A/N: Ainda bem que este capítulo não demorou tanto como o anterior :D Muito embora eu devesse estar a trabalhar noutras coisas (ai de mim!), aqui está o Capítulo VIII.
Natalie: Obrigada pelo encorajamento :) Sim, eu não podia deixar o Sou-chan de fora! E pobre Misao ;)
Lady Ocean: Não faz mal teres-te perdido ;) Fico contente por ainda gostares da fic. Agora, as tuas perguntas: a) se te referes ao "pintor maluco", esse era o nosso caro Shishio; b) não, a Kaoru não é irmã nem qualquer outra familiar da Tomoe. Obrigada e continua a ler :D
Lady Etrusca: Então, como vai isso? A contagem de vítimas do monstro dos etruscos já voltou a aumentar? Desmembramentos é comigo, já sabes ;) E viva o Saitou, já vi que te tornaste fã dele (junta-te ao clube!).
makimachi: Pois, a história dela tem muitas falhas. Mas tem mesmo de ter, senão o mistério desvendava-se depressa demais ;P Obrigada e continua a ler!
lere: E o pobre Sou-chan foi mais uma vítima do salutar intercâmbio linguístico ;D A tua review fez-me rir também, por isso estamos quites! A verdade é que a situação é-me muito familiar: estive com uma rapariga brasileira este Verão e ela, nunca tendo ouvido outra pessoa falar português de Portugal, ria-se muito da minha pronúncia e de certas palavras como camisola (que para nós é uma T-shirt ou algo que o valha e ela dizia que no Brasil era uma camisa de noite...) e casa-de-banho. E eu achava piada ao facto de ela chamar "café-da-manhã" ao que nós vulgarmente designamos por "pequeno-almoço", mesmo quando o dito cujo nem sequer incluía café. Enfim, bons tempos... ;) Em relação à história, a participação algo insuficiente do Kenshin vai ser remediada agora que a Kaoru saiu do hospital. Esse facto (o de ele, até agora, ter aparecido pouco) teria passado despercebido se os capítulos fossem mais longos. Mea culpa. Ou culpa da minha preguiça ;) Muito obrigada por leres e... até à próxima :)
Amanda e Luana: Obrigada pela entusiástica review! Já sei que, para as cenas românticas entre o Aoshi e a Megumi, posso sempre contar com o teu apoio... hehe ;P
Disclaimer: RK não me pertence. E ainda bem porque, caso contrário, não teria metade do sucesso que teve.
À saída da cidade, na orla do denso bosque, ficava um edifício de aspecto duvidoso com um letreiro luminoso por cima da porta onde estava escrito, em cores berrantes, Salon Kitty. Soujiro ouvira já falar naquele sítio mais vezes do que as que conseguia recordar, mesmo vivendo a alguns quilómetros de Toba. O segredo do sucesso do lugar estava no facto de este proporcionar divertimentos aos homens que os pudessem pagar: era um bordel de luxo, bem famoso, por sinal.
A sua curta experiência como psicólogo criminal ensinara Soujiro que os assassinos de mulheres poderiam, eventualmente, ser vistos em locais de reputação ingrata como aquele. Contudo, algo lhe dizia que este assassino em particular se encontrava muito longe de prazeres tão terrenos. Saitou não o levara a sério; Soujiro apenas podia, nesse momento, contar com detalhes escritos em páginas e páginas de papel e sabia bem que isso não lhe bastaria para traçar um perfil do criminoso, como tão bem tinha sido ensinado a fazer. Aquele parecia, à falta de melhor, um bom sítio para começar.
E não negaria que sentia curiosidade em conhecer este Salon Kitty por dentro.
XxXxXxXxX"O que temos aqui...?"
