A/N: Desculpem-me por um minuto enquanto eu rogo pragas a este site! Com toda aquela conversa de (finalmente) permitir fics em todas as línguas e mais algumas, continua uma porcaria: como já devem ter percebido, não me deixa usar travessões no início das frases, de modo que tenho de escrever à maneira inglesa, com aspas. E, se virem palavras pegadas umas às outras ou com acentos estranhos, já sabem de quem (neste caso, de quê) é a culpa.

Agora sim, vamos a assuntos sérios! Muito obrigada a toda a gente que deixou uma review:

Lady Kaoru Himura: Uma compatriota! Como vai isso? ;P Fico feliz por gostares da fic e muito obrigada pela review!

Amanda e Luana: Caracterizei a Megumi nesse aspecto 'atiradiço' com base no que ela costumava fazer quando competia com a Kaoru pela atenção do Kenshin ;D Mas não te preocupes, ela não vai exagerar em relação ao Aoshi :)

lere: Partilho a tua preocupação pelo futuro da nossa língua. Mas o que não imaginava era que esta minha modesta história suscitasse tamanhos elogios! Muito obrigada, e espero que continues a acompanhar a fic :) Quanto à minha escrita, podes 'culpar' o meu pai: ele é professor de Português e nunca me deixou falar ou escrever com erros... eu antes achava-o chato mas agora só tenho é que lhe agradecer, está visto!

Natalie: Não tens de quê :) Eu só quero agradar aos meus leitores ;P

Lady Etrusca: Tudo bem? Obrigada por leres e espero que este capítulo também te agrade!

Disclaimer: Repitam comigo: RK não me pertence! Lindos meninos!


Aoshi esperava pacientemente, estendido na cama do seu pequeno quarto no albergue Aoi-ya, que Saitou o fosse buscar para irem ambos ao funeral de Tomoe Himura, que se realizaria daí a menos de uma hora. Na noite anterior, antes de ser enxotado para fora da esquadra pelo irritante polícia fumador, apoderara-se da pasta que continha os detalhes do caso, agora um pouco mais cheia do que estivera ao princípio. Tencionara ler tudo antes de se deitar mas, como está mais que provado que "de boas intenções está o Inferno cheio", acabara por adormecer após duas páginas apenas.

Levantando os olhos cansados e sonolentos das folhas dactilografadas, permitiu à sua mente uma curta pausa para vaguear livremente; arrependeu-se em seguida, pois os seus pensamentos fugidios acabaram por se fixar numa das poucas coisas que ainda o conseguiam irritar: a jovem Misao Makimachi. Embora estivesse instalado no restaurante-albergue Aoi-ya, onde sabia que ela também vivia, não lhe tinha posto a vista em cima desde aquela última conversa que ambos haviam tido. Escusado seria dizer que a rapariga nunca chegara a aparecer na esquadra, como Aoshi lhe tinha pedido que fizesse; talvez fosse isso que o punha tão perturbado à simples menção do nome dela. Não estava habituado a que o desafiassem e desobedecessem, muito menos que o evitassem. O que, naquele momento, parecia estar a acontecer, tudo ao mesmo tempo.

«Pode ser que a consiga arrastar para a esquadra depois do funeral.» meditou calmamente. Essa era, aliás, a única razão pela qual iria àquele funeral que, no fundo, não lhe dizia respeito. O lugar dele não era naquela cidade, coisa toda a gente insistia em lembrar-lhe.

Baixou o olhar de novo para os documentos que tinha na mão e suspirou. Quase lhe apetecia raciocinar em voz alta, como tantas vezes fazia no seu pequeno apartamento em Kyoto, sempre que tinha em mãos um caso particularmente difícil; mas nunca era demais recordar-se que não estava em sua casa e que, se se pusesse a falar sozinho, seria provavelmente ouvido através das finas paredes da Aoi-ya e passaria a ser apelidado de maluco entre os habitantes de Toba. Impacientemente, fechou a pasta e atirou-a para a secretária, próxima da cama; foi então que reparou numa fotografia solitária caída no chão, sem dúvida ali desde a noite passada, quando adormecera sem se preocupar em arrumar tudo. Apanhou-a e recostou-se nas almofadas, observando-a com redobrada atenção. Devido à inexplicável falta de fotografias exclusivamente da vítima, Saitou vira-se obrigado a recolher fotografias algo casuais, familiares. Naquela, em particular, podiam ver-se Tomoe e Kenshin, sorridentes e abraçados um ao outro, na frente do dojo onde viviam e davam aulas. Rodeando-os encontravam-se Misao e Kaoru, esta última importunada por Sanosuke, que ostentava uma espinha de peixe pendurada da boca. Sentado, à frente do grupo, estava o rapaz que aparecera na esquadra no dia anterior («Yahiko, não era assim que ele se chamava?» Aoshi questionou-se), com um sorriso malandro nos lábios e uma katana de lâmina cintilante desembainhada nas suas pequenas mãos.

Talvez a cena familiar lhe tivesse despertado memórias indesejadas; talvez se lamentasse intimamente por estar só; talvez se culpasse por ter afastado de si todos os que algum dia o haviam amado ou gostado dele. O certo é que não suportou olhar mais para aquela fotografia, que acabou por arrumar junto com o resto dos papéis.

Saitou certamente estaria quase a chegar; devia preparar-se.

