A/N: Mais uma vez, muito obrigada pelas vossas reviews, Natalie, Amanda e Luana e Lady Etrusca! Já vos disse que vocês são muito simpáticas? Merecem um prémio por acompanharem as minhas pobres tentativas de escrever um romance policial ;P
Lady Etrusca: Já emolduraste a tua foto do James Dean? ;D
Disclaimer: Nada me pertence, só o enredo da história. E os cigarros do Saitou também são meus, só porque já me disseram que têm piada.
Num espaçoso quarto de hospital, as paredes pintadas de branco refectiam violentamente a claridade que entrava pela janela e que contrastava com a disposição escura e sombria que reinava no interior. Aoshi e Saitou mantinham-se silenciosos perto da porta e olhavam ambos fixamente na mesma direcção: para uma das camas da enfermaria, aliás, a única que se encontrava ocupada.
"Quando podemos falar com ela?" perguntou o impassível Aoshi ao médico, que mexia agilmente nos sacos de soro.
"Agora está sedada, receio que ainda vão ter de esperar bastante."
Na cama jazia Kaoru Kamiya, que havia dois dias que não dava acordo de si. A ausência de ferimentos graves não impedira que a jovem rapariga apenas fosse capaz de murmurar palavras ininteligíveis, quando a haviam encontrado. Fisicamente, apenas sofrera alguns cortes superficiais. Psicologicamente, temia-se que os efeitos do ataque tivessem sido bastante mais graves. Agora dormia sob o efeito de sedativos, que haviam devolvido a calma à sua pálida face emoldurada por longos cabelos negros, tão semelhantes aos de Tomoe.
"Este caso está a revelar-se mais complicado do que parecia à primeira vista." admitiu finalmente Saitou. "Tomou dimensões nunca vistas aqui na cidade."
"Está a admitir que afinal é capaz de precisar da minha ajuda?" perguntou Aoshi maliciosamente, embora sem um sorriso.
"Que disparate. Não estou a dizer nada disso." Saitou sorriu de uma forma quase feroz, o que o fez parecer-se a um lobo mais do que nunca. "É um desafio para mim. Um teste, nada mais. Quanto mais difícil for... maior a recompensa."
"Que recompensa?" Aoshi começara a pensar que o polícia tinha subitamente perdido o juízo.
"Vê-se mesmo que tu não estás nisto por gosto. Se calhar o teu pai foi polícia e querias seguir-lhe as pegadas. Que comovente." troçou Saitou, olhando-o de lado e provocando-o com um meio sorriso de desdém. "Eu sim, estou nisto por gosto. Punir criminosos, é o que quero fazer. Aku. Soku. Zan 1 Delito, punição expeditiva. Isso é a minha recompensa."
«Agora é que não tenho dúvidas de que o homem perdeu a cabeça. Há gente que não davia andar por aí com uma arma à cintura, e este é uma dessas pessoas.»
"Em que pensas, Shinomori?"
"Nada." mentiu. "É só que, se ela não acordar depressa..."
Não conseguiu terminar a frase porque foi interrompido pela abertura súbita da porta. Era Kenshin Himura.
"Ah, Himura, que bom ver-te." exclamou Saitou, num tom trocista. "Que bons ventos te trazem?"
Mas Kenshin não o ouvia; em vez disso, estava concentrado no magro corpo debaixo dos lençóis.
"Como está ela?" perguntou ele a Aoshi, conseguindo o feito notável de ignorar o polícia fumador.
"Bem, mas ainda em choque. Não diz duas palavras com sentido."
"Então suponho que ainda não conseguiram nenhuma pista que aponte para o criminoso...?
"Lamento, Himura-san, mas não."
Kenshin suspirou inaudivelmente, puxou uma cadeira e sentou-se perto da cama onde Kaoru estava deitada.
"Himura, o que pensas que vais fazer?" inquiriu Saitou num tom desagradado.
"Ficar com ela." respondeu o ruivo sem sequer se dignar a olhá-lo. "Quando acordar, é bem possível que diga alguma coisa sobre o assassino. Quero ser o primeiro a ouvir..."
"E para quê?" cortou Saitou, olhos cor de âmbar brilhando perigosamente. "Fazer justiça pelas tuas próprias mãos? Se for o caso, fazes-me a vontade. Era da maneira que ias parar mais depressa com os ossos à cadeia, que era onde já devias estar há muito tempo."
A Aoshi não escapou toda a amargura e animosidade contidas nas palavras do polícia. Houvera, com certeza, algo no passado daqueles dois que cavara um fosso de desentendimento entre ambos. Talvez desentendimento fosse até uma palavra demasiado leve para o descrever. Não conseguia ainda perceber do que se tratava, mas um dia... «Não há-de tardar muito que esta inimizade se revele na sua plenitude.» meditou Aoshi. «E, quando isso acontecer, talvez termine em desgraça... para um deles ou para ambos.»
