A/N: Tenho dois conselhos para vocês: a) confiem nos gostos de Watsuki-sensei e façam o download (ilegal, mas quem se importa?) da música Hurry Go Round do falecido Hide; b) tentem ver, se não o fizeram já, Peacemaker Kurogane – acabei o download do primeiro episódio há uns dias e posso finalmente babar-me com esta outra interpretação das aventuras e desventuras do Shinsengumi :D

lere: Que bom que não preciso de me preocupar com leguminosas atiradas com força à minha cabeça. Se bem que, ao preço que estão as coisas, uns tomates e frutas dessem jeito ;D A Misao, ao longo do tempo, irá retomar o seu carácter intempestivo – agora que está a recuperar do(s) choque(s) que sofreu. Escolhi, nesta primeira fase, explorar a faceta da sua personalidade que nos foi revelada aquando da 'morte' da Kaoru, na saga Jinchuu. O Kenshin... bem, esse é um caso à parte que terá de ser desvendado pouco a pouco ;P Meu Deus, tantos elogios à minha pessoa... se isto continua, o meu ego vai inchar tanto que, qualquer dia, levanto voo como um balão de ar quente :D Ok, estou a brincar – mas, a sério, muito obrigada pelo teu incomparável apoio! Até à próxima :)

Amanda e Luana: Obrigada por manteres o interesse na fic apesar de tudo! A meu ver, a Misao e o Soujiro são bastante parecidos em alguns aspectos, por isso me agrada tanto pô-los a conversar sobre coisas sérias. Heh! Continua a ler, por favor :D

Lady Etrusca: Muito obrigada! E não precisas de te desculpar, eu sei que o Alexandre deu cabo da cabeça a muito boa gente. Síndroma do Peter Pan! Já viste que bom, deste um nome a uma doença nova do foro psiquiátrico :D Em resposta à tua pergunta, eu imagino as personagens como animações, mas não deixa de ser interessante o facto de tu as imaginares como pessoas reais. O que eu não daria para ler pensamentos e descobrir como tu as vês :x Havia de ser engraçado ;P

Lady Ocean: Olá de novo, e muito obrigada pela review! Essas frases eram pensamentos da Megumi; assim sendo, ela ama alguém (quem será? ;P) que não retribui os seus sentimentos. Interesso-me, como tu, pela relação entre o Kenshin e a Tomoe. É, a meu ver, algo que necessita de ser bem explorado. Até à próxima!

Natalie: Bem vinda de volta! Na verdade, nunca actualizei nenhuma fic tão rapidamente como ando a fazer com esta. Não sei o que me deu, talvez seja a vontade de desvendar depressa o crime ;D Obrigada pela review :)

Disclaimer: Outra vez? É o décimo segundo disclaimer que escrevo, será que aquela gente que processa autores pobres ainda não decorou as palavras RK não me pertence?


"Façamos o ponto da situação." Saitou arremessou com força um calhamaço de folhas e fotografias para cima da mesa, aterrando este com estrondo em frente de Aoshi. "Não há arma do crime, não há certezas acerca de qual foi o local do crime, e há demasiados suspeitos."

Aoshi assentiu e puxou para si uma fotografia do cadáver. Saitou esmagou o cigarro no cinzeiro mais próximo, preparando-se para continuar:

"Enishi Yukishiro está alojado num hotel da cidade mais próxima. Não conseguimos arrancar-lhe nada porque, segundo ele, «o desgosto é grande demais» e precisa de tempo para se recompor." completou o polícia com uma expressão azeda de desprezo, acendendo outro cigarro.

"Ainda não conheci o tal psicólogo criminal. Por onde é que ele anda?" perguntou Aoshi, aparentando um desinteresse educado.

"Eu é que sei? Deixei muito claro, logo desde o princípio, que ele e nós íamos trabalhar em paralelo. Por isso, não faz falta que nos preocupemos com o que o miúdo anda a fazer."

"Pelo contrário." Aoshi levantou-se da cadeira, voltando a vestir o escuro casaco comprido para enfrentar a chuva e frio no exterior. "A mim, parece-me muito importante estar a par de todos os seus movimentos. É apenas um conselho que te dou."

Preparava-se para deixar a sala de reuniões da esquadra quando a voz inexpressiva de Saitou o deteve.

"Sabes alguma coisa que eu não saiba?"

"Não. Além disso, a Central comunicou-me que dentro de uma semana vou ter de voltar para Kyoto, mesmo que o caso não esteja resolvido."

