N.A 1 Eu até que gostei desse ataque á Theron. Ele não tinha na primeira versão, apesar de eu já ter pensado nele. Quem bom que resolvi revisar, porque acho que ficou melhor assim!
ESPADA DOS DEUSES
EPISÓDIO III: SAARA
—Capítulo 46—
Chamas de Batalhas
Os bandidos avançavam sobre a cidade de Theron sem dó nem piedade: entravam nas casas, destruíam tudo. Matavam as pessoas, fossem elas homens, mulheres, crianças ou velhos. As mulheres eram arrastadas pelos cabelos para fora das casas, velhos e crianças eram pisoteados pelos cavalos. As riquezas, levadas às pressas: de fato, ouro era algo abundante em Theron, as louças, ídolos, talheres, vasos, tudo era em ouro. Não haviam "pobres ou ricos", à exceção da família real, mas, por ser uma cidade auto suficiente, única, todos viviam em paz. Essa magia especial agora era devorada pelos bandidos do deserto: chacais sedentos por sangue.
Boa parte de Theron estava em chamas. O avanço dos bandidos foi retardado pela chegada dos Templários, que lutavam ferozmente. Mas, agora, lutavam em sua terra, e seus poderes não eram tão grandes quanto os que usavam 'do lado de fora'.
Giafar lutava com sua dourada cimitarra em uma mão, uma outra cimitarra velha na outra, adquirida de um dos bandidos. Por ser o menos popular, por assim dizer, era o alvo preferido dos bandidos. Estava cercado de bandidos, e, mesmo assim, lutava ferozmente. Suava, estava com a parte de cima da roupa negra de Templário quase toda detonada, tinha vários cortes pelo corpo. Conseguiu se livrar de boa parte dos inimigos e recuou de costas, encontrando-se com Yasa, que também lutava ao seu lado. Teve uma lembrança preocupante:
Hana! – exclamou. – Onde estará Hana?
...Hana?... – gemeu Yasa, também ofegante. – Ela estava em sua casa, ao lado leste, não?
...Pelos Deuses... preciso encontrá-la...
Anii... Ela está bem, deve ter ido para o castelo. Acredite... Ela não ficaria por aí...
Maldição... Temos que acabar com esses bandidos logo...
Giafar avançou e sumiu de vista. Correu pelos corredores até entrar em uma das casas, já abandonada, e saltar exatamente sobre um bandido e derrubá-lo do cavalo, a tempo de salvar um jovem que conduzia uma velha senhora.
Vão o mais rápido possível para o palácio! – ordenou. – Terão abrigo lá!
O jovem agradeceu, curvando-se, e se apressou com a velha para longe da confusão. Theron ardia durante a noite. Giafar ergueu o olhar e sentiu uma violenta pancada, dada com as costas de uma pesada cartucheira, e o lançou de costas no chão. Abriu os olhos, mole, e focalizou um imponente homem, em cima de um cavalo, coberto por pesados panos e aparentemente armado até os dentes, como um autêntico terrorista trouxa. O homem jogou o turbante de lado e sorriu, mostrando debaixo de uma grossa barba seus dentes de ouro:
Há quanto tempo, senhor Templário...
Giafar cerrou as sobrancelhas e rosnou:
...Moredin...
...É uma bela cidade. – sorriu, olhando em direção ao castelo. – Bonita, cheia de riquezas. Vou adorar ser dono dela.
Giafar foi se erguer, mas Moredin, sem dó, fez o cavalo avançar e pôr as patas sobre sua barriga. O Templário berrou de dor, mas o animal não saiu do lugar. Giafar se engasgava com a saliva, enquanto tentava tirar os pés do animal de seu corpo.
Eu vou... Eu vou...
...Vai me matar, Templário?
Vou chutar a sua bunda feia. – gemeu. Moredin se sentiu particularmente ofendido. Queria uma cena dramática, mas ele lhe disse aquela bobagem.
