim... Até nós, que estamos sendo 'purificados', para voltarmos às origens... a cada dia que passa a Kione deixa mais de ser Kione e volta a ser Aïsha.
- Quando isso vai acontecer?
- Não sei, talvez um mês... Não é com certeza.
- Aqui, mas... E no nosso mundo?
- Dez dias, no máximo. Theron ainda leva um tempo maior pra entrar em seu ritmo...
Lupin olhou as estrelas. Snape estava encostado num canto, de braços cruzados, olhos fechados, sentado numa cadeira de palha trançada e almofadada.
- Nunca mais veremos Theron?... Vocês...
- Não, a menos que os portões sejam reabertos... Mas acredito que não estarão vivo para ver.Ele abriu da última vez há 2000 anos. Não será reaberto tão cedo...
- Mas é uma pena... Estive pensando: e o Rony, já sabe disso? Ele não vai gostar... Está tão feliz com a Kione, agora, sem obstáculo nenhum...
- Até l� Kione já será Aïsha, ela vai saber o que fazer... No momento ela ainda deve estar pensando... tentando negar o fato... É só o tempo dela pôr as idéias no lugar.
- Acredita que, quando chegar a hora, ela saberá o que fazer?
- Acredito.
- Acho que... vou sentir pena deles... Vão sentir muita falta um do outro.
- No fundo eles devem saber que não poderão ficar juntos... de um jeito ou de outro.
- Sinceramente... não sei quanto a Kione, mas Rony tenho certeza que não pensa dessa forma. Ele ainda é muito ingênuo, provavelmente acredita que, agora com ela livre, vai poder ficar com ela para sempre...
- Será...?
- Ah, sim...
Lupin bocejou e foi andando na direção do quarto:
- Ah, sim, e Sirius, está bem?
- Claro... Já está de volta pro seu mundo... a caminho do... Brasil?
- É, Brasil. - confirmou Lupin.
- Ele parecia angustiado. Quem ele iria ajudar mesmo?
- É uma amiga, chamada Leah. Já quebrou muitos galhos pra ele, e agora está mal.
- Amiga..? Bom, é muito bom ter amigos para ajudar e ser ajudado...
- É... Ele deve achar que 'deve' pra ela... por tudo que já aconteceu entre os dois...
- Hum... – Giafar lançou um olhar desconfiado e gozador. – Ele recebe uma carta dizendo que uma mulher está com problemas. Ele decide, na mesma hora, correr ao encontro dela... bater daqui lá nesse lugar... só pra... vê-la? Quer dizer... só pra estar ao lado dela, mostrando que está por perto?
Lupin riu, imitando o cavaleiro:
- "Teoricamente", sim, é isso.
- E você quer que eu acredite que ele tenha feito isso... só pra oferecer um ombro amigo? – riu Giafar. – Meu caro, eu não nasci ontem...
- Não gaste neurônios com isso... "meu caro". Eles se odeiam. Estão do mesmo lado, agora, pelas circunstâncias. Mas acredite, se tivessem uma brecha, um arrancava a cabeça do outro. São assim desde que nos formamos, há uns bons 20 anos. Mas ele sabe o que está fazendo... Quer dizer, eu espero que saiba!
- Sei...
- Ai, ai... vamos dormir... Vamos, Snape... Snape? Ué? Quando é que ele entrou?...
No dia seguinte Kione foi ao cemitério de Theron, e, ao fundo, entre algumas grandes e verdes árvores estava o tumulo de Nura, uma pedra fincada no chão com seu nome escrito em ouro, e em árabe. A jovem estava ajoelhada na frente dele, com a cabeça pousada em suas mãos no chão, de olhos fechados, rezando em silêncio. Rony se aproximou com algumas flores, e ficou atrás dela, em silêncio, sem querer atrapalhar. Ela abriu os olhos, se ergueu, ficando de joelhos, e virou-se pra Rony, com uma expressão muito calma:
- Ahm... – murmurou Rony, envergonhado. – Não quis... incomodar...