"Vais deixar-nos tão cedo?" troçou Saitou.

"Assim parece."

XxXxXxXxXxX

A noite ia já avançada e o dojo estava tão silencioso como as outras casas da vizinhança. Ouviam-se apenas sons siblilantes de duas vozes veladas, conversando num tom conspirativo e suspeito.

"Primeiro que tudo, Misao, tens de tentar perceber porque te sentes triste ao pensar neles juntos!" concluiu Kaoru, com rasgo, uma conversa que se arrastava havia várias horas.

Misao teve de impedir-se de rir para não ofender a amiga, que se tinha esforçado tanto para lhe dar alguns conselhos sobre a sua inexistente vida amorosa.

"Hum... Kaoru... não quero ser indelicada nem nada disso, mas já reparaste que parecias o correio sentimental daquelas revistas cor-de-rosa?"

"Obrigadinha!" Kaoru cruzou os braços e amuou.

"Estava a brincar! Que coisa! Mas não falemos mais de mim." Misao inclinou-se para a frente, baixando a voz. "E tu e o Kenshin?"

Kaoru levantou-se de um salto, corando.

"Que ideia!" quase gritou. "Como se nós...! A Tomoe está...!"

"Erm... estava a brincar..." repetiu Misao, tentando uma saída graciosa do assunto enquanto ainda estava a tempo.

"Mas... por falar em Kenshin... como será que ele e o Sano se estão a sair no jogo?" perguntou Kaoru mais para si mesma do que para a rapariga a seu lado, olhando insistentemente o céu estrelado como se este lhe pudesse responder.

"Kaoru, sê responsável e leva o teu aluno para a cama em vez de sonhares acordada." Misao apontou para Yahiko, que adormecera no alpendre, de boca aberta e ressonando levemente. "Eu também devia ir andando, faz-se tarde."

"Já? Eu ia propôr-te irmos ao Salon Kitty."

"O quê? Não podes estar a falar a sério!"

XxXxXxXxXxX

A luz difusa e colorida criava formas peculiares nas paredes pintadas de um vermelho agressivo. Kenshin não tinha a certeza se era por causa da explosão de cores, ou do jogo desinteressante, ou mesmo de toda a decadência moral que aquele lugar representava; mas o certo é que mal se conseguia aguentar acordado. Sanosuke estava obviamente entusiasmado e remexia, de tempos a tempos, o convidativo monte de notas à sua frente, na mesa estofada a verde. Tal como acontecia naqueles aborrecidos filmes americanos que envolviam casinos em Las Vegas num qualquer ponto do enredo, em que intervinha, invariavelmente, um idiota com aspecto de cowboy (e, por vezes, com um chapéu a condizer), que nunca jogava sem uma mulher de aspecto questionável como seu talismã, Kenshin era, agora, o amuleto de Sanosuke.

Enquanto o seu jovem amigo não requisitava a sua assistência, o ruivo ia dando uma vista de olhos ao interior do Salon Kitty. Se bem que fosse triste o destino de algumas mulheres, que não tinham outra opção senão trabalhar em sítios como aquele, o que realmente desconcertava Kenshin era o facto de algumas delas parecerem estar a divertir-se. Era, talvez, altura de reconsiderar alguns dos seus pontos de vista relativamente aos malefícios da prostituição.

O seu olhar vagueante deteve-se num homem que acabara de entrar pela porta principal, alguém que Kenshin conhecia muito bem, apesar de nunca terem falado um com o outro. Os ocupantes do bordel que se encontravam perto da assustadora personagem como que abriram alas para o deixarem passar. A figura alta e esguia, envolta em ligaduras, envergando um manto púrpura que lhe escorregava dos ombros largos, caminhou lentamente em direcção ao balcão, onde o esperava, dir-se-ia que transida, Yumi.

"Vai querer tomar algo?" perguntou a nervosa mulher, fazendo um visível esforço para parecer calma e indiferente e, ao mesmo tempo, sedutora. Escusado será dizer que falhara redondamente, pois Shishio aparentava uma perspicácia invulgar.

"Na verdade, não." respondeu ele. "Vim para te perguntar se a oferta que me fizeste há uns dias ainda se mantém."

"A oferta de..." Yumi engoliu em seco. Sabia demasiado bem ao que ele se referia.

"Sim. Vamos?" convidou Shishio, estendendo-lhe uma mão.

Foi a última vez que ambos foram vistos naquela noite.

