A/N: Eu tinha jurado a mim mesma que não ia escrever mais até o teste de Pré-História estar muito para trás das minhas costas... mas parece que sou incapaz de cumprir uma promessa tão simples. Divirtam-se com este capítulo (embora duvide que isso aconteça ;P)!
makimachi: Muito obrigada pela review! Espero que continues a seguir a fic :)
Natalie: Primeiro que tudo, obrigada por leres e comentares. A/O Kamatari é aquele membro do grupo do Shishio, o travesti que parece uma rapariga e que luta com uma enorme foice. Está sempre a competir com a Yumi pela atenção do Shishio, por quem está apaixonada/o. Espero que te tenhas recordado dela/dele entretanto ;P
Amanda e Luana: Uma cena entre o Aoshi e a Megumi? Espero que esteja para breve ;) Mas não sei bem, até porque acabei de descobrir que não sou eu que controlo esta fic, é ela que me controla a mim ;D
lere: Muito obrigada pela tua maravilhosa review :D Tudo culpa do espinhoso colonialismo, não é? :risos: Sim, o Brasil é de facto interessante. Um país de contrastes, que felizmente se libertou da "bota cardada" do colonialismo a tempo e conservou todo o tipo de particularidades fascinantes, conjugando de uma forma fluida todas as influências que tem vindo a receber ao longo dos tempos. As ex-colónias portuguesas de África não tiveram tanta sorte, e é uma dor de alma ver o sofrimento de toda aquela gente, mesmo que seja só através da televisão. Mas vou parar por aqui com a minha lengalenga interminável, que já pareço a minha mãe ;P Até à próxima!
Lady Etrusca: Prender o Himura? Ainda não ;) Mas, quem sabe, um dia destes... Que coincidência o livro ter o mesmo nome que o alias que inventei para a/o Kamatari. Nem de encomenda, realmente ;P
Carine-san: EEEE! Uma nova leitora! Em resposta à tua pergunta, normalmente escrevo fics em Inglês. Já há anos que não o fazia em Português... Fico feliz por gostares e espero que continues a ler :D
Disclaimer: RK não me pertence. Mas o Toyota Corolla de 1977 é meu, está estacionado lá em baixo na garagem.
Saindo da estação de comboios, Saitou consultou os seus papéis e franziu o sobrolho. Aoshi e Kenshin esperavam a seu lado, observando com um interesse delicado as cores e o movimento da cidade de Nagasaki.
"Segundo as informações que me deram, puseram um carro à nossa disposição que deveria estar por aqui." Saitou olhou em volta, tentando descortinar um carro com a matrícula que a polícia da cidade lhe tinha indicado, mas falhando redondamente.
"Não entendo." O polícia fumador avançou para o parque de estacionamento, seguido de perto pelos outros dois. Kenshin parecia particularmente encantado.
"Nunca tinha vindo aqui!" comentava o ruivo, não recebendo, contudo, nenhum sinal de que um dos outros quisesse encetar uma conversa.
"Não pode ser verdade." Ouviu-se a voz de Saitou.
Algo o perturbara, algo que até o fizera deixar escapar o cigarro de entre os lábios finos. O cigarro caído embateu no chão pavimentado com um baque surdo e continuou a libertar uma nuvem esguia de fumo. Kenshin e Aoshi olharam na direcção dele, tentando perceber o que acontecera.
"Este é o nosso carro?" inquiriu Aoshi, num tom que não deixava entrever nem divertimento, nem indiferença; apenas uma ligeira curiosidade.
"Assim parece." rosnou Saitou, folheando furiosamente o seu bloco de notas, para se certificar de que nada lhe escapara.
"Eu acho-o engraçado." argumentou Kenshin. "Muito... pitoresco."
"Muito velho, queres tu dizer." contestou Saitou.
"Aa, isso também." concordou ele, um ligeiro sorriso agraciando o seu rosto de traços suaves.
Na frente deles estava um carro preto que, sem dúvida, conhecera já melhores dias. Deveria ter tido o seu apogeu nos anos 70, mas apresentava agora vários riscos na pintura e um ar... velho. Ou melhor, antigo, como tão graciosamente observara Kenshin.