Vou fazer cada um de vocês se arrepender de ter nascido. – rosnou Moredin, apontando a arma para a cabeça de Giafar e disparando.
Kione havia sido levada para o alto da torre do castelo, para seu quarto, para que ficasse em segurança até que tudo terminasse. Com muita coragem ela conseguiu se aproximar da varada e se apoiar na mureta. A vista lá de cima era sempre espetacular, mas não hoje: Theron, sua cidade, estava em chamas. A fumaça se levantava como um monstro, e era possível ver a movimentação. No palácio, famílias e mais famílias entravam desesperadas, procurando por abrigo. Os guardas da cidade, que usavam um terno parecido com os dos Templários, com a diferença de ser branco, não paravam. Kione olhava tudo com os olhos brilhando. Ela era, sim, Kione, mas, antes de ser Kione, era Aïsha, a jovem rainha daquilo tudo. Havia crescido ali, e a cidade era tudo para ela. Ou, deveria ser. Sempre havia sido. Aquilo lhe doía profundamente. Ela não podia fazer nada.
Zen, único Templário que ficou no palácio, se aproximou da varanda silenciosamente. Ele não enxergava, mas nada poderia ser mais triste do que sentir a aura de sua rainha nesse momento. Sua energia emanava algo muito mais dolorido que sua expressão de derrota.
...Minha rainha... – começou Zen, devagar, como sempre, sorrindo sereno. – Não fique assim...
Kione pôs a mão direita na boca para tentar segurar o choro, mas não conseguiu freá-lo tão fácil. Zen parou respeitosamente ao seu lado, cabisbaixo como sua majestade, em sinal de respeito e solidariedade.
Nós, Cavaleiros Sagrados do Templo estamos eternamente prontos para darmos nossas vidas por Theron. Cada um que mora nesta cidade é assim, sempre foi e será eternamente. E sua majestade sabe disso, e não deveria estar assim. E todos nós sabíamos que este dia ia chegar, mais cedo ou mais tarde.
Kione passou as mãos nos olhos, enxugando as lágrimas:
Sim, Zen... Eu sou Aïsha, me lembro de cada segundo. Mas... – ela correu os olhos pela cidade, para depois baixar o rosto. – Tudo isso... é culpa minha...
Aïsha, isso não é...
Não minta pra mim, Zen. É minha culpa, eu sei que é. Quando voltamos pra Theron... eu deveria ter fechado a barreira, a cidade. Deveríamos ter desaparecido para sempre no deserto. Como sempre foi. – ela apertou os olhos com força, ainda olhando o chão. – Se eu não tivesse esticado a permanência de Theron nesse mundo... Se eu não tivesse permitido... que os estrangeiros ficassem tanto tempo... já estaríamos seguros, em algum lugar...
Existem coisas, minha rainha... – sussurrou Zen. - que são inevitáveis.
Um silêncio se seguiu, rompido apenas pelo som da cidade, do fogo, e pelo vento que soprava. Kione, completamente desiludida, ergueu o rosto, olhando a cidade à sua frente:
...Pelo amor de um mortal, eu condenei todo o meu povo.
Zen demorou para saber o que poderia dizer. Era fato: se Aïsha, de certa forma, não tivesse sido Kione, as chances disso acontecer eram remotas. Mas, algo mudou profundamente na rainha. Ela, assim como os moradores de Theron, eram conhecidos como quase Deuses, Deuses e imortais. E ela, a Deusa do tempo, tinha ido ao 'mundo mortal' com sua família, perdeu-se dela, virou escrava, e se apaixonou perdidamente por um atrapalhado estrangeiro, que estava com seus amigos procurando por um misterioso Templo. Ela, quase sem querer, foi devolvida para seu reino pelos novos amigos, voltou a ser a rainha imortal, mas não deixou de amar o estrangeiro. E querer ficar o maior tempo possível ao seu lado lhe traria riscos, não para ela, mas para todo seu reino. Agora não era mais um risco. Por sua imprudência – ou seu amor – sua cidade estava sendo invadida e destruída, e não havia nada que se pudesse fazer.