Uma mulher atraente olhava-o com curiosidade de trás do balcão. Usava um vestido vermelho e preto com um decote muito pronunciado, que realçava maravilhosamente a sua pele muito branca e lisa. Com longos cabelos castanhos-escuros apanhados no alto da cabeça, feições regulares e perfeitas, olhos sedutores e lábios cuidadosamente pintados, era sem qualquer dúvida bonita. O facto de andar, certamente, perto dos trinta anos em nada a desfavorecia, apenas evidenciava a sua maturidade e sensualidade. Soujiro sorriu-lhe delicadamente.
"Bom dia. Estou apenas de passagem." informou.
"Tu e todos os que aqui vêm. Queres beber alguma coisa?"
"Água mineral, se não for muito incómodo." pediu Soujiro, sentando-se num dos altos bancos dispostos ao longo do balcão. A misteriosa mulher esboçou um sorriso curioso ao ouvir o seu pedido, mas não fez qualquer comentário.
"Não me pareces o género de homem que vem para apreciar o que aqui temos para oferecer." observou, colocando um esguio copo na frente de Soujiro. "Não estou certa?"
"De certa forma." respondeu, enigmaticamente, o sorridente rapaz.
"Ainda não me apresentei. Chamo-me Yumi Komagata." Estendeu uma mão branca e macia, com dedos invulgarmente compridos e delicados, que Soujirou apertou suavemente.
"Soujiro Seta. Prazer em conhecê-la, Komagata-san."
"Por favor, chama-me Yumi. Não sou assim tão velha. Ou então, Rosa Chinensis, que é o meu nome artístico."
"E que belo nome que é." elogiou, sorridente. "É muito... digamos... fora do vulgar."
"É latim. O que posso dizer, muitos clientes acham estes nossos nomes extremamente... engraçados, à falta de palavra melhor."
"Compreendo." Soujirou levou o copo aos lábios, disfarçando o seu habitual sorriso.
"Vieste numa boa altura. Como vês, tenho muito tempo para te dedicar, estamos vazios. À noite, é outra história."
"Era essa a minha intenção. Diga-me, Yumi, ouviu falar do crime que ocorreu, há alguns dias, neste mesmo bosque?"
"Claro, quem não ouviu? Mas se vais perguntar-me se vi ou ouvi alguma coisa, aviso-te que é inútil. Passei aqui a noite toda." Yumi pôs-se rapidamente na defensiva, o seu rosto fechando-se numa expressão dura.
"Não sou polícia, Yumi, pode acalmar-se." Soujiro sorriu largamente. "Mas foi-me atribuída a tarefa ingrata de traçar um perfil do assassino, e precisava mesmo da sua ajuda. Sou apenas um simples psicólogo, acabado de sair da universidade e que ainda se aguenta muito mal sobre as suas próprias pernas."
Yumi soltou uma gargalhada delicada.
"Duvido muito que sejas assim tão inseguro como me queres fazer crer."
Soujiro ergueu ambas as mãos.
"Touché. Mas diga-me, tem visto alguém estranho por aqui?"
"Estranhos, são todos. Mas sim, percebo a que te referes. Receio não poder ser grande ajuda, pois não reparei em ninguém em especial."
"Muito obrigado, de qualquer maneira."
Soujiro começara a levantar-se quando uma cabeça espreitou da frincha de uma porta por trás de Yumi.
"Oh? Um cliente, a estas horas?"
Yumi voltou-se de repente e suspirou, exasperada.
"Kamatari! Não voltes a fazer isso, sabes que me assusto facilmente!"
A rapariga a quem Yumi se dirigia sorriu maliciosamente e deitou-lhe a língua de fora, num gesto infantil que em qualquer outra pessoa pareceria idiota mas que, nela, apenas parecia adorável. Saiu de trás da porta para encarar Soujiro.
"Olá" saudou, com um ar atrevido. "O que posso fazer por ti?"
"Nada." respondeu Yumi, agressivamente. "Ele não está aqui para isso, muito menos contigo."