XxXxXxXMais tarde, já na esquadra, Sanosuke entretinha-se a importunar Saitou com perguntas acerca do estado de Kaoru.
"Vais-te calar?"
"Mas diz lá... falaram com ela? Eu também tenho o direito de saber! Também estou a trabalhar no caso!"
"Isso pode ser mudado agora mesmo... ponho o Chou no teu lugar e fica tudo resolvido. Apesar de ele ser tão idiota como tu, pelo menos não fala tanto."
"O Chou? Esse cabeça de vassoura?" vendo o olhar de Saitou, Sanosuke achou por bem desistir e calou-se, não sem deitar a língua de fora ao polícia mais velho, num gesto um tanto infantil. Isso fez Aoshi voltar a questionar-se acerca da idade do rapaz e ia perguntar justamente isso quando Chou entrou na sala.
"Está aqui um miúdo que diz que é aluno do dojo. Quer falar com os responsáveis pelo caso. Mando-o entrar?" anunciou ele.
"Manda-o mas é embora, não tenho paciência para aturar miúdos agora." ordenou Saitou, revistando todos os bolsos no seu uniforme em busca de um maço de cigarros.
"Quem é que queriam mandar embora?" perguntou uma voz vinda de perto do chão.
Olharam todos para baixo e viram um rapaz de cerca de 10 anos a arrastar-se para dentro da sala por entre as pernas de Chou. A princípio só era possível ver o seu cabelo escuro todo espetado e a espada de bambu que trazia às costas, mas depois o pequeno rapaz levantou-se e endireitou-se com um sorriso desafiador.
"Iam mandar-me para casa sem ouvirem o que tenho para dizer?"
"Yahiko! Era suposto esperares lá fora!" ralhou Sanosuke.
"O quê, este fedelho está contigo?" perguntou Saitou, sacudindo a cinza do seu cigarro de propósito para cima de Sano.
"Não...! Quer dizer, prometi que o levava ao dojo depois de te arrancar algumas informações à força."
"Estou a ver."
Yahiko virou-se para Aoshi.
"És tu o tal agente federal?" perguntou.
Aoshi amaldiçoou a sua vida. Desde que chegara àquela cidade toda a gente o desrespeitava; agora até um puto o tratava como se o conhecesse de algum lado. Tudo aquilo começava a enervá-lo. Precisava urgentemente de um café e uma aspirina.
"Sim." respondeu calmamente, fechando os olhos e esfregando a testa com os dedos, ordenando mentalmente à dor que o importunava que desaparecesse. "O que querias dizer-nos?"
Yahiko assumiu uma pose previamente estudada, fazendo-se de importante. Tossiu levemente para aclarar a voz e começou.
"Vocês talvez não saibam, mas quando a Tomoe já estava desaparecida há um dia, a Kaoru foi à procura dela. Disse que voltava para dar as aulas da tarde mas não chegou a voltar. Estava desaparecida desde essa altura... até agora."
Saitou continuava a fumar impassivelmente, mas notava-se bem que escutava Yahiko com uma atenção aguda e calculista. Talvez o miúdo não fosse tão inútil assim...
"E o Himura-san, onde estava? Porque não participou o desaparecimento dela?" inquiriu Aoshi. "Aliás, de ambas?"
"O Kenshin anda sempre na lua! Pensou que a Tomoe tinha decidido fugir por causa de uma discussão estúpida que eles tinham tido, por isso estava convencido de que a conseguia encontrar..." Yahiko riu, divertido, não se apercebendo do que o que acabara de dizer era totalmente desconhecido pelos seus interlocutores e que prejudicara grandemente a credibilidade de Kenshin. "O que foi?" perguntou, atemorizado, ao notar as caras sérias dos polícias.
"Nada." descansou-o Sanosuke, enpurrando-o suavemente na direcção da porta. "Vamos para o dojo, senão ainda chegas atrasado à aula."
Quando ambos saíram, Saitou virou-se para Aoshi.
"Parece que afinal o Himura não é bem o que parecia..."
Aoshi fez um gesto impaciente e respondeu:
"Numa investigação de homícidio, raramente alguém é o que parece e ninguém diz a verdade. Devias saber isso."
Com estas palavras, abandonou a sala para ir tomar um café ao restaurante da família Makimachi, que ficava mesmo ao lado da esquadra. A sua estadia naquela cidade parecia condenada a prolongar-se indefinidamente e agora era a altura certa para começar a fazer as coisas andarem ao seu ritmo. Iria começar por Misao e, quando acabasse, esperava ter extraído dela tudo o que ela estivesse disposta a dizer e até o que não estivesse.
1 "Aku. Soku. Zan." significa literalmente algo como "Matar rapidamente o Mal" -"Kill Evil swiftly". Como a tradução nestes casos pode ser fluida, apareceu neste capítulo como "Delito, punição expeditiva", que é uma versão também aceite e usada na tradução francesa de Rurouni Kenshin.
A/N: Já sabem, reviews são bem-vindas ;)