Zen pôs a mão sobre o ombro de Kione, e sorriu:
Minha rainha... pelo mesmo amor... este estrangeiro está lá em baixo, tentando salvar seu povo.
Kione olhou Zen, que sorria francamente. A paz que ele passava era incrível. Ela balançou a cabeça, sorrindo penosa, e passou as mãos no rosto novamente:
Zen... você é incrível. Estou descobrindo que tantos séculos como Aïsha... não foram suficientes, há muito que se aprender...
A vida é um eterno aprendizado, majestade. A esperança e a fé são as únicas duas coisas que não se aprende: se nasce com elas.
Três bandidos entravam correndo em uma espécie de pequeno templo de orações, no meio da cidade. Eles entraram rindo, com as espadas na mão, com ouro roubado pendurado pelo corpo todo. Ao entrarem, escorregaram nas escadarias e foram parar deslizando no centro do lugar, sentindo um frio terrível. Ergueram o rosto sem entender, e deram de cara com todo o salão congelado, e com dúzias de homens como estátuas de gelo.
Que é isso...?
Por Alá! Este Templo é amaldiçoado!
Vamos correr!
Nisso uma jovem voz veio do fundo do lugar, um rapaz loiro, com olhos azuis e um sorrisinho muito maldoso, estava tranqüilo, com as mãos para trás, olhando os homens:
Não tenham pressa. Adoraria ter vocês junto da minha bela coleção.
Os homens se olharam e apontaram as espadas:
É só um menino!
Vamos acabar com ele!
Os três avançaram, como bárbaros. Malfoy deu um risinho abafado e apenas intensificou sua concentração:
Menino? Pf. Tudo bem, homens: quando chegarem ao inferno, digam ao demônio que quem lhes enviou foi um menino chamado Draco Malfoy.
A energia de névoa azul saiu de Malfoy e passou pelos bandidos como uma brisa, e eles imediatamente viraram estátuas de gelo. Um deles estava saltando, e caiu no chão, se partindo em minúsculos pedaços de gelo.
Tsc. Droga. Perdi um exemplar.
Em um beco da cidade, um círculo de bandidos se mantinha longe de uma inusitada cena: de um lado, vários corpos chamuscados empilhados, de homens gemendo de dor, ou as vezes mortos, e, do outro, uma garota ruiva, sentada tranqüila numa pilha de balaios de bambu. Ninguém parecia disposto a se aproximar.
Então... – sorriu a menina, roendo as unhas. – Alguém se candidata?
Os bandidos se olharam, largaram as armas e fugiram. Gina resmungou:
Bah. Homens. Sou apenas uma pequena garota, onde foi parar toda a virilidade deles?
Ela desceu da pilha de balaios e saiu, aparentemente em busca de 'mais diversão'.
Snape e Lupin estavam recuados, auxiliando os soldados a protegerem os moradores. Tinham certeza que os alunos dariam conta de ajudar os Templários, então se preocupavam com uma parte mais delicada, que era ajudar os idosos, os doentes e as famílias a buscarem abrigo no palácio. Não era fácil, os bandidos avançavam sem medo.
Gina encontrou-se com Rony no meio da confusão, na praça de entrada da cidade, à beira da colina. Os bandidos pareciam estar sendo, finalmente, derrotados. Mas a sombria linha de cavaleiros no alto do horizonte ainda permanecia.
...Pra onde foi todo mundo? – perguntou Gina.- Será que já vencemos?
Não sei... – murmurou Rony, arranhado, ofegante. – Estou com uma estranha sensação de...
Ora, ora, quem vem lá...
Os irmãos olharam e viram Moredin, chegando em seu cavalo, aparentemente feliz. A primeira reação de Rony foi tentar avançar, mas Gina o segurou pelo braço:
Ah, seu gordo filho da...