- Não atrapalhou. – sorriu, esticando a mão para ele. – Venha. Só estava... conversando com Nura.
Ele segurou a mão dela e a ajudou a se levantar. Ele colocou as flores que trazia sobre seu túmulo:
- São flores pra tia gorda... É um tipo de... presente pra ela.
- Nura sempre gostou de flores. – disse Kione, olhando as plantas. – Ela dizia que viver sem flores por perto não era viver...
- É sempre bom ter um bichinho, uma plantinha mesmo... Faz bem...
Os dois tomaram o caminho de volta pro palácio. Rony estava encantado com a cidade, enquanto andavam por ela:
- Theron é maravilhosa. – dizia, com Kione abraçada à sua cintura. – Agora que tudo terminou... a gente pode "ser feliz pra sempre", né?
Kione riu do comentário.
- Habib, você é incrível...
- Não, não... eu estou falando sério. Podemos, não podemos? – perguntou, ficando à sua frente e segurando suas mãos.
Kione sorriu fechado, sentindo um aperto no peito. Rony continuou empolgado:
- Você é rainha de Theron! Olha que chique! Eu poderia ser... sei l� o rei! Não; é... Pra ficar com você eu teria de ser rei, não teria? Eu seria sim, sem problema! Eu não dou pra isso, realmente acho que não presto pra isso, mas... se precisar, eu me viro. É verdade, eu não tenho mesmo cara de rei, mas se é pra ficar com você...
- O que eu mais desejo é ficar com você, Rony... – sussurrou Kione.
- Pra sempre?
- Pra sempre.
- Jura?
- Juro.
- ...Você fica comigo?
Kione não respondeu.
- Que foi...? Algum problema?
- Não. – mentiu.
- Então porque essa cara? Parece triste...
Kione abraçou Rony e pôs a cabeça em seu ombro.
- Tem alguma coisa errada? – perguntou, também abraçando-a.
- ...Não... – murmurou, afundada em seu peito. – Eu... amo você habib... de uma forma que nunca amei homem nenhum. E de uma intensidade que eu jamais amarei de novo...
- Eu também amo você, habiba... E acho que não vou sentir isso por mais ninguém na vida... Não desse jeito...
Kione olhou Rony com uma expressão levemente penosa. Ela sabia que iam se separar, e ela tinha que reunir coragem pra dizer isso. Mas no fundo seu coração ainda implorava para que adiasse isso ao máximo. Deu um longo suspiro, desejando que pudesse ficar ali abraçada à ele, por toda a eternidade.
Gina, já recuperada, treinava com Lupin nos jardins do palácio, usando a espada do fogo.
- Não se esforce. – dizia o professor. – Você ainda está se recuperando.
- T� mas... É que quero aprender a lidar logo com essa espada. Ela tem uma cara feia, mas é muito poderosa...
De fato, as espadas do fogo eram espadas japonesas velhas e enferrujadas, com o cabo esfiapado, e a lâmina enferrujada e gasta, por causa da alta temperatura. Mas era indiscutivelmente poderosa.
- Você já a domina muito bem pro começo. É uma espada difícil de ser usada, e você mostrou ser uma grande bruxa por usíla tão bem.
- Obrigada. – agradeceu, terminando uma seqüência de golpes. – Mas não tiro o mérito do Malfoy, ele me surpreendeu.
Eles olharam Draco, ainda com a cabeça enfaixada, mas sentado em outra cadeira de palha, ainda de pijama, e tendo de usar uma bengala enquanto os ossos das pernas entravam no lugar. Mal humorado, como sempre.
- Tem razão. – falou Lupin. – Você mostrou ser um grande Auror. Um Auror Supremo.
- Auror Supremo... – murmurou Draco, com nojo. – Bah...
Já entardecia quando Rony e Kione chegaram ao palácio. Ficaram zanzando por Theron durante toda a tarde, ela ainda não tinha conseguido coragem para lhe contar a verdade, apesar de saber que quanto mais demorasse pra contar, mais doeria.
