A/N: Não me matem! Eu sei que não devia ter demorado tanto tempo a escrever este capítulo. Estive um pouco deprimida nesta última semana (e eu que pensava que as depressões da adolescência tinham deixado de me afectar... ;D), mas já me passou.

Natalie: Obrigada pela review! Também gostei de escrever aquela cena... serviu para aligeirar o ambiente; nem tudo deve ser excessivamente sério e misterioso. Até à próxima!

lere: É bom saber que, apesar de esta fanfic se desviar um pouco do normal (isto considerando como "normais" as fics que, basicamente, consistem em: "Kenshin/Aoshi, eu amo-te há tanto tempo! Não me dás uma oportunidade de demonstrar o amor que sinto por ti?"; "Kaoru/Misao, eu também te amo! Agora, podemos ir dar umas cambalhotas no feno?"), continuas a interessar-te e a ler todos os capítulos ;D Estou, como já deves ter percebido, a adiar as cenas românticas até um momento em que sejam credíveis. Roma não se construiu num dia, e as relações amorosas também não; prefiro que a história não desperte tanto interesse como outras que por aí andam, a precipitar os acontecimentos e acabar com uma fic mediana entre mãos. Já que me aplico numa coisa, quero que saia bem :) Até à vista!

Lady Etrusca: Não, estar apaixonada pelo Aoshi é algo crónico na Misao :D (lol). E eu não estou apaixonada, ao contrário do que possa parecer! Estive apenas nas nuvens por uns dias, mas tudo se resolveu ;)

Disclaimer: Está calor, a Primavera chegou, os passarinhos cantam, e RK não me pertence.


Misao abriu um olho de cada vez, incomodada pela luz branca do sol, que lhe batia directamente na cara e lhe dava a impressão de estar a ser acariciada por chamas suaves. Bocejou e olhou para o seu relógio de pulso, pousado na mesa-de-cabeceira.

"Já são estas horas?" exclamou, levantando-se apressadamente e arrastando os lençóis e cobertores atrás de si.

"Misao?" chamou a voz de Okina, do outro lado da porta. "A Kaoru está à tua espera para irem juntas para a escola."

"Jiya! Sim, diz-lhe que já vou!"

Como pudera esquecer-se de ligar o despertador? Depois dos acontecimentos da noite anterior, nem se lembrara sequer que as aulas recomeçariam naquela manhã. Vestindo as roupas que encontrou mais à mão, contemplou brevemente o seu próprio refexo no pequeno espelho suspenso na parede e quase se assustou. Parecia estar a olhar uma pessoa completamente diferente.

«Que mais seria de esperar, tendo dormido menos de três horas?» gemeu de frustração, decidindo não se dar ao trabalho de entrançar novamente o cabelo anormalmente longo.

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"...e então hoje, quando acordei, o Kenshin estava lá fora a lavar a roupa à mão num enorme alguidar, porque a máquina se avariou." Kaoru riu-se às gargalhadas, enquanto recordava a cena a que assistira no dojo, logo de manhã. Misao sorriu fracamente à guisa de resposta, o que não passou despercebido à sua perspicaz amiga. "Olha, Misao, passa-se alguma coisa?"

"Não... quer dizer, sim. É aquele polícia."

"O novo? O Aoshi?"

"Quem havia de ser? O Saitou?"

Kaoru fingiu arrepiar-se e deitou a língua de fora, enojada.

"Bah, que horror... se estivesses apaixonada pelo Saitou, eu mesma te internaria num hospital de malucos."

"E quem disse que estou apaixonada?" defendeu-se Misao, indignada.

"Nem precisas de dizer, vê-se na tua cara. E eu não sou cega, ao contrário do que possa parecer."

Caminharam silenciosas por algum tempo. A rua pavimentada que levava ao liceu de Toba estava molhada de chuva da noite anterior; pequenas poças de água desafiavam a brincadeiras, correrias e salpicos. Estranhamente, nenhuma das duas raparigas sentia vontade de o fazer. O céu, agora plúmbeo, entristecia e incomodava.

"Kaoru, estou farta disto." As palavras precipitaram-se para fora da boca de Misao, sem que esta tivesse sequer dado o seu consentimento para tal. "Porque é que hei-de gostar dele, logo dele? E num momento destes?"

"Cá para mim, é mesmo vontade de complicar as coisas..." observou Kaoru, meio a brincar. Vendo que Misao a levara a sério, tentou apaziguar a infeliz rapariga. "Não te preocupes, se tens a certeza do que sentes, podemos fazer algo para que tudo isto resulte."