Porque a gente não está surpreso, heim, Moredin? – murmurou Gina.
Isso tinha que ser coisa sua. – disse Rony, apontando a espada do fogo. Gina fez o mesmo. – Vai sumir da nossa frente ou vai querer ser cozido?
Crianças. – riu o homem. – Theron está derrotada. Não há nada que possam fazer. Essa é minha cartada final contra vocês. – e ergueu o braço, empinando o cavalo. Na mesma hora a grande linha de cavaleiros avançou pela cidade.
Ah, droga... – gemeu Gina. Rony ficou em posição de ataque, mas Gina o puxou pela blusa. – Rony! Vamos!
Quê? Eu não vou fugir!
Não vamos fugir! Precisamos avisar os outros e recuarmos prum lugar seguro!
Os dois deram as costas e dispararam. Moredin bateu as esporas no cavalo e correu atrás deles:
Onde pensam que vão, garotos? Esperem por Moredin!
Rony, corre! Não olhe pra trás! – berrou Gina, os dois correndo loucos pela larga rua principal.
Moredin ergueu a espada que tinha na cintura com força:
Vamos ver o que essa espada enfeitiçada pode fazer...
Ele desceu um golpe da espada, que passou longe dos garotos, mas dela saiu um arco brilhante, que atingiu as costas de Rony em cheio e jogou ele e Gina há uns bons 50 metros de onde estavam. Os dois rolaram pelo chão, levantando poeira. Moredin riu satisfeito e agachou-se no cavalo, com a espada em punho:
Vamos continuar a divers... POR ALÁ!
O cavalo de Moredin empinou violentamente pra trás e o jogou de costas no chão: a poucos metros dos garotos um gigantesco dragão azul metálico pousava, e dava um urro monstruoso na cara do cavalo, apavorando o animal – e seu condutor.
Rony arregalou os olhos, gaguejando, enquanto Gina o levantava, se recuando, para se afastar da cauda espinhosa do dragão, que balançava de um lado para outro. O animal abaixou a cabeça, fitando longamente o homem. Não atacou, porque os cavaleiros que estavam na colina – homens grandes, com uniformes vermelho e branco - avançavam na cidade. Eles eram os bandidos mais famosos e terríveis dos desertos: eram os 'chacais de rubi', homens perigosos, habilidosos, bruxos traiçoeiros, que destruíam tudo que decidiam tocar.
O dragão olhou para Gina e Rony e abaixou a cabeça, para que os irmãos subissem: e foi o que fizeram. Ele bateu as grandes asas e levantou vôo, indo em direção ao palácio. Gina, olhando pra trás, gritou, agarrada às escamas e aos espinhos do animal:
Isso foi ordem dos professores, suponho...
O dragão respondeu com um 'sim' feito com a cabeça.
O dragão entende? – espantou-se Rony. Gina riu:
Claro que foi uma ordem dos professores, você não estaria tão mal a ponto de nos resgatar e bater em retiradaaaaaaaaaaaaaa...!
Ao escutar a gozação, o dragão girou no ar, jogando Rony e Gina do alto de suas costas pra dentro de um dos lagos que tinham dentro do castelo, ao lado dos professores e Templários, que estavam reunidos. O dragão pousou suavemente e se transformou.
Malfoy! Cretino! – xingou Rony, ainda espantado com a revelação.
Protegeremos Theron daqui de dentro. – resmungou, chegando, de braços cruzados.
Bom, de qualquer forma... – disse Gina, tirando as algas da cabeça. – Obrigada pela carona.
Os arqueiros de Theron se posicionaram no alto das muralhas. Os bandidos que não encontravam mais nada avançavam no castelo, e eram abatidos rapidamente pelos arqueiros. Do outro lado, os Templários e os estrangeiros apenas observavam. Até os Chacais de Rubi aparecerem.
Ah, não... – gemeu Giafar, que havia se recuperado do tiro de Moredin há pouco tempo, e ainda recuperava suas forças.