- Chegamos em "casa". – comentou Rony, olhando pra cima.
- Aaaaaah, o belezão chegou! – gozou Lupin, no saguão. – Só porque cozinhou uma manticora com UMA só magia acha que é gente?...
Ele ficou sem graça.
- Mas eu só fui passear com a...
- Você não é guardinha pessoal dela. – reclamou Snape, se aproximando, bravo. – Ou acha que 13 Cavaleiros Sagrados não são suficientes para ocupar sua tarefinha meiga?
- É que...
- Precisa treinar, Rony... Nossas batalhas estão só começando. – tentou amenizar Lupin, mas Snape estava com a macaca.
- Acha que já é bom o suficiente? Essas marcas no seu braço dizem o contrário, não? Usar o dragão de fogo uma vez não faz de você um bruxo perfeito. Custa se dedicar e treinar como sua irmã, senhor Cavaleiro do Fogo?
Rony olhou as marcas em seu braço, que já sumiam. Mas eles tinham razão, ele precisava treinar, e muito.
- Tudo bem, me desculpem... Eu... vou treinar mais...
- Vamos ficar mais... quase um mês, aqui. – comentou Lupin. – Você pode tirar o atraso...
Rony fez que sim com a cabeça e foi até a irmã:
- E aí? Melhor?
- Muito. – sorriu, empolgada. – Já consigo usar a espada mágica. Lupin garante que vou poder fritar a bunda de alguns Comensais...
- Parece divertido.
Draco e Snape não acharam graça. Giafar chegou:
- Ah, que bom ver todos no mesmo lugar... Ia ser um saco procurar todo mundo nesse lugar enorme! Vamos tomar uma banho pra jantar depois?
- Claro, claro. - concordou Kione. – Já vamos...
Todo mundo comeu junto, os convidados, Kione e os Templários, numa grande mesa no salão de jantar. A maior parte do tempo só riam e falavam bobagens.
- Ficaremos um mês! – disse Lupin em voz alta. – Em um mês treinaremos nosso alunos...
- Com Aïsha de volta e seu poder completo, vocês podem ficar quantos anos quiserem, enquanto no mundo de vocês passam os minutos.
- Melhor ainda! Quando terminarmos o treinamento com nosso pupilos... com um estalar de dedos eles irão pulverizar vocês 13. Juntos!
- Esperamos ansiosos – riu Giafar.
- Por falar nisso – lembrou Rony. – a gente vai direto pra casa ou...
Lupin completou Rony, automaticamente:
- A gente não pode deixar de ir em Morada do Sol! Afinal, não podemos ir embora sem agradecer a hospitalidade de Moredin Ali!
Os Templários riram. Giafar ergueu a taça de vinho:
- Claro! É nosso dever também, como Templários, agradecer por cuidar tão bem de Aïsha!
Os cavaleiros riram e brindaram, concordando. Até Kione, brava, erguer a voz na mesa:
- Parem com isso.
Os bruxos a olharam. Parecia um pouco aborrecida.
- Que foi? – perguntou Giafar, 'murchando'.
- Não quero que façam essas brincadeiras.
- Não estamos brincando. – disse Lupin. – Vamos fazer Moredin pagar por tudo que fez.
- Não, não vão. – falou Kione, firme.
- Mas... – gaguejou Giafar. – Olha o que aquele porco fez com você durante todos esses anos!
- Eu sei, Giafar...
- Ele não pode...
- Não quero que toquem nele. – ninguém entendeu seu aborrecimento, até ela suspirar e dizer. – Eu, mais que ninguém, quero que ele pague por tudo de mal que já fez... Mas não quero que ele seja morto por vocês. Não quero a morte dele na minha consciência, eu me sentiria... culpada. Não quero isso pra mim.
Os Templários, decepcionados, suspiraram.
- Se Aïsha diz... – falou Zen. – É melhor deixarmos ele se acabar sozinho.
- Tudo bem... – murmurou Giafar.