Kamatari olhou-a de alto a baixo, com um olhar crítico, mas divertido. Também aquela rapariga era bonita, com um tipo de beleza mais prática, que contrastava fortemente com a de Yumi. O seu cabelo curto, também castanho-escuro, dava-lhe uma graça especial, que era confirmada pela sua cara de feições jovens e rebeldes e lábios cintilantes.
"Prazer em conhecê-la, Kamatari-san." cumprimentou Soujiro. "Parece estar cheia de energia hoje."
"Estou sempre. Há algo que..." aproximou-se do rapaz e fez deslizar um dedo pelo lado da face dele. "...queiras de mim?"
"Seria óptimo mas, infelizmente, tenho alguma pressa." respondeu ele, sem aparente embaraço.
"Oh, que pena..."
"Kamatari é um travesti." interrompeu Yumi. "Talvez não seja o mais adequado para ti, Sou-chan?"
"Oh?" Soujiro soava encantado, o seu largo sorriso nunca esmorecendo, como se tivesse previsto aquela eventualidade logo desde o princípio. "Nunca o adivinharia!"
Kamatari estendeu a mão a Soujiro.
"Kamatari Honjou. Ou Chimaera, como preferires."
"Que nome tão ameaçador para uma pessoa encantadora."
Yumi decidiu cortar a conversa entre ambos por ali.
"Quem a conhece sabe que ela... ou ele... não é tão inofensivo assim."
"Minhas queridas, a discutir de novo?" Uma voz melíflua, vinda de algures por trás deles, fez-se ouvir.
"Takeda-san." Yumi parecia tudo menos encantada pelo aparecimento de um homem de aspecto mafioso, vestido com um fato branco imaculado, a sua cara magra e sem personalidade completada no seu ridículo por óculos rectangulares de armação fina. "O nosso patrão e dono do Salon Kitty. Que bom que se pôde juntar a nós."
"Não te esforces, Rosa Chinensis. Gostas tanto de me ver como eu a ti."
"Óptimo!" rosnou Yumi, virando as costas.
Soujiro aproveitou o arrefecimento do ambiente para se despedir dos peculiares habitantes do Salon Kitty. Ia justamente sair quando deu por Kamatari a seu lado, junto à porta.
"Se quiseres, gostava muito que me viesses visitar uma destas noites." Piscou-lhe o olho atrevidamente.
O rapaz apenas sorriu, à guisa de resposta, e saiu sem mais delongas.
XxXxXxXxX"Localizei esse Enishi Yukishiro de quem me falaste." Saitou segurava um papel numa das mãos, enquanto a outra esmagava um cigarro no cinzeiro. "Está em Nagasaki, em... negócios. Que negócios serão, pergunto-me..."
"Ainda não me explicaste muito bem esse assunto do psicólogo criminal." Aoshi observava pela janela a paisagem de Inverno que se pintava do lado de fora. O verde escuro das árvores movimentava-se ao sabor do vento e as ruas desertas cintilavam com pequenos riachos de água da chuva, que escorriam ao longo dos passeios pavimentados e reflectiam a luz vinda das casas à sua passagem. Paisagem desoladora, na verdade.
"Isso agora não interessa nada. Deixa-o andar entretido a falar de perfis psicológicos e nós resolvemos o caso à maneira antiga."
"À maneira antiga, queres tu dizer... com torturas e linchamentos populares?" observou Sanosuke, que acabava de entrar. "Com a aplicação da tua justiça particular?"
Saitou lançou-lhe um olhar fulminante mas frio, e não se dignou a responder à evidente provocação. Contudo, informou:
"O Shinomori e eu vamos a Nagasaki para trazer este tipo. Tu ficas aqui e tenta não fazer nada estúpido."
"O que é que estás para aí a dizer? Eu também vou!"
"Só nos vais atrapalhar. Faz o que eu digo porque, da última vez que verifiquei, ainda era teu superior hierárquico."
Sanosuke ficou a moer a sua fúria enquanto Saitou se dirigia novamente a Aoshi.