Com um ar de enfado que apenas usava quando tinha de falar com Sanosuke, Saitou puxou das chaves do pequeno Toyota que lhe tinham sido enviadas e abriu as portas. Kenshin entrou para o banco de trás e, enquanto os outros dois se instalavam à frente, reparou que os cintos de segurança tinham uma etiqueta com a data de fabrico.
"Oro? O carro e eu somos da mesma idade!"
O olhar que recebeu de Saitou fez Kenshin calar-se e permanecer silencioso quando arrancaram em direcção à Igreja Oura, onde o polícia dissera que os colegas de Nagasaki os esperavam.
XxXxXxXxX"Depressa! Segue-os, Megumi!" pediu Kaoru.
Megumi virou-se para trás para fitar Kaoru com um olhar firme. Desligou o carro.
"Vamos conversar." Respirou fundo, encarando as duas raparigas que levava no banco de trás.
"Não vês que eles se estão a afastar?" berrou Misao. "Podemos falar noutra altura!"
"Caladas!" Megumi impôs-se. "Eu aturei-vos até aqui, mas agora isto está a passar das marcas. Vão ter de me ouvir, e espero que me ouçam bem."
Kaoru e Misao ficaram repentinamente muito quietas e silenciosas, chocadas pela agressividade frontal da médica.
"Admito que fui demasiado condescendente ao concordar com esta ideia maluca que vocês duas tiveram. Não tínhamos nada que vir aqui atrás daqueles três. São polícias e estão ocupados com uma investigação, com a qual, e saliento isto, nós não temos nada a ver."
"Mas..." tentou Kaoru interromper, embora sem sucesso.
"Eu estou a falar!" cortou Megumi, atirando-lhe um olhar furioso. "Os vossos caprichos foram longe demais. Vamos voltar para Toba e é já."
Megumi ia ligar o carro quando uma mão pousou no seu pulso, detendo-a. Kaoru tinha-se levantado e debruçava-se agora para a frente.
"Agora espero que me ouças tu." começou. "Tu não conheces aquele Enishi Yukishiro. Nós sim. O que ele tem não pode ser descrito como agressividade normal, ele é completamente louco. Nós queremos simplesmente proteger o Kenshin."
"Não cometas o erro de pensar que eu não me importo com o que acontece ao Kenshin. Não te atrevas sequer a sugerir tal coisa! Mas sei muito bem, tal como vocês deviam saber, e melhor que eu, que ele sabe defender-se se necessário. Acham mesmo que ele precisa da vossa ajuda?"
"Mas claro que precisa!" exclamou Misao, com um brilho característico nos seus olhos. "Sempre o ajudámos e..."
"Não. Estão completamente enganadas." Megumi retirou a mão que ainda estava pousada na chave dentro da ignição e suspirou. "Precipitei-me em concordar com isto tudo. Só agora me ocorreu que isto é precisamente o que o Kenshin não quereria que fizéssemos. Estamos no único sítio onde não deveríamos estar neste momento."
"O que queres dizer?" Kaoru voltou a sentar-se, o seu rosto evidenciando preocupação.
"Ele deseja acima de tudo proteger as pessoas. Vocês, especialmente, porque estão praticamente ao seu cuidado. E eu fui estúpida ao ponto de vos trazer aqui, para perto de um lunático que até ele tem dificuldade em enfrentar num combate singular."
"Tu sabias desse combate que eles tiveram?" inquiriu Misao, genuinamente surpreendida.
"Claro que sim. Com quem acham que ele veio ter, a meio da noite, para que lhe tratassem das feridas?"
"De qualquer maneira, não estou disposta a deixá-lo ir ter com o Enishi sozinho. Ele nunca me abandonou, por isso eu não tenciono fazê-lo."
Megumi e Misao olharam Kaoru, mudas de espanto ao notar a sua veemência.
"Se não me levares, arranjo maneira de os seguir sozinha."
A determinação de Kaoru era irredutível. Megumi não teve outra opção senão ligar o carro e tentar seguir o Toyota preto o melhor que podia.