- Quero que prometam pra mim. Não quero Moredin morto.
- Mas...
- Prometam.
Silêncio. Ninguém estava animado pra colaborar. Era quase a mesma coisa que pedir pro vinho não ser doce e saboroso, pedir para as flores não desabrocharem na primavera, para os passarinhos não cantarem, pedir que...
- AAAARRRRRRGHHHHH! – gritou Giafar, apertando a cabeça. – Ok, você venceu! Sem mortes!
- Prometam. – disse Kione, olhando os outros.
- Hum... tá. – resmungou Rony.
- Ok. – gemeu Lupin.
- Se você quer... – suspirou Gina.
- Não quero mesmo perder tempo com ele... – murmurou Draco.
- Ah... Ela é Aïsha... – sorriu Atai. – Vamos obedecê-la...
Os outros Cavaleiros foram concordando, frustrados: Anme, Mashii, Yoru, Yasa, Yume, Kumo, Ooki, Yuki, Zen, Ten, Kaminari.
- Ótimo. – suspirou Kione. – Assim é melhor.
Rony estava largado na grande e fofa cama de Aïsha, os braços esticados e olhando o teto.
- Olha só esse quarto! Essa cama! Cabe minha FAMÍLIA nela!
Kione veio da varanda, sorrindo. Os Templários que guardavam a entrada do quarto também riram dele.
- Já está tarde. – disse Kione aos cavaleiros. – Podem ir.
Os templários se olharam. Yoru, com cara de bravo, apontou Rony:
- Estamos de olho em você, pintadinho.
Eles e Kione riram. Yuki deu as costas:
- Boa noite.
- Boa noite pra vocês também. – respondeu Kione.
- Não brinca...! – gemeu Rony.
Ela foi até ele e se sentou ao seu lado, assim que ficaram sozinhos.
- Eles estão te gozando. – disse, subindo em cima de Rony e colocando os cotovelos na cama, apoiando o queixo nas mãos, achando graça na cara de pavor do estrangeiro.
- Tenho medo deles. - gemeu Rony.
Kione balançou a cabeça, sorrindo. Reparou no rosto dele:
- Sua cicatriz está sumindo...
- Ah, é. Os médicos daqui me deram uma coisa meio gosmenta pra passar. Está melhorando. Tá sumindo rapidinho, né?
Ela fez que sim com a cabeça e deitou-se no peito de Rony. Ele começou a fazer carinho em seu rosto com os dedos.
- Pensando no quê, habiba?
- ...Nada...
Rony fez um 'hum'. Kione lhe beijou o pescoço, para depois continuar lhe beijando, até subir para seu rosto, sua boca. Seus beijos faziam Rony pensar se não seria legal deixar toda a vida de bruxo Auror pra lá e viver em Theron pra sempre.
Kione se ergueu, ficando sentada sobre ele, olhando-o sem dizer nada.
- Que foi, Kione?
- Naquela noite... quando ficamos juntos no caminho pra Theron... você dormiu com uma escrava.
- E...?
- E hoje... será com uma rainha.
- Não me importo com isso. – e se ergueu, ficando de frente pra Kione, sorrindo.
- Há uma grande diferença de posições sociais...
- Não fico com uma escrava ou uma rainha... Se eu fiquei com você naquela noite, é porque gosto de você, não da sua posição social.
Ele fechou os olhos e lhe deu um doce selinho. Kione sentiu os olhos se marejarem.
- E mais. – continuou Rony, se achando muito poderoso com sua filosofia. – Eu não "dormi com uma escrava". Eu "fiz amor com uma mulher chamada Kione". E, se isso vai acontecer de novo, eu não vou "dormir com a rainha", e sim, "fazer amor com a Kione". E quantas vezes mais ela julgar necessário para que jamais se sinta infeliz ou sozinha de novo.
Antes que chorasse ao ouvir as palavras, Kione decidiu abraçílo muito apertado, porque não queria acreditar que aquilo tudo uma hora iria acabar.