"O Himura também tem de vir."
"Não estou a ver a necessidade de levar um suspeito no que é, para todos os efeitos, uma viagem relacionada com uma investigação em curso."
"E lá está ele outra vez com as frases retiradas de um livro!" exclamou Saitou, para ninguém em particular.
"Pensei que era assim que gostavas." riu Sanosuke.
Saitou fez que não o ouvia e continuou.
"É precisamente por ele ser o suspeito principal que temos de o levar. Não confio neste aqui..." indicou Sanosuke com um gesto de desdém. "...o suficiente para deixar cá o Himura e arriscar que mais gente apareça morta."
Aoshi cedeu e saiu para procurar o ruivo, que lhe parecia tudo menos um assassino. Mas quem vê caras, não vê corações. E o coração de um tal assassino teria forçosamente de ser negro como uma noite sem luar.
XxXxXxXxXOkina olhava de través para o alegre grupo sentado ao balcão da Aoi-ya: Misao, Kaoru e Megumi conversavam com vivacidade, observados de perto por Kenshin e Yahiko, este último empanturrando-se com bolas de arroz. Misao parecia ter esquecido os problemas que lhe assolavam a mente e agora ria despreocupadamente. Havia algo nela que o velho Okina não compreendia, o que o incomodava de sobremaneira, visto que, durante os 16 anos de convivência mútua, se tinham formado laços inquebráveis entre ambos. Não havia ninguém que compreendesse Misao melhor do que ele próprio, tinha a certeza disso. Então, porque é que algo lhe escapava?
Num segundo, apercebeu-se que Kenshin estava, de pé, a seu lado.
"Vejo que a agilidade ainda não te abandonou." comentou Okina casualmente. "Quase juraria que, nem há um segundo, estavas ali sentado."
"E estava." respondeu Kenshin sucintamente, sentando-se em frente dele.
"Já te decidiste a ir vê-lo, para ver se ele sabe alguma coisa acerca de tudo isto?" A voz de Okina baixara de volume até atingir um tom conspirativo. Kenshin acenou afirmativamente.
"Queria ter ido mais cedo, mas a Kaoru fica nervosa quando me afasto. Estava a pensar deixá-la aqui e ir."
Okina fixou o seu olhar atento em Kaoru. Estudou os seus movimentos durante alguns instantes e, depois, voltou a dirigir-se a Kenshin:
"Tal como aconteceu com a Misao, tudo isto afectou mais a Kaoru do que nós pensámos no início."
"Eu devia ter pensado melhor antes de agir." Kenshin parecia devastado. "Nunca as devia ter deixado sozinhas no dojo."
Várias gargalhadas ruidosas vindas do balcão interromperam a conversa, fazendo-os olharem longamente naquela direcção. O grupo parecia estar a divertir-se, pela primeira vez desde a tragédia.
"Não podes proteger toda a gente. Já devias saber." continuou Okina, mal as raparigas sossegaram.
Kenshin limitou-se a olhar o tampo da mesa com interesse, embora nada nela merecesse tal atenção. Nesse momento, o pequeno espanta-espíritos soou com a corrente de ar vinda da porta aberta.
"Aoshi Shinomori." murmurou Okina, vendo quem entrara. Kenshin, ao ouvir estas palavras, endireitou-se. Aoshi dirigia-se à mesa onde ambos estavam sentados com passadas rápidas.
"Himura-san. Temos de levá-lo connosco a Nagasaki, devemos apressar-nos."
"Mas... porquê?" perguntou Kenshin, confuso, abstendo-se de soltar um dos seus 'oro'.
"Vamos buscar Enishi Yukishiro e precisamos da sua ajuda."
A/N: Uma pequena nota histórica: o bordel Salon Kitty existiu, na realidade, na Berlim dos anos 30/40. Era usado pela espionagem nazi para fins óbvios: recolher informações e não só ;)
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