XxXxXxXxXDois pares de olhos castanhos fixavam-se desde lados opostos de uma mesa, por cima de um tabuleiro de xadrez. Duas faces duras e sérias. Uma mão avançou na direcção do tabuleiro e segurou a Rainha negra nas pontas dos dedos. Moveu a peça e pousou-a com um ruído inesperado. Um rosto abriu-se num sorriso amplo.
"Xeque-mate!"
"Não! Outra vez? Como raios fizeste isso?" Sanosuke levou as mãos à cabeça e estudou com atenção o seu jogo falhado, o sexto num rol de derrotas.
Soujiro apenas continuou a sorrir enigmaticamente.
"Só tens de tomar mais atenção às minhas jogadas, Sanosuke-kun."
"Um dia vou ganhar-te, não te preocupes." garantiu-lhe Sanosuke, balançando a cadeira para trás.
Ouviram alguém bater levemente à porta, quase em surdina, como se a pessoa do outro lado estivesse prestes a arrepender-se e seguir o seu caminho dali para fora.
"Entre!" gritou Sanosuke.
A porta entreabriu-se e apareceu Yumi, timidamente entrando no escritório.
"Yumi! Entre, entre!" convidou Soujiro, levantando-se. Sanosuke olhou-o de lado, com um ar desconfiado.
"Tu conhece-la?" perguntou em voz muito baixa, de modo a que apenas Soujiro o pudesse ouvir. "Parece que ela trabalha num... daqueles lugares de má fama. Não que eu lá tenha ido... claro!"
Soujiro fingiu não o ouvir e puxou uma cadeira para Yumi se sentar.
"Não vos vou tomar muito tempo." Yumi torcia e retorcia as suas mãos, pousadas de forma pouco natural no colo. Vestia uma roupa mais modesta do que a que trazia quando Soujiro a conhecera, e a ausência de maquilhagem fazia-a parecer anos mais nova. Não devia, afinal, ter mais de 25. "Há uma coisa que preciso de contar à polícia." Voltou-se para o jovem psicólogo criminal. "Algo que não te disse quando foste ao Salon Kitty."
XxXxXxXxX"Comissário Uramura!" chamou Saitou, ao avistar um homem de cabelo ralo e pequenos óculos redondos empoleirados no nariz comprido e pontiagudo.
"Ah, são vocês!" O simpático homem cumprimentou Saitou enquanto Aoshi e Kenshin saíam do carro e fechavam as portas com estrondo. "Bonito, o carro, não é? É meu, achei que iam gostar." Os ocupantes do referido Toyota entreolharam-se, sem dúvida questionando a sanidade mental do dono do veículo.
Encontravam-se ao fundo da longa escadaria que levava à Igreja Oura. O igreja em si, no estilo colonial francês, tão invulgar no Japão, era tão bonita quanto imponente. As entradas e janelas altas em ogiva davam-lhe um encanto especial de séculos, embora o edifício em si não fosse muito antigo.
"Qual é a situação?" perguntou Saitou ao comissário Uramura, desejoso de passar ao que o tinha trazido ali sem mais delongas. Não ia deixar que uma coisa tão insignificante como a arquitectura de uma igreja, que Aoshi e Kenshin fitavam com tanto interesse, lhe atrapalhasse os planos.
"Vigiámos esse indivíduo de quem nos falou durante os últimos dias e hoje seguimo-lo até aqui. Parece que chegou da Alemanha há menos de um mês. Suspeitamos que ele esteja envolvido em qualquer actividade ilegal, embora não façamos ideia do que seja."
"Sabias disto?" perguntou Saitou a Kenshin, embora sem se dignar sequer a olhar na sua direcção.
"A forma como a Tomoe falava dele deu-me a entender que algo se passava. Mas nunca soube ao certo o quê." O ruivo parecia imerso em pensamentos contraditórios.
"Era de esperar. Bela família, vocês todos, não haja dúvida..."
Como habitualmente, Kenshin recusou-se a ripostar ao comentário ofensivo de Saitou. Aoshi teve novamente a impressão de que algo se passava entre ambos mas, aparentemente, não chegara ainda a altura de saber de que se tratava, pois o polícia mais velho mudou de assunto.