Os Templários desceram correndo, mas chegaram tarde. Os chacais apearam dos cavalos e correram velozes como leopardos para as muralhas. As flechas não os acertavam. Eles se aproximaram, puseram os pés no muro e com um impulso forte, saltavam para cima, como se voassem, para as muralhas. Usavam armas como bestas presas aos punhos, e ao subirem, apontavam para os arqueiros, num tiro certo. Os arqueiros caíam mortos, e os chacais pousavam em segurança na muralha, entrando no palácio.
Os Templários abriram os portões do castelo e saíram rápido, para enfrentarem os que ficaram para trás. Os Chacais pareciam mesmo estar atrás de diversão, porque recuaram para fora, atrás dos Cavaleiros Sagrados, deixando apenas três entrarem no castelo.
Eles entraram! – berrou Rony, mas Lupin o puxou:
– Existem Templários lá dentro, vamos ficar aqui fora e acabar com esses Chacais.
Os Chacais entraram no palácio e deram de cara com Kione, sozinha.
Vocês assinaram sua sentença ao colocarem os pés nesse castelo. – disse, despreocupada.
Os Chacais tiraram as espadas da cintura:
...Aïsha...
Vamos levá-la. – resmungou um.
Vamos matá-la. – disse outro.
Ninguém toca nela. – disse Moredin, entrando montado em seu cavalo, no palácio. Kione prendeu a respiração ao ver seu 'antigo' senhor. – Eu vim até aqui para realizar meus objetivos, e não voltarei sem fazê-lo. Queria conquistar Theron, a cidade está em chamas aos meus pés. Agora só falta acabar com você...
Kione deu um passo para trás, enfurecida. Um vulto preto, como uma bala, tentou acertar um dos Chacais, que apenas moveu a espada, e o rebateu; era Kaminari, batendo de costas com força na parede.
Ai, ai, ai, ai, ai! – gemeu, com as mãos na cabeça – Isso doeu!
Tsc, é só um menino! – resmungou o Chacal.
Meninos não! – berrou tem. – Templários!
O garoto avançou em um dos chacais, e o derrubou no chão, para depois saltar e ficar na frente de Kione. Kaminari se levantava e saltava para o lado do irmão:
Se não saírem daqui faremos picadinho de vocês!
Eles estão falando sério... – disse Zen, aparecendo atrás dos homens, pela primeira vez, levemente bravo. – Saiam de Theron, antes que seja tarde.
Matem todos! – berrou Moredin.
Os três Chacais avançaram nos três Templários.
– Rainha! – gritou Zen, defendendo-se de um forte golpe de espada. – Para seus aposentos! Sabe o que fazer!
Não... – sussurrou Kione. - ...Não posso deixá-los aqui.
...Deixe-nos! É perigoso! – gritou, saltando para longe, tentando se livrar do Chacal, que já lhe ferira o braço. – Lembre-se da nossa ligação com o palácio!
No momento em que ele disse isso, Ten e Kaminari avançavam ferozes num dos Chacais, e com um ataque na barriga e outro na cabeça, o bandido tombava, imóvel, com o pescoço quebrado. Os irmãos saltaram ligeiros no chão, sorrindo aliviados:
Um já foi...
Ten, CUIDADO! – berrou Kaminari.
O segundo Chacal, rápido como um raio, virou-se, aproveitando a brecha, e atravessou o garoto com sua espada. Segurou o pequeno pela gola, a espada ainda em sua barriga:
...Pequei você, menino maldito...
Ten tossiu e cuspiu sangue, sentindo suas forças desaparecerem rapidamente. Mas, antes disso, esticou as duas mãos na cara do homem:
...Você não vai se sair dessa, tio.
E, com uma violenta explosão, mandou o homem longe, com espada e tudo. Seu corpo tombou no chão do palácio, enquanto Kaminari saltava no irmão:
Ten! Ten! Ten! – berrava, segurando os ombros do irmão gêmeo. – Abra os olhos, Ten!