XxXxXxXxXxX

"Não acredito que te deixei arrastares-me para aqui." queixou-se Misao, massajando as suas magras pernas, que sofriam já os efeitos da longa caminhada pelo bosque. "Porque não viemos pela estrada?"

Kaoru olhou-a de relance, impacientemente.

"Estamos a tentar passar despercebidas! Achas que seria inteligente vir pela estrada, onde qualquer pessoa nos pode ver?"

"Kaoru, acho que a preocupação começa a afectar-te o raciocínio. Achas que, nesta cidade com tanta gente, alguém passa pela estrada às..." Misao consultou o relógio de pulso. "... quatro da manhã?"

Kaoru, contudo, pareceu nem ouvir e fez-lhe um sinal para que se calasse: tinha ouvido um leve ruído, mas a localização do esconderijo que haviam escolhido, atrás de uma das árvores que rodeavam o bordel, não lhe permitiu ver quem se aproximava.

"O que foi?" perguntou Misao, intrigada, esticando-se para inspeccionar as imediações. Foi puxada para trás repentinamente. "Ow... Isso doeu, Kaoru!"

"Por favor, cala-te! Está ali alguém!"

Kaoru deu um passo em frente, receosa, e espreitou. Conseguiu descortinar, através da folhagem densa, um homem envolto em ligaduras que identificou como sendo Shishio, conversando com um outro, este mais baixo, de quem apenas via a roupa, e pouco mais. A sua amiga puxou-lhe pela manga.

"Ka-o-ruuuu..." protestou ela, em voz baixa. "Diz alguma coisa!"

"É o Shishio... estava a conversar com alguém, mas agora já entrou."

"O Shishio...?" Misao arrepiou-se. "Hum... com quem estava ele a falar?"

"Não consegui ver. Mas quem diria, afinal ele também frequenta bordéis..." Kaoru semicerrou os olhos.

"Claro que sim! De que outra maneira poderia ele..." começou Misao.

"Já percebi!" interrompeu-a Kaoru. "Não precisas de dizer o resto."

A outra rapariga riu-se, aparentemente esquecida de que deviam passar despercebidas. Bocejando, sacudiu a trança para trás dos ombros e perguntou:

"Podemos ir? Tenho tanto sono que nem te conto..."

O olhar de Kaoru desviou-se para a entrada do Salon Kitty por uma derradeira vez. Estaria Kenshin ainda ali? A contra-vontade, acabou por dar razão a Misao. Iam sendo horas de dar por finda a infrutífera investigação.

XxXxXxXxXxX

De volta à Aoi-ya, Misao esgueirou-se silenciosamente pelo corredor escuro, onde se situavam os quartos dos hóspedes. Eram cinco da manhã e a luz da lua começava a ceder, num céu ainda azul escuro, à claridade do sol que principiava a sua subida de volta ao mundo dos vivos.

A esguia figura deteve-se diante de uma porta deslizante de papel de arroz, atrás da qual sabia que dormia Aoshi. Não resistindo à tentação, abriu uma frincha, cuidadosamente, para espreitar. Uma parte de si sentia-se culpada por espiá-lo daquela forma; outra parte, sem dúvida a mais irresponsável e inconsequente, ansiava por ver aquele homem indefeso no seu sono.

A respiração de Misao ficou presa na garganta quando os seus olhos pousaram em Aoshi, adormecido, no meio de lençóis brancos em desalinho. A mudança que se operara nele era quase irreal e etérea, fazendo-o parecer um qualquer rapaz desconhecido que, por engano, ali tivesse ido parar. As pálpebras cerradas, obscurecidas por madeixas de cabelo negro, escondiam os gelados olhos azuis portadores de uma sabedoria e dor que o envelheciam vários anos.

«A maioria das pessoas não sabe o exacto momento em que se apaixonou. Eu sei: foi quando o vi a ir contra o espanta-espíritos à porta da Aoi-ya. E agora, depois de tudo isto, sei também que é inútil ter esperanças que, um dia, ele olhe para mim e veja para além deste corpo imaturo e aparência desmazelada.»

Misao voltou a fechar a porta, com um ligeiro ruído. Os olhos de Aoshi, dentro do quarto, abriram-se lentamente e faiscaram por um fugaz instante, seguindo a sombra que se afastava.


A/N: Espero que o capítulo tenha sido do agrado de toda a gente. Se não foi, podem sempre insultar-me ;D Mas tenham cuidado com o meu coração fraco ;P