"O Himura vai entrar sozinho. Não convém que ele se aperceba que está a ser vigiado, pode tornar-se útil mais tarde. Himura, vais dizer-lhe que a irmã morreu e observas a reacção dele. Só observar, entendido? A não ser que queiras dar espectáculo mas, claro, se ele te atacar, podemos prendê-lo por agressão." Saitou sorriu maliciosamente.
Ainda o polícia não acabara de falar, já Kenshin subia lentamente os degraus que levavam à igreja.
XxXxXxXxXA luz do sol vinda do exterior, filtrada pelos vitrais coloridos, inundava a igreja de várias cores alegres. A atmosfera suave azul e vermelha envolvia os seus dois únicos ocupantes num mar de sombras dançantes de várias tonalidades.
Quando, ao entrar na igreja, Kenshin avistou um homem de cabelos ligeiramente espetados e acinzentados sentado num dos bancos mais perto do altar, soube imediatamente de quem se tratava: Enishi Yukishiro. O cabelo deste embranquecera subitamente quando Tomoe, a sua irmã, saíra de casa para se casar com um rapaz que, na altura, ganhava apenas o dinheiro suficiente para sobreviver à justa, trabalhando como professor de kendo. Isso tinha acontecido havia quatro anos; desde esse tempo, o dojo tinha florescido em conjunto com a vida do jovem casal. Agora, do casal apenas restava Kenshin, e Enishi parecia ainda não ter conseguido libertar-se do manto negro que caíra sobre a sua existência quando a irmã o deixara.
"Battousai. Atreves-te a vir aqui? Seguiste-me?" A voz de Enishi ecoou gravemente pelo interior da igreja.
Kenshin avançou até ao banco onde Enishi estava sentado.
"Porque continuas a chamar-me isso?" perguntou, pondo-se à sua frente, obrigando o seu jovem cunhado a encará-lo. "Esses dias pertencem ao passado."
"Pertencem ao teu passado. Não ao meu. E também não deviam pertencer ao passado da minha irmã. Mas tu, não sei bem como, conseguiste dar-lhe a volta e afastá-la da mim." Enishi soava perigosamente apático.
"Eu não a afastei de ti. Tu afastaste-te de nós... dela."
"Não fales dela!" gritou Enishi, levantando-se de rompante. "O que te dá o direito de falar nela?"
"Enishi." Kenshin respirou fundo, preparando-se para o que tinha de dizer. "A Tomoe morreu. Está morta. Assassinada."
O jovem de cabelos cinzentos fitou-o com olhos loucos, incrédulo.
"Não me mintas!" berrou. "O que estás para aí a dizer? Estás a gostar disto, não estás? Fazer-me sofrer? Porque dizes essas coisas?"
"Porque é a verdade."
"E que sabes tu da verdade...? O que..."
Enishi cobriu a cara com uma mão, voltando-se cegamente na direcção da porta.
"Mentiroso, mentiroso..." Não cessava de murmurar.
"Enishi!" chamou o ruivo, ainda junto do altar. Enishi, cambaleando em desespero, aproximava-se cada vez mais da saída, por onde entrava uma luz quase ofuscante de tão intensa e brilhante. Uma silhueta pouco distinta recortou-se nessa claridade.
"Tomoe?" sussurrou Enishi, pasmado.
A forma indistinta deu um passo para dentro da igreja. A passadeira vermelha abafava os seus passos nervosos e rápidos. Kenshin reconheceu-a de imediato e avançou, também ele, em direcção à porta.
"Kaoru? O que estás aqui a fazer?"
Misao e Megumi entraram a correr, ofegantes, seguidas de Saitou, Aoshi e do comissário Uramura, que não entendia nada do que se estava a passar.
"Não... a conseguimos impedir. Desculpa, Ken-san." Megumi logrou articular algumas breves palavras.
"Tomoe?" voltou a perguntar Enishi, não desviando o olhar de Kaoru por um único instante.
"Não." respondeu esta, calmamente. "E afasta-te do Kenshin, ou juro que te mato."
"Kaoru..." murmurou Kenshin, sem saber o que pensar.
A/N: Bem, aqui está. Espero que não tenha sido um capítulo demasiado mau! Comentem, que eu agradeço :D