"Achas?"

"Claro! Além disso, ele..."

Kaoru interrompeu-se abruptamente e olhou fixamente a figura, aparecida do nada, que lhes barrava o caminho. Misao, a medo, deu um passo em frente e perguntou, em voz insegura:

"O que quer de nós?"

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Kenshin encontrava-se ajoelhado em frente ao dojo, debruçado sobre um alguidar, lavando roupa branca. De tempos a tempos, erguia-se, sacudia as peças de vestuário com gestos enérgicos e pendurava-as no estendal que ele próprio montara no jardim... quando Tomoe era ainda viva.

Era um martírio. Tudo lhe trazia pungentes recordações da sua tímida e silenciosa mulher e fazia-o sentir-se miserável e triste, sensações tão profundas e dolorosas que não conseguia, mesmo que tentasse, traduzir por palavras. Sensações que guardava no mais profundo do seu ser e que recuperava, nos raros momentos que passava sozinho, apenas para se interrogar uma vez mais acerca do que teria feito de errado. Tomoe estava morta, e a culpa era dele. Dele, que não soubera protegê-la.

Era altura de, finalmente, ir ver quem melhor o conhecia: uma das poucas pessoas que poderiam ter algumas respostas.

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"Já lhe dissemos tudo o que sabíamos." disse Kaoru, num tom duro e determinado. "Agora temos de ir para as aulas, ou chegamos atrasadas."

"Calma aí." Saitou expeliu lentamente um fino fio de fumo. "Eu ainda não disse que podiam ir."

"Porque não vai falar connosco a casa? Ou julga-se muito inteligente, um cowboy dos filmes, ao fazer-nos uma emboscada no caminho para a escola?" exclamou Misao, quase fumegando de raiva.

"Como é evidente, embora não tão evidente para alguém desprovido de inteligência como vocês as duas, como posso eu esperar que me digam a verdade quando estão com aqueles vossos amigos? Sobretudo o Himura, que é o nosso principal suspeito?"

"O Kenshin? Ele é o vosso suspeito?" Kaoru mal podia acreditar que a polícia pensasse que o pacífico ruivo tinha, de facto, assassinado a própria esposa, que amara mais do que a própria vida. "Vocês não estão bons da cabeça...!"

"Pelo contrário." Saitou esboçou um sorriso terrível. "Pode ser que só o tenhas conhecido depois de ele resolver comportar-se como um santinho, mas eu sei quem ele verdadeiramente é. Ou deveria dizer, o que ele realmente é?"

"O que está a querer dizer-nos?" inquiriu Misao cuidadosamente, semicerrando os olhos, como se isso a ajudasse a descortinar mais facilmente o que Saitou escondia.

"Estou a dizer-vos para não confiarem no Himura. Afastem-se dele, e talvez eu consiga resolver o problema."

"Não diz coisa com coisa." observou Kaoru duramente. "Agora, com licença, temos de ir."

Puxou Misao por um braço e arrastou-a atrás de si, quase correndo, não dando tempo a Saitou de as deter novamente. Chegadas à entrada do liceu, Misao soltou-se e esfregou o pulso dorido, que Kaoru agarrara com demasiada força.

"O que achas que ele queria dizer com tudo aquilo?" acabou por perguntar, olhando tristemente o pulso avermelhado.

"Quer virar-nos contra o Kenshin. Mas raios me partam se eu algum dia o vou abandonar." Algumas lágrimas formaram-se nos olhos de Kaoru, mal ela pronunciou estas palavras.

"Kaoru? Estás bem?"

"Sim." Caminhou apressadamente para o interior da escola, determinada a não deixar que a amiga se apercebesse da sua fraqueza momentânea.

Deixada sozinha, Misao suspirou. A campainha tocara, anunciando o início das aulas; o ar estava pesado e os pássaros haviam deixado de cantar. No meio do seu desânimo, a jovem rapariga soube instintivamente que Saitou não estivera a mentir. Havia algo no passado de Kenshin que elas não conheciam nem suspeitavam; podia ser que o pequeno e aparentemente inofensivo ruivo ocultasse um segredo demasiado terrível.


A/N: Ok, eu sei que este capítulo não presta para nada. Até eu tenho essa sensação, quanto mais vocês... Prometo que o próximo sairá melhor!