XxXxXxX

Enquanto o caixão de madeira clara, suave e polida era lentamente descido para o interior da funda vala, pouca gente estava chorosa. Saitou e Aoshi eram os que se mostravam mais indiferentes: o primeiro não parava de fumar, como era habitual; o outro entretinha-se a observar as pessoas que o rodeavam, estudando cada uma à vez e muito atentamente. Kenshin Himura mantinha o olhar fixo no caixão que continha o corpo da esposa, que uma vez havia sido o suporte da sua jovem e descuidada alma. As mãos de Misao encontravam-se pousadas nos ombros de Yahiko, que ostentava um ar indiferente no esforço para se impedir de chorar; Misao não fizera tal tentativa: era, portanto, uma das poucas pessoas que chorava.

"Porque é que julgas que ninguém parece muito triste, Shinomori?" inquiriu Saitou em voz baixa, num tom irónico.

"Depois de tantos dias para se habituarem à ideia, era de esperar." Aoshi observou. "O facto de se ter tratado de um assassinato brutal leva a que as pessoas se dediquem mais a projectar a sua raiva no assassino do que, propriamente, a chorar por quem morreu."

"Mas que bem." Saitou soltou uma risada discreta. "Além de polícia, és também psicólogo? És um poço de surpresas, tu."

Aoshi preferiu ignorar o sombrio chefe da polícia, que parecia nutrir tanto respeito pelos mortos como pelos seus subordinados... o mesmo seria dizer, nenhum.

Sanosuke, imóvel ao lado de Kenshin, olhou-os com uma expressão assassina.

"Vão-se calar? Isto é um funeral!" admoestou-os.

"Muito obrigado, seu idiota." replicou Saitou. "Ainda não tinha percebido."

O caixão fora já escondido da vista de todos e a vala encontrava-se, de novo, cheia de terra; as pessoas começavam a afastar-se lentamente. O mesmo fizeram os três polícias, que se encaminharam de imediato para o hospital, a fim de interrogarem Kaoru.

"Permite-me discordar da bela análise psicológica que fizeste ali atrás." murmurou Saitou subitamente, de modo a que só Aoshi pudesse ouvi-lo. "Se ninguém parecia triste, é porque, muito provavelmente, ninguém o estava."

Sem conseguir tirar o sentido daquela afirmação enigmática, Aoshi estacou em frente à entrada do hospital; Saitou olhava-o com uma expressão perigosa. Até ali, tudo o que ouvira fizera-o crer que toda a gente gostara da vítima. A menos que...

"Exactamente, Shinomori, muito bem. A menos que estivessem a mentir." completou o polícia, que agora puxava de outro cigarro, como se lhe tivesse lido os pensamentos. "Ou já te esqueceste do que me disseste? «Durante a investigação de um homicídio, ninguém diz a verdade»?"

E, sem mais uma palavra, empurrou a porta metálica, branca e brilhante, e entrou no hospital, seguido por Sanosuke, que não tinha prestado nenhuma atenção à breve troca de palavras entre os dois polícias mais velhos.

XxXxXxX

"Quantas vezes preciso de dizer que não me lembro de nada?" barafustava Kaoru, tornando infrutíferas todas as tentativas feitas pelos polícias no sentido de a interrogar.

"Não se arme em parva." ameaçou Saitou, embora o seu tom de voz não denotasse qualquer agressividade. "Quer convencer-nos que, depois disto tudo, não é capaz sequer de se lembrar do seu atacante?"

"Isso mesmo." confirmou a rapariga.

Saitou emitiu um som impaciente de descrença, mas não insistiu. Megumi, que se encontrava sentada junto a Kaoru desde que ali tinham chegado, levantou-se e, por fim, decidiu falar.

"Chama-se amnésia pós-traumática, Saitou-san. É possível que, durante alguns dias, ela não se consiga lembrar do que lhe aconteceu. Na maior parte dos casos, no entanto, a memória das vítimas volta passado pouco tempo."

"Alguém pediu a sua opinião?" retorquiu Saitou. "Limite-se a abrir cadáveres e ver-lhes as entranhas e não se meta em assuntos da polícia."

Megumi, indignada, abriu e fechou a boca várias vezes, aparentemente sem encontrar as palavras certas para aplicar naquela situação. Desistindo de as procurar, avançou na direcção de Saitou com os punhos fechados. Fosse aquilo um filme e Megumi um homem, Aoshi tinha a certeza que ela estaria a arregaçar as mangas e a preparar-se para uma cena de pancadaria.

"Takani-san, acalme-se." disse o agente, detendo-a com o braço.

"E quer você que eu me acalme! Não ouviu o que ele..." apontou para Saitou, esboçando largos gestos de repulsa. "...o que ele me disse?"

"Deixemos isso agora." interrompeu Sanosuke, agindo como a voz da razão pela primeira vez na sua vida. "Viemos aqui para interrogar a Kaoru, certo?"

Subitamente recordados da presença da jovem rapariga, todos os olhares se fixaram na magra figura sentada na cama. Kaoru olhou-os, desafiadora, embora um pouco embaraçada.

"Eu prometo," começou ela. "que quando me lembrar do que aconteceu, vocês serão os primeiros a saber. Satisfeitos?"

"É bom que assim seja." Saitou caminhou lentamente em direcção à porta. Pousando uma mão no puxador, virou a cabeça para trás. "Porque senão... as coisas ficarão muito mal para o seu lado."

Saiu.


A/N: Espero que este capítulo tenha agradado a todos! O próximo capítulo estará disponível em breve :)