Kione correu de encontro ao rapaz, e o terceiro Chacal foi jogado longe por Zen, que se enfureceu. O Templário cego correu até o garoto e ergueu sua cabeça:
Ten, fale comigo...
O menino já estava com a cabeça tombada, mole, de lado. Zen concentrou sua energia numa esfera azul e tocou o peito do garoto. Mas não obteve resposta.
...Não... – sussurrou. – ...Tarde demais...
Kaminari rompeu em lágrimas, desesperado pelo irmão morto tão subitamente.
Zen se abaixou, em silêncio, quando o último Chacal avançava. A espada bateu com violência numa barreira, e ele recuou, assustado. Uma forte aura explodiu do corpo de Zen, e ele se ergueu, curvado, e endireitou o corpo, visivelmente enfurecido:
Vocês não merecem perdão, Chacais. Vocês não compreendem a pureza de uma criança, a beleza da vida... Vocês não são animais, vocês não são homens. Vocês são aqueles que trazem as trevas e o sangue dentro dos seus corpos vazios. E merecem receber em troca na hora da morte... todo o mal que fazem.
Kaminari, ainda chorando, recolheu o irmão nos braços. Kione, com os olhos cheios de água, olhava Zen, assustada. Virou-se e abaixou-se em Ten, passando a mão no rosto de Kaminari, que chorava sem parar, alheio à batalha.
Kaminari, vamos tirar seu irmão daqui...
Kamirari ergueu os olhos e apontou para Moredin, que, do outro lado do salão, armava um arco e flecha:
Aïsha, CUIDADO!
Kione olhou para trás, e a flecha de Moredin zuniu, enterrando-se no seu lado direito das costas. O garoto se encolheu assustado, quando ela deu um berro de dor, se erguendo, sentindo a pontuda flecha rasgar sua pele e se alojar na carne, entre as costelas, e, dessa vez, sem as criaturas que lhe cicatrizavam.
Ela imediatamente segurou a dor, pôs a mão na flecha, e, rangendo os dentes, a arrancou com força. Nessa hora Zen aparecia na frente deles, sem conter a fúria:
Saia daqui, minha rainha. – disse Zen. – Vossa majestade não merece ver o que irá acontecer agora.
Kione, respirando ofegante por causa da dor, correu na direção das escadas, e Moredin a seguiu. Antes que Zen o atacasse, o último Chacal o bloqueou, deixando o comerciante com o caminho livre.
Os Templários travavam uma batalha dura contra os Chacais: os estrangeiros também. Os Chacais eram adversários poderosos, habilidosos. Eles davam tempo para que os bandidos que haviam restado pudessem se recuperar e voltar a destruir a cidade.
Estamos perdendo. – gemeu Lupin, lutando ao lado de Snape.
Não vamos morrer nesse lugar. – rosnou Severo. – Nem que pra isso tenhamos que fugir daqui.
Eu não vou abandonar Theron! – berrou Gina, longe deles, como se tivesse escutado, de alguma forma. – Eles não merecem ter esse fim!
Vou congelar esses caras e picar eles como flocos de neve. – resmungou Draco, atacando sem parar.
Rony estava recuado, no muro do palácio, lutando ferozmente. Eles, desde o início, estavam usando todas as suas energias, e agora ele sentia sua grande marca no braço arder como fogo. Então Kaminari apareceu correndo entre eles, gritando:
Ten está morto! – gritou para os Templários. – Mataram meu irmão! E Zen está atrás de Moredin, ele entrou no castelo e quer se vingar de Aïsha!
Giafar se desconcentrou e levou um forte golpe de espada no peito, lhe cortando profundamente.
Protejam Aïs... – não teve tempo de gritar, porque outro golpe lhe cortava novamente, o jogando de costas no chão, quase dividido ao meio.
Giafar! – gritou Lupin. – Mas que...
Para o palácio! – berrou Yoru. – Protejam Aïsha!
Foi a vez de Rony se enfurecer. Snape olhou o aluno, que literalmente ardia em chamas:
PROTEJAM-SE! – foi a ordem berrada pelo professor.
Kione entrou correndo no seu quarto e se apoiou na cama. O ferimento feito pela flecha de Moredin ardia, tirava as forças de seu corpo, como se ele tivesse enfeitiçado a arma. O que realmente deveria ser verdade. Sua vista escurecia, ela estava atordoada. Quase tropeçando, ela foi até a borda da varanda e se apoiou, olhando para a cidade, para depois escorregar e se sentar, encostada na mureta. Moredin a alcançou, e parou na saída do quarto para a varanda, com o arco e flecha nas mãos. Kione o olhou de lado, para se erguer devagar, apoiada na borda da varanda.
Estas flechas foram feitas especialmente para você, mulher. – murmurou Moredin, com olhar feroz.
Kione, respirando fundo, falou, cínica:
Não perca seu tempo tentando me agradar... senhor Ali.
Moredin, com o rosto contorcido de ódio, mirou uma grossa flecha em Kione:
Essa flecha é especial, e eu guardei pra esse momento. Não para você, mas para mim.
Vai me matar? Depois vai fazer o quê?
Não lhe interessa. Apenas irei limpar minha honra que você sujou.
Sujei? Nada pode ser mais sujo que você por si só, Moredin.
De que adianta ser rainha de Theron, se ainda fala com voz medrosa ao se referir a mim? – sorriu Moredin. Kione estremeceu.
Não tenho mais medo de você, senhor Moredin Ali. – a cada frase que ela falava, sem tirar os olhos de Moredin, Kione ia se debruçando na mureta, escalando-a cada vez mais.
Vai se atirar daqui de cima, Kione? – rosnou Moredin, esticando o fio do arco e apontando a flecha. – está escolhendo se quer morrer se jogando de seu quarto real ou pela minha flecha? Ou por acaso está com medo de morrer?
Nunca tive medo da morte; morri mais de uma vez. – Disse Kione, fitando Moredin desafiadoramente. – Morri quando minha família morreu, quando me tornei sua escrava, morria a cada noite em que você me violentava, a cada surra que eu levava sem culpa. Até, Moredin, que eu resolvi morrer de verdade, por alguém que merecia todo o meu sacrifício. E, quando eu morri por amor, eu descobri que eu não deveria nunca ter morrido tantas e tantas vezes por alguém que nunca valeu nada.
Moredin cerrou os dentes como um animal selvagem, e berrou:
MINHA FLECHA VAI PERFURAR VOCÊ ANTES QUE SALTE, KIONE! VOCÊ VAI MORRER PELAS MINHAS MÃOS ANTES DE CHEGAR NO CHÃO!
Kione sorriu:
Carregue essa frustração pro resto da sua medíocre vida, senhor Moredin: você nunca vai conseguir me matar.
E saltou. Tudo aconteceu como se fosse em câmera lenta, para os dois.
Moredin gritou e disparou a flecha. Ela brilhou, e se dividiu em outras três, que fuzilaram o peito de Kione, no ar. Ela fechou os olhos e se entregou completamente á queda, e desapareceu na escuridão, entre a fumaça dos incêndios.
O comerciante, após alguns instantes, baixou o arco, e se sentiu muito cansado. Correu até a borda da varanda, e viu a cidade em chamas, e nem sinal de Kione. Ele sabia que deveria rir agora, gargalhar alto, como um louco, mas não conseguia. Alguma coisa lhe dizia que a escrava tinha razão: ele, mais uma vez, tinha fracassado. Fitou a cidade ardendo, e notou que, de repente, a gigante fumaça negra e as labaredas se mexiam, mudavam de forma, como se bailassem, girando para se reunirem. E, em seguida, do centro de Theron em chamas, um gigantesco dragão de fogo se ergueu.
